Nordeste: identidade imáginario e espaços de saudade cultural



NORDESTE: IDENTIDADE IMÁGINARIO E ESPAÇOS DE SAUDADE CULTURAL

 Fábbio Xavier do Nascimento[1]

Palavras-chave: Nordeste; Regionalismo; História social; Política; Cultura

Espaços da saudade faz parte do segundo capítulo do livro A invenção do Nordeste e outras artes do escritor Durval Muniz de Albuquerque Júnior que Possui graduação em Licenciatura Plena em História pela Universidade Estadual da Paraíba (1982), mestrado em História pela Universidade Estadual de Campinas (1988) e doutorado em História pela Universidade Estadual de Campinas (1994). 

Atualmente é colaborador da Universidade Federal de Pernambuco, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Presidente da ANPUH - Associação Nacional de História. Tem experiência na área de História, com ênfase em Teoria e Filosofia da História, atuando principalmente nos seguintes temas: gênero, nordeste, masculinidade, identidade, cultura, biografia histórica e produção de subjetividade. 

A invenção do Nordeste e outras artes visa, ver como este nordeste foi construído e inventado historiograficamente, para o autor o Brasil estava dividido entre Norte e Sul, e que este espaço geográfico chamado Nordeste que nasceu através da “Paisagem Imaginária do País no final da primeira década do século XX em substituição a antiga divisão regional do país entre norte e sul; porém, uma região fundada na Saudade e na Tradição.” (ALBUQUERQUE, 2009, p. 78). 

Ainda analisando a sua obra, Durval Muniz ele confecciona uma analogia da questão regionalista do discurso, tendo como objeto de estudo o espaço cultural e político. 

No discurso de Durval ele deixa bem claro que este Nordeste que estamos acostumados a ver representado tanto no cinema, teatro e na musica ele é mais incisivo; pois, através das análises sociológicas e antropológicas da região frente ao naturalismo, observa-se a preocupação de vários estudiosos em mostrar e explicar as fissuras sociais existentes naquele espaço.   

É importante lembrar que para o autor este Nordeste ele não é linear, muito menos a sua identidade, ele nasce da necessidade dos políticos e intelectuais em meio a uma forte sensação de perda no seu espaço econômico e político para os produtores tradicionais, este pensamento é bem colocado pelo próprio autor.

A origem do Nordeste, portanto, longe de ser um processo linear e ascendente, em que ‘a identidade esta desde o início assegurada e preservada’, é um começo histórico no qual se encontra a discórdia entre as práticas e os discursos; é um disparate. (ALBUQUERQUE, 2009, p. 80)

Porém, é importante destacar também que, pela primeira vez será discutida a questão do espaço; embora se perceba um olhar diferente e até depreciador, dependendo do espaço. O autor utiliza os conceitos de Gilberto Freyre[2], para mostrar como é desenhado este regionalismo, que atribui à influência holandesa no século XVII, fazendo referência de um Nordeste que em si era diferente do restante do país.

Outro ponto importante esta na visibilidade deste espaço que será construído por uma gama de intelectuais tradicionalistas que vão apoiar o seu discurso na memória para construir uma identidade. Este discurso é fundamentado numa tradição regional, tendo na música uma forte representação pela busca desta identidade e dizibilidade regional. Podemos observar nas palavras de Neves ao escrever sobre o Sertão como imaginário cultural os mesmos mecanismos para se construir esta identidade na busca desta evocação com suas imagens e sentimentos.

Como categoria cultural, sertão afirma-se pelos antecedentes sócio-culturais de sua população, exprimindo ‘poder de evocação de imagens, sentimentos, raciocínios e sentidos’, construídos ao longo da sua experiência histórica. No imaginário do cancioneiro popular, sertão expressa diferentes viveres e saberes. (NEVES, p. 6 apud BARBOSA, 2000)

Portanto vemos que estes intelectuais com suas produções são responsáveis por disseminar esta identidade pautada na reminiscência e ao saudosismo do passado para justificar o presente. Esta identidade ela não nascer de forma própria, até por que o Nordeste não existia, ele é inventado, e com isso notamos uma contribuição do outro para ser construída esta identidade.Na análise do espaço nordestino, observa-se que, o plano cultural será mais enfatizado do que o político; embora, não descartemos esse último, pois, o texto deixa transparecer que aquele discurso disperso de outrora da classe dominante da região, agora tem outra conotação, pois prima em mostrar as rupturas e desigualdades existentes em relação ao Centro Sul. Ao retratar sobre o sertão vejamos o que nos diz MORAES (2009, p. 87):

O sertão não é, portanto, uma obra da natureza. Não há um espaço peculiar, cuja naturalidade própria, permita uma tipologização consistente da localização sertaneja. Se bem que a prevalência de elementos naturais na composição paisagística apareça, amiúde, como um atributo associado à sua identificação: o sertão como um lugar onde predomina o ritmo dado pela dinâmica da natureza, onde o elemento humano é submetido às forças do mundo natural.

A invenção do Nordeste ela passa a representar uma invenção dos grandes intelectuais, proprietários de terras, os donos de grandes engenhos e os artistas que usavam a sua música, arte, poesia e a literatura para consolidar esta identidade que a principio tem como base o tradicionalismo muito forte e arraigado no cotidiano e imaginário do nordestino.

Podemos observar que outro problema na formação da identidade nacional é este olhar sobre o outro, no caso do nordeste o outro seria o Sul, e esta afirmação parte na busca pela historia da sua região, tendo cada uma o seu conjunto de fragmentos imagéticos e enunciativos. A historiadora Mirian Dolhnikoff[3] descreve que esta identidade não é nada fácil para se obter.

