O SISTEMA DE METAS DE INFLAÇÃO NO BRASIL: UMA ANÁLISE DA CREDIBILIDADE
Dary Pretto Neto
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo fazer uma avaliação da credibilidade do regime de metas de inflação no Brasil. O sistema de metas de inflação é um regime de política monetária relativamente novo, tendo sido implementado pela primeira vez em 1990, na Nova Zelândia. Após a introdução do sistema de metas de inflação, por inúmeros países, tem por objetivo alcançar a estabilidade de preço. O Brasil passou a adotar o regime em junho de 1999. O trabalho ainda abordará uma revisão conceitual e uma descrição histórica deste. Em seguida é analisada a experiência do Brasil sob as metas de inflação a partir de 1999 até 2010, verificando se as metas foram cumpridas ou não, mostrando os fatores responsáveis pelo descumprimento. Na sequência, será feita uma análise da credibilidade e reputação do Banco Central.
Palavras-chave: Metas de inflação, credibilidade, Banco Central.
ABSTRACT
This study aims to evaluate the credibility of the inflation targeting regime in Brazil. The system of inflation targeting is a monetary policy regime relatively new, having been first implemented in 1990 in New Zealand. After the introduction of inflation targeting by several countries, aims to achieve price stability. Brazil has started to adopt the scheme in June 1999. The work also will discuss a conceptual overview and a historical description of this. Then we analyze the experience of Brazil under the inflation target from 1999 until 2010, ensuring that the goals were met or not, showing the factors responsible for noncompliance. Following, there will be an examination of the credibility and reputation of the Central Bank.
Key words: Inflation targeting, credibility, central bank.
1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, a busca por inflação baixa e estável é um dos principais objetivos da política monetária. Com isso, inúmeros países utilizam diferentes estratégias com a finalidade de controlar e reduzir a inflação.
O sistema de metas de inflação é um regime relativamente novo, sendo adotado pela primeira vez em 1990, pela Nova Zelândia. Posteriormente, vários países, desenvolvidos e em desenvolvimento, introduziram formalmente o sistema, como foi o caso do Brasil em 1999.
O objetivo deste trabalho é analisar o sistema de metas de inflação, destacando suas características, vantagens, desvantagens, bem como analisar a eficácia desse regime em controlar as taxas de inflação. Ademais, também será avaliado o desempenho das metas de inflação no Brasil entre os anos de 1999 a 2010, buscando demonstrar em que grau as metas foram cumpridas.
Será analisada a variável credibilidade, verificando o questionamento: O Banco Central tem credibilidade perante o público? Pois ele é o responsável pela política monetária, fator primordial na busca por níveis baixos de inflação.
Na seção 2 do trabalho, será feita uma revisão conceitual e uma descrição histórica sobre o período anterior ao sistema de metas de inflação, apresentando ainda as vantagens e desvantagens deste sistema. Na seção 3 será verificada a implementação do sistema no Brasil e analisado o desempenho do país no período corrente aos anos de 1999 a 2010. Na seção 4 apresenta-se a mensuração da credibilidade e a reputação do Banco Central, neste mesmo sistema.
2 SISTEMA DE METAS DE INFLAÇÃO
A primeira seção do presente capítulo tem por objetivo, apresentar uma revisão conceitual do sistema de metas de inflação utilizando alguns dos principais autores desta área. A seção seguinte irá analisar o histórico do período anterior à adoção deste sistema. E a ultima seção abordará as vantagens e desvantagens deste regime.
2.1 REVISÃO CONCEITUAL DO SISTEMA DE METAS DE INFLAÇÃO
A inflação pode ser conceituada como um aumento contínuo e generalizado no nível de preços. E para tentar minimiza-lá, o método mais usado, a nível internacional, é a utilização do sistema de metas de inflação, o qual começou a ser implementado no ano de 1990.
Conforme Arestis (2009) o regime de metas de inflação, também é conhecido como IT, sigla em inglês relativa à inflation targeting e é considerado um novo regime de política monetária que tem sido adotado por inúmeros países. O principal objetivo é incorporar uma medida de controle sobre a inflação, fato que ocorre geralmente em decorrência da má administração da economia de determinado país.
Segundo Nahon e Meurer (2005), o regime de metas de inflação foi o instrumento adotado por diversos países para buscar uma política monetária de baixa inflação. Este sistema almejava superar o problema da inconsistência temporal via aumento da credibilidade do banco central e, por conseguinte, da própria política monetária. Assim, a construção da credibilidade do Banco Central se torna fundamental na condução da política monetária.
Para Canuto (2000, p. 21), o regime compreende uma estratégia de política monetária que envolve cinco elementos básicos, são eles:
? anúncio público de metas numéricas para a inflação de médio prazo;
? um compromisso institucional para a estabilidade de preços como meta primária de política monetária; outras metas são subordinadas, como por exemplo, a taxa de expansão de algum agregado monetário que apresente elevada correlação com a taxa de evolução dos preços;
? uma estratégia de informação na qual muitas variáveis, não somente os agregados monetários ou a taxa de câmbio, são usados para decidir um conjunto de instrumentos de política;
? uma política monetária transparente com ênfase na comunicação com o público e o mercado e racionalidade nas decisões do Banco Central; e
? mecanismos que tornem o Banco Central o responsável por atingir seus objetivos de inflação, destaque para a autonomia do Banco Central.
2.2 DESCRIÇÃO HISTÓRICA DO PERÍODO ANTERIOR À ADOÇÃO DAS METAS DE INFLAÇÃO
O sistema de metas de inflação é um regime que teve início no ano de 1990, na Nova Zelândia. Posteriormente, inúmeros países desenvolvidos e em desenvolvimento também aderiram às metas, como, por exemplo, Canadá, Chile, Reino Unido, Austrália, Espanha, República Tcheca, Polônia, Noruega, Peru, entre outros, como se pode verificar na Tabela 1. O Brasil passou a adotar esse regime, em 21 de junho de 1999.
Tabela 1: Período de Adoção do Regime de Metas para a Inflação no Mundo
Fonte: Banco Central.
De 1995 a 1999 o Brasil, utilizou como política monetária o regime de bandas cambiais, que tinha como característica a "ancoragem cambial" e era constituído de dois elementos chaves da política de combate a inflação: efetiva valorização da taxa de câmbio e elevação do grau de abertura externa da economia.
