Culto consumista



As tradições africanas que se reproduzidas nos cultos afro-brasileiros dos Candomblés, preservam muitos ritos milenares, como por exemplo, o sacrifício e as oferendas.


A essência dos sacrifícios e das oferendas está na energia vital, tanto do alimento vegetal quanto do sangue animal. Um alimento, ou mesmo a vida de um animal, que é oferecido ao Orissá contém uma intensa e complexa carga de energia vital, que, complementada com os devidos orikis e adurás (rezas faladas e cantadas) adquirem um poder sem medidas. São ensinamentos transmitidos e reproduzidos há milênios.

Atualmente vivemos uma crise, uma completa distorção dessa tradição tão importante e poderosa dentro do culto aos Orissás no Brasil.

O consumismo ocidental de nosso tempo passou a permear as práticas das oferendas e dos sacrifícios praticados pela Umbanda e pelo Candomblé. É muito comum presenciarmos verdadeiros desperdícios e poluição em cachoeiras, matas e praias por parte dos adeptos dos Orissás. Garrafas, pratos, vazilhames de todos os tipos deixados na natureza, contendo quilos e litros de alimentos e bebidas que são oferecidas aos Orissás. Despachos em sacolas plásticas. Sabonetes, pentes, espelhos, perfumes e shampoos deixados a esmo. Ebós com quilos e quilos de comida. Praticantes que enxergam na quantidade a qualidade e força da louvação. Pessoas que não tem consciência de que o local mais sagrado para essas religiões é a própria natureza, e daí a importância do cuidado a ela. Enquanto tanta gente passa fome no mundo todo, quilos e quilos de alimento são desperdiçados pelos candomblecistas e umbandistas sem consciência da essência de sua própria religião. Como os Orissás vão abençoar o desperdício de alimentos e poluição de seu principal e mais sagrado templo.

Aos praticantes é necessária a compreensão de que a essência da oferenda é a reza, a fé, e que o alimento e a bebida são símbolos. Que tais produtos carregam a energia vital em sua essência e não em sua quantidade. 5 quilos de feijão preto não agradará mais que 100 gramas. Mas 100 gramas com fé, com respeito e coração agradará muito mais do que 5 quilos, sem coração e fé.

O culto aos Orissás veio de um povo, de uma região em que cada grama de alimento, cada animal era altamente sagrado, respeitado e racionalmente consumido e oferecido aos Orissás.

Não é necessário sacrificar vários animais, principalmente exóticos como tartarugas, faisões, cobras, lagartos, para o iniciado ser realmente iniciado. O ejé, o sangue do animal, a vida do animal também é simbólica. Inclusive, em muitos casos se matam animais sem se saber as devidas palavras. Sem utilizar as devidas folhas. Muitos não sabem que o ejé das folhas é tão ou mais importante que o ejé dos animais.


Quantidade não é qualidade. E pior, existem terreiros, casas, centros que rezam as oferendas e depois jogam fora. Despacham. Quilos e quilos de carne, frutas e comidas em geral que poderiam ser consumidas pelos próprios praticantes, ou mesmo doadas, são desperdiçadas com o nome de despacho.

Muitos praticantes do Candomblé e da Umbanda sofrem de um mal que precisa ser superado. Esse mal chama-se ignorância. Falta de conhecimento e consciência sobre a essência da própria religião.
Autor: Alan Geraldo Myleô


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