Práticas de Leitura no Ensino Fundamental II



A importância da leitura no ensino fundamental II

Perguntas: qual a necessidade de um pré-adolescente? Do que ele precisa se informar? O que ele gostaria de aprender? O que ele não gostaria de aprender, mas tem que saber?

Esboços de sugestão para pensar

Modelo I

1. A importância da leitura para o ser humano

? A busca do saber ? que assunto interessaria um pré-adolescente?

A leitura para um jovem de 11 a 14 anos de idade é um dos estímulos menos freqüentes, no entanto o desafio colocado à frente do professor deve ser suficiente para que ele conduza o aluno, com todo seu esforço, a interessar-se no crescimento do saber. O saber pode vir de vários lugares e ângulos diferentes, por conselhos dos mais velhos, pelo bom testemunho dos pais, pela observação das pessoas, aprendendo o que fazer e o que não fazer. Dentre tantos meios de se alcançar o conhecimento, a leitura é indispensável.

Na década de 1980 a literatura juvenil foi atingida pela chamada "série vaga-lume". Ao lado deste, Pedro Bandeira trouxe influência marcante sobre os leitores juvenis com aventuras como "O mistério da fábrica de livros", "De punhos cerrados" e "Prova de fogo".

Nos últimos tempos os jovens parecem ter sido arrebatados por coleções que instigam a sempre querer saber o que vem a seguir, como a série Harry Poter. Leituras mais robustas e exigentes também podem atingi-los como As Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis, ou O Senhor dos Anéis, de Tolkien. Mas a pergunta é: o que interessa a um pré-adolescente? Que leitura poderia atrai-lo mais do que o vídeo-game, ou o vício do computador?

