Nariz de Palhaço



Nariz de Palhaço Bobo da corte era aquele personagem que entretinha o monarca com seus gracejos, "causos" pitorescos, histórias "sem pé nem cabeça" e, em muitos casos, era o único que conseguia falar as verdades que deviam ser ditas. Entretanto falava com tanta "gozação" que todos riam da desgraça e o monarca acabava não o levando a sério, ficando o dito como não dito. Ao que tudo indica esteve presente em cortes mesopotâmicas, egípcias, chinesas... mas aparentemente a imagem que temos desses personagens nos veio das cortes medievais. Os que gostam de baralho conhecem uma carta que desestabiliza o jogo: o coringa. Pois ele não é apenas um dos maiores inimigos do Batman, mas a carta do baralho que entra nas mais diversas jogadas criando possibilidades de completa alteração nos jogos em que ele é admitido. Pois o coringa é uma representação do bobo da corte. Como a nossa cultura perdeu o uso do bobo da corte, pois trocamos a corte pela república, acabamos nos contentando com os palhaços. Estes personagens, como os bobos da corte, vivem de fazer rir. Como profissionais do riso, os palhaços não nasceram como seus colegas da corte. Ao que tudo indica teriam se originado no teatro grego, época em que os atores pintavam os rostos para entrar em cena. Muitos desses atores caracterizavam partes do rosto para realçar o personagem. Daí o retoque no nariz. Por isso o nariz de palhaço sempre será algo espalhafatoso. Isso não significa que o ser humano não tenha outros mecanismos de riso. Lembremo-nos que o riso e a capacidade de produzir riso é tipicamente humana: Só o homem é capaz de rir e produzir riso. Ocorre que a nossa sociedade aprendeu a conviver com os humoristas e comediantes da TV. Muitos deles, para forçar o riso, acabam forçando tanto os trejeitos e caretas que se esquecem de falar coisas engraçadas. Tanto que se inventou o gênero pastelão, que tenta provocar riso não pelo conteúdo das piadas, nem pelo nariz de palhaço, mas pelas situações ridículas e desastradas que provocam. Aliás, ridículo não é só um xingamento leve. Ela significa que algo é passível de riso. Dizer que "Isso é ridículo!" é o mesmo que dizer: isso provoca riso. Todo esse emaranhado de conversa apenas para dizer que ocorreu uma transmutação. Os bobos da corte e os palhaços sempre haviam sido aqueles profissionais que viviam de fazer sua platéia rir. Tratava-se de um personagem provocando o riso de vários ouvintes. O que mudou? Houve uma inversão de papéis! Nós somos os bobos da corte, mesmo não mais havendo corte! Nós somos os palhaços! Nós somos ocasião de riso, pois aqueles que nos governam riem e tiram proveito de nossa ingenuidade. O ridículo é que nós os elegemos para serem nossos representantes; a fim construírem benefícios para todos. Mas não é essa a verdade. A "corte? se diverte às nossas custas. Todos nós fomos transformados em bufões. Por quê? Porque a doutrina neoliberal se instalou definitivamente em nosso país. Afinal diga se não é mais uma evidenciação da doutrina neoliberal o discurso sobre redução de despesas? São vários milhares de reais que o governo federal não investirá em áreas sociais... mas os bancos continuam recebendo autos privilégios. Os salários dos trabalhadores não podem ser corrigidos acima da inflação, mas os vencimentos e mordomias dos poderes constituídos só fazem aumentar. O serviço público perde qualidade por falta de investimento, mas na razão inversa crescem as empresas prestadoras dos serviços básicos que estão à beira do caos. Qualquer país merreca por aí investe em educação e qualidade universitária. Aqui os concursos são cancelados; os salários dos professores continuam achatados! O professor não é valorizado. Em nível estadual as coisas não são diferentes: Rondônia necessita de quase dois mil professores, mas não se fala em concurso... nem em correção salarial (note que estou falando em correção e não em aumento de salário; o funcionalismo estadual e federal está há cerca de 10 anos sem receber correção nem aumento em seus vencimentos!). A resposta à equação é evidente: Sem concurso e sem salários condizentes temos a situação que é igual à falta de professores. Nem precisa fazer muita conta para descobrir que vender CD pirata, apesar do risco, é mais lucrativo do que a pessoa investir vários anos na aquisição de um diploma universitário para ser professor. E digo isso não como quem está amargurado com a profissão, mas como quem se vê vítima do engodo dos discursos dos dirigentes locais e nacionais. Não como quem está arrependido de fazer o que faz, mas como quem deseja não mais ser palhaço. E mais: bobo da corte é um papel que não me cai bem e não é adequado aos professores. Resta dizer que se providências urgentes precisam ser tomadas, uma delas, talvez a primeira, será a de jogar fora o nariz de palhaço que estamos usando. Neri de Paula Carneiro ? Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador. Leia mais: ; ; ; ;
Autor: Neri P. Carneiro


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