OS CONTOS DE FADAS E O DESENVOLVIMENTO DA ESTRUTURA PSICOLÓGICA



Quem nunca gostou de ouvir uma história quando era criança? Quem jamais ouviu falar nas histórias de Chapeuzinho vermelho, Branca de Neve, a Bela adormecida, além de muitas outras histórias infantis?
Elas são bem comuns na nossa sociedade onde vivemos. Do mesmo modo, em outras sociedades as crianças de lá também ouvem outras histórias, diferente das nossas, porém, mais parecidas com a realidade da sociedade e do meio em que elas estão inseridas. Existe um dado de uma pesquisa científica que afirma que em todas as sociedades, de qualquer lugar do mundo, incluindo as mais primitivas tribos indígenas, diversos tipos de contos e histórias compõem o imaginário infantil local de cada um desses lugares.
Todo mundo sabe ( ou tem uma idéia, pelo menos) de que essas histórias vem sempre com uma moral. Mas o que poucos sabem, é que elas tem uma contribuição fundamental para o desenvolvimento psicológico e mental das crianças, o qual terá grande importância na elaboração de sua estrutura psicológica e conseqüentemente, para a sua personalidade.
Nesse contexto, pode-se perceber que todos esses contos de fadas, apresentam sempre uma mesma estrutura. Há um mundo real, o da normalidade e há também um mundo mágico, desconhecido e repleto de fantasias.
Ao transportarmos essa mesma idéia para a construção mental, também temos dois aspectos: O consciente, o qual é a parte que conhecemos de nós mesmos, a normalidade, e temos também o inconsciente, o qual é desconhecido, o oculto e o irreal. É exatamente nele que são elaborados todas as nossas fantasias mais secretas e ocultas, a qual não conseguimos explicar, nem para nós mesmos o porque temos prazer nelas. Também é nesse lugar que são elaborados toda a construção mental de tudo aquilo que vemos e ouvimos, e que, de certo modo, constitui a nossa personalidade.
É exatamente essa a razão de os contos de fadas exercerem tanto fascínio nas crianças. Veja bem, quando elas ouvem uma dessas histórias, a imaginação delas vem a tona, abrindo caminho para dar inicio a um processo que pode ser chamado de elaborações mentais inconscientes; (isto é, por exemplo, a criança se identificar com o personagem principal a história)
Não por acaso, o personagem principal das histórias infantis, geralmente é sempre alguém muito jovem, que tem uma aparência inofensiva e indefesa, vivendo em condições não muito boas. E é exatamente esse o sentimento mais próximo que as crianças tem com relação ao mundo ao seu redor. Geralmente elas também se sentem indefesas, fracas, conscientes dos perigos que o mundo lá fora oferece e o mais importante, ela não sabe lidar com isso sozinha.
Por isso, os contos e as histórias ganham aqui, uma importância fundamental. Aquele personagem fraco e indefeso (que é o herói da história) em um dado momento da história, dá o primeiro passo para sair daquela situação, começando assim a sua aventura. Logo ele acaba crescendo muito com todas as experiências que passa durante sua aventura, ganhando força e assim, conseguindo derrotar, no final, o vilão da história, (o qual geralmente é o que lhe trazia as condições desconfortáveis no inicio da história), se transformando assim, no herói da história. Com isso, a criança se identificará e se espelhará nesse herói, sendo essa, uma forma de sair daqueles mesmos sentimentos de inferioridade, de indefesa com relação ao mundo lá fora. E, no final de tudo, acabará construindo o seu próprio eu, isto é, o centro de sua própria personalidade, o qual será de fundamental importância para a sua vida adulta.
Essa fase começa aproximadamente por volta dos dois anos e se estende até os 7 anos aproximadamente. No entanto, ela poderá voltar durante a adolescência, exatamente numa fase bem típica dos adolescentes, conhecida como crise de identidade. Nessa idade, a preferência são por histórias mais complexas e elaboradas, mas não necessariamente, menos fantasiosa. O sucesso das séries Harry Potter e Crepúsculo entre os adolescente se deve por isso. Aliás, o Crepúsculo é um ótimo exemplo disso.
Nela, pode-se perceber claramente como a personagem principal, Isabella Swan é uma adolescente que passa por conflitos bem típicos dessa fase (impaciência com relação à idade, frustração com o casamento da mãe com o seu padrasto, além de sua própria timidez). No entanto ela apaixona pela figura perfeita de Edward Cullen, onde suas características principais são a força e a beleza, extremamente acentuadas e envolventes, além da sua voz e seu cheiro, os quais também fazem a cabeça de Bella, e, conseqüentemente, a cabeça de todas as meninas que lêem os livros. A riqueza de detalhes o qual a autora esboça só acentua essa elaboração. É a descrição de um ser perfeito, o qual é o ideal e todas as garotas. Isso justifica o fascínio delas pelo personagem Edward Cullen, visto que ele é o ideal de homem, a qual elas desejam se relacionar.
Dessa forma, a identificação delas mesmas com a Bella também é muito comum, visto que Bella, dentre tantos obstáculos, perigos e riscos, consegue namorar o "rapaz", algo que traz à elas o desejo de certa forma, de ser igual à Bella.
E do mesmo modo como acontece na infância, elas também elaboram o seu eu, construindo a sua imagem própria, algo que irá lhe auxiliar a resolver seus conflitos e crise de identidade.
Dessa forma, pode-se perceber o quanto os contos e histórias infantis que ouvimos ou que lemos trazem para nós, muito mais do que um pequeno momento de prazer e descontração. Elas são capazes de auxiliar na elaboração, do nosso próprio eu, e, dessa forma, nos propicia a primeira noção de nós mesmos como pessoa no mundo a nossa volta.


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Autor: Melquisedeque Oliveira De Castro


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