Para Seabra (1998, p. 204) o regime de bandas cambiais era definido como:
Um regime de bandas cambiais pode ser definido como sendo um intervalo dentro do qual o Banco Central esta comprometido em manter a taxa de câmbio nominal. Embora na prática adote-se banda superior e banda inferior (por isso, regime de bandas ? no plural), um regime cambial pode estabelecer apenas uma banda ou um limite para a taxa de câmbio.
O sistema de âncoras cambiais tinha como objetivo conter a inflação. Para isso, era utilizado um mecanismo de política econômica através do qual o governo fixava a taxa de câmbio visando reduzir o aumento dos preços. Em geral, a cotação da moeda local era fixada em relação à moeda de referência, como aconteceu, por exemplo, com o Real frente ao Dólar norte-americano no início do Plano Real. Este foi o instrumento utilizado pela equipe econômica brasileira até o ano de 1999, quando US$ 1 passou a valer R$ 1,21, taxa definida para a conversão.
Segundo Seabra (1998, p. 205), o regime de bandas cambiais é uma estrutura teórica geral. Ele pode ser tratado como um regime flexível se as bandas forem suficientemente amplas, ou como um regime de cambio fixo se as bandas forem estreitas. Neste sentido, a caracterização de um regime de bandas e a determinação de seu funcionamento requer algumas definições:
(i) Dimensão da banda. A amplitude das bandas cambiais depende do grau de flexibilidade da política monetária desejado pelo Banco Central. O trade-off entre credibilidade antiinflacionária, resultante da rigidez do câmbio, e a margem de manobra de política monetária devem ser avaliados no estabelecimento da dimensão da banda. Em termos gerais, em um regime de bandas busca-se um resultado que seja uma combinação entre o regime puramente flexível e o cambio fixo. Em outras palavras, as bandas não devem ser tão estreitas a ponto de não permitir alguma flexibilidade da política monetária, nem tão ampla que não imponham limites à ação desta política monetária.
(ii) Realinhamento da banda. O estabelecimento de limites entre os quais a taxa de câmbio pode variar resulta, ao longo do tempo, em desalinhamentos reais, ou seja, em mudanças na competitividade entre os países, na medida em que os choques atinge, de forma não idêntica, a economia domestica e a economia externa. [...] Dada a necessidade de realinhamentos periódicos nas bandas, outra questão a considerar é se o realinhamento segue uma regra ou é feito discricionariamente. Uma regra evita surpresas e diminui a incerteza, porém pode gerar expectativas inflacionárias uma vez que se sabe que o Banco Central irá alterar as bandas, depreciando a moeda quando, por exemplo, a taxa de câmbio se aproxima do limite superior da banda. [...]
(iii) Intervenção marginal ou intramargem. O Banco Central pode intervir apenas quando a taxa de câmbio atinge o limite da banda ou intervir ainda no interior da banda. O argumento pela intervenção marginal, adotado em grande parte dos modelos teóricos de bandas cambiais (e.g. KRUGMAN, 1988), decorre do fato de que a expectativa de intervenção na margem tem um efeito estabilizante sobre a taxa de câmbio para valores de e ainda no interior das bandas [...].
Além disso, Seabra (1998) ainda afirma que a escolha do regime cambial é uma decisão com implicações de política econômica. Há um nítido trade-off entre estabilidade cambial e independência da política monetária, envolvendo a opção por um regime de câmbio fixo ou flexível. O regime de bandas cambiais, por sua vez, pode ser considerado como um mecanismo intermediário. A questão que analisa se um determinado sistema de bandas cambiais está mais próximo do regime de câmbio fixo ou do regime de câmbio flexível depende da dimensão das bandas (quanto mais amplas, mais próximas do câmbio flexível). Porém, a experiência recente indica que os sistema de bandas cambiais estão mais para o regime de câmbio fixo do que para o regime de câmbio flexível. Isto se justifica pelo fato de que, quando os países optam por um regime de bandas seu objetivo é buscar a estabilidade do câmbio e dos preços, que é conferida pela austeridade monetária do país central, desde que as bandas sejam suficientemente estreitas de modo a evitar que o país se encaminhe para uma política monetária ativa.
Em janeiro de 1999, ocorreu um ataque especulativo promovido que atingiu o Real, obrigando o Banco Central a abandonar o regime de bandas cambiais. Esse sistema foi substituido pelo de metas de inflação, utilizado até hoje. O ataque teve um efeito duplo, pois tornou evidente os problemas de uma política de "ancoragem cambial" num contexto de instabilidade do sistema financeiro internacional. Além disso, retirou do Banco Central a possibilidade de manter uma política de controle da inflação, através da condução da taxa de câmbio nominal.
2.3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DO REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO
O sistema de metas de inflação possui algumas vantagens e desvantagens. Como vantagens, é possível citar a transparência e flexibilidade do regime, já como desvantagens se destacam o difícil controle e regras muito rígidas, como veremos nesta seção.
2.3.1 Vantagens
Como a política monetária utilizada pelo Brasil é flexível, o sistema de metas de inflação pode se adaptar facilmente nos casos em que haja algum choque de origem doméstica ou externa. Esses choques poderiam ter efeitos adversos sobre o mercado. Para Mishkin e Savastano (2001), essa realidade proporciona que certos itens possam ser retirados do índice de preços escolhido como meta. O sistema permite ainda, que as meta sejam ultrapassadas com o objetivo de acomodar os choques.
A transparência e a prestação de contas são regras estipuladas pelo sistema de metas de inflação que o Banco Central deve seguir para que exista um regime explícito de política monetária. Para Canuto (2002), essa é uma das grandes vantagens do sistema. Elas podem ser alcançadas, a princípio, a partir de anúncios públicos de metas numéricas de médio prazo, para a inflação e de um comprometimento oficial das autoridades para com elas. Por centrar-se diretamente no objetivo de tornar mais clara a compreensão do público em geral e dos poderes executivo, legislativo e judiciário, tornou-se mais fácil conciliar o monitoramento externo e a flexibilidade na conduta das autoridades monetárias. Esse sistema proporciona uma ampliação do poder discricionário dos formuladores e executores das políticas, mas, em contrapartida, viabiliza uma maior possibilidade de prestação de contas através dos resultados, o que de certa forma, constrange a maneira como se conduz a sua administração.
Curado (2005) concorda com a idéia anterior de Canuto, dizendo que:
O anúncio das metas de inflação eleva o grau de transparência da política monetária, tornando mais clara à compreensão do público em relação à atuação dos bancos centrais, o que capacita os agentes econômicos a acompanharem e a controlarem as ações dos bancos centrais de forma mais precisa.
