As boas lembranças
Ditadura? Pra minha tenra idade isso não significava nada!
Era ali que as coisas mais aconteciam e fustigavam minha imaginação deixando-me curioso do que estava por vir.
Havia tanta coisa boa, pra quem, como eu, era criança e não tinha nenhuma preocupação com nada, a não ser brincar e se divertir a valer. E era tão fácil.
Tudo bem que havia responsabilidades como escola e ajudar a mãe em algum afazer, mas, na grande maioria do dia, era brincar, correr, descobrir, criar, imaginar e rir, rir muito com qualquer coisa. Era fácil ser feliz. Bastava um carrinho de plástico, uma bolinha de gude ou um pião, um amigo e tudo terminava em muita risada e as vezes em muitos puxões de orelha da mãe, afinal, que moleque brincava sem aprontar alguma? Ai acontecia o que de pior podia acontecer; aquela frase que derrubava o humor na hora e, como o relógio andava bem mais devagar naqueles dias, a angústia se tornava interminável: Quando seu pai chegar vou contar pra ele!
Meu Deus, isso era aterrador, era de meter medo e deixar quieto, na esperança de que acontecesse um milagre e a mãe ficasse com dó e deixasse pra lá. E olha que meu pai jamais me deu um tapa sequer.
Parece que hoje essa frase não tem mais impacto algum. Pelo que tenho visto ela soa mais ou menos como: Vamos ter arroz para o jantar...
Pirulito de chocolate da Kibom. Alguém se lembra disso? Que sabor indescritível. Pra você que se lembra, que ótimo, pra quem nunca ouviu falar, sinto muito! Que sabor diferente. Talvez porque a gente naquela época tinha um paladar mais aguçado e tudo era bem mais gostoso. Às vezes saboreio alguma coisa que persiste no tempo, mas, o sabor está longe de ser o mesmo. Doriana, dadinho Dizioli, Yakult, pão de banha, pizza em pedaços na padaria e mais um sem número de guloseimas que marcaram pra sempre. Hoje nós podemos consumi-los também, porém, com o sabor daqueles dias, nunca mais.
Que saudade.
Não só os alimentos eram especiais, também as músicas, os bailinhos de garagem, as malícias sem malícia alguma, as televisões que insistiam em ficar caindo por má regulagem do horizontal, as manhãs com notícias no rádio AM, antes de ir para a escola e o comprimento do dia - os dias eram compridos e cheios de coisas para fazer. Quantas coisas.
Às vezes me pergunto, será que a turminha mais nova tem essa mesma sensibilidade? Será que os mais novos passaram por essa época mágica em sua vida ou só aquela época era mágica mesmo?
Não sei, pois não tem como expressar quão satisfatória era a percepção daqueles dias.
Olhar pra frente agora é o que interessa, porém sem deixar que este passado glorioso desapareça de nossas mentes.
Quiçá nossos jovens sintam a mesma coisa boa quando se lembrarem de quando eram crianças (apesar de parecer que as crianças de hoje são todos pequenos adultos).
Não percam a magia da lembrança e não deixem passar o tempo sem que marcas positivas identifiquem cada época.
Abraços a todos.
Estamos a bordo.
Autor: Clovis De Mello
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