Lama no sangue



LAMA NO SANGUE

Para os nascidos na Terra de Santa Cruz, desde a entrada neste mundo, a sensação de que a corrupção faz parte do DNA brasileiro já impressiona os sentidos. Claro que não é exclusividade nossa como temos visto pelos exemplos a proliferar através do mundo. Até na ONU, algum tempo atrás, o filho do próprio secretário geral (hoje ex) parece ter cedido às tentações da propina, sem contar os inúmeros e sucessivos exemplos vindos da terra de Tio Sam, da Europa e mesmo da longínqua e ditatorial China. A diferença está, porém, na maneira de se encarar o fato, posto que, enquanto nos países mais estáveis (e, algumas vezes, menos democráticos), muitos dos envolvidos nas tramóias oficiais são punidos e, quase sempre, amargam algemas, desmoralização pública e, até condenações à morte, nestas plagas não chegam sequer, mor parte das vezes, a ser julgados.

Nesse aconchegante campo da impunidade, aninham-se não só os facínoras da corrupção econômico-financeira, dentre os quais se têm sobressaído políticos, quase sempre suportados por grandes empresários (notadamente empreiteiros, banqueiros, entre outros) sempre enlameados pela gosma pegajosa da desonestidade despudorada e ostensiva ? cujo gosto, surpreendentemente, parece não ser percebido pela população ou, se o for, acaba sendo por ela aceito e até saboreado. Também, os invasores de terra e de prédios públicos, os depredadores de propriedades alheias, os criminosos comuns, onde se incluem os traficantes, ladrões de bancos, residências ou veículos, os estupradores, os pedófilos, os seqüestradores, estes abrigados ou não sob mantos políticos, além de autores de outras modalidades delituosas menos alardeadas nele se aconchegam. Alguns pelas limitações das leis processuais. Outros pela leniência da polícia e da justiça. Muitos, porém, pela conivência de políticos e, hoje, em casos emblemáticos, pelas distorções ideológicas de outros políticos.

De um lado, há uma cultura arraigada em nossas entranhas sociais que reza a relevância de se ter sucesso, não importando se os meios utilizados para obtê-lo são lícitos e morais ou não. O que concretamente importa é a obtenção da vantagem que levará quem a conquistou às "glamourosas" badalações freqüentadas pelas castas mais abastadas, às promoções da mídia, às notícias criadas sob a espuma de champanhe para enaltecer os predicados dos que as compram, encantando os menos favorecidos, que, sem perceberem a humilhação a que estão sendo submetidos, passam a ansiar pelos mesmos prêmios e pelo mesmo "status", nada significando o passado de seus falsos ídolos. Na verdade, esses são paradigmas que permeiam a sociedade em todos os seus segmentos.

De outro lado, alguns viúvos de uma utopia socialista, cujos exemplos mundiais mais significativos demonstraram, e, ainda, evidenciam que a corrupção é exclusividade do partido que tudo pode e nada deve, aprenderam com o coronelismo caboclo algumas formas de dominar miseráveis pelo paternalismo (aquela velha história da troca do sapato pelo voto), tornando-o permanente, sem se preocuparem em dar os meios de sobrevivência e dignidade que só advêm da manutenção da saúde, do saneamento, da educação efetiva e esclarecedora que gera o aprendizado da busca e do encontro da oportunidade de progresso. Sorveram, outrossim, a goles sedentos, dos alambiques de maldade dos rançosos e trapaceiros homens públicos tupiniquins, a cachaça da tramóia, da fraude e da falcatrua, locupletando-se do aparelhamento do Estado para rechearem suas cuecas de grana. Com sua dialética farsante (herdada do nazi-fascismo) em que, repetindo mentiras reiteradamente, procuram torná-las críveis, justificam atos vandálicos e criminosos dos pseudos "sem-terras", dos candidatos a ditadores bolivarianos, equatorianos e "cocaleros", dos narco-comunistas das FARC, ademais de sangrarem os cofres públicos através de milionárias ações indenizatórias promovidas por ex-guerrilheiros, a pretexto de terem sido perseguidos pelo governo militar (e não se questiona se o foram ou não).

De memória recente, a escancarar o desprezo pelo que é correto, está a atitude do então ministro da justiça, o mesmo que devolveu à força ao fantasmagórico ditador da ilha caribenha, os lutadores cubanos que, desesperados pelas péssimas condições em que vivem em seu país, buscaram asilo no Brasil, acolheu o delinquente comun, Cesare Battisti, terrorista e assassino comprovado de quatro pessoas em sua pátria, sob o pretexto de ser um ativista político perseguido por suas convicções pessoais, olvidando-se, todavia e, sem dúvida, propositadamente, de que a Itália é uma das mais antigas e sólidas democracias de nossos tempos, onde, ainda que se tenha posições extremistas, estas podem ser expostas sem risco, nada legitimando a prática de atos criminosos, muito menos a falsa motivação de cor política. E o que foi ainda pior, o Supremo Tribunal Federal, tíbia e politicamente, decidiu pela extradição de tal meliante, deixando, todavia e ineditamente, a decisão sobre a sua efetivação ao então presidente da república, que, comprometido com sua política de condescendência com os ditadores esquerdistas, contumazes praticantes de atos de terror contra seus próprios cidadãos, tanto na América Latina quanto na Ásia, e desprezando o bom relacionamento com um país democrático como a Itália, deu guarida ao criminoso.

E, agora, novamente o escândalo ronda o Palácio Presidencial. E novos conchavos em novos conclaves políticos, visto que ouvimos sempre as referências a baixo e alto clero com respeito ao Congresso Nacional, e até mesmo novos conciliábulos vão se estruturando para explicar o inexplicável, sofismar até o insofismável, manobrando, com a destreza costumeira e habitual, a arte de "tapar o sol com peneira", que, para não ser injusto e fazendo uma digressão histórica, remonta ao início de nossa existência como colônia, navega pela monarquia e se aperfeiçoa na república, notadamente, nos anos que recuperaram e compõem a nossa ainda jovem democracia. E se coloca em risco a governabilidade e a necessária aplicação de medidas políticas, econômicas, sociais tendentes a aproveitar o momento mágico que vive o país, em um mundo ainda em crise.

Não podemos, entretanto, desanimar. Aprendamos com o passado remoto e, particularmente, com o recente, a ponto de tentarmos induzir nossos filhos a mudarem o perfil de um país tão lindo e tão maltratado, que precisa de homens sérios e comprometidos com a higienização da política seja na esfera social, seja na esfera ideológica, lavando nosso sangue da lama que em nossas veias circula. Não há mais espaço para direitismos e muito menos para os esquerdismos atuais, que tem visão míope da realidade e querem tornar estrábica a população. Curemos as nossas vistas e nos dediquemos a protagonizar as mudanças de que o Brasil necessita, cambiando a mentira pela verdade, denunciando o que está errado e procurando, ferrenhamente, corrigi-lo, independentemente dos maus políticos, dos arremedos de dirigentes, dos arrebatadores de sonhos que até aqui continuam a dominar nossos destinos.

J. Beresford

Autor: Joffre Sandin


Artigos Relacionados


Política E Corrupção

Corrupção, Somos Vítimas Ou Cúmplices?

Nossa Mentalidade

Vote! NÃo Se Venda

AmnÉsia PolÍtica De Cada Dia

Ano De Reflexão

Relatório: SÓ No Brasil