As metas, após serem estipulas em reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), são divulgadas no site oficial da instituição. Desse modo, estreita-se o grau de comunicação das autoridades monetárias com o público, que fica ciente dos objetivos e do desempenho da política monetária no país. Essa troca de informações é um aspecto importante para que o sistema obtenha sucesso e credibilidade, sendo necessário que o público tenha conhecimento das metas para a inflação, como elas foram estabelecidas e como elas serão alcançadas.
Como esse regime possui uma política aberta para a comunicação, permite que o público possa monitorar se as metas estão sendo cumpridas o que incentiva o Banco Central a não se desviar de seu objetivo: a meta estabelecida. Os relatórios de política monetária auxiliam no aumento da transparência, permitindo aos bancos centrais explicar as políticas adotas.
O governo delegou as decisões de política monetária e a responsabilidade pelo cumprimento das metas aos dirigentes do Banco Central (Bacen). Caso a meta não seja atingida, o presidente do Bacen terá que enviar uma carta (que deve ser de conhecimento público) ao ministro da Fazenda justificando as razões do fracasso. Em tese, o não-cumprimento da meta pode provocar até mesmo a demissão do presidente do Bacen e da sua diretoria. Sicsú (2002, p. 24)
Outro fator importante para a adoção das metas de inflação, seria o aumento da accountability do Banco Central, diminuindo a sua possibilidade de cair na emboscada da inconsistência temporal. Além disso, o aumento da accountability torna possível prever as expectativas da inflação.
Svensson (1998) identificou três fases de uma delegação de política monetária eficiente, são elas: (1) sociedade anuncia metas para a política monetária, (2) o banco central recebe instrumento de independência para seguir as metas, (3) o banco central é responsável perante a sociedade para o cumprimento das metas para a política monetária.
2.3.2 Desvantagens
Para Mishkin e Savastano (2001), a inflação é considerada uma variável de difícil controle, essa seria a primeira desvantagem da adoção do sistema de metas de inflação. Esse problema é considerado ainda maior para os países da América Latina, pois são caracterizados por possuírem elevados níveis de inflação. Em função disso, esses países acabam gerando pouca credibilidade ao mercado, pelo fato de, com alguma freqüência as metas são desviadas e ocorrerem erros na previsão quanto à inflação futura.
Segundo Sicsú (2002), a teoria que sustenta o regime de metas inflacionárias não é consensual entre os economistas e, suas hipóteses não possuem evidências capazes de sustentá-las. Por vezes, tais hipóteses nem mesmo possuem consistência interna. Ademais, argumenta-se que se o único objetivo da política monetária é o controle da inflação, ela esta sendo subutilizada.
O sistema de metas de inflação possui regras muito rígidas. Conforme Mishkin e Savastano (2001), isso acaba diminuindo a flexibilidade para lidar com circunstâncias imprevisíveis. Por outro lado, foi comentado no item das vantagens, que o sistema de metas de inflação adapte-se facilmente, nos casos de choque de origem doméstica ou externa, o que também pode ser encarado como uma fragilidade do sistema, pois acaba não servindo como âncora nominal por não permitir muita flexibilidade.
3 DESEMPENHO DO BRASIL NO REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO NO PERÍODO DE 1999 À 2010
A primeira seção do presente capítulo, apresenta detalhes da implementação do regime de metas de inflação no Brasil. E a seção seguinte, irá analisar o desempenho do país desde sua implementação em 1999 até 2010.
3.1 IMPLEMENTAÇÃO DO REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO NO BRASIL
O regime de metas de inflação iniciou por meio do Decreto nº 3.088, do dia 21 de junho de 1999, onde ficou estabelecido que a diretriz para fixação do regime de política monetária passaria a ser, a de metas para a inflação.
O objetivo da implantação deste regime é de manter o controle da inflação no país. É possível analisar na Figura 1, que a partir do ano de 1999 a inflação se manteve mais estável do que nos anos anteriores à sua adoção.
Figura 1: Inflação no Brasil antes e Depois da Implantação do Regime de Metas
Fonte: IBGE.
As metas passariam a ser representadas por variações anuais de índice de preços de ampla divulgação. Neste regime, devia ser calculado o índice ideal de inflação para cada país, devendo o mesmo ser atingido no período de um ano. As metas e os intervalos de tolerância seriam fixados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mediante proposta do Ministro da Fazenda.
Neste mesmo decreto, ficou estabelecido que, ao Banco Central do Brasil, competia executar as políticas necessárias para cumprimento das metas fixadas. Segundo Sicsú (2002), a meta é estabelecida pelo governo e/ou parlamento e deve ser perseguida pelo Banco Central, cuja política monetária passa a ter um único objetivo, alcançar a meta inflacionária determinada.
Considera-se que a meta foi cumprida quando a variação acumulada da inflação, medida pelo índice de preços, relativa ao período de janeiro a dezembro de cada ano calendário, situar-se na faixa do seu respectivo intervalo de tolerância. E caso ela não seja cumprida, o Presidente do Banco Central divulgará publicamente as razões do descumprimento, por meio de carta aberta ao Ministro da Fazenda, que deverá conter: a descrição detalhada das causas do descumprimento; as providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos e o prazo no qual se espera que as providências retomem o desempenho esperado.
Assim o Banco Central fica responsável por divulgar, a cada trimestre, um Relatório de Inflação abordando o desempenho do sistema, os resultados das decisões passadas de política monetária e a avaliação prospectiva da inflação. Nesse Relatório o Banco Central faz previsões sobre a inflação futura, considerando a taxa de juros fixada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Em relação às reuniões do Copom, elas são realizadas oito vezes ao ano, a cada 45 dias. E de acordo com o estabelecido no art. 6º do Regulamento anexo à Circular nº 3.297, de 31 de outubro de 2005, segue abaixo o calendário das reuniões ordinárias do Comitê de Política Monetária para o ano de 2011:
Tabela 2: Calendário das reuniões do Copom para 2011
DATAS:
18 e 19 de janeiro 1º e 2 de março
19 e 20 de abril 7 e 8 de junho
19 e 20 de julho 30 e 31 de agosto
18 e 19 de outubro 29 e 30 de novembro
Fonte: Banco Central
O índice de preço a ser adotado foi escolhido pelo CMN, determinado através da Resolução nº 2.615 que será o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE). O IPCA é o índice oficial do governo, que funciona como parâmetro para o sistema de metas inflacionárias desde 1999.
