Depoimento de um ex-tabagista



Em 31 de maio se comemora o dia mundial sem tabaco e estou feliz de fazer parte da categoria de ex-fumante, das pessoas que abandonaram o hábito de fumar.
Parece que foi ontem, mas quatro anos já se passaram desde que fumei o meu último cigarro. Não tenho a data nem a hora exata porque, desta vez, foi pra valer, me empenhei de verdade e abandonei definitivamente o vício.
Quando Leio as notícias da Organização Mundial de Saúde (OMS) de que quase seis milhões de pessoas morrerão por conseqüência do tabaco neste ano, direta ou indiretamente, fico triste pelos dados alarmantes sobre os males desse vício e, ao mesmo tempo, fico feliz por não fazer mais parte desse grupo de risco.
Como a grande maioria dos fumantes, comecei a fumar ainda adolescente, período de muitas dúvidas, incertezas e grande necessidade de auto-afirmação. Junte-se a isso, uma carência afetiva enorme por fazer parte também de um grupo de crianças cujos pais se separaram. Vivia muito bem com minha mãe, mas a saudade e a falta de meu pai me consumiam. Parecia que um vazio enorme dominava o meu ser.
Era uma época em que fumar fazia parte dos costumes e da moda, além é claro, de um bombardeio diário de propagandas na mídia em geral, mostrando o glamour do fumar, o sucesso com as garotas e, acima de tudo, o homem de verdade que se tornava o fumante. Houve influência de minha família, pois, havia muitos fumantes inclusive meus ídolos, meu pai e minha estimada mãe. Era a resposta para tudo aquilo que um jovem nesta fase da vida podia esperar.
O que à época não se falava claramente, era sobre o perigo de se tornar um dependente químico da nicotina e, principalmente, do risco de contrair um câncer e outras doenças associadas ao vício de fumar. Pouco adiantaria também tomar conhecimento dos malefícios do meu vício, pois, já vivia na fantasia do sucesso e do novo ser que me transformará, era o máximo!
Minha carreira de fumante foi longa. Fumei o primeiro cigarro aos treze anos, ainda em caráter esporádico durante dois anos por questões religiosas e aos quinze anos, peguei firme e fiz carreira. Foram longos trinta e cinco anos de tabagismo!
Próximo aos dezoito anos, devido à prática de esportes, fiz minha primeira tentativa de parar de fumar e fracassei. Não entendi muito bem o que havia acontecido, mas também, ainda era muito atrativo fazer parte desse grupo seleto de pessoas que fumavam. Levei a vida adiante.
Anos mais tarde, quando já havia esquecido a última tentativa fracassada de parar, já aos vinte e cinco anos aproximadamente, quando também já se falava das possibilidades de contrair doenças, principalmente o câncer pelo hábito de fumar, fiz uma nova tentativa. Desta vez convenci a um amigo que juntos poderíamos vencer essa luta. Foram três longos dias da minha abstinência. Fiquei na maior alegria em pegá-lo fumando escondido, pois, tinha um motivo justo para romper o nosso trato. Voltei ao vício. Desta vez foi diferente, reabastecida a carga de nicotina no corpo, começou a dor na consciência e uma grande dúvida: será que não consigo parar? Será que estou viciado? Era isso que meus pais tentaram me alertar e não dei ouvido! Levei a vida adiante, só que agora com uma mágoa da derrota e um enorme sentimento de culpa.
Peguei o vácuo da brincadeira do mesmo amigo, que dizia ?"deixei de deixar de fumar" e assim, continuava a alimentar o meu vício. Lembrava também do fracasso de outro amigo, que após dois anos de abstinência, voltará a fumar em uma pescaria por substituir o cigarrinho de palha usado para espantar mosquito mutuca, pelos tradicionais cigarros de sua preferência. Claro que a estas alturas já conhecia e me apegava a alguns dados estatísticos que davam conta de pessoas no alto de seus oitenta, noventa e, até mesmo, quase cem anos, que fumaram a vida toda, desde a mais tenra infância. No calor dos debates, recorria às pessoas mais próximas que fumavam e não tinham nada, até mesmo meu falecido avô do qual tinha notícia de seu cigarrinho de palha esporádico.
