Salvar O Arroz Em Outro Pote



Hoje em dia com o computador fazendo parte de nossas vidas, no escritório, em casa, na beira da praia, no elevador, no telefone, no motel, no chuveiro, nossos hábitos vão, cada vez mais, se incorporando aos termos técnicos da informática, causando grande confusão quando estamos em algum lugar ou momento em que não precisamos dele, como por exemplo, quando vamos cozinhar (isso se a receita não estiver no computador).

Se estamos na cozinha, nos preparando para fazer uma comida especial e queremos saber onde está o arroz que estava no saco, alguém grita: "Eu tirei do saco e salvei no pote branco"! Eu salvei no pote branco!

Guardar em outro lugar hoje é salvar.

Nos momentos em que é preciso rever nossas estratégias sempre tem alguém que diz:

- Precisamos "formatar" melhor esse plano.

Já a mulher ressentida por mais uma decepção de seu grande amor decreta: - Eu vou "deletar" ele da minha vida.

Os amigos, que há muito não se falam, mas que tem muito em comum sempre dizem: - Nós precisamos nos "linkar" mais vezes.

Para aqueles que querem avançar sempre mais, não deixam de dizer: - Precisamos "inserir" nossas idéias, senão ficamos fora.

Quando passamos por um corredor de escritório e olhamos para cada uma das pessoas que estão em suas mesas, quase todas elas estão olhando para aquela tela do computador, o tempo todo.

Não importa qual atividade que se esteja fazendo, até mesmo se estiver de fato trabalhando, o que é mais raro. Sim porque antes quando só tínhamos uma máquina de escrever a nossa frente, não tínhamos muitas opções de usá-la, a não ser a de escrever alguma correspondência oficial ou brincar de pianista.

Hoje a nossa "máquina de escrever" nos conecta com nossos amigos, dá a previsão do tempo, joga cartas conosco, e ainda nos leva ao shopping. De fato esse aparelho concentra todas as nossas atenções.

Quem está namorando via e-mail, Orkut ou MSN, está ali fixo com o olhar na tela. Quem está matando o tempo com algum joguinho, também está ali hipnotizado.

Talvez um grande blecaute, com duração de um mês, consiga não resgatar, mas pelo menos nos mostrar o quanto estamos dependentes do computador e, a medida em que vamos nos computadorizando, nos afastamos do mais sublime e mais singelo dos atos humanos, que é o olhar e o se tocar.

Olhar e se tocar não na "webcam" nem no teclado ou "palm", olhar e se tocar em outro ser humano, uma "máquina" já ultrapassada e esquecida, mas que ainda pode interagir de forma mais prazerosa e real do que qualquer computador.

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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