Pluralismo Cultural, Identidade E Diferença Em Permanente Contato



A diversidade cultural brasileira é repleta de significações e representações possíveis de serem percebidas, desde que os movimentos sociais ganharam as ruas, aqueles, representantes desta pluralidade, tais como as feministas, os negros, os homossexuais, a arte das favelas, a luta dos portadores de necessidades especiais, as comunidades indígenas e os quilombolas.

Toda esta diversidade ganhou as ruas porque se transformou em reivindicação,em lutas e ganhos das minorias, descaracterizando-se como movimentos particulares para lançarem-se à sociedade como um todo, à procura de reconhecimento público, mesmo que este ainda não seja sentido no concreto da vida comunitária.

Este pluralismo de idéias, comportamentos e sentimentos que estão nas ruas, distorcidamente se fazem presentes na mídia, naquela representante do pensamento  liberal,  que  passa a idéia de que a riqueza do multiculturalismo brasileiro é plenamente absorvida por toda a sociedade, principalmente quanto as etnias, o que não é verdade.

A escola, como parte desta sociedade, tem sido, ao longo da história do Brasil, um mecanismo de reprodução das desigualdades, quer sejam religiosas, étnicas, políticas, sociais, impedindo justamente que a riqueza cultural  venha a ser respeitada e trabalhada.

É necessário que se conheça a história das diferenças, para que ela seja uma aliada na construção de uma proposta pedagógica que não incentive e não reproduza as desigualdades.

O que se coloca como questão norteadora da discussão, é como o professor pode construir uma pedagogia multicultural, que priorize a igualdade e não reproduza padrões, preconceitos e exclusões?

Há de se pensar e construir uma pedagogia que seja capaz de estabelecer comunicação e mecanismos de ligação entre as culturas, onde os alunos conheçam e percebam as identidades e os diversos sistemas culturais, e não a  entender a cultura como um único padrão de ser, pensar e sentir.

Para  trabalhar esta questão, torna-se imprescindível as discussões sobre o multiculturalismo, invocando para tanto a visão das práticas educativas que fazem da escola um espaço de entrosamento de saberes e das múltiplas interpretações da cultura.Mas é necessário se discutir não só o pluralismo enquanto ganho de mais cidadania,  mas o desempenho do educador frente à uma nova prática pedagógica, onde ele oferece a oportunidade do educando construir sua história de cidadão através da vivência com o pluralismo. Há significação e sentido para o professor durante a vivência com as diferenças culturais? Este sentido e vivência podem ser transformados em práticas pedagógicas que favoreçam o entendimento do multiculturalismo?

É preciso que exista uma proposta de penetrar no contexto da educação, mergulhando nas emoções e nas experiências cognitivas, interpretando as construções do cotidiano deste professor.

entender inclusive, se ele consegue fazer do pluralismo ações socializadoras dentro e fora da escola.  propor uma  aprendizagem que necessita do encontro, do diálogo discutido por Buber (2004 ),da construção permeada de riscos e novas descobertas, da vivência entre homens de culturas diferentes, para que possa acontecer em um sentido mais pleno.

Ainda é necessário expressar que a aprendizagem como processo de socialização, inclusive para a cidadania,  ajuda a formação da identidade dos homens, e mais rica esta será, se as características cognitivas, físicas, afetivas, sexuais, culturais e étnicas de todos que estiverem envolvidos no processo educativo forem completadas.

As visões de mundo, numa discussão  mais ampla, ao longo da vida, significará o pleno respeito e convívio com as culturas, raças, etnias, nações, permitindo as saudáveis vivências entre as idéias e as teorias, do contrário, como afirma Morin (1969),  não admitindo este convívio, ainda estamos na idade do ferro, na pré-história.

O enfoque fenomenológico além de ser umconvite à humanização da relação professor / aluno / ensino / aprendizagem e sociedade, possibilita a convivência com as culturas diferenciadas e assim, a interpretação das significações que compreendem as histórias de vida de educadores e alunos, é preciso ver e interpretar o que se mostra. Masini (2002) diz que: " (...)   o método fenomenológico não se limita auma descrição passiva. é simultaneamente tarefa de interpretação que consiste em pôr a descobertoos sentidos menos aparentes, o que o  fenômeno temde mais fundamental."

