Letramento: Uma questão semiótica



Letramento, uma questão semiótica


PIERINI, Andreia
VOIGT, Ludmilla
USC-pedagogia
RESUMO

Este artigo reflete sobre a importância da aplicação da semiótica para o processo de letramento e aquisição da leitura e da escrita já nos primeiros anos do ensino infantil. Também ressalta a contribuição semiótica para o desenvolvimento das estruturas cognitivas da criança com a mediação do professor neste processo, pois, é na escola que se realiza a interação social, afetiva e cognitiva necessária para apreensão de conceitos sobre o conhecimento de mundo. Esta reflexão espera atuar na formação do cidadão crítico leitor, desenvolvendo o gosto pela leitura, fornecendo instrumentos a partir das semióticas de Greimas e Peirce, considerando o pressuposto de Vygotysk no que diz respeito à interação para a construção das estruturas do pensamento. E apoiada nas leituras de Magda Soares e Rojo para aplicação do letramento, Lígia Cademartori para ênfase na literatura infantil, Lucia Santalella para esclarecimento de semiótica e outros conceitos.

Palavras- chaves: semiótica, letramento, interação, educação

ABSTRACT

This article reflects on the importance of applying semiotics to the process of literacy acquisition and reading and writing within the first year of kindergarten. It also highlights the contribution of semiotics for the development of cognitive structures of children with the mediation of the teacher in this process because it is being held in the school social interaction, emotional end cognitive understanding of concepts required for knowledge about the world. This discussion hopes to act in the formation of citizens critical reader, developing a taste for reading, providing instruments from the semiotics of Greimas and Peirce, considering the assumption Vygotysk with respect to the interaction for the construction of the structures of thought, based on readings Magda Soares and Rojo for implementation of literacy, Ligia Cademartori to focus on children's literature, Lucia Santalella for explanation of semiotics and other concepts.

Keywords: semiotics, literacy, interaction, education





Diante da nossa própria dificuldade em entender o que líamos no ensino médio, e da ampliação de nossos horizontes durante a graduação em pedagogia, percebemos a necessidade de mudança de paradigma na educação para que a nova geração se torne letrada de fato e exerça a função social do cidadão crítico. Então no decorrer do curso, após a leitura de vários especialistas em educação concluímos que é preciso uma nova postura por parte do educador para promover letramento. Antes, porém, faremos uma breve explanação sobre alguns conceitos que abordaremos para exposição de nossas ideias.

O pressuposto de Vygotsky trata da problemática da cognição humana e sua relatividade ao processo educativo. Segundo sua teoria, a noção de conhecimento envolve a convivência com o conflito, o respeito à multiplicidade e à divergência de posicionamento. "Caracterizar os processos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formaram ao longo da história humana e de como se desenvolvem durante a vida do indivíduo" (VYGOTSKY, 1988:21).

O estudo da semiótica coincide com a origem da filosofia e com as investigações sobre a natureza dos signos e da comunicação na História das Ciências, mas somente no século XX passou a ser estudada enquanto campo de conhecimento (SANTAELLA, 2005). A semiótica possui três vertentes: Russa, européia e americana. Para este estudo voltaremos nossas atenções para as duas ultimas com seus estudiosos Greimas e Peirce respectivamente.

Veremos, então, que a semiótica serve para estabelecer as ligações entre um código e outro e assim ler o mundo verbal e não- verbal.

Na teoria greimasiana a significação é descrita pela semiótica no modelo do percurso gerativo do sentido, que prevê a geração do sentido por meio do nível sêmio-narrativo, geral e abstrato, que se especifica e se concretiza na instância da enunciação, no nível discursivo.

Charles Peirce aplicou sua semiótica através de uma tríade, para ele, para compreensão dos signos é necessário contemplar (observar), distinguir (ação e reação) e generalizar em categorias (modo de operação pensamento-signo processados na mente) através de análises e mediá-las. Então temos a tríade:

Primeiridade (qualidade de sentimento): Formada por consciência imediata (sentimento) e presente imediato (experiência).

Secundidade (conflito): É a sensação do eu para com o estímulo, numa relação dialética entre dois termos envolvidos, em que a consciência é alterada em forma de síntese (produto).

Terceiridade (síntese intelectual): Razão entre a Primeiridade e a Secundidade, signo ou representação produzido pela consciência para conhecer e compreender algo (fenômeno).

Esta tricotomia se resume em ícone (qualidade), índice (significado) e símbolo (o comum).

Partindo do princípio semiótico de que tudo é signo e onde há vida há signo, não há conhecimento sem semiose (SANTAELLA, 2005) e esta é a forma adequada para propor interpretações dos mais diferentes tipos de signo. Daí sua importância no processo ensino- aprendizagem.

A construção do sentido é feita por semiose entre o signo e o interpretamem (receptor da mensagem). Sendo assim, a semiótica serve para dar sentido ao codificar e o decodificar e, desse modo, intervir no desenvolvimento da criança.