O instrumental utilizado pelo Banco Central para garantir a taxa de inflação é a taxa de juros. O controle da inflação no sistema de metas de inflação se dá, fundamentalmente, por intermédio da fixação do valor da taxa básica de juros (SELIC) num patamar que seja compatível com a meta inflacionária definida pelo CMN.
3.2 DESEMPENHO DO BRASIL DESDE 1999
A Tabela 3, abaixo, mostra as metas de inflação, as bandas percentuais e a inflação efetiva desde o ano de 1999:
Tabela 3: Histórico das Metas de Inflação no Brasil
Ano Norma Data Meta (%) Banda (p.p.) Limite Inferior e Inflação Efetiva
Superior (IPCA % a.a)
1999 8 2 6-10 8,94
2000 Resolução 2.615 30/6/1999 6 2 4-8 5,97
2001 4 2 2-6 7,67
2002 Resolução 2.744 28/6/2000 3,5 2 1,5-5,5 12,53
2003¹ Resolução 2.842 28/6/2001 3,25 2 1,25-5,25
Resolução 2.972 27/6/2002 4 2,5 1,5-6,5 9,30
2004¹ Resolução 2.972 27/6/2002 3,75 2,5 1,25-6,25
Resolução 3.108 25/6/2003 5,5 2,5 3-8 7,60
2005 Resolução 3.108 25/6/2003 4,5 2,5 2-7 5,69
2006 Resolução 3.210 30/6/2004 4,5 2 2,5-6,5 3,14
2007 Resolução 3.291 23/6/2005 4,5 2 2,5-6,5 4,46
2008 Resolução 3.378 29/6/2006 4,5 2 2,5-6,5 5,90
2009 Resolução 3.463 26/6/2007 4,5 2 2,5-6,5 4,31
2010 Resolução 3.584 1/7/2008 4,5 2 2,5-6,5 5,91
2011 Resolução 3.748 30/6/2009 4,5 2 2,5-6,5 -
2012 Resolução 3.880 22/6/2010 4,5 2 2,5-6,5 -
¹ A Carta Aberta, de 21/01/2003, estabeleceu metas ajustadas de 8,5% para 2003 e de 5,5% para 2004.
Fonte: Banco Central, 2011.
Conforme a Resolução nº 2.615, de 30 de junho de 1999, foram fixadas metas para os anos de 1999, 2000 e 2001. Para o ano de 1999, a meta estipulada foi de 8%, contando ainda com o intervalo de tolerância de menos 2% ou mais 2%. No ano de 2000, a meta era de 6%, com o intervalo de tolerância de 2% para mais ou para menos. Já no em 2001, a expectativa era de que a meta fechasse em 4%, também com o intervalo de tolerância de 2%. Observa-se que a intenção do governo era de que a inflação reduzisse cada vez mais ao longo dos anos.
Após a troca da política monetária no país, no ano de 1999, a inflação fechou em 8,94%, dentro do intervalo de tolerância, mas pouco acima da meta prevista de 8%. Em 2000, ela caiu para 5,97%, situando-se pouco abaixo da meta de 6% estabelecida para aquele ano. Já no ano de 2001, a meta foi extrapolada em 1,67%, saindo dos limites do intervalo de confiança e fechando em 7,67%.
Em função dos acontecimentos do ano de 2001 as metas inflacionárias não puderam ser cumpridas, como havia sido estabelecido no Decreto. O Presidente do Banco Central teve de enviar uma carta aberta ao Ministro da Fazenda descrevendo as causas que levaram ao descumprimento da meta. Além disso, a carta deveria conter as providências seguintes a serem tomadas e o prazo para que a inflação retornasse aos limites fixados.
Segundo o Relatório de Inflação de 2001, as principais causas do descumprimento da meta foram os choques externos, que acabaram refletindo também na nossa economia interna. A desaceleração da economia mundial após os ataques terroristas de 11 de setembro foi um destes choques externos, e outro fator que também influenciou negativamente para o não cumprimento da meta de inflação, foi à crise na economia Argentina.
Já no setor nacional, os aumentos dos preços administrados contribuíram com 32% da variação do IPCA no período setembro a novembro. O reajuste de 4,08% nos preços dos combustíveis representou o principal impacto no grupo com preços administrados, seguido pelas tarifas de energia elétrica, as passagens de ônibus urbanos também tiveram que ser reajustadas em alguns estados. Como está sendo mostrado na tabela abaixo.
Tabela 4: Preços Administrados: Principais Itens na Composição do IPCA em 2001
Contribuição
Variação Acumulada
Itens Peso* Set Out Nov Set - Nov
IPCA (A) 100 0,28 0,83 0,71 1,83
Gasolina 4,5 -0,6 3,6 0,3 0,14
Ônibus urbano 4,6 1,2 0,1 0,5 0,08
Energia elétrica 3,8 0,7 0,3 1,8 0,11
Gás de bujão 1,4 0,07 4,3 0,5 0,05
Ônibus intermunicipal 1,1 2,1 0,5 -0,1 0,03
Taxa água e esgoto 1,6 1,6 0,1 0,1 0,03
Avião 0,5 1,8 8,4 1,2 0,05
Outros 13,2 0,1 0,6 0,1 0,1
Contribuição Administrados (B) 30,7 0,1 0,3 0,1 0,59
Participação (B/A) ... 0,43 0,41 0,18 0,32
* Peso de novembro.
Fonte: IBGE.
Para um melhor entendimento, é possível decompor a taxa de inflação nos seguintes elementos: repasse cambial, inflação dos preços livres, inflação dos preços administrados e inércia inflacionaria do ano anterior. A Tabela 5 apresenta essa decomposição para o ano de 2001.
Tabela 5: Decomposição da taxa de inflação em 2001
Item Contribuição em Contribuição em
Pontos Percentuais Percentual
Repasse Cambial 2,9 38%
Inflação dos Preços Livres* 2,4 28%
Inflação dos Preços Administrados* 1,7 24%
Inércia 2000 0,7 10%
*Excluindo repasse cambial e inércia
Fonte: Banco Central.
Observa-se que a depreciação da taxa de câmbio foi responsável por 38% da inflação registrada em 2001, isto significa que, ela foi responsável por 2,9 pontos percentuais da inflação de 7,7% naquele ano. A inércia inflacionária proveniente de 2000 contribuiu com 0,7 ponto percentual para a inflação de 2001. A inflação dos preços administrados representou 1,7 ponto percentual da inflação. E a inflação dos preços livres contribuiu com 2,4 pontos percentuais, em ambos os preços já foram deduzidos os efeitos do repasse cambial e da inércia.