Quando o aluno se vê enquanto cidadão e participa dos vários momentos da aprendizagem, este momento não é substituído por  nada, pois ter vivenciado só se compara a ter vivenciado, e o respeito ao pluralismo proporciona esse encontro, conduz  a um encontro mais digno entre professor, aluno, o saber compartilhado.

Este encontro leva à um importante momento de significação, deixando com que as subjetividades, os enfoques pessoais permitam que o educador capte, do aluno, o que mais de perto lhe interessa, tornando-se um registro histórico de sentimentos e sensações que mais tarde se transformam em subsídios importantes para se trabalhar melhor em sala de aula.

O educador atento ao multiculturalismo, está preocupado com a reconstrução histórica das pessoas em seus diversos aspectos dentro do espaço da escola, leva em contaas  emoções tanto dele como  dos sujeitos-alunos, registrando as impressões, a narração das experiências cotidianas.Preocupa-se em construir uma história, através de uma descrição densa, que interpreta os significados culturais dos alunos,  mesmo aqueles que não se encontram  tão visíveis, que por descuido, podem passar desapercebidos. Da mesma forma, enxerga a intencionalidade ou não  dos gestos e dos sinais simbólicos que permeiam o universo do aluno.

Pode-se entender que existem sinais, símbolos, comportamentos culturais, sociais e históricos infindáveis, e que o educador deve  estar atento a essa rica diversidade de significações, às partículas dos gestos.   Cada detalhe, cada gestualidade, cada palavra, se tornam preciosas representações das culturas como também dos vários indivíduos dentro de cada cultura.
Os homens  possuem histórias únicas, construídas a partir não só da vivência do agora, como também através de suas memórias pessoais, das lembranças do cotidiano. Nele, estão o cheiro, os prazeres, as dificuldades, as alegrias, o interior deles se comunicando com a vida, O cotidiano é invisível como nos diz  Certeau (1996), e nada melhor do que este processo, para melhor compreender não só a pluralidade cultural, mas toda ação pedagógica advinda dela no espaço da escola.

O interessante é que quando se descortina os passos de um homem, ao mesmo tempo emergem as  trajetórias não só deste homem, como também do grupo social ao qual ele pertence. assim, ao buscar a leitura interpretativa dos alunos, está-se também procurando saber se a escola é um espaço de construir, viver, ouvir e falar.

O ato pedagógico com respeito à diversidade,fornece elementos para decifrar os sentidos implícitos e explícitos, as intenções, a história dos sujeitos. São detalhes de situações, acontecimentos, interações e condutas observadas, demonstrações através das falas das pessoas acerca das suas experiências, fornecendo a partilha dos sentimentos entre sujeito e sujeito.

Rogers (1977) apresenta a necessidade de haver um processo de aprendizagem focado na percepção do homem como um todo, onde os sentimentos e as idéias sejam integrados, aprendizagem cognitiva e a afetiva – vivencial sendo estimuladas ao mesmo tempo, realizadas na consciência, propiciando assim o que ele chama de aprender como pessoa inteira, a " natureza visceral da aprendizagem por vivência". Quem vivencia e experimenta sentimentos é capaz de transmiti-los na mesma intensidade e verdade em que os sentem. Aquele que vivencia o sentimento, tem condições plenas de comunicá-los, portanto, conduz, esta observação, à adoção do pluralismo cultural como prática democrática do saber e da experimentação.

Reconhecer a pluralidade, é também entender e ver o indivíduo fora de seu aprisionamento social, reconhecer a democracia, discutir direitos coletivos e individuais, uma vez que o cotidiano cultural está permeado de lutas, conflitos, justamente em razão das diferenças nas relações de poder refletidas na pluralidade cultural, e assim, repensar o papel da escola torna-se uma primeira condição de suporte para estas questões.

Existem caminhos para se chegar a uma ou outra aprendizagem, é preciso se fazer uma escolha, e este caminho, a reflexão, o método, é uma maneira de se olhar a vida, a educação, enfim uma filosofia escolhidaA escolha precisa não ser autoritária para ter êxito e todos os dias ser construída para fazer frente às diversidades. Uma escolha de autoconsciência e consciência do outro, paraque educador e alunos digam:eu estou ouvindo você.


Autor: Jussara Whitaker


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