Mutilados.



MUTILADOS.

( Escrito no final de 2007)
Mutilados para que caibamos neste mundo! Perpassados pela fria espada do capitalismo. Reduzidos a mera peças de reprodução e a famigerados e embriagados consumidores. Mutilados para que caibamos neste sistema...
Não existe espaço para o homem integral. Vivemos a época do reducionismo. A época do "faz de conta" e da extenuante busca da realização pessoal. Rebelemo-nos, mesmo nos arrastando, mutilados; como náufragos. Soltemos um grito: ajudem-nos!Estamos aqui!...
Parem!Escutem-nos!Estamos aqui!Contorcendo-nos em lastimoso estado de penúria. Afogados no caudaloso oceano de leis silenciosamente silenciosas.Náufragos!Num mar de ordem e desordem. Parem!Estamos aqui! Exigimos respeito. Olhem!Não temos rosto... Não temos olhar...Não temos palavra...Estamos mutilados.Mutilados de confiança...Mutilados e indignados.
Mutilados e órfão de um "Estado lastimável".Quem vai ocupar o espaço do Estado lastimável, negador do respeito e da decência?Suposto guardião do direito?Vivemos momentos difíceis...
Vivemos momentos difíceis e decisivos nas instituições constituídas.Transformadas em cozinhas de poucos que se lambuzam comendo as vísceras de miseráveis vítimas da escuridão.Homens de estômago asquerosos que se alimentam de homens...Canibais!Homens das "urnas" mortuárias...
Canibais sedentos de sangue e de carne sem vida...podre...Indigna!E para beber?¬Lágrimas,é claro!Lágrimas de vítimas indefesas...Predadores do silêncio das crianças doentes nas "filas" da indigência.Canibais!Devoradores de pele e osso de velhos...Velhos de olhares perdidos...De mãos vacilantes...De ombros fracos...Esquecidos rostos. Homens das urnas mortuárias,regentes do espetáculo "átrio das cabeças voadoras".Usurpadores de direitos das vítimas passivas da ignorância! Ânsia...Avança...Cansa.....
Mutilado canibal também eu sou!Predador-de-mim-mesmo.Até quando assistirei absorto,incrivelmente alheio e distraído, ao espetáculo escabroso da famigerada corja de corruptos mutiladores dos já espectros humanos como eu?Até quando direi "sim" ao vil jogo da corrupção mortuária que se faz presente ao funeral dos valores democráticos; cantando e dançando, ao som embriagador de uma urna que só confirma!?
Sim, mutilado e mutilador eu sou!Até quando...
Até quando a minha boca cheia de comida e a respiração difícil pela bebida inebriante, derramada sobre a mesa da "ceia farta",fará calar o grito e abafar o soluço do mundo lá fora?Serei um covarde canibal?Comensal descuidado num mundo particular?Meu?Só meu?O meu regaço?
Até quando...Até quando meu sorriso disfarçará a verdade que me incomoda?O meu sorriso amarelo...fácil... Ignorará o sorriso lúgubre dos mortos-vivos?Até quando o barulho da festa,com seu som alucinante, proteger-me-á dos famintos que teimam em povoar meus pesadelos?Que insistentes batem à porta da minha, inquieta e desventurada, consciência?Compaixão. Compaixão...
Até quando balbuciarei displicentemente a velha frase:
FELIZ ANO NOVO,no velho mundo do meu EU?
Até quando???!!! Diga-me? Até quando???!!!

Feliz ano velho!Que tenhamos aprendido algo com ele!

Autor: Afonso Rocha Sombra


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