Analisando a evolução da meta da taxa Selic nos anos de 1999 à 2001, é visível que, desde que o sistema de metas de inflação foi implementado no Brasil, o objetivo era que a taxa de juros diminuísse. Mas nota-se que a partir do mês de fevereiro de 2001 a taxa começa a subir, para tentar equilibrar o câmbio.
Tabela 6: Evolução da Meta da Taxa Selic em 1999 a 2001
Data Meta SELIC (%) Taxa SELIC (% a.a.)
Data Meta SELIC (%) Taxa SELIC (% a.a.)
23/6/1999 21 20,88 17/1/2001 15,25 15,19
28/7/1999 19,5 19,51 14/2/2001 15,25 15,2
1/9/1999 19,5 19,52 21/3/2001 15,75 15,84
22/9/1999 19 19,01 18/4/2001 16,25 16,3
6/10/1999 19 18,87 23/5/2001 16,75 16,76
10/11/1999 19 18,99 20/6/2001 18,25 18,31
19/1/2000 19 18,87 18/7/2001 19 18,96
16/2/2000 19 18,88 22/8/2001 19 19,04
22/3/2000 19 18,94 19/9/2001 19 19,07
18,5 18,6 17/10/2001 19 19,05
19/4/2000 18,5 18,55 21/11/2001 19 19,05
24/5/2000 18,5 18,39 19/12/2001 19 19,05
20/6/2000 17,5 17,34
17 16,96
19/7/2000 16,5 16,51
23/8/2000 16,5 16,54
20/9/2000 16,5 16,6
18/10/2000 16,5 16,56
22/11/2000 16,5 16,38
20/12/2000 15,75 15,76
Fonte: Banco Central.
A Resolução nº 2.744, de 28 de junho de 2000, fixava que para o ano de 2002 a meta para a inflação deveria ser de 3,5%, onde seu limite máximo poderia atingir 5,5% e o mínimo de 1,5%. Contudo, o IPCA deste ano registrou a porcentagem de 12,53, ultrapassando a meta em 9,3%. Analisando todo histórico deste sistema é notavel que este ano foi o que mais extrapolou a meta prevista.
Conforme o Relatório da Inflação de 2002, o ano foi marcado por uma crise de confiança, em função do período eleitoral no mês de outubro e pelo aumento da aversão ao risco nos mercados internacionais. Isso acabou resultando na queda da demanda por títulos públicos no mercado financeiro, na acentuada depreciação da taxa de câmbio e no aumento das expectativas de inflação dos agentes econômicos. Conforme mostra a Tabela 7 e de acordo com o modelo estrutural do Banco Central, a inflação acumulada em 2002 pode ser decomposta da seguinte forma:
Tabela 7: Decomposição da taxa de inflação em 2002
Item Contribuição em Contribuição em
Pontos Percentuais Percentual
Repasse Cambial 5,82 46,4%
Inflação dos Preços Livres* 2,28 18,2%
Inflação dos Preços Administrados* 1,85 14,8%
Expectativa 1,65 13,2%
Inércia 2000 0,93 7,4%
*Excluindo repasse cambial e inércia
Fonte: Banco Central.
De acordo com a tabela acima, a depreciação cambial representou 46,4% da inflação medida pelo IPCA, o que na decomposição da inflação refere-se a 5,82 pontos percentuais. A inflação dos preços livres foi responsável por 2,28 pontos percentuais, representando 18,2%. Já a inflação dos preços administrados foi responsável por 1,85 da inflação de 2002. O Relatório de Inflação de 2001 havia previsto inflação de apenas 5,3% dos preços administrados por contato e monitorados, sendo que, efetivamente, a inflação atingiu 15,3%, com destaque para os preços do gás de bujão, do álcool e da eletricidade, que aumentaram, respectivamente, 48,3%, 31,5% e 19,9%.
A deterioração das expectativas de inflação contribuiu com 1,65 pontos percentuais na variação do IPCA de 2002. E a inércia inflacionária proveniente de 2001 teria contribuído com 0,93 ponto percentual.
Ainda neste ano de 2002, as reuniões do Copom reduziram a taxa Selic de 19% chegando em 18%, no mês de julho. Contudo, com a acentuada depreciação da taxa de câmbio, principalmente a partir mês de setembro, e a consequente contaminação das expectativas de inflação levaram Copom a realizar uma sessão extraordinária em outubro, na qual foi decidido aumentar, gradativamente, a meta de 18% para 25% no mês de dezembro. A Tabela 8 mostra a evolução da taxa Selic no ano de 2002.
Tabela 8: Evolução da Meta da Taxa Selic em 2002
Data Meta SELIC Taxa SELIC (%a.a.)
20/2/2002 18,75 18,8
20/3/2002 18,5 18,45
17/4/2002 18,5 18,35
22/5/2002 18,5 18,07
19/6/2002 18,5 18,4
17/7/2002 18 17,86
21/8/2002 18 17,87
18/9/2002 18 17,9
14/10/2002 21 20,9
23/10/2002 21 20,9
20/11/2002 22 21,9
18/12/2002 25 24,9
Fonte: Banco Central
De acordo com a Resolução nº 2.842, de 28 de junho de 2001, a meta de inflação para o ano de 2003 seria de 3,25%, com o intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2%. No entanto, o Decreto de 26 de junho de 2002, autoriza o CMN a alterar as metas para o ano de 2003. No dia seguinte, a Resolução nº 2.972 diz que, para o ano de 2003, a meta a ser alcançada passa a ser de 4%, com intervalo de tolerância de menos 2,5% e de mais 2,5%. E para o ano de 2004, a meta de 3,75%, com o intervalo de tolerância de menos 2,5% e de mais 2,5%.
O Banco Central estimou que a inflação dos preços administrados por contato e monitorados atingisse 14% naquele ano, o que representaria 1,7 ponto percentual na variação do índice do IPCA, e a inércia inflacionaria contribuiria com 4,2 pontos percentuais.
A justificativa do Banco Central para seguir as metas ajustadas baseia-se no argumento de que o alcance da meta original de inflação resultaria em elevada queda do PIB, prejudicando a economia do país.
Para Mishkin (2004), a atuação do Banco Central frente ao choque da desvalorização do Real em 2002 e ao overshooting da inflação foi providencial, na medida em que evitou maior perda de credibilidade por meio da transparência e da comunicação com o público. Nesse sentido, o Banco Central procurou explicar porque a meta foi ultrapassada, quais seriam as medidas para trazer a inflação de volta ao nível planejado, assim como fixar as metas reajustadas para 2003 e 2004 de forma transparente.