Misturada à minha loucura, já aos quarenta e poucos anos, encontrava a loucura de outros que assim como eu, viviam esta angústia decorrente das várias tentativas de querer parar de fumar e não poder mais fazer essa escolha. Dentre eles se destacava um grande amigo argentino, que vivia no Brasil há muito tempo, mas não abandonava suas raízes, principalmente a tradição que trouxera da terra natal, o hábito de fumar e tomar café. Muito culto, intelectualizado, engenheiro e professor universitário e fumante inveterado. Embora tivesse suas histórias sobre as suas paradas de fumar, trazia sempre a lembrança de ter lido certa vez dois artigos que apontavam pesquisas que não encontraram determinadas doenças em pessoas fumantes, daí a conclusão de que havia algum bem no fumar. Era hilário!
Levava adiante a minha vida, agora muito consciente da enrascada em que me meterá, pois, não conseguia me libertar das garras do vício de fumar, desta poderosa droga, a nicotina. Junte-se a isso, a sociedade me pareceu madura e consciente de repente e, de um dia para o outro, notícias eram publicadas com previsões macabras sobre o vício de fumar. Os maços de cigarros estampavam pessoas vítimas do seu carrasco e as frases alertando sobre os males, os riscos e perigos do tabagismo, já não eram dissimuladas, apontam claramente para uma realidade que poderá levar muitos à morte ou a um sofrimento horrível. Meu desespero aumentava a cada dia, sentia-me preso a uma corrente invisível, cuja chave parecia ter sido jogada fora. O que será de mim? Como vou me libertar?
Chegando próximo aos cinqüenta anos, me dava conta dos prejuízos que me impunha o vício que outrora fora uma escolha pelo prazer. Consumindo quase dois maços de cigarro por dia, ou seja, aproximadamente 40 cigarros, além do ônus financeiro, já sentia um pouco da falta de fôlego em uma caminhada, uma pequena escada ou numa simples ladeira de pouca inclinação. Parecia uma chaminé ambulante, tamanho era o cheiro de fumaça e que exalava.
Nesta última década recorri a muita leitura e a todos os recursos disponíveis para me auxiliar na tentativa de parar de fumar. Em várias delas parei algumas vezes uma, duas, três semanas e até mesmo, dois a três meses e recaia. Fazia parte do processo, eu sabia, mas não entendia porque não conseguia obter êxito em minhas investidas.
Finalmente, pelos mistérios que própria vida nos revela a cada dia, entendi que me faltava pronunciar e desejar de coração a palavrinha mágica, eu quero.
Finalmente encontrei meu motivo que justificava todo o sacrifício que iria passar para abandonar o cigarro, ou seja, resgatar a minha vontade, a minha auto-estima, a minha liberdade de escolha que o vício do tabaco havia me tirado.
Os primeiros três meses foram terríveis, mas não houve nenhum sintoma que me fizesse sofrer mais do que, possivelmente sofreria, se tivesse contraído uma das doenças desencadeadas pelo vício, como lamentavelmente tive notícias de alguns que morreram porque resolveram escolher arriscar.
O nosso corpo é maravilhoso, tem os recursos naturais que nos permite uma readaptação à vida, sem o vício. A cada dia, a cada mês a mente fica mais limpa, diminui a ansiedade e a depressão, resgatamos o equilíbrio psicológico.
Hoje quando olho para trás, vejo quanta ilusão e quanta fantasia me levaram ao vício e o quanto é importante estar bem, para poder enfrentar as adversidades da vida, com naturalidade. Como disse um grande amigo no auge de seu oitenta e dois anos, "a vida sem problemas não tem sentido, às vezes ganho e às vezes perco, mas vou seguindo feliz. A vida é muito boa!!!"
Não sou um ex-fumante intolerante, nem preconceituoso e, acima de tudo, respeito o direito de escolha de cada um, pois, esse é o bem maior que o Próprio Deus não ousou violar, quando estabeleceu o livre arbítrio, no entanto, acredito que quando perdemos a nossa liberdade de escolha, não somos mais donos da nossa vontade, não somos livres.
Espero que este depoimento sirva de inspiração para àqueles que têm medo ou dúvida sobre abandonar o vício do tabagismo ou qualquer outro vício que esteja impedindo de ser livre. Faça uma reflexão, encontre os seus motivos ou o motivo que lhe impulsione a pronunciar a palavrinha mágica ? eu quero. Faça a sua escolha.
Boa sorte!

Autor: Nadir Sebastião Reis De Brito


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