FORMAÇÃO CONTINUADA E PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES



FORMAÇÃO CONTINUADA E PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DE PROFESSORES
SANTOS, Rodolfo Rodrigues Pereira dos.

1. Introdução
Ser professor não é uma tarefa fácil, visto as exigências da sociedade que a cada dia exige dele maior reflexão de sua prática docente e formação para garantia de um trabalho eficiente. Durante anos, a atividade de professor foi desenvolvida por pessoas da própria comunidade e muitas vezes sem nenhuma preparação, sendo escolhidas conforme seu prestígio social. A atividade de ensinar centrava-se basicamente na transmissão de um conhecimento não planejado que via o aluno como uma folha em branco que para ser modelado deveria obedecer as regras e ver o professor como o único detentor do conhecimento capaz de modelar sua aprendizagem. Deste modo, nunca houve neste período uma preocupação em refletir a prática do professor nem as formas de aprendizagem dos alunos.
Por outro lado, com o surgimento das primeiras universidades, instituições de ensino para formação profissional e o surgimento do termo professor para designar o profissional da educação, houve uma ampla preocupação em sistematizar os conteúdos e direcionar o ensino à formação do cidadão. Surgem a partir daí, inúmeros pesquisadores preocupados em desenvolver pesquisas que pudessem melhorar a formação dos professores e consequentemente a aprendizagem dos alunos. As primeiras escolas criadas nesta época adotavam uma prática docente tradicional baseada na disciplina e na excelência e que muitas vezes limitavam a aprendizagem dos alunos que deveriam aprender somente o que ali estava definido nos manuais de instrução.
Com o surgimento de novos conhecimentos advindos da psicologia, a aprendizagem começou a ser vista de um modo mais complexo, exigindo respeito ao aluno e preparação dos professores. Começam então, a surgir as primeiras escolas modernas, baseadas em teorias e métodos de ensino que além de respeitar como cada um aprende, exige dos profissionais da educação preparação, formação continuada e o conhecimento dessas teorias que surgem como princípios norteadores da prática docente.
Neste trabalho procuraremos tratar como essas teorias tem contribuído positivo ou negativamente para o desenvolvimento da aprendizagem, partindo de uma reflexão pessoal sobre nossa prática docente, evolução do ensino ao longo dos séculos e formação continuada como fator fundamental para o desenvolvimento de nossas atividades em sala, que exigem de nós, profissionais, maior preparação e regulação para desenvolver um ensino autônomo e crítico.
2. Profissão professor e formação profissional.
Durante séculos, o ofício de professor exigiu que ele fosse um modelo de virtudes, e mais recentemente que desempenhasse as funções de um técnico, capaz de mudar os comportamentos e atitudes dos alunos.
Partindo de uma análise histórica da evolução do ensino e do surgimento do termo professor para designar o profissional da educação, vale ressaltar que numa perspectiva sociológica o conceito de profissão constitui o que podemos designar por "constructo" dada a dificuldade de detalhar seus atributos. Já em relação ao ensino, durante muito tempo houve um descrédito em relação a valorização do professor que durante a Grécia Antiga e a Idade Média era qualquer pessoa de prestígio social designada a desenvolver um trabalho voltado a valorização do discurso e da erudição. Com as reformas religiosas ocorridas no século XVI, o ensino passou a ser organizado em escolas coletivas e foi fortalecido durante o século XVII pela Revolução Francesa que institucionalizou a educação e a definiu como uma responsabilidade do Estado, tendo por finalidade a formação do cidadão. Para tanto, foram criadas as primeiras escolas de formação de professores.
Segundo Romanowski (2007, p. 30) "a crença na necessidade dessa formação fortaleceu as escolas normais, que ficaram ao encargo do poder público e espalharam-se pela Europa e nos estados nacionais recém-criados." Outro fator importante para o fortalecimento da escola e sua ampliação foi a Revolução Industrial ocorrida na segunda metade do século XVIII, visto a necessidade de formação profissional dos operários que contribuiu positivamente para o aumento do número de professores. Porém durante muito tempo esses professores eram nomeados segundo escolhas do Estado sem nenhum critério de avaliação que pudesse classificá-lo como profissional. Conforme Fontes (2008, p. 02)
"até meados dos anos sessenta, a atividade do professor tinha como referência o modelo do "Bom Professor". Ele exercia uma função social transcendente, sendo um verdadeiro modelo moral e político, não apenas por ser tomado como um cidadão exemplar, mas também porque era visto como um sacerdote ao serviço do saber [...] Ser professor era manifestar sua vocação ou missão transcendente, não o exercício de uma profissão."
Contudo, os estudos advindos da Sociologia mostraram que a função de professor estava mais ligada a uma dominação ideológica a serviço do estado do que mesmo à formação profissional e humana das pessoas. Frente a esta desvalorização, muitos esforços foram necessários para que os professores tivessem seu valor de fato reconhecimento. A necessidade por uma formação educacional sistematizada e libertadora, talvez tenha sido a válvula de escape para que os professores pudessem exercer de fato, sua função; que deveria estar centrada na formação do aluno como ser social e na sua própria profissionalização como ser formador e agente deste processo.