A inflação medida pelo IPCA terminou o ano de 2003 extrapolando a meta que era de 9,30% e também fora do limite superior quando ela poderia chegar até o máximo de 6,5%. Dentre os diversos fatores para o descumprimento da meta são eles: a inércia inflacionária proveniente do ano de 2002, a deterioração das expectativas a partir do ultimo trimestre do ano anterior e o repasse da depreciação cambial ocorrida em 2002 sobre os preços.
Como é mostrado na Tabela 9, o Copom decidiu elevar a meta para 25,5% da Selic, em relação ao final do ano de 2002. Essa elevação deu-se até o mês de maio, já no me de junho a meta começou a cair, chegando em dezembro no patamar de 16,5%. Esta flexibilidade da política monetária foi possível graças à reversão das expectativas, à apreciação da taxa de câmbio, à redução de incertezas na economia e a consequente redução das taxas de inflação.
Tabela 9: Evolução da Meta da Taxa Selic em 2003
Data Meta SELIC Taxa SELIC (%a.a.)
22/1/2003 25,5 25,36
19/2/2003 26,5 26,3
19/3/2003 26,5 26,32
23/4/2003 26,5 26,32
21/5/2003 26,5 26,27
18/6/2003 26 25,74
23/7/2003 24,5 24,32
20/8/2003 22 21,84
17/9/2003 20 19,84
22/10/2003 19 18,84
19/11/2003 17,5 17,32
17/12/2003 16,5 16,32
Fonte: Banco Central
Para o ano de 2004 também foi necessária a alteração na meta, o Decreto nº 4.761, de 23 de junho de 2003, autoriza o CMN a realizar esta mudança. Com a Resolução nº 3.108, de 25 de junho de 2003, a meta reajustada para 2004 seria 5,5%, com intervalo de tolerância de 2,5% para mais ou para menos. Esta resolução também definiu a meta para 2005 que seria de 4,5% com intervalo de tolerância de menos 2,5% e de mais 2,5%.
No ano de 2004, a inflação efetiva foi de 7,6%, portanto, acima da meta que era de 5,5% mas abaixo do limite superior do intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais. Segundo Relatório de Inflação de 2004, uma das causas dessa elevação no índice foi à repentina depreciação da taxa de câmbio com a adoção de uma política restritiva nos Estado Unidos e outra, era que a economia passava por um momento de crescimento mais elevado, sendo que os índices de utilização da capacidade estava acima da media histórica.
É possível observar na Tabela 10 que a partir de julho a meta da taxa Selic foi elevada pelo Copom.
Tabela 10: Evolução da Meta da Taxa Selic em 2004
Data Meta SELIC Taxa SELIC (%a.a.)
21/1/2004 16,5 16,3
18/2/2004 16,5 16,28
17/3/2004 16,25 16,09
14/4/2004 16 15,8
19/5/2004 16 15,79
16/6/2004 16 15,79
21/7/2004 16 15,83
18/8/2004 16 15,9
15/9/2004 16,25 16,23
20/10/2004 16,75 16,71
17/11/2004 17,25 17,23
15/12/2004 17,75 17,74
Fonte: Banco Central
Analisando o período de 2004 a 2010, conclui-se que o Brasil tem conseguido cumprir suas metas, mesmo em alguns anos, tendo ficado, acima ou abaixo da meta, mas sempre dentro dos limites de tolerância.
No ano de 2005, a meta ficou dentro do seu limite, terminando o ano em 5,69%, sendo a meta de 4,5%, mas dentro do limite quando seu máximo era estipulado em 7%.
Já a meta para a taxa Selic sofre cinco aumentos, passando de 17,75% em dezembro do ano anterior para 18,25% em janeiro de 2005. Contudo, após o mês de agosto a taxa sofre quatro quedas consecutivas, fechando o ano em 18%.
Segundo o Banco Central, em outubro de 2005, o Copom anunciou a redução da freqüência das reuniões, que passariam a ocorrer, a partir de janeiro de 2006, a cada 45 dias, totalizando oito reuniões por ano.
Tabela 11: Evolução da Meta da Taxa Selic em 2005 e 2006
Data Meta SELIC Taxa SELIC (%a.a.)
19/1/2005 18,25 18,25
16/2/2005 18,75 18,75
16/3/2005 19,25 19,24
20/4/2005 19,5 19,51
18/5/2005 19,75 19,75
15/6/2005 19,75 19,73
20/7/2005 19,75 19,75
17/8/2005 19,75 19,74
14/9/2005 19,5 19,48
19/10/2005 19 18,98
23/11/2005 18,5 18,49
14/12/2005 18 18
18/1/2006 17,25 17,26
8/3/2006 16,5 16,5
19/4/2006 15,75 15,72
31/5/2006 15,25 15,18
19/7/2006 14,75 14,67
30/8/2006 14,25 14,17
18/10/2006 13,75 13,67
29/11/2006 13,25 13,19
Fonte: Banco Central
Conforme a Resolução nº 3.210, de 30 de junho de 2004, foi fixada meta para o ano de 2006. A meta ideal seria 4,5%, valor também estipulado para o ano anterior, com intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2%. Após os anos de instabilidade na inflação, o Brasil voltou a utilizar as bandas de tolerância como era no inicio do sistema de metas de inflação, deixando de utilizar o percentual de 2,5.
Um dos principais riscos para a inflação era a evolução do preço do petróleo, que continuou aumentando até agosto, mas retrocedeu a partir de então. A inflação fechou 2006 em 3,14%, podendo destacar, que pela primeira vez após a adoção dessa política monetária de metas de inflação, o índice ficou abaixo do centro da meta.
De acordo com a Resolução nº 3.291, de 23 de junho de 2005, a meta de inflação para o ano de 2007 seria também de 4,5%, com o intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2%. E o ano acabou fechando um pouco abaixo, com o índice de 4,46%. Mesmo com cenário externo sendo marcado pelo desaquecimento da econômica norte-americana associado à redução do nível de atividade no mercado imobiliário.
No ano de 2007, taxa Selic diminui de 12,93% em janeiro para 11,18% em dezembro. Percentual que iniciou o ano de 2008, mas ao contrário do ano anterior, sofre aumento e termina em 13,66%. Como mostra a Tabela 12, abaixo:
Tabela 12: Evolução da Meta da Taxa Selic em 2007 e 2008
Data Meta SELIC Taxa SELIC (%a.a.)
