Jornalismo Transgressor



Resumo

O presente artigo faz, inicialmente, um breve relato sobre o uso da linguagem, a fim de adentrar o assunto vindouro e introduzir o objetivo principal. O relato sobre os conceitos pragmáticos se dá em função da relevância que eles possuem para a leitura e para a produção de reportagens jornalísticas. Depois, o artigo atinge seu ápice expondo a razão pelo qual foi escrito, que é a de abordar como a linguagem jornalística infringe, muitas vezes, as Máximas de Grice, elaboradas para garantir um uso eficaz da língua. Para tanto, o artigo traz exemplos de transgressões encontradas em portais da internet após minuciosa análise da versão online de vários veículos de Comunicação, como o G1, a Folha Online, o Estadão Online e da CNN International.
Feita a análise de casos separados, o artigo ainda tange as transgressões realizadas na internet em cotejo às transgressões cometidas nos demais veículos informativos, de forma a observar e delimitar a não-cooperação nos jornais online.


1. Pragmática

A linguagem é intimista. As expressões usadas pelo emissor carregam, junto ao conjunto se signos, impressões de aspecto pessoal. Conforme Bakhtin (1988) a palavra é carregada de conteúdo vivencial. "É assim que compreendemos as palavras e somente reagimos àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas ou concernentes à vida".
Oliveira (2009) considera que os usos da linguagem são comportamentos sociais e culturais, porém intencionais. Utilizar a linguagem é realizar uma ação dentro de determinado contexto social. O uso da linguagem é regido por regras, e cada comunidade de indivíduos possui regras idiossincráticas. Não é correto afirmar que certas regras são mais corretas em relação a outras. O nativo do interior do Brasil, por exemplo, mais especificamente nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais, possue uma forma de expressão bastante peculiar, geralmente associada ao erro. No entanto, não se deve confundir erro com regionalismo e usos da linguagem adequados à realidade cultural e social do falante.

Os tipos de escolhas realizadas pelo usuário, as restrições encontradas ao se fazer uso da linguagem e os efeitos deste uso são aspectos observados no comportamento lingüístico. Eles estão relacionados à pragmática. Para compreender este conceito, deve-se levar em consideração o processo de produção da linguagem. Mey (1993) sustenta que a pragmática não analisa o produto final, ou seja, a linguagem. Ela analisa a produção deste resultado, bem como os produtores. A pragmática trata, portanto, da relação signo e usuário. Oliveira (2005) acrescenta que os usos da linguagem superam regras da sintaxe e da semântica. Eles requerem também o domínio de capacidades sócio-cognitivas. Conforme Possenti (1996), a pragmática envolve um saber pré-estabelecido do falante, e tal saber deve ser levado em conta no momento da conversação.

A pragmática é, portanto, uma interpretação peculiar da linguagem, que engloba crenças e conhecimentos prévios. Explicar a linguagem de forma isolada não é objetivo da pragmática, pois ela recontextualiza condições extralinguísticas. Os principais tópicos referentes à investigação pragmática são: os atos de fala, a polidez, o contexto e a implicatura conversacional.

Entre os atos de fala, há três delimitações: ato locutório, ato ilocutório e ato perlocutório. O primeiro se refere ao ato de apenas dizer algo. O segundo se refere ao ato de fazer algo diante da locução. Ele especifica o ato lingüístico, delimitando se é uma pergunta, uma ordem imperativa etc. Já o ato perlocutório se refere aos efeitos gerados pelo ato locutório e o ilocutório. Para que um ato de fala de realize de maneira eficaz, é necessário um contexto adequado.

Conforme Oliveira (2005), a polidez envolve o uso de estratégias verbais para evitar problemas e conflitos no momento da interação. A polidez reduz efeitos de expressões que poderiam causar desconforto, por serem deveras incisivas, por exemplo.

O contexto se refere ao fato de a linguagem ser sempre usada de tal maneira que se relacionem o mundo físico, social e mental. Tudo o que faz parte da realidade do interlocutor deve ser levado em conta.

Já a implicatura conversacional está relacionada ao Princípio de Cooperação de Grice. Segundo este princípio, existem suposições que conduzem os falantes ao uso eficiente da linguagem.


2. As Máximas de Grice

A fim de garantir eficiência comunicativa, Grice formulou quatro máximas que, juntas, formam o Princípio da Cooperação. Se obedecidas, as máximas garantem um uso eficaz da linguagem com fins cooperativos.

