Isso é uma vergonha



Isso é uma vergonha Esse é um bordão de Bóris Casoy, na apresentação do telejornal. Vez por outra o apresentador, após a exibição de alguma matéria, faz algum comentário, concluindo com: "isso é uma vergonha". No caso que agora me vem à mente, foi apresentada uma matéria na qual se demonstrava que a legislação criminal estava sendo relaxada e, com isso, o delinquente passaria a ter mais privilégios. Isso implicaria, segundo o comentário de Casoy, em que o cidadão cumpridor das leis passaria a se sentir menos seguro, visto que a punição aos criminosos estava sendo minimizada. E, ao concluir seu comentário o apresentador afirma que: "cada vez mais o crime compensa, no Brasil. Isso é uma vergonha". O fato é que, além do bordão ter se popularizador, a afirmação de Casoy procede. Cada vez mais, em nosso cotidiano, as pessoas de bem são aprisionadas dentro dos muros que constroem para se proteger. E do outro lado, na espreita, o bandido espera a oportunidade... para usar o muro a seu favor, contra o cidadão. E ele age, na certeza da impunidade, pois nem a polícia, nem as leis são eficientes para coibi-lo, menos ainda os muros. O pior disso é que se eventualmente for preso e condenado ficará poucos anos na prisão, pois as penas são relativamente brandas. Podendo até nem ficar detido... Mas, vamos supor que ocorra o contrário. Suponhamos que lá dentro dos muros que o aprisionam, o cidadão indefeso realize algo quase impossível: Num daqueles golpes cinematográficos, movido pelo desespero da situação, o cidadão consiga desarmar o bandido e, na luta de auto defesa, mate-o. Sabe o que ocorrerá? Terá que se controlar, recuperar a calma e o sangue frio, fazer as contas, mirar bem e dar apenas um tiro, pois se acertar várias vezes, poderá ser enquadrado não mais em legitima defesa, mas num assassinato qualificado, podendo pegar até trinta anos de cadeia. Vejamos outra situação entro os absurdos que favorece o bandido e pune o cidadão, respeitador da lei. Imagine a situação em que um empresário vende sua empresa. Antes de entregá-la ao comprador liguida todas as dívidas, quita todos os salários e entregue a empresa operando a todo vapor. Em seguida o comprador refaz o quadro de funcionários, com novos trabalhadores que nunca trabalharam para o antigo proprietário. Mas suponhamos, também, que o novo empresário deixe de pagar os novos funcionários e acabe falindo a empresa. Os trabalhadores fazem uma reclamação trabalhista. Como o novo proprietário não tem como pagar os compromissos sabe o que fará a o absurdo da lei? Irá cobrar as dividas trabalhistas do antigo proprietário. Por absurdo que possa parecer o empresário caloteiro sairá impune e o honesto terá que quitar as dívidas do outro... Essas são apenas algumas situações que nos fazem dar razão ao jornalista. Vendo os absurdos da lei, somos obrigados a dizer que, de fato, o crime compensa. Nossas crianças estão percebendo que os honestos têm cada vez menos espaço em nossa sociedade. Assim, dia a dia, vemos crescer a violência e a corrupção. Por quê? Porque as crianças e os jovens percebem que seguir a lei não compensa. Percebem que agir fora ou às margens da lei é mais lucrativo. Assim acaba sendo verdadeiro outro bordão, esse popular: a impunidade aumenta a violência. E a desonestidade, com isso, acaba se impondo sobre a decência. E isso está sendo ensinado às crianças, adolescentes e jovens... não na escola (embora esta também esteja sendo um campo de desordem, onde se instalam, sob a proteção da lei, todos os jovens desordeiros), mas no cotidiano das relações sociais. Na TV, na política, no esporte... em tudo assistimos a pilantragem prevalecendo sobre a honestidade. Vemos os desonestos progredindo aproveitando-se dos valores e da honestidade dos decentes. Na rua, na escola, no lar o que vemos cotidianamente é a violência, a corrupção, a desonestidade ganhando espaço e crescendo sobre a honestidade, a ética e a decência. Os valores negativos, cada dia mais se impõem sobre aquilo que consideramos bem, honestidade, decência. Entretanto o pior disso não é o fato dos valores estarem em declínio, mas a instalação dos desvalores como um novo valor. Pois o fato dos desavalores estarem se instalando implica dizer que eles passam a ser os valores predominantes. Por isso foi que Rui Barbosa afirmou, lá em seu tempo, que "os homens passaram a ter vergonha de ser honestos". Sendo assim, dia após dia os desonestos têm mais espaço, os corruptos tem mais aceitação, os bandidos tem mais prestígio... além disso, dia após dia se vê que os trabalhadores empobrecem, os honestos são vilipendiados e não conseguem progredir... assistindo a tudo isso somos obrigados a dizer que seguir a lei não compensa. Isso é uma vergonha, mas do jeito que as coisas estão se encaminhando, cada vez mais o crime compensa! Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador. Leia mais: ; ; ; ;
Autor: Neri P. Carneiro


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