Liberdade, uma questão de escolha!



Falar hoje em liberdade parece não ter muito significado quando se vive em um país como o nosso. O período de fortes restrições, conhecido por ditadura militar, faz parte da história. No entanto, podemos dizer que conhecemos o lado perverso e negativo da privação da liberdade, a submissão e a proibição. Aqueles que ousaram defender a prática da liberdade de escolha, pessoal ou de grupos, pagaram um preço muito alto, alguns com a própria vida. Lamentável!
Muitos países viveram essa situação, e, pior ainda, em pleno século XXI ainda se tem notícia dessa prática brutal de opressão. Agora, no entanto, muitas vezes, revestida pelo discurso de defesa da própria liberdade, ela se manifesta. O que nos leva a pensar que a opressão, a proibição sempre estará a serviço de algum interesse, individual ou de grupo. A história é a prova incontestável deste fato.
Podemos pensar também, que a liberdade no seu lado positivo é norteada pela possibilidade individual de decisão e de escolha voluntária. É da natureza do homem viver em grupo, desde os primórdios da civilização e é através da busca da satisfação das necessidades individuais e de grupos que se constitui uma comunidade, uma sociedade.
Viver em grupo só é possível quando se respeita o direito de escolha alheio. Quando se tem a consciência do que é meu e do que é do outro, quando se tem limites de regras e condutas, que possam atender e satisfazer ao grupo como um todo; a comunidade ou cidade na qual faça parte ou o país em que vive.
Praticar a liberdade é respeitar as diferenças.
Não falo aqui de escolhas diferentes, mas também, da consciência pelas minhas escolhas. Algumas coisas me dizem respeito exclusivo, mas, vivo em grupo, em sociedade e tenho que pensar nas conseqüências dos meus atos. Ainda vivemos um período de transição sobre alguns aspectos da vida cultural e social. Temos ainda que por em discussão e debate algumas questões que geram um desgaste desnecessário se houvesse essa prática da liberdade de escolha consciente.
A medicina psicossomática defende uma visão integrada do ser humano, um ser biopsicossocial, ou seja, o homem é visto como um todo em sua relação com o meio em que vive. Essa visão integrada do ser humano diz respeito às influências de seu comportamento e suas reações frente às adversidades da vida e suas escolhas, pelas características de sua constituição biológica, psicológica e social. Em resumo que dizer que cada pessoa reage de forma diferente, frente a um mesmo fato ou estímulo.
Isso nos remete a alguns questionamentos, principalmente sobre àqueles que possam por em risco o outro, a comunidade a sociedade.
Se pensarmos na prática da liberdade, é um direito das pessoas a escolha pelo uso de drogas, álcool, tabaco, maconha, etc. Mas também devemos analisar que os estudos sobre esses temas dizem que não há uma fronteira segura entre o uso, o abuso e a dependência de um agente psicotrópico. Temos ainda a variável do ser biopsicossocial, que pode ou não levar uma pessoa a desenvolver a dependência química, pois cada pessoa reage de forma diferente frente a um mesmo estímulo. É uma situação difícil. No entanto, podemos aprender com o que conhecemos e com o que abordamos no início de nossa conversa. A serviço de quem ou do que está esse desejo?
No meu entender, a análise deve partir do individual para o coletivo e da defesa soberana da liberdade de escolha. Isso quer dizer que, acima de qualquer interesse, devemos conhecer as conseqüências das escolhas que vamos fazer. Dados do ministério da saúde sobre a dependência química demonstram que as drogas só trazem aspectos negativos para a pessoa, para a família e para a sociedade.
Sabemos que o dependente perde o controle sobre a sua vontade, e a sua vida passa a girar em função da droga, seja ela qual for, e lhe tira a sua capacidade de escolher, a sua liberdade.
Acho que vivemos um momento delicado na sociedade. Estamos em um período de transição, em uma nova configuração social. O mundo globalizado pode nos remeter a questionamentos e desejos que talvez, ainda não tenhamos maturidade cultural, social e econômica para viver. A internet trouxe uma avalanche de informações e facilitou o acesso ao conhecimento, mas, trouxe também novos problemas que ainda estamos aprendendo a lidar. Até mesmo a pedofilia e a criminalidade já estão informatizadas.
No meio desta confusão, temos as crianças que são bombardeadas diariamente com tantas questões de crenças e valores quando ainda mal sabem ler e escrever. A sociedade está colocando muitas coisas em votação, que corremos o risco de tirar a liberdade de desenvolver a criatividade e a liberdade de expressão.
Tudo passa a ser proibido e sujeito a penalidades. Voltamos à situação inicial de podermos escolher apenas aquilo que é considerado aprovado e liberado pelo sistema de regras sociais impostas, mas não aceitas por todos.
O mundo de hoje, mais do que nunca, nos leva a conhecer e respeitar as diferenças, a liberdade, mas, só construiremos uma sociedade saudável se soubermos fazer as escolhas que possam atender as necessidades e aos interesses de todos e de suas comunidades.
As escolhas de hoje constroem a liberdade do amanhã!


Autor: Nadir Sebastião Reis De Brito


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