? Máxima de Qualidade: esta máxima aponta para a veracidade da informação. Só deve ser dito aquilo que for, indubitavelmente, uma verdade e que possa ser comprovado. Caso contrário, será caracterizado como calúnia e/ou má-fé.
? Máxima de Quantidade: não deve ser feita uma contribuição mais ou menos informativa do que é necessário. Não deve ser dito mais que o necessário.
? Máxima de Modo: esta máxima sugere clareza de informações. Ela repudia qualquer forma de ambigüidade, obscuridade, prolixidade desnecessária. Também aponta para um uso econômico da linguagem.
? Máxima de Relevância: como o nome sugere, é imprescindível que sejamos relevantes no ato da comunicação, permitindo a exclusão de palavras não importantes ou dispensáveis na transmissão de uma mensagem.

Com o intuito de elucidar a maneira com que se aplicam as máximas, abaixo segue um exemplo de frase em que o falante pode ou não ser cooperativo. Em seguida a mesma análise será realizada, porém, tomando como objeto produções jornalísticas.
A. O que está passando na TV?
B. Maria gostaria de ver.
B não responde A de maneira clara, efetiva. Partindo desta análise, pode- se concluir que B não é cooperativo. Entretanto, se A e B têm conhecimento de qual programa de TV Maria gostaria de ver, então B é cooperativo, visto que, com a resposta dada, B possui compreensão do fato dito. Esta maneira subentendida de se expressar, Grice chamou de nível de implicatura.


3. Violação às Máximas de Grice em sites

Cooperar é, acima de tudo, uma questão de sobrevivência (Oliveira, 2005). A cooperação entre emissor e receptor deve ocorrer de forma a otimizar e propiciar uma efetiva compreensão da mensagem.

A pragmática tem no Princípio da Cooperação o seu principal suporte. Entretanto, não é difícil averiguar na linguagem de materiais jornalísticos, transgressões ao princípio. As trangressões às Máximas de Grice podem ser de forma intencional ou não intencional. Quando a intenção é transgredir, o ouvinte pode buscar uma interpretação própria, que esteja subentendida.

Apesar de Grice delimitar quais aspectos devem ser utilizados para se garantir eficácia na comunicação e no uso da linguagem, os veículos comunicativos abandonam esta visão e muitas vezes infringem o Princípio da Cooperação, orientando mais para as versões e menos para os fatos. Atitudes sensacionalistas, que buscam atrair uma grande quantidade de leitores, mesmo que para isso veiculem informações que não são indubitavelmente verídicas ou comprovadas, infringem a Máxima de Qualidade. Mas não é apenas esta máxima que é violada. O uso abusivo de metáforas, ambigüidades e palavras dispensáveis também estão presentes no cotidiano da versão online de jornais e revistas.

?Portal G1

O Portal G1 (www.g1.com.br) é comandado pela Globo Comunicação. Além de editorias comuns a vários outros portais, como Política, Economia e Mundo, o G1 possui uma editoria bastante própria, intitulada "Planeta Bizarro". Nela, são veiculadas informações com forte teor irônico e humorístico. A seleção das pautas é feita conforme o grau de estranheza, extravagância e bizarrice da informação. A reportagem analisada é do dia 13 de junho de 2010.
Na manchete "Rata de academia nos Estados Unidos rouba 17 carros em 2 meses" pode ser observada uma violação à Máxima de Modo. Isso porque "rata de academia" é uma metáfora usada para aludir a uma pessoa que frequenta repetidas vezes o espaço para praticar ginástica. Oliveira (2009) alega que compreender o sentido de uma metáfora é empregá-la a vários contextos e estabelecer relações com outras palavras.
Além do emprego da metáfora, percebe-se também uma sutil ironia na matéria. O termo "rata de academia" se refere a uma pessoa que pratica muita ginástica, mas, neste caso, foi usado para demonstrar uma pessoa que vai, sim, muito à academia, mas não para se exercitar, e sim para furtar. Como metáforas e ironias se opõem à clareza de informação, e a Máxima de Modo preza justamente esta clareza, pode-se atestar infração ao Princípio da Cooperação na matéria da editoria "Planeta Bizarro", do Portal G1.
A transgressão à máxima de Grice foi realizada de maneira intencional. Logo, para que o leitor compreenda a mensagem, ele deve ter um conhecimento prévio do significado da metáfora "rato de academia".