Se o ponto de partida for que a leitura é necessária para a formação, crescimento intelectual e de maturidade para o juvenil, então essas perguntas devem incomodar o professor e desafiá-lo a refletir sobre a formação daqueles que estão confiados sob a sua supervisão.
A alfabetização, ainda que massiva, não implica uma democratização da leitura e do acesso ao conhecimento. Ao contrário, para a grande massa, o mundo da escrita (e, portanto, do conhecimento formal e da experiência literária) continua interditado. Se em um momento anterior da história esta interdição se dava através de privilégios estatutários, agora se dá pela impossibilidade mesmo de entender ? e não codificar ? os textos. (ABREU e BRITTO, 1995 p. 12)
A compreensão da leitura é interditada para uma grande maioria, pessoas que não só não têm acesso ao ato de ler, como também não podem decodificar ou se apropriar desse universo do discurso. Há toda uma discussão, bastante antiga, sobre o processo de apropriação da leitura e da formação do leitor, havendo, inclusive, discussões sobre motivos que levam à exclusão dos possíveis leitores, como a elitização do livro, seja pelo status recebido, seja pelo preço, muitas vezes inviável para uma grande maioria, ou mesmo pela difícil compreensão e assimilação por parte de um leitor que vem despreparado para o ato de ler. O que sabemos de antemão é que um apreciador de leitura não se forma apenas com condições econômicas favoráveis, se assim fosse, teríamos muitos leitores vindos das mais variadas instituições particulares, o que em suma não se concretiza. O Brasil, na avaliação feita em 2000 pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes ? PISA ? ficou em último lugar, sendo que foi analisado juntamente com outros 31 países. Deve-se notar que a avaliação é feita com alunos na faixa etária de 15 anos, aproximadamente, e provenientes tanto de escolas públicas quanto de escolas privadas, comprovando a informação anterior de que as condições econômicas não são as únicas determinantes.
Infelizmente a realidade da falta de leitura é constatada também no meio universitário, como salienta a psicóloga Ana Teberosky em entrevista concedida em 26/04/1995 a Flávia Varella, da Revista Veja . Segundo ela, a leitura dos universitários "reflete com perfeição um estilo de vida. A leitura é variada, mas eles não se aprofundam em nada", e continua: "Tenho a impressão de que eles lêem como se estivessem assistindo à televisão com um controle remoto. Nunca param num canal. Fazem o que eu chamo de leitura em zapping". A entrevistada enfatiza a falta de aprofundamento na leitura dos acadêmicos e a compara aos meios televisivos, nos quais ocorre "uma assistência passiva e, por isso, têm pouca utilidade". A observação feita pela psicóloga mostra uma realidade cada vez mais comum e bastante atual mesmo passados quase dez anos da veiculação da matéria: a substituição da leitura pela televisão, veículo que, juntamente com o computador, tornou-se um dos principais meios de entretenimento de adolescentes.
Com isso, percebe-se que a interdição a que se referem Abreu e Britto pode estar em diversos níveis de aprendizagem, (desde os primeiros possíveis momentos de formação do leitor ? início do aprendizado ? até o nível universitário), e ser de várias ordens: social ? um leitor que se depara com um universo, principalmente no tocante à decodificação dos signos, que não lhe é comum ?; cultural ? a leitura geralmente é substituída por outros meios de entretenimento, como a televisão ?; e também mitificadora ? ocorre uma autodepreciação por parte do leitor que "acredita" que a impossibilidade de compreensão da obra se dá devido a sua incapacidade enquanto leitor.
Foucault, em A ordem do discurso, vai colocar a interdição como "o mais evidente, o mais familiar" procedimento de exclusão, pois "sabe-se que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa (FOUCAULT, 1996, p. 9)". Mas muito mais do que apenas querer ou poder dizer, há no indivíduo um medo do discurso, segundo ele:
Há, sem dúvida, em nossa sociedade e, imagino, em todas as outras, mas segundo um perfil e facetas diferentes, uma profunda logofobia, uma espécie de temor surdo desses acontecimentos, dessa massa de coisas ditas, do surgir de todos esses enunciados, de tudo o que possa haver aí de violento, de descontínuo, de combativo, de desordem, também, e de perigoso, desse grande zumbido incessante e desordenado do discurso. (FOUCAULT, 2004, p. 50).
Ora, se o leitor acredita ser um incapaz frente ao processo de leitura, não seria isso apenas um exemplo do que Foucault chama de "medo do discurso"? Ocorre comumente um "endeusamento" da leitura, que a distancia desse leitor "incapaz", ainda que habituado ao ato de ler. Esse sentimento auto-excludente pode ser observado na seguinte fala de uma leitora do jornal Rascunho : "Sei que sou pobre de vocabulário, mas todos os dias tento reverter isso e agora achei o que eu procurava no Rascunho". O que leva uma pessoa a expor sua "incompetência" ante o processo de leitura? É preciso observar, no entanto, que essa leitora "pobre de vocabulário" está escrevendo para um jornal exclusivo sobre literatura, o que implica um público bastante específico. Nesse caso, como alguém que se dedica a ler esse tipo de veículo de comunicação pode se achar "pobre de vocabulário", uma vez que o universo do qual este jornal faz parte, é decodificado a partir da apreensão e compreensão de discursos específicos, sendo necessário para isso, inclusive, a riqueza vocabular? É possível observar, então, que esse sentimento de inferioridade está presente também em leitores mais assíduos, demonstrando que a leitura por si só não é suficiente, é necessário ter o domínio quantitativo e qualitativo desse universo de leitura.
Ao longo da pesquisa, foi possível observar que o público-alvo da Revista Veja se comporta de uma forma muito análoga a essa. E, partindo-se do pressuposto de que esse público seja o leitor que possui a capacidade de decodificar os enunciados apresentados, e, portanto, uma minoria que "deteria" o poder discursivo, é possível caracterizá-lo como alguém que compreende o que lê, que interage com a revista, como um possível leitor ideal, por mais que ele próprio veja a si mesmo como um leitor inábil, pois a compreensão da leitura vai além da quantidade e conteúdo do que se lê, ela passa pelo conhecimento individual de cada leitor.

? Informação imediata ? atualizações (jornal, revista)

A informação imediata é necessária para atualizar-se do cotidiano. A internet, os jornais e as revistas se encarregam em trazer manchetes para que o jovem esteja ciente do que se passa em seu time de futebol, quanto aos últimos acontecimentos em seu Estado ou bairro e, se ele for curioso, em saber sobre política, jornalismo, indo além do entretenimento.