24/1/2007 13 12,93
7/3/2007 12,75 12,68
18/4/2007 12,5 12,43
6/6/2007 12 11,93
18/7/2007 11,5 11,43
5/9/2007 11,25 11,18
17/10/2007 11,25 11,18
5/12/2007 11,25 11,18
23/1/2008 11,25 11,18
5/3/2008 11,25 11,18
16/4/2008 11,75 11,63
4/6/2008 12,25 12,17
23/7/2008 13 12,92
10/9/2008 13,75 13,66
29/10/2008 13,75 13,65
10/12/2008 13,75 13,66
Fonte: Banco Central
Analisando a Resolução nº 3.378, de 29 de junho de 2006, a meta de inflação para o ano de 2008 seria de 4,5%, como tem sido desde o ano de 2005, com o intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2%. Os limites das bandas superiores e inferiores deveria ficar entre 2,5% e 6,5%. Como esperado, o índice de inflação efetiva, fechou o ano em 5,90%.
Verificando a Resolução nº 3.463, de 26 de junho de 2007, a meta de inflação para o ano de 2009 seria de 4,5%, com o intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2%. Quando ficou como no ano de 2006 um pouco abaixo da meta. Observa-se na Tabela 13, que no ano de 2009 a taxa foi diminuindo com o decorrer do ano e para o ano de 2010 e taxa foi aumentando até que se manteve estável no final do ano.
Tabela 13: Evolução da Meta da Taxa Selic em 2009 e 2010
Data Meta SELIC Taxa SELIC (%a.a.)
21/1/2009 12,75 12,66
11/3/2009 11,25 11,16
29/4/2009 10,25 10,16
10/6/2009 9,25 9,16
22/7/2009 8,75 8,65
2/9/2009 8,75 8,65
21/10/2009 8,75 8,65
9/12/2009 8,75 8,65
27/1/2010 8,75 8,65
17/3/2010 8,75 8,65
28/4/2010 9,5 9,4
9/6/2010 10,25 10,16
21/7/2010 10,75 10,66
1/9/2010 10,75 10,66
20/10/2010 10,75 10,66
8/12/2010 10,75 10,66
Fonte: Banco Central
E para o ano de 2010 a Resolução nº 3.584, de 1 de julho de 2008, a meta de inflação para o ano de 2010 seria de 4,5%, com o intervalo de tolerância de menos 2% e de mais 2%. O IPCA neste ano ficou em 5,91%, um ponto percentual acima do ano de 2008, quando o ano fechou com a inflação de 5,90%.
4 CREDIBILIDADE DO BANCO CENTRAL COM AS METAS INFLACIONÁRIAS E AS EXPECTATIVAS DE INFLAÇÃO NO BRASIL
A primeira seção do presente capítulo analisará a credibilidade e reputação do Banco Central. E a seção seguinte irá mensurar a credibilidade atrás de três formulas.
4.1 CREDIBILIDADE E REPUTAÇÃO DO BANCO CENTRAL
Segundo Sicsú (2002), a política monetária só seria crível quando as regras e os objetivos traçados fossem mantidos, sendo que se esses parâmetros fossem rompidos o sistema perderia a credibilidade.
Já para Mendonça (2004), para que se desenvolva a credibilidade é preciso, primeiro, que o responsável pela condução da política monetária e econômica conquiste reputação. Ela está ligada ao passado, e é medida para verificar se as metas de inflação possuem prestígio.
Sicsú (2002, p. 705), entende que os conceitos de reputação e credibilidade estão diretamente ligados.
O conceito de reputação refere-se ao comportamento pregresso das autoridades monetárias. A reputação é uma variável backward-looking. A credibilidade é uma variável forward- looking que depende do julgamento do mercado em relação à factibilidade dos objetivos a serem perseguidos. A credibilidade é alimentada pela reputação conquistada. Contudo, não é determinada exclusivamente pelo comportamento passado. Uma política considerada não factível pelo mercado teria a sua credibilidade comprometida, embora pudesse estar sendo implementada por autoridades monetárias com (elevada) reputação ? até então. Entretanto, a tentativa de alcançar objetivos considerados inexeqüíveis pelo mercado, portanto, não-críveis, reduziria o grau de reputação das autoridades monetárias no futuro breve.
Assim, se o Banco Central teve sucesso na obtenção das metas de inflação ao longo dos anos (conquistou reputação) os agentes econômicos acreditam que a autoridade monetária terá sucesso no alcance da meta futura, o que resulta na credibilidade elevada. E esse aumento da credibilidade do regime de metas de inflação é conseqüência da demonstração de competência do Banco Central, na condução da política monetária em busca da meta anunciada.
4.2 MENSURAÇÃO DA CREDIBILIDADE NO BRASIL
O índice de credibilidade é utilizado para relacionar as expectativas do mercado sobre a inflação com as metas estabelecidas pelo Banco Central. De acordo com Svensson (2000), a credibilidade poderia ser medida pela distância entre a inflação esperada e a meta do Banco Central. Cecchetti e Krause (2002) propuseram um índice de credibilidade buscando esta relação. Este índice utiliza como limite, uma inflação de 20% ao ano. Caso a inflação ultrapasse esse limite, o Banco Central perde o controle e não tem credibilidade.
Cecchetti e Krause se apresentam da seguinte forma:
De acordo com este índice, caso a expectativa de inflação seja menor ou igual à meta, o índice se torna um; se a expectativa de inflação estiver entre a meta e uma inflação de 20% ao ano, o índice irá variar entre zero e um e; no caso da expectativa inflacionária ultrapassar 20% ao ano, a credibilidade do Banco Central se tornará nula.
Figura 2: Índice de Credibilidade de Cecchetti e Krause
Fonte: Nahon e Meurer, 2005.
Na Figura 2, é possível observar a variação da credibilidade segundo Cecchetti e Krause. Nota-se que entre o final do ano de 2002 e início do ano de 2003 o índice teve uma queda, contudo ainda manteve-se dentro do intervalo de credibilidade.
Já o índice proposto por Sicsú (2002) apresenta a seguinte estrutura:
onde:
O índice de credibilidade de Sicsú varia de - a 100. A credibilidade atinge seu ponto máximo quando a expectativa de inflação do mercado em determinado período for igual à meta fixada para o ano, demonstrando que os agentes acreditam que o centro da meta será alcançado. Quando o índice se aproxima de zero, indica a crença por parte do mercado de que a inflação ficará próxima do limite mínimo ou máximo. Quando o índice for negativo, significa que o mercado acredita que a meta não será cumprida e que ultrapassará o intervalo de tolerância.