? Folha de São Paulo

A Folha de São Paulo é um dos jornalões brasileiros. Uma manchete dada pelo jornal anos atrás foi formulada de forma irônica, usufruindo da ambiguidade da palavra "vaia". A reportagem analisada é do dia 14 de julho de 2007.
À época da publicação da reportagem, os cariocas sustentavam um desafeto pelo Presidente Lula em função dos altos gastos com o Pan-Americano. Como iria fazer o discurso de abertura, Lula foi aos jogos. Na ocasião, porém, foi vaiado. Fazendo uso da sonoridade que permite sentido ambíguo, o repórter da Folha de S. Paulo formulou a machete "Lula vai ao Pan... Pan vaia Lula". Como a ambiguidade é um aspecto condenável pela Máxima de Modo, este princípio foi violado no texto jornalístico.
A infração à Máxima de Modo foi feita de maneira totalmente intencional, justamente para provocar a ironia, que na época foi associada à criatividade do repórter no momento da elaboração da manchete.

? Estadão online

Na versão online do jornal O Estado do Paraná, a editoria de esportes abordou, no dia 14 de junho de 2010, o rúgbi sul-africano. O repórter utilizou 1ª pessoa, e já no título observa-se o uso de ambiguidade.
No título o repórter afirma que "no rúgbi, amistoso não é amistoso nem no nome". O efeito que ele quis causar com esta escolha lexical está relacionado à ambigüidade que a palavra "amistoso" possui neste contexto. Ela pode significar tanto um encontro esportivo fora de campeonato, quanto o caráter pacífico e de amizade existente entre as pessoas. Esta ambigüidade provoca também uma sutil ironia, infringindo a Máxima de Modo.
Além do duplo sentido da palavra "amistoso", utilizado no título da reportagem, a prolixidade também é outro aspecto presente no desenrolar do texto, a começar pelo tamanho, 9.577 caracteres. Mas não é necessariamente o tamanho que determina o grau de prolixidade. Alguns excessos de descrições são dispensáveis à compreensão do fato.
Metáforas também são utilizadas de maneira abundante, como "boks", para designar os jogadores da seleção sul-africana de rúgbi, e "bafana bafana", para se referir aos jogadores da seleção sul-africana de futebol. O uso abusivo de tais metáforas, bem como a prolixidade e a ambiguidade são aspectos contrários à clareza da informação, o que danifica as regras impostas por Grice para se alcançar uma comunicação efetiva.
O repórter infringiu a Máxima Conversacional de maneira intencional, para salientar a ambiguidade da palavra "amistoso". Para a compreensão da manchete, o leitor deve ter conhecimento prévio das duas possíveis interpretações da palavra.

? CNN International

Vários sites noticiosos têm aderido atualmente à inserção do leitor no processo de produção da notícia. Este é o caso da CNN International. O site possui um canal no qual os leitores podem contribuir com a redação do jornal, enviando notícias. No ano de 2008, esta iniciativa, que a princípio era para ser benéfica, ruiu a reputação do site. Isso porque um leitor contribuiu com uma notícia falsa, de que o famoso empresário estadunidense Steve Jobs, co-fundador da empresa Apple, havia sofrido um ataque cardíaco. Sem sequer checar a informação, a CNN publicou. O impacto da notícia foi tão grande que, em um dia apenas, o valor das ações da Apple diminui 5,4%.
Esta reportagem transgride brutalmente a Máxima de Qualidade, que sugere que apenas seja dito aquilo que for uma verdade, e que possa ser comprovado. A nota referente ao infarto de Jobs não era verídica e tampouco foi comprovada pela equipe da CNN no momento da divulgação. Este ato pode ser caracterizado como um ato de calúnia e má-fé, tanto por parte do site, que não comprovou, quanto por parte do autor da nota.


4. As transgressões são próprias da internet?

A linguagem das matérias jornalísticas veiculadas pela internet é mais sucinta e de fácil compreensão se comparada a outros veículos, como o jornal impresso, por exemplo. Isso ocorre, em partes, em função do imediatismo da informação. Vários furos de reportagem podem ser dados pelos provedores ? pelo impresso, veicular uma informação em primeira mão é mais difícil. A dinamicidade do jornalismo online propicia uma linguagem mais prática e popularizada. Porém, muitas vezes refutável.