Não seria fácil acomodar em uma mesma nação territórios tão distintos, com poucos laços de integração e cujas elites apresentam demandas muitas vezes contraditórias entre si, basta comparar os exemplos de três províncias localizadas em pontos distintos da América portuguesa: São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. (DOLHNIKOFF, 2005 p. 24)

Para Durval o discurso historiográfico esta centrado na história dessas três áreas para construir a história do Brasil junto com as suas diversidades, sendo cada intelectual o responsável por estabelecer as suas diferenças.

  Esta diferença é bem marcante quando observamos as palavras de Albuquerque que mostra a visão de Fernand Braudel quando esteve no Brasil “para ele, a Bahia era uma sociedade velha, com perfume de Europa, ao passo que São Paulo lembraria Chicago e Nova York” (ALBUQUERQUE, 2009, p. 121). Perceba que as alteridades são construídas e o Nordeste começa ganhar peso junto com o sertão do que a identifica e distingue das demais é este atraso ao moderno.

É preciso entender que esta visão do outro sempre será o levantamento do seu oposto esta afirmação é ratificada nas palavras de Morais (2009, p. 92) “Nesse sentindo, trata-se de uma imagem construída por um olhar externo, a partir de uma sensibilidade estrangeira e de interesses exógenos, que atribuem àquele espaço juízos e valores que legitimam ações para transformá-lo”.

Na literatura romântica observa-se a passagem do indianismo para o sertanejismo e esta vertente realista com os seus temas regionais comandou o movimento no Brasil do Nordeste, tendo como um dos pontos mais alto regionalismo de Guimarães Rosa em Grandes Sertões: Veredas, de 1956. 

Mas, esta regionalização muito forte irá desenvolver um discurso de uma realidade social, criando dicotomias como Deus e Diabo, tradicional e moderno, mar e sertão, inferno e miséria (ALBUQUERQUE, 2009) tudo isso irá influenciar de forma direta na formação da identidade regional. Esta identidade regional não esta apenas atrelada a discurso sociológico  e literário, é importante lembrar que a pintura irá ser um veiculo muito importante para congelar esta uma imagem fica no tempo do Nordeste. Observe o que nos dia Albuquerque (2009, p. 165):

A instituição do nordeste como espaço da tradição, da saudade, não se faz apenas pelo discurso sociológico ou literário. Dela também participa, por exemplo, a pintura, que procura realizar plasticamente essa visibilidade do Nordeste. Ela é fundamental na transformação em formas visuais das imagens produzidas pela ‘romance de trinta’ e pela sociologia tradicionalista e regionalista. Cristalizará imagens e irá instituí-las como ‘imagens típicas da região’, exercendo enorme influência na produção posterior, seja no campo do cinema ou da televisão.

Portanto estes discursos serão construídos a partir do imaginário cultural sem perder de vista o espaço e recorte espaciais na construção do forte regionalismo tão forte na música, artes, literatura e na pintura. Durval observando isso ele resolve traçar um discurso sobre este Nordeste que é inventado. Como podemos observar em sua próprias palavras:  

O Nordeste é uma produção imagético-discursivo formada a partir de uma sensibilidade cada vez mais especifica, gestada historicamente, em relação a uma dada área do país. E é tal a consistência desta formulação discursiva e imagética que dificulta, até hoje, a produção de um nova configuração de ‘verdades’ sobre este espaço. (ALBUQUERQUE, 2009, p.49).

Portanto podemos concluir que os trabalhos dos professor e pesquisadores envolvido neste ensaio contribui de forma direta como um forte instrumento para análise e também por que não dizer de alerta, para uma região marginalizada pelos que tem o poder em suas mãos, poder este de valorizar e viabilizar a cultura e o espaço chamado Nordeste.

 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALBUQUERQUE JR, Durval Muniz. A invenção do Nordeste e outras artes. 4. ed. São Paulo: Globo. 2009.

COSTA, Emilia Viotti da. Introdução aos estudos da emancipação política. In: ________MOTTA. Carlos Guilherme (org). Brasil em perspectiva. 8. ed. São Paulo: DIFEL, 1977. p. 64-125. 

DOLHNIKOFF, Miriam. O pacto imperial: origens do federalismo no Brasil do século XIX. São Paulo: Globo, 2005.

MORAIS, Antonio C.R. Geografia histórica do Brasil – Cinco ensaios, uma proposta e uma crítica. São Paulo: Annablume. 2009

NEVES, Erivaldo Fagundes. O sertão como recorte espacial e como imaginário cultural.

[1] Teólogo formado pelo ITEPAMM, Localizado em Juazeiro-Ba, Professor de História de Israel no ITEPAMM, Graduando em Licenciatura Plena em História pela Universidade de Pernambuco (UPE) e editor do Blog História Nova em Foco (http://www.historianovaemfoco.blogspot.com/)

O Presente artigo é parte da Avaliação da disciplina História do Nordeste, ministrada pela Docente Ana Clara

[2] Gilberto de Mello Freyre (Recife, 15 de março de 1900 — Recife, 18 de julho de1987) foi um sociólogo, antropólogo, historiador, escritor e pintorbrasileiro, considerado um dos mais importantes sociólogos do século XX.

[3] Mirian Dolhnikoff, nasceu na cidade de São Paulo no ano de 1960, graduada em Direito e história pela Pontifícia universidade Católica de São Paulo é mestra e doutora em história econômica pela Universidade de São Paulo, onde leciona nos cursos de história e relações internacionais.


Autor: Fábbio Xavier


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