Figura 3: Índice de Credibilidade de Sicsú
Fonte: Nahon e Meurer, 2005.
Na Figura 3, observa-se que o índice de credibilidade manteve-se elevado durante o ano de 2000. Isso significa, que o fato da inflação efetiva, medida pelo IPCA, ter ficado nos limites da meta e também pelo fato do Banco Central ter obtido reputação após cumprir a meta de 1999. Já no ano de 2002 ocorreu uma queda na credibilidade, quando mostra que o público passou a ficar descrente quanto ao alcance das metas. Nos anos seguintes o índice de credibilidade foi aumentando novamente.
Mendonça (2004) apresenta um índice de credibilidade diferente de Sicsú, argumentando que o limite inferior do índice é inadequado para fins de aplicação em análises futuras envolvendo variáveis econômicas. Propondo este índice:
O índice de credibilidade varia entre zero e um, sendo que apresenta valor igual a um quando a inflação anual esperada é igual à meta central estabelecida para o ano. Ademais, o índice apresenta valor entre zero e um quando a inflação esperada situa-se entre os limites máximos e mínimos estabelecidos pelo intervalo de tolerância. O valor zero é atribuído quando a inflação esperada ultrapassa um dos limites.
Figura 4: Índice de Credibilidade de Mendonça
Fonte: Mendonça e Souza, 2007.
Os anos 2000, 2004 e 2005 são marcados por uma credibilidade estável. Por outro lado, uma credibilidade inferior a um é detectada em boa parte dos anos 2001, 2002 e 2003. Nesses anos o índice revela perda de credibilidade, em razão dos choques analisados no capítulo anterior.
Em relação ao caso brasileiro, a cada começo de ano, as expectativas se ajustam em relação à meta de inflação, considerando o desempenho da autoridade monetária no passado, o que reforça a idéia de que o passado, mesmo que apenas o recente, é relevante.
5 CONCLUSÃO
No decorrer do presente trabalho foi possível observar que após adoção do sistema de metas de inflação como política monetária, o Brasil obtive redução e controle das taxas de inflação. Pelo fato deste sistema ser relativamente novo, autores ainda discutem suas vantagens e desvantagens.
Alguns dos principais fatores favoráveis são: o elevado grau de transparência, visto que o público pode monitorar o desempenho do Banco Central; flexibilidade para lidar com os choques que atingem a economia e também a maior comunicação com o público.
No que concerne a adoção das metas de inflação no Brasil, constatou-se que elas foram implementadas num contexto de crise de confiança e de depreciação na taxa de câmbio.
Entre 1999 e 2010, as metas foram cumpridas em nove anos, sendo doze do total desta estratégia. Foram descumpridas em apenas três anos de implementação, entre 2001 e 2003, pois o país passava por uma crise de confiança, afetando assim sua credibilidade perante o público.
A credibilidade do Banco Central e, por conseqüência, da política monetária, é um fator importante na busca por níveis baixos de inflação. Nos sistemas de meta de inflação, a crença dos agentes de que a autoridade monetária irá perseguir com firmeza a meta firmada para a inflação é fator condicionante para que esta meta seja alcançada. Por outro lado, a própria implementação de um regime de metas de inflação já é um passo importante na construção da credibilidade da política monetária.
Por derradeiro, se o Banco Central obtém sucesso no cumprimento das metas, é capaz de influenciar as expectativas de inflação no início de cada ano, assim, ele acumula reputação e credibilidade tornando essas expectativas favoráveis do mercado.
REFERÊNCIAS
ARESTIS, Philip; PAULA, Luiz F.; FERRARI-FILHO, Fernando. A Nova Política Monetária: Uma Análise do Regime de Metas de Inflação no Brasil. Economia e Sociedade, v.18, n°1 (35), Campinas, 2009.
Banco Central do Brasil. Disponível em: . Acesso: datas diversas.
CANUTO, Otaviano; HOLLAND, Márcio. Flutuações Cambiais, Estratégias de Políticas Monetárias e Metas de Inflação. Disponível em: . Acesso em: 31 de março de 2011.
CECCHETTI, Stephen; KRAUSE Stefan. Central Bank Structure, Policy Efficiency and Macroeconomic Performance: Exploring Empirical Relationsships. Federal Reserve Bank of St. Louis, 2002.
CURADO, Marcelo L.; Oreiro, José. Metas de Inflação: uma avaliação do caso brasileiro. Disponível em: . Acesso em: 20 de abril de 2011.
MENDONÇA, Helder. Mensurando a Credibilidade de Regime de Metas Inflacionárias no Brasil. Revista de Economia Política, vol. 24, n°3 (95), 2004.
MENDONÇA, Helder; SOUZA, Gustavo. Credibilidade do Regime de Metas de Inflação no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 31 de março de 2011.
MISHKIN, Frederic; SAVASTANO, Miguel. Monetary Policy Strategies for latin America. NBER Working Paper. n°2685, jan, 2001.
NAHON, Bruno; MEURER, Roberto. A Relação entre a Credibilidade do Banco Central e a Inflação no Brasil do Regime de Metas Inflacionárias. Disponível em: . Acesso em: 31 de março de 2011.
SEABRA, Fernando. O Modelo de bandas Cambiais e a Variabilidade da Taxa de Câmbio. Disponível em: . Acesso em: 27 de abril de 2011.
SICSÚ, João. Expectativas inflacionárias no regime de metas de inflação: uma análise preliminar do caso brasileiro. Revista de Economia Política, vol. 6, n°4, 2002.
SICSÚ, João. Teoria e Evidências do Regime de Metas Inflacionárias. Revista de Economia Política, vol. 22, n°1 (85), janeiro-março, 2002.
SVENSSON, Lars. Inflation targeting as a monetaty policy rule. NBER Working Paper, n°2790, nov, 1998.
Autor: Dary Pretto Neto
Artigos Relacionados
Inflação 2011: Consumidor Vai Pagar Pelo Controle
Afinal, O Que é Mesmo Inflação?
Política De Metas Para Inflação
A Inflação Custa Mais Ao Brasil Que O Próprio Aumento De Preços
Os Impactos Da Inflação E Da Inadimplência Da Obrigação Contratual Na Correção Monetária E Juros
NÃo Tem Justificativa Para Os Juros Altos Em 2008
Inflação Baixa Dá Ao País...