Por ser um local de fácil acesso social, muitos desconfiam do que é veiculado pela internet e afirmam até que ela não pode ser considerada fonte de pesquisa. Em função do imediatismo da informação, muitas vezes a checagem fica para segundo plano. Por esta razão, as transgressões à Máxima de Qualidade podem ser averiguadas com uma frequência indesejável. O caso da CNN Internacional exemplifica esta constante em plataformas online. Quando o leitor enviou a nota sobre o infarto de Steve Jobs, o site sequer supervisionou a participação do "repórter cidadão", e acabou por veicular algo totalmente falso e que não podia comprovar.

Mas não é apenas a Máxima de Qualidade que se mostra violada em reportagens virtuais. A Máxima de Modo, que repudia ambigüidade, obscuridade e prolixidade também muitas vezes se encontra transgredida. A ambigüidade e a metáfora são artifícios bastante presentes nas matérias, e estão relacionadas à criatividade do jornalista que as escreve, sem contar nas atitudes irônicas de muitos profissionais que buscam, acima da veracidade, audiência. Se o leitor não tiver conhecimento do duplo sentido da palavra ou do significado da metáfora utilizada, a compreensão fica completamente comprometida.

Apesar de ter sido encontrado um exemplo de prolixidade dentro do universo online, este recurso é muito mais associado a veículos impressos. O Princípio da Cooperação aponta: seja breve! No geral, as reportagens online obedecem este imperativo. Costumam ter número de caracteres bastante inferior a reportagens impressas, além de não possuírem o alto grau de redundância de um rádio, por exemplo.

As transgressões, portanto, não são exclusivas da internet. Um caso de transgressão no universo jornalístico televisivo por exemplo, aconteceu em 2009, quando do sequestro da estudante Eloá, em São Paulo. A menina foi sequestrada pelo próprio namorado e mantida em cativeiro durante vários dias. A imprensa cobriu todo o caso com cuidado, mas em dado momento transgrediu violentamente a Máxima de Qualidade. Na ânsia de noticiar o fato de maneira mais célere possível, vários telejornais deram, em primeira mão, a notícia de que Eloá havia morrido sem que, no entanto, isso tivesse de fato acontecido. O vexame foi no momento da errata, em que os apresentadores desmentiam a notícia da morte. Uma simples apuração errada (provocada pelo anseio do furo de reportagem) agrediu não apenas a família da menina, mas também a máxima que alega: diga apenas o que for comprovado.

Sendo assim, nenhum veículo de comunicação está livre da transgressão. Os jornais online, por manterem atualizações constantes, são mais propícios a infringir principalmente a Máxima de Qualidade. Haja vista o excesso de pautas que os jornais online demandam ? justamente por realizarem alta frequência de postagens ? podem também transgredir a Máxima de Relevância que, como o próprio nome sugere, preconiza que sejamos relevantes em nossas informações. Um exemplo pode até mesmo ser visto na editoria "Planeta Bizarro" do site G1. Notícias como "Chocolate em forma de pênis surpreende avó", "Mulher coloca maionese em livros de biblioteca e vai presa" e "Herança: dona de bordel, mãe ensina pole dance para a filha de sete anos", apenas não são dispensáveis para quem gosta de muita ironia em matérias jornalísticas.
Além da internet, da TV, da rádio e do impresso, as fotografias também podem transgredir as máximas a partir de suas legendas. A maioria dos manuais de redação dos grandes jornais ensinam a escrever legenda de tal forma que, ao mesmo tempo em que a figura é descrita, a informação principal da matéria também é transmitida. Entretanto, muitas vezes não é desta maneira que ocorre. Exemplo está na legenda exibida pela matéria "?Popularidade de Lula deve assustar a oposição?, no site G1 no dia 14 de junho de 2010. A foto mostra o advogado geral da união, que foi quem alegou a afirmação exposta na manchete. A legenda afirma: "O advogado geral da União, Luis Inácio Adams, no início do mês". Esta legenda, da tal forma que está, fere a Máxima de Relevância, pois apenas aponta quem aparece na foto, sem contextualizar ou transmitir ao menos um pouco o enfoque da matéria, como sugerem os manuais de redação.

