Por que desistir de mim



Tem dias que dá uma vontade de ser uma outra
"Burra como uma porta"
Tudo ignorar e não ter a menor ambição
Não querer mais que uma cuia, água, erva de chimarrão e uma forma de biscoitos, recém assados no quintal
Vestir um vestido de chita
E sentar-me ao sol rodeada de cinco filhos briguentos
Falar da vida alheia
Não me importar se a casa está suja
Nem ligar se a comida foi só arroz, feijão e linguiça
Assistir à sessão da tarde
E às novelas das duas, das seis e das oito
Emendar com a minissérie
E nunca mais abrir um único livro
A não ser que seja romance
Nunca ler o jornal
E nem saber o que é internet
Não me importar se o dólar subiu
Ou se a previdência privada rendeu mais ou faliu
Não ter assinatura corporativa
Ou de Yahoo
Nem Hotmail
Facebook
Skype
Ou Orkut
Nunca entrar num banco
E ter medo de caixa eletrônico
Não saber a diferença entre a célula ou celular
E DNA ser só aquilo que a filha da vizinha fez
Pra provar do filho quem é o pai
Salto alto no máximo plataforma
E eu ser o antônimo de mim
Talvez esta seja a minha sombra
Que esteja cansada de andar comigo
Querendo me abandonar
Ou avisando que preciso só um lugar fresco e tranquilo pra repousar
Envolver-me num abraço e amar
E deixar os problemas do mundo para os outros
Viver livre sem nenhuma ambição, preconceito ou tabu
Não ter nada e não querer tudo
Viver somente o que está a um pouco mais que um palmo de distância
Sentar na grama e me vestir de alecrim
Desistir de ser uma mulher urbana
E viver nas cavernas
Numa fuga sem fim

Autor: Marcia Dalva Machinski


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