Porém, a informação imediata por si só não é capaz de dar formação a uma pessoa, porque essas informações sequer se prestam a esse papel. Sua função é simplesmente trazer o acontecimento à tona e saciar a sede do conhecimento frívolo. Sendo assim, o jovem deve conhecer o mundo à sua volta, entender os dilemas da sociedade e interessar-se pelas dificuldades e complexidades de seu país e do mundo. Ainda que isso pareça utópico, a escola tem a função de tornar esses conhecimentos acessíveis, e fazer com que os alunos desenvolvam opiniões críticas sobre essas informações.

? Formação intelectual ? o amor pelas letras (romances, séries, biografias)

A formação intelectual, por outro lado, tem uma função mais a longo prazo. Ter pressa para ensinar ou para aprender pode causar distúrbio no entendimento do aluno e no próprio desenvolvimento profissional do professor. Por isso o professor deve ser visto como paciente, tolerante e amável por seus alunos. A partir de seu bom desempenho profissional e de um verdadeiro desejo de ensinar, com inteligência, atingindo as necessidades dos seus alunos, o professor conquistará, ainda que aos poucos, a confiança deles.

Biografias como O diário de Anne Frank pode se tornar um poderoso antídoto contra a morbidez intelectual, fazendo com que o aluno enxergue além dos muros da escola, e além de seu próprio contexto vivencial e existencial. Em decorrência, um livro como esse pode trazer ao aluno um estímulo suficientemente capaz para que ele se empenhe em ser cada vez melhor e mais dedicado nos estudos.

Por outro lado, um livro como O homem que calculava, uma exploração à sabedoria oriental islâmica, pode desenvolver no aluno amor pelos números e o desejo de adquirir um raciocínio lógico e ligeiro.

De acordo com Maria José Nóbrega, Antonia Terra e Sandra Mutarelli, em referencial de expectativas para o desenvolvimento da competência leitora e escritora no Ciclo II do Ensino Fundamental / São Paulo: SME/DOT 2006 existem sugestões para que a escola possa reunir informações para conhecer quais são as capacidades de acessar e processar informações escritas que os estudantes demonstram ter construído até então, para poder avaliar quais são suas condições para prosseguir aprendendo ao longo de sua escolaridade nas diferentes áreas do conhecimento e ajustar o ensino às necessidades de aprendizagem.

Para realizar uma avaliação diagnóstica com esta finalidade, é sugerido que a equipe escolar elabore previamente alguns indicadores que possam apontar, de fato, as aprendizagens consolidadas, para que os resultados obtidos na sondagem permitam que a escola reoriente, se necessário, seus objetivos e práticas de ensino considerando o conhecimento prévio dos estudantes.

Atualmente, muitos dados de avaliações institucionais como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica ? SAEB, o Sistema de Avaliação do rendimento Escolar do Estado de São Paulo ? SARESP, Exame Nacional do Ensino Médio ? ENEM e Programa Internacional de Avaliação de Alunos ? PISA¹, podem fornecer subsídios para se conhecer melhor como leem os estudantes brasileiros da educação básica. Há ainda o Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional ? INAF², cuja finalidade é oferecer informações sobre as habilidades e práticas de leitura, escrita e matemática dos brasileiros entre 15 e 64 anos de idade. Discutir coletivamente os relatórios de algumas dessas avaliações contribui para que a equipe escolar aprofunde sua compreensão dos aspectos envolvidos em avaliações desse tipo e reúna elementos para elaborar um instrumento próprio de avaliação diagnóstica que permita responder à questão: Como leem e escrevem os estudantes que frequentam nossa escola?

Quanto maior for o número de informações que a equipe escolar conseguir reunir em seu esforço para responder a esta questão, maiores serão as chances de realizar um trabalho significativo, orientando o planejamento de modo a permitir que todos possam de fato fazer uso da linguagem escrita como leitores e como escritores.

