Bruxa Boa Ou Bruxa Má - A Difícil Escolha Do Professor



Quando recordamos nossa velha infância, revendo nossa colcha de retralhos certamente  nos lembraremos de algum professor ou professora que nos marcaram por algum motivo. O motivo pode ser positivo como também pode ser negativo.

Considerando que estamos em pleno século XXI, por tantas e tantas atrocidades acontecendo no mundo, tanto avanço, tanta ciência a disposição, tantas teorias, narrativas, enfim, pensei que não veria mais a famosa  bruxa má rondando as portas de nossas escolas...

Pois pasmem, outro dia encontrei uma professora de área (ou seja de pré-adolescentes/adolescentes) na porta de uma sala de aula em  uma escola que conheço,  vestida com chapéu de bruxa e com uma vassoura na mão e com um semblante muito bravo.

Esse acontecimento não teria grandes reflexões se não ocorresse o que segue:    

Perguntei-lhe o motivo de estar daquele jeito, sorrindo-lhe, esperando uma resposta positiva, dentro daquilo tudo que venho estudando em termos de motivação, ludicidade e também  fantasia.Sem ouvir a resposta falei que estava  linda aquela fantasia de bruxa, mas que ela não deveria  ser uma bruxa má e sim uma maga, afirmando e ao mesmo tempo perguntando.

Sua resposta veio como um canhão para cima de toda a minha concepção de educação:  Não mesmo, sou a bruxa má sim! Por que será que tem tanta gente aqui dentro dessa sala de aula em recuperação?..

Eu, atordoada, olhei para dentro da sala de aula e vi adolescentes com os olhos assustados, me enterneci toda e também me confundi por tudo que estudo, mas disse, como num passe de mágica: Uma ótima prova para vocês viu? Vocês vão se sair muito bem!

E segui meu caminho...com minhas pernas trêmulas...

Esse fato me fez novamente repensar na tarefa de educar, na sua responsabilidade e o quanto ela é complexa.

Certamente essa professora estava usando essa fantasia de bruxa má para tentar assustar a si mesma, tentar sublimar suas frustrações em cima do medo que as crianças estavam sentindo dela.

Se o professor não for um intelectual-humilde como muito ouvi na faculdade, ele cai em suas frustrações e acaba torturando seus alunos com suas neuroses.

Fiquei muito preocupada com esse episódio, principalmente porque isso coloca em evidência cada vez mais a minha teoria de que todo o professor antes de ser especializado em alguma matéria deveria  primeiramente ter sido preparado em Pedagogia, ou seja, todos deveriam ser especialistas  na arte de ensinar para depois estudarem os conteúdos.E principalmente estudar psicologia em todos os âmbitos, nas possíveis causas e conseqüências de seus atos.

Querendo ou não querendo, isso está fazendo falta aos alunos, que continuam sofrendo humilhações na sua caminhada de aprendizagem, muitas vezes levando-o até ao fracasso escolar.

Por isso os manicômios estão tão cheios de professores, porque eles levam seus problemas, suas neuroses e psicoses para dentro da sala de aula, esquecendo que são pessoas também e que tem que sempre avaliar sua prática, rever seus conceitos e principalmente se colocar no lugar do outro. Pensar em como ele próprio se sentia com tal idade, como eram seus pensamentos e tentar direcionar a esses sentimentos a sua didática.

Um detalhe a considerar nesse meu pensamento é o de que os estudantes quando estão nas primeiras séries do ensino fundamental geralmente tem um ensino completamente diferenciado do que o das séries seqüenciais, parece um absurdo isso mas acontece sim. Uma preocupação muito diferenciada nos momentos educacionais de uma mesma pessoa.

Parece, que como num passe de mágica o estudante deixa de ser uma criança acarinhada, querida, considerada, respeitada,  para ser um meio-adulto esquartejado, sofrido e desrespeitado com ser humano.

Nesse momento o que me vem a mente é que está faltando preparo aos professores. Sendo assim, precisam usar da domesticação e do medo para ensinar.

Toda aquela fantasia de bruxa poderia ter sido explorada de uma maneira tão agradável e prazerosa, inesquecível para os alunos e para a própria professora se ela estivesse ali com o coração também, além de toda a sua bagagem profissional.

Estamos num momento de carência, todos precisamos de carinho, pois ninguém tem tempo para ninguém. Ali poderia ter havido uma troca de sentimentos muito positivos.

O que aconteceu foi que aquela professora conseguiu  transformar  toda a fantasia linda das bruxas boas (que  sempre nós professoras dos anos iniciais  estamos tentando ensinar às crianças para tirar a má impressão) em uma grande mentira  e nos tornou malvadas pois só contamos o lado bom, não contamos toda a verdade de que infelizmente existem  bruxas más sim... e o pior é que pela vida à fora!

Mas, não obstante, existem as fogueiras!

Autor: Luz Mary Padilha Dias


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