O princípio da contradição de Vygotsky como dinamizador do pensamento dá ênfase não apenas na superação das contradições, mas também, nas considerações e apreensões destas contradições em um sistema integrado (consciência) entendendo o conhecimento como fluxo contínuo em que transformações e mudanças são elementos principais.

As principais contribuições da teoria de Vygotsky e suas implicações estão na problemática da cognição humana que relativa ao processo educativo envolvendo convivência e conflito com respeito à multiplicidade e à divergência de posicionamentos, já que o papel da educação é inovar e transformar afetividade em realidade.

Então veremos a aplicação destes conceitos na prática de letramento, uma vez que a internalização das formas culturais implica conceito de mediação como adição de estímulos auxiliares para a resolução de problemas, tais estímulos podem ser concretos ou não-concretos.

Interação social, leitura e semiótica

Refletir sobre a importância da leitura para o processo ensino-aprendizagem é fundamental para a formação social das crianças e muito relevante para os professores; pois, são eles os responsáveis pela próxima geração formadora de opinião.

Já nos primeiro anos é possível começar o processo de letramento com a apresentação de livros agráficos e músicas infantis. Atividade necessária para o que Vygotsky chama de interação social, tão importante para o desenvolvimento cultural e da linguagem escrita, este é o momento em que professor e alunos entram em rede semiótica produzindo conhecimento, porque um indivíduo depende de outras mentes para tal, além do ludismo sonoro ser parte específica da espécie humana para aprender a língua, como diz Lígia Cademartori (1986).

Quando utilizamos jogos verbais e mediação de leitura com textos pequenos, inserimos noções de manipulação, competência, performance e sanção, traçando um esquema narrativo que abarca o percurso gerativo de sentidos de Greimas, fazendo com que as crianças identifiquem os três níveis da narrativa, percebendo as oposições, o desenvolvimento e o tema proporcionando o verdadeiro letramento. Pois, como diz Magda Soares em Letramento, um tema em três gêneros: "ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e escrever", porque sabemos que a iconicidade simbólica leva a iconicidade gráfica pelo princípio da assimilação.

Ao pedir aos alunos que contem estórias a partir de figuras apresentadas, estamos aplicando a tríade de Peirce, valorizando-os, estimulando suas estruturas cognitivas e linguagem proporcionando apreensão de conceitos e promovendo letramento. Rojo diz (1998) "o processo de letramento encontra-se em estreita relação com a construção do discurso oral".

Além da exposição de livros agráficos, figuras, apresentação de músicas e ouvir estórias contadas pelas crianças, pedir para que elas ilustrem um conto, uma poesia ou alguma atividade do cotidiano, ajuda a contextualizar estas experiências no dia a dia do aluno, atividade esta, de muita valia para internalização dos conceitos absorvidos nestas práticas.

[...] é importante intercalar a leitura feita pelo professor com momentos em que todos devem ler sozinhos (MEIRELLES, 2010, p.49). Por isso a roda de leitura (momento em que o professor lê para a turma) é uma sugestão. Antes, porém, é preciso planejar a atividade, da escolha dos textos às formas de interação. Promover comentários deve ser intencional.

Considerações finais

O momento da leitura requer uso correto de ilustrações, postura adequada e entonação de voz para conduzir à narrativa e não prejudicar o percurso gerativo de sentido. Quando o aluno expressa opinião se comporta como leitor.

Desenvolver atividades de leitura permanente, de modo que os alunos leiam para os demais ou escolher um poema para ler aos colegas propiciando um mini-sarau literário é prática eficiente, pois segundo Almeida (2010) o sarau é dos dispositivos mais proveitosos para criar no leitor o gosto pelo texto.

Devemos apresentar vários gêneros literários à classe, levando em conta as estórias sem a preocupação de "ensinar literatura". Os alunos não precisam neste momento de erudição, necessitam apenas da mediação para desenvolver o chamado comportamento leitor.

Ora, se a educação implica perspectiva dialética, se o desenvolvimento humano ocorre com a interação e o reconhecimento do signo se dá através de semiose, então interação, mediação, semiótica e letramento devem andar juntos na medida em que a interpretação de signos verbais e não-verbais faz parte da construção do conhecimento e dependem da interação, da mediação semiótica.



REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Joel Rosa, de. Sarauzinho literário de poesia infantil: uma experiência em sala de aula. In: COLE - CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 17, 2009. Anais. Campinas, SP: Associação de Leitura do Brasil, 2009. Disponível em: http://www.alb.com.br/anais17/txtcompletos/sem15/COLE_4155.pdf, Acesso em 09/11/2010.
CADERMATORI, Lígia. O que é literatura infantil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
MEIRELLES, Elisa. Literatura, muito prazer. Nova Escola, São Paulo, v 234, p.49-58, 2010.
ROJO, R (Org). Alfabetização e letramento: Perspectivas Linguísticas. Campinas: Mercado das letras, 1998.
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: editora e livraria Brasiliense, 2005.84.
SOARES, Magda Becker. Letramento, um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.
VYGOTSKY, L.S.. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes. 1998.









Autor: Ludmilla Voigt


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