¹ http://www.inep.gov.br/internacional/pisa;
² http://www.ipm.org.br/an_ind_inaf_5.php

Para que a escola tenha uma representação mais realista do nível de letramento de seus estudantes, sugerimos que, inicialmente, tente identificar:

1 ? Quais são os estudantes que revelam não dominar o sistema de escrita, isto é, não são capazes de compreender a organização do nosso sistema alfabético para ler ou para redigir textos de próprio punho?
2 ? Quais são os estudantes que revelam pouca fluência para ler e que escrevem com pouco domínio das convenções da escrita?
3 ? Quais são os estudantes que leem com alguma fluência e que redigem já com algum domínio das convenções da escrita?
4 ? Quais são os estudantes que leem fluentemente e que redigem textos que excedem as expectativas para os diferentes anos do ciclo?

Há uma proposta de encaminhamento da primeira fase da avaliação diagnóstica dos alunos que consiste na seleção de textos (pequenas notícias, trechos de unidades dos livros didáticos adotados, contos, fábulas etc.) para que os estudantes leiam em voz alta para algum professor da equipe. Antes de proceder à leitura, permita que os estudantes examinem o texto, leiam-no silenciosamente se desejarem: conhecendo o texto, fica mais fácil lê-lo com maior segurança. Se possível, grave as leituras que fizerem. Este procedimento permitirá que a equipe possa verificar se todos estão aplicando os mesmos critérios na avaliação dos resultados. Em seguida, proponha que respondam, por escrito, a uma questão aberta relacionada ao conteúdo temático do texto.

É importante que a atividade seja realizada individualmente para que não haja interferências que possam comprometer a confiança nos resultados. Além disso, nunca é demais lembrar o preconceito de que é vítima a população analfabeta. Realizar a sondagem individualmente é também uma forma de garantir que não se crie nenhum tipo de constrangimento para as crianças, jovens e adultos que por ventura ainda não dominem o sistema de escrita. Para agilizar o trabalho, os professores da turma podem se organizar de modo a cada um se encarregar de avaliar um grupo de estudantes da classe. À medida que as sondagens vão sendo realizadas, os dados podem ser registrados em uma planilha como a sugerida abaixo (Quadro 1).

Quadro 1
Modelo de planilha para registro dos resultados da sondagem inicial da proficiência dos estudantes em leitura e produção de textos escritos

INDICADORES
1 ? A leitura em voz alta revela que:
? Não conseguiu ou não quis ler
? Leu com muita dificuldade
? Leu com alguma fluência
? Leu com fluência

2 ? O texto produzido revela:
? Escrita não alfabética
? Escrita alfabética com pouco domínio
das convenções da escrita
? Escrita com controle satisfatório das
convenções da escrita
? Escrita com bom controle das
Convenções da escrita

Concluída esta fase, é importante seguir investigando a respeito do que sabem cada um dos grupos identificados. Em relação aos estudantes que não estão alfabetizados, é importante que a escola procure organizar-se para que possam compreender o funcionamento do sistema de escrita. Um passo importante é interpretar sua escrita para saber quais são suas hipóteses. Caso os professores da turma não se sintam aptos a realizar essa análise, aconselha-se buscar apoio com o Coordenador Pedagógico, colegas que atuam no Ciclo I e com o professor responsável pela Sala de Apoio Pedagógico ? SAP.

Para os que já decifram, mas apresentam pouco fluência, ao mesmo tempo em que é necessário inseri-los nas atividades de sala de aula que envolvam práticas de leitura e de escrita, por meio da mediação de um leitor mais experiente ou do professor, é preciso também planejar situações didáticas que possam estimulá-los a conquistar maior autonomia.

Engajá-los em um projeto em que se gravam fitas cassete com a leitura de histórias para crianças dos anos iniciais possam escutar, enquanto folheiam o livro pode ser interessante. Organizar atividades permanentes em que leiam poemas previamente ensaiados ou apresentem jornais falados de notícias relacionadas aos conteúdos que estiverem estudando nas diferentes áreas são outras possibilidades.

A segunda fase da proposta de encaminhamento da avaliação diagnóstica consiste em selecionar textos não só em prosa, mas também em outros formatos, como listas, gráficos, tabelas etc. como os leitoras, às vezes, apresentam melhor desempenho para ler textos de uma esfera de circulação do que de outra, é importante diversificar a escolha: textos da esfera literária como fábulas, contos, crônicas; da jornalística como notícias, gráficos; da escolar /divulgação científica como trechos de unidades ou capítulos de livros didáticos, tabelas.