As reformas ocorridas na Educação, que agora estavam voltadas para uma educação de qualidade de formação humanística e profissional, passaram a exigir dos profissionais maior qualificação e melhoramento da prática docente que deveriam ser refletidas constantemente para que o insucesso escolar não tomasse lugar no âmbito da aprendizagem. As pesquisas oriundas da psicologia que resultaram em teorias de aprendizagem também desempenharam papel importante no processo de ensino. E é com base nestas teorias e nessa necessidade por uma prática docente eficiente que iremos abordar o próximo tópico deste trabalho.
3. O trabalho docente e as teorias de ensino: implicações para o professor
Muito se tem discutido sobre formação de professor e qual seu papel na sociedade contemporânea frente às demandas da escola moderna. Como agir diante das novas abordagens de ensino e das teorias que norteiam a atividade docente? Como agir fora da auto-regulação dos conteúdos propostos nos livros didáticos de modo a diversificar a aula e permitir que o aluno seja co-autor do conhecimento? É possível uma educação libertadora? Quando de fatos estamos realmente profissionalizados para autuar na profissão docente? Até que ponto deve ir a nossa formação?
Talvez a maioria dessas perguntas possa ser respondida por nós mesmos, com nossa experiência em sala de aula; e outras à luzes de estudos advindos de trabalhos já desenvolvidos no campo da investigação sobre formação profissional. O que se configura na atualidade é um ensino inovador que busca uma formação humanística capaz de preparar o aluno para sua futura vida profissional. E o que cabe a nós, professores, é a busca incansável por novos métodos de ensino que não se esgotam ao término de nossos estudos acadêmicos. Devemos ter a consciência de que a atividade docente é um continuum, que inicia no magistério e vai até os últimos anos de nossa atuação em sala de aula. A este continuum Lima (2004, p. 19) afirma que
ele nos obriga ao estabelecimento de um fio condutor que vá produzindo os sentidos e explicitando os significados ao longo de toda a vida do professor, garantindo ao mesmo tempo, os nexos entre a formação inicial, a continuidade e as experiências vividas. A simples prática não conta dessa tarefa, se não for acompanhada de um componente indispensável ? a reflexão, vista como elemento capaz de promover esses nexos necessários.
Para tanto, nos é necessário compreender que para desenvolver nossas ações pedagógicas, devemos nos auto conhecer professores e respeitar como e para que nossos alunos aprendem. Freire (1996, p. 47) afirma que "saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção." Assim sendo, não podemos esgotar nossa prática e nos julgar incapazes de promover a aprendizagem, mas, devemos sim, criar oportunidades para que nossos alunos possam participar ativamente do processo de aprendizagem e nos vejam como um meio, e não como um fim. O que subjugamos como meio é a nossa capacidade de possibilitar aos alunos oportunidades para que eles se sintam agentes do processo de aprendizagem e do conhecimento abordado em sala sejam de ambas as partes, e não somente do professor.
Essas definições nos obrigam a superar a concepção de professor como detentor do conhecimento e do saber escolar como um conjunto de conhecimentos eruditos, valorizados pela humanidade e nos leva a entendê-la como algo mais complexo à formação do cidadão nas diversas instâncias em que a cidadania se materializa: democrática, social, solidária, igualitária, intelectual e ambiental. Em suma, a situação da instituição escolar amplia a complexidade da esfera da profissão docente que não se limita mais ao simples domínio do conteúdo disciplinar e as técnicas de transmissão. Imbérnon (2000 apud LIMA, 2004, p.14) considera que
[...] tudo isso nos leva a valorizar a grande importância que tem para a docência a aprendizagem da relação, a convivência, a cultura do contexto e o desenvolvimento da capacidade de interação de cada pessoa com o resto do grupo, com seus iguais e com a comunidade que envolve a educação.
Não devemos esquecer no âmbito dessas discussões o papel que as teorias de ensino desenvolvem como princípios norteadores de nossas ações pedagógicas. Referente ao que podemos destacar as essas teorias podemos usar como moldes a configuração do ensino na escola tradicional e na escola moderna.
Voltando um pouco na história do ensino, percebe-se que na escola tradicional o ensino desvalorizava as formas de aprendizagem dos alunos e muitas vezes reprimiam capacidades intelectuais dos mesmos. Os métodos de ensino eram convencionais e baseados em teoria comportamentais, onde o aprendiz era visto como uma "tábula rasa" que teria sua aprendizagem modelada conforme a instrução do professor. Conforme Lakomy (2008, p. 22), "a modelagem dessa aprendizagem ocorre quando o comportamento é adquirido ? o comportamento novo, o qual é reforçado por um estímulo, seja positivo ou negativo." Por outro lado, os estudiosos comportamentalistas perceberam que a atividade de aprender era mais complexa do que julgavam. Portanto, para estudar o processo de aprendizagem, seria necessário considerar os processos cognitivos que não podem ser observados diretamente, como fatores pessoais.