Também podemos averiguar violações em charges. A charge publicada no site Gazeta do Povo, por exemplo, no dia 16 de junho de 2010 pelo cartunista Tiago Recchia, traz a seguinte informação: "Maluf ganha R$ 400 em bolão na Câmara". Depois, um desenho mostrando os políticos manuseando dinheiro. A expressão "bolão na Câmara" é uma metáfora e a violação à Máxima de Modo foi feita neste caso de maneira intencional, visto que o objeto em questão é uma charge, e seu principal objetivo é disseminar humor.

Como vimos, as transgressões não são próprias da internet, mas dentro deste veículo atendem a especificidades condizentes com o imediatismo e a dinamicidade. Além disso, charges e legendas também são conteúdos presentes no espaço virtual, e contribuem com as infrações já comuns em reportagens. Tais violações apontadas impossibilitam, segundo Grice, a eficiência comunicativa.



Anexos

Abaixo seguem as matérias analisadas pelo artigo:

? Portal G1

'Rata' de academia nos Estados Unidos rouba 17 carros em 2 meses

Cynthia Eliza Huster-Forrest fez arrastão em 7 academias. Americana foi presa no Texas ao fazer nova vítima.
Uma mulher foi presa em Austin, no estado do Texas (EUA), acusada de roubar carros de diferentes academias da cidade.
Cynthia Eliza Huster-Forrest, de 29 anos, frequentou mais de sete academias em apenas dois meses. No entanto, ao invés de malhar, ela roubava os pertences e os carros dos outros alunos.
Ao todo, a polícia de Austin contabilizou 17 carros roubados de sete academias da cidade.
Cynthia usava do mesmo truque. Visitava o lugar, analisava as vítimas e fingia ser mais uma frequentadora. No vestiário ela roubava as chaves dos carros e os levava na primeira oportunidade.
A mulher foi detida durante um roubo e a polícia encontrou documentos falsos com ela. A maioria dos carros foi recuperada, mas cartões de crédito, joias e dinheiro que estavam nos veículos foram perdidos.

? Folha de São Paulo
Lula vai ao Pan... Pan vaia Lula

Na cerimônia de abertura, no Maracanã, por seis vezes público apupa o presidente da República, que não faz a declaração inaugural dos jogos
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Vaiado seis vezes na cerimônia de abertura do Pan-Americano do Rio, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fez a declaração habitual de abertura, como exigia o protocolo esportivo, tendo sido substituído no último momento pelo presidente do comitê organizador, Carlos Arthur Nuzman.
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Segundo a Presidência da República e o comitê organizador dos Jogos cariocas, "houve um desentendimento" entre suas equipes responsáveis pelo cerimonial da abertura do Pan.
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O governo federal bancou R$ 1,8 billhão dos R$ 3,7 bilhões gastos na preparação dos Jogos, sendo que R$ 49,8 milhões foram direcionados para festas relativas ao evento esportivo.
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A primeira vaia a Lula, vinda de um público que pagou entre R$ 20 e R$ 250 por cada ingresso, surgiu quando a imagem do presidente apareceu nos dois telões do estádio. Sua figura foi rapidamente tirada, e então o público aplaudiu. A organização ainda tentou novamente, com uma imagem um pouco mais distante, e veio a segunda vaia. A terceira e quarta vaias aconteceram durante anúncio de sua presença no Maracanã pelo sistema de som e em nova imagem nos telões.
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Outras duas vaias ocorreram durante a menção ao nome de Lula nos discursos de abertura dos Jogos, feitos por Nuzman e pelo presidente da Odepa (Organização Desportiva Pan-Americana), Mario Vásquez Raña. Quando Nuzman mencionou o governador do Rio, Sergio Cabral, houve aplausos parciais. Quando citou o posto do prefeito do Rio, Cesar Maia, houve aplausos efusivos.
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Segundo o relato de integrantes da comitiva presidencial, Lula havia desistido de fazer a declaração de abertura dos jogos pouco antes do momento para o qual estava prevista. Nuzman, que é também presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, então assumiu para si o papel antes destinado ao presidente da República e desceu da tribuna de honra do Maracanã para o gramado.
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Cabral ainda insistiu para que Lula fizesse a declaração de abertura, e o presidente cedeu, recuando de sua desistência.
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Um microfone foi novamente colocado à sua disposição na tribuna, e as câmeras do sistema oficial de televisão filmaram, esperando por sua fala, ao lado de Cabral e de Maia.
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Mas a informação de que o presidente decidira falar aparentemente não chegou a Nuzman. "Em nome de todos, declaro abertos os Jogos Pan-Americanos Rio-2007. Boa sorte, Brasil!", declarou ele.
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Na saída do Maracanã, Lula não quis falar com repórteres. Entrou rápido no carro. Sua mulher, Marisa, acenou, mas fez que não ouviu as perguntas.
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O presidente estava acompanhado de seu vice, José Alencar, e de vários ministros, como Dilma Rousseff (Casa Civil). Também estavam presentes, além de Cabral (PMDB) e de Maia (DEM), o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM).
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Apesar da segurança reforçada em toda a cidade, onde milhares de policiais patrulham as ruas ostensivamente com fuzis, Lula se deslocou só de helicóptero. Foi do aeroporto à Vila do Pan (zona oeste), depois ao hotel (zona sul), ao Maracanã (zona norte) e voltou ao aeroporto.