A elaboração para os textos selecionados envolve questões sobre os domínios da leitura:

? Localização e recuperação de informação:
(em que os leitores precisem tanto buscar e recuperar informações explícitas no texto);
? Compreensão e interpretação
(em que os leitores precisem tanto relacionar e integrar segmentos do texto como deduzir informações implícitas);
? Reflexão:
(em que os leitores constroem argumentos para avaliar e julgar as ideias do texto).

A partir da construção de uma matriz em que seja possível relacionar a esfera
discursiva e o gênero a que pertencem os textos selecionados aos domínios de leitura que serão avaliados como no exemplo apresentado no quadro abaixo.

Quadro 2
Modelo de possível matriz de especificação para elaboração de instrumento de avaliação diagnóstica de leitura

ESFERAS DISCURSIVAS /
GÊNEROS DE TEXTO DOMÍNIOS DE LEITURA

Literária (fábula) 1 ? Localização e recuperação de informação;
2 ? Compreensão e interpretação;
3 ? Reflexão

Escolar / Divulgação científica
(Trecho de unidade de livro didático) 4 ? Localização e recuperação de informação;
5 ? Compreensão e interpretação;
6 ? Reflexão

Jornalística (gráfico) 7 ? Localização e recuperação de informação;
8 ? Compreensão e interpretação
9 ? Reflexão

(Os gêneros selecionados em cada esfera discursiva são meras sugestões)







A prática da leitura

? O que eles gostam de ler? Por exemplo: gibis. O que pode servir para estímulo?

Como estimular o aluno a ler romances ou biografias? Como desafiá-lo? Esta nem sempre é uma tarefa fácil. É provável que boa parte dos alunos, especialmente os meninos, já tenham tido contato, ou ainda tenham, por gibis, por exemplo. O gibi em si talvez não traga grande contribuição intelectual para o resto da vida do aluno, para ajudá-lo a se tornar uma pessoa melhor. Porém, unindo o interesse do aluno em ler alguma coisa, ainda que seja um gibi, mais a inteligência e sagacidade profissional do professor, é capaz de o aluno ser instigado a avançar alguns degraus a mais. Dos heróis imaginários, o aluno pode ser conduzido a se interessar por heróis da realidade, como um bombeiro, um médico ou um policial.

Para que nossos alunos se tornem leitores, efetivamente, e para eu a leitura seja uma prática social em suas vidas, é preciso que ela comece a se tornar uma prática relacionada a esta dimensão também na escola ? porque, para muitos alunos, a escola é o ambiente em que eles mais terão contato com materiais e ambiente de leitura.
Alguns escritores, ao contarem como começaram a ler e a se interessar pela escrita, referem-se às bibliotecas com as quais tiveram contato em sua infância, bibliotecas de seus pais e avós.

João Ubaldo Ribeiro, por exemplo, refere-se com encantamento à grande quantidade de livros que havia em sua, em Aracaju:

Relato 1:
"Não sei bem dizer como aprendi a ler. A circulação entre os livros era livre (tinha que ser, pensando bem, porque estavam pela casa toda, inclusive na cozinha e no banheiro), de maneira que eu convivia com eles todas as horas do dia, a ponto de passar tempos enormes com um deles aberto no colo, fingindo que estava lendo e, na verdade, se não me trai a vã memória, de certa forma lendo, porque quando havia figuras, eu inventava as histórias que elas ilustravam e, ao olhar para as letras, tinha a sensação de que entendia nelas o que inventara".¹
¹ RIBEIRO, João Ubaldo. Um brasileiro em Berlim. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1995. p. 137

Dada a situação sócio-econômica do nosso país, ter uma biblioteca em casa, ter uma casa repleta de livros é algo impensável para a maioria dos nossos alunos, para a maioria dos leitores brasileiros. A escola, então, é a grande biblioteca em sua cidade.

