EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE: ALGUMAS REFLEXÕES...



EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE: ALGUMAS REFLEXÕES...

Francisco Thiago Silva



Na última década o assunto diversidade tem tomado as discussões em torno da educação de uma maneira muito forte. Os acadêmicos e por vezes profissionais do ensino têm levantado a bandeira de uma educação voltada para a promoção dos direitos humanos, visando um ensino plural, anti-racista, democrático e que abarque de fato, toda a diversidade de subjetividades que cercam o ambiente escolar.
Ora, são princípios universais para uma educação de qualidade, mas me preocupam alguns pontos, enquanto educador/pesquisador: o que seria diversidade? Quais os assuntos fazem parte dessa temática maior?É preciso tomar alguns cuidados para não fazer um caldeirão de temas transversais apenas, que resulte em debates vazios e sem efeito prático, principalmente quando for levar, para nossas salas de professores e evidente, as salas de aula.
As chamadas "minorias" (grupo LGBT?S, grupos feministas) precisam ter suas dificuldades elencadas para terem de fato visibilidade: misoginia, homofobia e lesbofobia precisam ser levantadas e devidamente combatidas, afinal a escola é parte da sociedade, e se queremos relações sociais sadias, devemos começar pela infância.
Particularmente, acredito que uma educação para as relações étnico-raciais não deve ser "apenas" mais um ingrediente desse caldeirão. Antes, deve ser o prato principal. Lembremos que o artigo 26-A da LDB (lei 10.639/03) foi o responsável por trazer essa discussão mais abertamente sobre todos os outros grupos vulneráveis, não menos importantes, mas friso que relações raciais em prol de uma educação anti-racista devem ser a cereja do bolo.
Portanto, precisamos nomear para dar visibilidade, não podemos estudar cada grupo vulnerável de maneira isolada, ou mesmo uniformemente, sem considerar as suas interseccionalidades, no entanto não podemos admitir abraçar tanta complexidade de objetos, numa única panela, essa da diversidade. O ensino deve ser plural, público, democrático e de qualidade, mas principalmente deve dar voz a todos os grupos que dele fazem parte.
Se caminharmos por essa vereda da diversidade poderemos cometer alguns equívocos, por exemplo, concordar e propagar a ideia de que a prática de crime racial (racismo contra a população negra) seja configurada apenas como prática de bullyng, quando na verdade sabemos que vai muito além dos muros escolares.
O racismo é vivo e atuante em nossa sociedade brasileira, que insiste em dividir-se e hierarquizar-se em castas. As pesquisas educacionais apontam que no último patamar dessa sociedade seccionada, está a população negra (pretos e pardos, segundo critérios do IBGE), sempre nas piores qualificações profissionais e educacionais. Analisando a questão com maior profundidade, observaremos que o critério racial ainda é determinante para hierarquizar verticalmente a sociedade brasileira.
Cada um: LGBT?S, mulheres e população negra, têm seus pontos de reivindicações e devem ter espaço para externar seu pensamento principalmente nos bancos escolares. Porém, alerto mais uma vez: cada grupo deve manter sua essência, e não pode perdê-la, só para adquirir uma identidade relacionada com a diversidade, para se enquadrar nela.
Se a exclusão da população negra é histórica, a educação pode ser o víeis principal para as relações étnico-raciais mais sadias e possibilitar que esses alunos negros se enxerguem com plenitude no ambiente escolar.
Educação para a diversidade é bem vinda, porém, se pudermos enxergar cada elemento desse universo diverso, sem minar sua identidade. Tolerância e respeito são fundantes quando se busca uma sociedade livre de preconceitos e discriminações.


Autor: Francisco Silva


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