? Estadão online

No rúgbi, amistoso não é amistoso nem no nome
Nem a Copa do Mundo é capaz de ofuscar a paixão dos sul-africanos pelo esporte considerado 'dos brancos'. Jogo contra a França, no fim de semana, é mantido, tem casa cheia na Cidade do Cabo e clima de guerra
Na manhã da abertura da Copa, eu estava me registrando no hotel The Cullinan, na Cidade do Cabo, quando uma manada de rinocerontes despontou no mezanino. Caramba, eles eram enormes. Uns de short, outros de calça, mas todos de camiseta verde-escuro com números amarelos nas costas, vinham descendo as escadas com suas caras amassadas de sono.
"Quem são esses sujeitos?", perguntei à moça magrinha do balcão que tentava me arrumar um quarto. "Ah, são os Springboks! Não conhece? Eles estão hospedados aqui", ela sorriu, um tanto quanto excitada. Sua cintura dava um braço daqueles, sem ofensa, paquidermes. De qualquer um deles.
E, sim, eu conhecia os Boks, apelido dos jogadores da seleção sul-africana de rúgbi, atual campeã do mundo. Só não imaginava ter a sorte (ou correr o risco) de ficar tão perto deles. Eu vim à Cidade do Cabo justamente para acompanhar o jogo dos Boks contra a França, no sábado 12. Queria saber como é que a África do Sul conseguiu driblar as restrições da Fifa para fazer outro grande evento esportivo, concorrente, em plena Copa do Mundo de futebol. Também queria entender a paixão dos sul-africanos pelo rúgbi, esporte tão ligado à cultura, a momentos marcantes da história do país.
O rúgbi é o jogo dos brancos aqui. O futebol, dos negros. Sob o apartheid, alunos de certas escolas não brincavam com a bola redonda. A África do Sul chegou a ser banida de competições internacionais. Durante muito tempo, os negros iam às partidas de rúgbi só para vaiar os Springboks, símbolo máximo da dominação branca.
Foi o ex-presidente Nelson Mandela que mudou um pouco as coisas. Em 1995, findo o regime de segregação, ele viu na Copa do Mundo de rúgbi em seu país a chance de aplacar a sede de vingança dos negros e o pavor dos brancos quanto aos novos tempos. Isso está soberbamente contado no livro Conquistando o Inimigo, de John Carling, e no filme Invictus, de Clint Eastwood.
E ali, no lobby do The Cullinan, estavam os caras mais parrudos que se pode imaginar. Eles tinham descido para fazer a fotografia oficial do jogo contra a França. O capitão de um time de rúgbi é tão importante quanto o técnico aprendi isso no Invictus, vendo Morgan "Mandela" Freeman falando a Matt "Pienaar" Damon sobre a revolução de mentes que um eventual título dos Boks em 95 seria capaz de promover na África do Sul. Naquela época, o capitão do time era François Pienaar.
Hoje é John Smit, um armário de 1,86 m de altura por 116 kg de largura. Ele tem o pescoço praticamente do mesmo diâmetro da cabeça, e eu o identifiquei assim que um segurança do hotel o abordou, se referindo aos adversários franceses: "Kill them tomorrow, captain!" (Mate-os amanhã, capitão!). Smit assentiu com a cabeça ao segurança, e a mim disse que nada de entrevistas. "Estou focado no jogo, cara. No interviews." Não insisti, porque achei interessante esse Smit ficar focado em qualquer outra coisa que não fosse a minha pessoa, Deus me livre. Eu ainda tentaria entrevistar outro jogador que passeava no saguão do hotel. De longe, Zane Kirchner parecia menor que os outros, o que me encheu coragem:
Você me daria uma entrevista?
Não.
De perto ele não era tão pequeno assim (1,84 m, 92 kg), de modo que não alonguei nossa eloquente conversa. Eu ainda avistaria um outro Bok na lojinha de lembranças do lobby. Victor Matfield, 110 kg acondicionados em 2,01 m de altura, segurava uma camiseta da seleção de futebol da África do Sul que caberia, no máximo, no seu dedo mínimo. Nem cheguei perto.
Uma partida de rúgbi pode ser bem parecida com uma de futebol. Ao menos por fora. Nos arredores do estádio de Newsland, aos pés da Table Mountain, a incrível montanha de topo reto que domina a paisagem da cidade, não faltavam barraquinhas de churrasco e camelôs oferecendo camisetas e bonés. Depois de uma noite anterior meio frustrante, quando vendeu poucas de suas bugigangas na porta do estádio Green Point (França x Uruguai, pela Copa), Osman Abrahams fazia as contas aliviado, antes do início de Springboks e França.
"O torcedor de rúgbi gasta muito mais. Veja esta camisa. São 500 rands (R$ 120), e eles pagam", ria. "O pessoal do futebol não tem dinheiro." Além de grana, o torcedor de rúgbi tem é massa muscular. Na lojinha oficial dos Boks em Newsland, vendem tamanhos de roupa incomuns no Brasil. Estão lá os nossos XL e XXL, ok, mas também 3XL, 4XL, 5XL... Vi alguns torcedores negros, mas bem poucos. O reduto ali é africânder (sul-africano branco descendente dos colonizadores holandeses), como me disseram Cheslyn Wagenaar e Warren Arendse.