Clarice Lispector, no conto "Felicidade Clandestina", criou uma situação bastante diferente desta vivida por João Ubaldo: a de uma menina que desejava ardorosamente ler as Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, livro que uma amiga de escola tinha, mas que insistia em não lhe emprestar. Ela finalmente conseguir ter o livro, por intervenção da mãe de sua amiga.
Quando finalmente ela o teve em mãos, ficou deslumbrada:

Relato 2:
"Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o. E completamente acima das minhas posses (...)
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns intantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade".²
² LISPECTOR, Clarice. "Felicidade Clandestina" in O primeiro beijo e outros contos. Antologia. 9ª ed. São Paulo: Ática, 1994. p.54-55.

Na história destas duas crianças, uma que tinha muitos livros, e outra que não tinha, a leitura desempenhou um papel fundamental, transformador e lúdico. Em ambas histórias, a leitura e o acesso aos livros se dão por intermédio de outro leitor, ou de outros leitores, que compartilham com a criança uma experiência vivida, uma história lida e apreciada. Na vida de muitas crianças, é o professor que desempenha essa função de apresentar-lhes os livros, ajudá-los a escolher um dentre os vários títulos, estimular a leitura de alguns livros em particular, ensinar a maneira de ter acesso aos livros, por meio das bibliotecas.

É importante que, na sala de aula, a leitura e a escrita não sejam atividades secundárias, que não ocupem apenas o tempo que sobrou no finalzinho da aula. Leitura e escrita precisam ser planejadas, como atividades cotidianas, não só entre os alunos, mas também entre nós, educadores.

Há diversas maneiras de se fazer isso, vários caminhos, cada um deles com vantagens e desvantagens, porque sabemos que nem tudo funciona da mesma maneira em turmas diferentes.

O educador, como leitor experiente, pode ler com alunos, contar histórias e usá-las como estímulo para a escrita dos alunos. Não porque o texto lido seja necessariamente um ponto de partida para um exercício mas, às vezes, a leitura se encerra em si mesma. Pode-ser ler e depois fazer um exercício de escrita, como também pode-se ter atividades de leitura que não sejam acompanhadas de exercício algum porque a leitura já é, em si, uma atividade.
Sabe-se que muitas vezes os leitores (fora da escola ou estimulados por ela) escrevem para os escritores dos livros de que gostaram. Muitos escritores relatam as conversas que tiveram com seus leitores. Monteiro Lobato não só recebia cartas de seus leitores e escrevia para eles, como também os inseria em suas histórias: leitores, então, passaram a fazer parte das histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo. Era o que a leitora criada por Clarice queria fazer: morar no livro.

Os alunos, leitores em formação, podem aproveitar a leitura para dialogar (por meio da escrita) com os escritores dos livros de que gostaram, como também podem dialogar com outros leitores, de perto e de longe. É muito comum lermos as páginas de jornais e revistas resenhas de livros e filmes, e em função destas resenhas decidimos ler ou não um livro, assistir ou não a um filme. Este tipo de troca de ideias e informações entre leitores pode ser feito dentro da própria escola, formando uma rede de leitura: leitores escrevem recomendações de leitura e assim entram em contato com outros leitores, de hoje ou de amanhã.

Um jornal escolar, por exemplo, pode ter seções a respeito das leituras dos alunos. Depois de lidos os livros, eles escreveriam recomendações de leitura, espécies de resenhas ou cartas a novos leitores. Esta seria uma maneira de articular leitura e escrita, fazendo com que a atividade da escrita tenha em vista outros destinatários além do educador. Desta forma, o aluno registra os livros que leu, de que gostou (ou não gostou) e explica por quê. Esta é uma forma de se estabelecer um diálogo entre leitores. E este diálogo pode ser uma estratégia para ampliar a compreensão do texto lido ? e também as relações sociais dos alunos.

Quando lemos um livro reagimos com ele. Elaboramos esta reação de diferentes maneiras: dizendo se gostamos do livro ou não, recomendando o livro a um amigo, escrevendo uma crítica para o jornal, abraçando o livro, falando bem ou mal do escritor... Alguns leitores não param por aí. Resolvem interferir na história e criam, assim, outras histórias a partir do texto lido. Ana Maria Machado escreveu A Audácia dessa Mulher, estimulada pela leitura de Dom Casmurro. Depois de lido o livro, recriou a personagem Capitu, modificando a criação de Machado de Assis. A leitora tornou-se escritora.

