História como recurso nas aulas de literatura



A proposta de trabalhar a literatura brasileira na era colonial na sala de aula foi uma idéia para trabalhar os três períodos da literatura no Brasil na era colonial, a fim de passar não só o assunto para vestibulandos, trabalhando história e literatura ao mesmo tempo, mas colocar que a literatura tem um contexto histórico. Os três períodos trabalhados em sala na literatura foram: o Quinhentismo, que começou com o Jesuíta José de Anchieta e Pero Vaz de Caminha; o Barroco, com Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira; e o Arcadismo, com Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Basílio da Gama. Cada autor ele conta e contribui para um contexto histórico. Cada autor dá uma luz do que foi a época da colonização.
Os representantes mostram bem o contexto histórico. E com o Quinhentismo não é diferente. Um Jesuíta e um navegador, personagens da colonização e da expansão marítima. Ambos portugueses. Um da contra-reforma e outro do mercantilismo. A expansão marítima tinha a missão de conquistar e explorar economicamente a colônia e também catequizar os conquistados. E esse foi o papel de dois grandes autores deste período, do escrivão da esquadra Pero Vaz, e do jesuíta, que converteu muitos índios e organizou a escrita tupi, Padre José de Anchieta. Os dois representantes mostram a intenção de Portugal com a América.
O Barroco, que veio à colônia no início do século XVII, teve como representantes Gregório de Matos, o "boca do inferno", com suas poesias satíricas, nasceu em salvador, estudou em Coimbra, mas voltou à colônia, fugindo das pessoas que ele provocava. Gregório era só um dos muitos que eram perseguidos e se tornavam desertores na colônia, que também era local para fugitivos, bandidos, inimigos políticos do rei, ou perseguidos religiosos. O outro grande representante era o Padre Antonio Vieira que, conhecido pelos seus Sermões, mostra bem a primeira educação brasileira, ainda colônia. Uma educação jesuítica. Então o Barroco é o retrato do contraste no contexto histórico da reforma e contra-reforma. No Brasil foi o contraste entre o profano, com as sátiras de Gregório de Matos, e o sagrado com os sermões de Antônio Vieira. E como no Barroco o impacto era o que contava e não o conteúdo, os sermões de Vieira eram mais retóricos, mais impactantes e com valor estético do que moralizantes. E foi Vieira quem fixou a prosa brasileira. Gregório também valorizou a estética e o impacto, longe de ser moralizante, com suas poesias. A América Portuguesa neste período foi reflexo do que ocorria na Europa, esse dualismo, esse rebuliço entre o sagrado e o profano, a contra-reforma e a reforma, o antropocentrismo e o teocentrismo, carne e espírito.
O Arcadismo mostra a última fase da literatura na colônia lusitana. O Arcadismo é marcado pelo grande marco na colonização do Brasil, a mineração. A mineração é o novo comércio e Minas toma o lugar de salvador como pólo comercial e o Rio de Janeiro se torna, posteriormente a nova capital. Minas torna-se o centro econômico da colônia e dos portugueses por conta da busca pelo ouro. Bandeirantes, escravos, alforriados, senhores, trabalhadores livres, todos vão a Minas pela corrida do ouro. Migração que contribui muito para a interiorização do Brasil. O Arcadismo pegou a época de mais mudanças no Brasil na Era colonial, que foi até 1836, quando deixou de ser colônia e se tornou império. Além da mineração, interiorização e definição do território brasileiro, o arcadismo pegou também uma época de revoltas de cunho e sentimento nativistas, revoltas libertárias, insurreições, pegou a época de Tiradentes e a inconfidência mineira ? Claudio Manuel da Costa, representante do arcadismo no Brasil, era um dos inconfidentes ?, época de requícios de afirmação da identidade do povo. O arcadismo também pega outras revoltas. No nordeste com a conjuração baiana e a revolução de 1817. O Arcadismo pega revoltas separatistas, pega a independência do Brasil. E esse período de revoltas não foi à toa. O arcadismo trazia uma temática neoclássica e bucólica fazendo correlação de Minas Gerais com a Grécia antiga, mas também trazia ideais iluministas e revolucionárias. Arcadistas, geralmente filhos de latifundiários ricos, vinham de Coimbra, e até da França, traziam esses ideais iluministas. Ideais libertários da revolução francesa, anti-monarquistas, republicanos e separatistas. E isso trouxe rebuliço à colônia até mesmo no período da chegada da monarquia, em 1808. Então essa foi a última fase da literatura brasileira na era colonial. A que ajudou a colocar fim ao domínio da metrópole.
A intenção do projeto é justamente esse. Contar a literatura através da história e a história através da literatura. Sabemos que a literatura é uma fonte rica de informação de uma determinada época para o historiador. Conta os costumes, os acontecimentos, o contexto. E a literatura é o primeiro recurso do historiador para reconstruir o passado. Aplicar isso em sala de aula é garantia de interesse para os estudantes. Eles descobrem o prazer na leitura , combate o analfabetismo, descobre também o prazer pela escrita, começa a ter uma interação com a linguagem. Descobre não só, de forma dinâmica e transdisciplinar, as suas raízes históricas através do que se dizia da colônia na época, mas também os costumes que se tornariam a identidade do Brasil que é hoje. É também uma descoberta da origem da linguagem brasileira, da compreensão desta metamorfose do português no Brasil. É uma contextualização sem definição, sem limites, que produz muito conhecimento, principalmente para o vestibulando. A história brasileira pode sim ser contada em sala de aula através da literatura. É preciso mostrar aos alunos que tudo é história, principalmente a literatura.

Autor: Fernando José Brandão De Miranda


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