Eles distribuíam cartazes aos torcedores que iam chegando, oferecimento de um jornal da cidade. Havia dois dizeres para escolher, ambos em africânder: "Hier kom die Bokke!" (Aí vêm os Boks!) e "Ek Skree vir die Bokke!" (Eu grito pelos Boks!). Em inglês, zulu ou qualquer outra das 11 línguas oficiais do país? Necas.
Dentro do estádio me encontro com Andy Colquhoun, o gerente de comunicação dos Springboks. Ele explica que, como no rúgbi tudo é muito organizado, o jogo de sábado já estava agendado desde 2001, portanto, três anos antes de a Fifa escolher a África do Sul como sede da Copa. "Hoje, nosso calendário está definido até 2018."
E por que todo mundo se referia ao embate Boks x França como "teste" e não "amistoso", termo mais comum quando a partida não pertence a um torneio? "Na prática, é a mesma coisa, só que um jogo de rúgbi nunca é amistoso", Colquhoun diz, candidamente. "No rúgbi, ganhar ou perder importa, é guerra, por isso, o seu amistoso, para nós, é um teste. É um esporte de muito físico. Quem vence está demonstrando a força de seu país. Quem perde é um fraco", continua. "Quando os Springboks são derrotados, as pessoas se deprimem e há casos de violência doméstica nas classes mais baixas."
Cruz credo. Tento explicar a ele que no futebol não é assim, não. Que, apesar de alguns técnicos de cabeça rugbista, nós gostamos mais do jogo pelo jogo, do espetáculo. Ganhar ou perder faz parte. A tristeza da derrota passa logo. Colquhoun não dá mínima.
A caminho da tribuna de imprensa, percorro uma fileira de camarotes de empresas, com fartura de comes e bebes. É o oitavo andar do Newsland. Ali, a população parece mais diversificada. Há negros trabalhando de porteiros e mestiços de garçom. Comendo ou bebendo lá dentro, não vi nenhum. Meu lugar é o C18. Sento-me ao lado de um jornalista francês, Pierre-Laurent Gou, que me mostra uma foto no programa do jogo (jogo de rúgbi tem programa como no teatro ou no concerto) para explicar a diferença entre as chuteiras dos jogadores. As dos atacantes são iguais do futebol. As dos defensores têm travas maiores e de alumínio, pra eles empacarem na grama e não deixarem rinoceronte nenhum passar nem por cima de seus cadáveres.
Vai começar o jogo. Os Boks de verde-escuro, como sempre. A França de azul. Todos pequenininhos e a uma distância bastante segura vistos aqui de cima. No primeiro contra-ataque, o ponta-esquerda ciscador dos donos da casa (ao menos ele estava com a 11 e atuava naquela faixa do campo) dispara, passa o negócio que eles chamam de bola pro camisa 8, que vem pelo meio e se joga de barriga para atravessar a linha de fundo e marcar o "gol".
Cinco a zero Boks, mais os 2 pontos extras conquistados com um chute de 20 metros que passa dentro traves em forma de H. A distância entre elas é de 5,6 m, ou seja, 1,70 m menor que a do futebol. E veja você, Luís Fabiano, os caras do rúgbi têm de acertar esse golzinho chutando uma bola verdadeiramente oval. Fazem de tudo pra atrapalhar os atletas hoje em dia...
Faltando ainda 15 minutos para acabar o primeiro tempo, os Springboks vencem por 20 x 0. Tento brincar com meu vizinho de tribuna que a França deveria botar logo o Henry em campo, que de jogar com as mãos ele entende. "Com os pés também, que costumam funcionar bem contra o Brasil", Gou rebate, sério, lembrando a nossa desclassificação da Copa passada.
O rúgbi não parece ser lugar de brincadeiras, como já tentara me explicar o gerente Colquhoun e como eu também notaria pela absoluta falta de vuvuzelas na torcida. Em vez delas, vi foi muitos cobertores e almofadinhas protegendo a retaguarda das pessoas sentadas nas frias poltronas de aço.
Prefiro acompanhar o segundo tempo nas arquibancadas, onde está Mike Hazell e família, donos de uma corretora imóveis em Knysna, a cinco horas de carro da Cidade do Cabo. Ele veio só pra ver o jogo, e a cada trombada feia lá embaixo no campo solta um "uf" seguido de uma gargalhada. "Eles não se machucam, não?", eu quero saber. "É claro que sim", vibra Hazell, uma sujeito educado que diz até apreciar a "atmosfera do futebol e dos jogos dos Bafana Bafana", mas prefere o rúgbi.
E se machucam quanto? Na entrevista coletiva depois do jogo, que a África do Sul venceu de lavada (42 x 17), o capitão John Smit se apresentou metido num terninho verde de lapelas douradas. Tinha a testa toda vermelha e a bochecha esquerda inchada e arranhada. Ele comentou que vira a partida dos Bafana Bafana na véspera: "Foi incrível. Meu coração quase parou umas quatro vezes." Senti ímpetos de aproveitar esse momento de candura do capitão para perguntar a ele a única coisa que me faltava saber sobre o rúgbi e os Boks. Por que diabos o símbolo do time é um veadinho saltitante, o tal do springbok? No entanto, calei. Eu estava focado em sair inteiro dali, cara!

