Comentários sobre a $P-Arte 2011
Realizada no prédio da Bienal, localizado nas imediações do parque do Ibirapuera, a feira tem como objetivo a comercialização de obras de artes de artistas nacionais e internacionais, além de promover mesas redondas e lançamentos de livros e publicações relacionadas à arte.
Divulgada amplamente pela imprensa paulistana, a feira é considerada um "grande evento cultural", merecendo até incentivos governamentais, via Lei Rouanet (segundo os jornais o orçamento para a criação da feira gira em torno de R$ 2 milhões de reais).
Diante desse fato lembrei-me dos ensinamentos que o nosso grande crítico de arte, Mário Pedrosa. Nos anos 60, ele já nos alertava sobre a perigosa influência da sociedade de consumo sobre as obras de arte, caracterizando-as de "arte pós-moderna".
Para o nosso crítico, a "arte pós-moderna" é conformista em suas idéias, além de sua inspiração vir diretamente "da função da publicidade, que estimula acima de tudo o positivo das motivações para o consumo", ou seja, é uma arte puramente comercial. Não podemos deixar de lembrar que os grandes "avatares" este estilo de arte, conhecida como "Pop-Art", tinham algum de seus artistas envolvimento na área da publicidade: Andy Warhol foi um desenhista de sapatos da moda; Lichtenstein trabalhou como desenhista e técnico na arrumação de vitrines; Oldenburg era ilustrador de revistas.
Hoje a obra de arte é cada vez mais um produto da indústria, sua estética agora é lucro, a SP-Arte 2011 é uma prova disso. "Mas não tenho interesse em transforma a feira em feirão", disse a diretora e criadora do evento, Fernanda Feitosa, querendo retirar o rótulo mercantil do evento.
Ao longo da entrevista a nossa diretora (parecendo mais uma especuladora das bolsas de valores) exalta o sucesso "comercial" da edição anterior do evento, afirmando que foram cerca de R$ 32 milhões de comércio direto de obras artísticas. "E pode ser que tenha acréscimo este ano", afirma ela num tom otimista. Percebe-se que o valor estético das obras de arte é medido pelo seu valor comercial ou o seu potencial de venda.
O pior de tudo é como o Ministério da Cultura financie, por meio de isenções fiscais, a SP-Arte 2011. O evento além de não oferece nenhuma contrapartida em termos sociais e educativos, no campo da estética não há novidades. E que paga por tudo isso é o contribuinte, ou melhor, essa "gente diferenciada".
Decadência foi essa a palavra mais usada por Mário Pedrosa depois que ele voltou do exílio em 1977. Em uma entrevista no ano de 1980, nosso crítico já enxergava essa decadência: "O que se pode dizer é que estamos em uma época de decadência, embora em épocas de decadências às vezes surjam grandes obras de arte. Hoje a arte não tem a mesma importância que tinha há cinqüenta anos atrás. [...] Estamos numa época de crise ainda mais aguda no Terceiro Mundo [...] Diante de conflitos tão radicais, terríveis, insolúveis, é natural que a arte passe para um nível secundário".
A Feira SP-Arte 2011 é um exemplo típico dessa decadência já constatada há 31 anos por Mário Pedrosa. Uma arte destinada ao deleite da elite e definida pelos ditames das especulações financeiras.
Autor: Sergio Bendoio
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