O envolvimento do leitor com o livro lido pode ser estimulado pelo educador. Como fazê-lo? Por meio de atividades de leitura (em voz alta ou em silêncio, individuais ou coletivas, na sala ou na biblioteca) que sejam planejadas, que permitam a manifestação de opiniões dos leitores e que estimulem o aluno a fazer do livro duma parte de seu dia-a-dia.

Para isso é fundamental que o leitor perceba vínculos entre o mundo à sua volta e o mundo trazido pelo enredo da história lida. É preciso que ele leia, além das palavras do livro, as palavras do mundo. É preciso também que ele tenha acesso a livros e outros materiais de leitura. O educador pode intermediar este acesso.

? O que eles precisam ler? Matérias gerais,

Aos poucos, tendo conquistado o interesse do aluno, o professor poderá começar a aproximar assuntos mais necessários para a vida dele, ainda que contra a vontade. Em doses homeopáticas, o aluno poderá a ser introduzido nas ciências, nos cálculos e nas complexidades do ser humano. A partir de então, ele poderá desenvolver um pensamento próprio que poderá servir de gérmen para o início daquilo que o acompanhará pelo resto de sua vida.

As diferenças entre ciências exatas, humanas, biológicas e contábeis já estarão estabelecidas em sua mente. Desse ponto de partida, tendo o aluno começado a interpretar a si mesmo e suas dificuldades peculiares, ele começará a se deixar induzir por aquilo que mais o atrai e seduz. Porém, isso não seria possível, talvez, sem uma boa formação anterior, sem que ele fosse, primeiramente, desafiado a superar seu próprio entendimento de si mesmo e do mundo.

? Disciplina para ler/horário/quantas páginas por dia?/ambiente de leitura

Uma contribuição eficaz para o bom aprendizado são as boas condições de leitura. A disciplina é um elemento que contribuirá para uma leitura proveitosa. Telefonemas inesperados, visitas e acontecimentos afins são inevitáveis, mas podem atrapalhar. Coisas assim não podem ser sempre previstas. No entanto, o professor deve orientar sobre algumas prevenções importantes como computador desligado na hora da leitura, ou se a leitura for na tela do computador, MSN, skype e sites de relacionamento desconectados. O jovem pode facilmente permitir que sua atenção se perca e não mais se recupere.

A disciplina é importante para que a linha de pensamento, ou a lógica da narrativa não se perca na desconcentração. Por conseguinte, o aluno poderá ser orientado quanto ao tempo diário que ele deverá utilizar também. O estabelecimento de páginas determinadas deixará ao aluno metas diárias a serem atingidas.

Ele precisa pensar em um horário em que terá menos risco de distração. O bom sono também auxiliará na capacidade de concentração, bem como boa alimentação e a ingestão de água.

O ambiente deve ser o melhor possível, sem fotos sobre a escrivaninha/mesa, ambiente com boa iluminação e cores leves, como branco, verde, rosa ou azul claros. Esses conselhos práticos podem ser mais importantes do que se imagina e, de qualquer maneira, é melhor aconselhá-los para que sejam aprimorados em bons costumes que os acompanharão para sempre.

2. Leitura formativa

? Sobre caráter, dignidade ? romance como "A ilha perdida"

O professor é responsável em ajudar o aluno a ser uma pessoa melhor. O aluno deverá ser um cidadão respeitável e que contribuirá para a sociedade. Ele votará, prestará serviços militares, constituirá família e trabalhará com outras pessoas. Sendo assim, o aluno deverá ter contato com leituras que lhe apresentem

? Leituras de reflexão - amor e paixão/religião
? Leituras provocativas com sequencia didática e progressiva
? Desafiar o aluno a interpretar e compreender

Anexos possíveis ? pesquisa de campo

? Entrevistar um número determinado de alunos, saber a quantidade de livros lidos por semestre/ano. Que tipo de livro? Que assunto?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

http://www.alb.com.br/anais15/alfabetica/LeaoSolangeRosaCarneiro.htm

VEJA. São Paulo: Abril, 1986 -1995.

Brasil, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEC, 2007.

Autor: Rubiane Malheiro Filgueiras


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