? CNN Internacional

Site da CNN publica notícia falsa sobre ataque cardíaco de Steve Jobs
Há algumas horas, o iReport, site de jornalismo cidadão dirigido e operado pela CNN, publicou uma nota (já fora do ar) afirmando que Steve Jobs teria sofrido um profundo ataque cardíaco e teria sido levado às pressas para um hospital.
Dizia a nota original:
Steve Jobs was rushed to the ER just a few hours ago after suffering a major heart attack. I have an insider who tells me that paramedics were called after Steve claimed to be suffering from severe chest pains and shortness of breath. My source has opted to remain anonymous, but he is quite reliable. I haven?t seen anything about this anywhere else yet, and as of right now, I have no further information, so I thought this would be a good place to start. If anyone else has more information, please share it.
Steve Dowling, porta-voz da Apple, afirmou à Reuters, porém, que "os rumores são falsos." A mesma coisa foi dita por Katie Cotton, vice-presidente de comunicações globais da Apple, ao Silicon Alley Insider. Talvez um pouco tarde, já que a informação se espalhou tão rápido que chegou a surtir um forte efeito negativo nas ações da empresa na NASDAQ.
O acontecimento com certeza abalará a credibilidade da CNN, mesmo que a seção do site em questão seja aberta para repórteres independentes. Este caso, especificamente, poderá inclusive abrir uma investigação da SEC e forçar a CNN a revelar o endereço de IP do usuário que publicou a matéria.








Autor: Marcela Cristina Zimolo Varasquim


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