Partindo desta preocupação, novas teorias foram desenvolvidas e a teoria comportamental passou a ser negada. Surgiu então, a escola nova, norteada pelos princípios dessas teorias que valorizam as formas de aprendizagem do aluno e respeitam sua capacidade intelectual. Com isso houve uma ampla modificação, não somente no âmbito dos conteúdos, como também na prática pedagógica que deve refletir as ações dos professores de modo que ele tenha o cuidado para identificar que método deve adotar em suas aulas para obter um resultado satisfatório. Tanto que, milhares de cursos profissionalizantes têm sido oferecidos aos professores na intenção de melhor prepará-lo para sua atuação em sala de aula.
4. Da formação à prática: experiências de vida na prática docente
Como todo professor, viemos de uma formação, ora tradicional ora moderna. Cada uma delas dependia da prática de nossos professores que acabariam por influenciar nossas ações pedagógicas e ações em sala de aula. Compreender que método eles utilizavam, às vezes era um tarefa difícil para nós, que ainda pouco entendíamos sobre métodos e teorias de ensino. Mas podíamos perceber na ação de cada um deles traços que os definiam, ora como tradicionais, ora como "moderninhos". Alguns apenas sabiam transmitir conhecimentos, outros criavam oportunidades para que pudéssemos participar ativamente da aula, como se o conhecimento fosse algo amplo e não somente pertencente a ele. Gostávamos dos liberais, assim era como definíamos esses últimos. Tradicionais ou liberais, sabemos que aprendemos. Ás vezes de forma ditadora outrora de maneira mais espontânea.
Assim foi nossa realidade na Universidade, em nosso curso de formação de professores. O contato com os primeiros textos discutindo sobre prática pedagógica e teorias de ensino, nos deu um recorte de cada um de nossos professores e que tipos de métodos eles utilizavam em suas aulas. Este mesmo recorte nos possibilitou entender que deveríamos agir de uma maneira social e humanística, respeitando as formas de aprendizagem de nossos alunos para uma formação crítico-reflexivo. Aprendemos ainda, que não bastava o conhecimento adquirido na Universidade, e que deveríamos ir além do que tínhamos aprendido. E para isso participávamos de curso de formação, seminários, grupos de estudo, pesquisas, leitura de artigos e outros meios. Ao iniciar nossa atividade em sala, percebemos que mesmo entendendo da complexidade do que é ser professor e que métodos deveriam adotar, nos deparamos com situações estranhas ao nosso conhecimento e que exigiu de nós maiores fontes de pesquisa que acabaram resultando num amplo leque de conhecimentos que nos orientam diariamente em nossa pratica docente.
O conhecimento das principais teorias de aprendizagem, de fato, tem sido um dos meios mais importantes para orientação do nosso trabalho e compreensão do como se opera o processo de ensino e aprendizagem.
Contudo, não nos demos por completos nesta atividade maravilhosa que é o magistério e continuamos a participar de vários projetos de formação continuada oferecidos pelos governos municipal, estadual e federal. Além dos ofertados pelas universidades locais. E acreditamos que não para por aqui, e que ainda falta um longo caminho de conhecimento a ser percorrido.


5. Considerações Finais
Como toda profissão, a de professor exige formação que acontece de maneira contínua e atrelada a um conjunto de teorias que norteiam sua ação pedagógica. Refletir como se dá essa ação é fundamental para que ele possa entender sua prática, a ponto de aprimorá-la constantemente, fazendo os reajustes necessários para que a aprendizagem ocorra de modo que todos os envolvidos no processo possam interagir e construir seu conhecimento.
Devemos ainda entender que, nossa formação ultrapassa os limites dos conteúdos acadêmicos e que é necessário a busca incansável por novas descobertas e métodos que possam nos auxiliar na atividade de ensino de nossos alunos para que não venhamos a reprimir sua capacidade intelectual de agir socialmente no mundo moderno. Dominar conceitos teóricos sobre ensino aprendizagem nos possibilita entender os elementos necessários para a compreensão de nossas atividades. Por fim, vale salientar que a formação continuada deve ser algo presente na vida do professor para que ele crie um ambiente de ensino adequado ao desenvolvimento das capacidades intelectuais de seus alunos.
6. Referência bibliográfica
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996
FONTES, Carlos. Profissão: Professor. Disponível em www.artigos.com, acesso em: 20 de ago de 2009.
LAKOMY, Ana Maria. Teorias cognitivas de aprendizagem. 2ª. ed. rev. atual. Curitiba: Ibpex, 2008.
LIMA, Emília Freitas de. Formação de professores ? passado, presente e futuro: o curso de pedagogia. In: MACIEL, Lizete Shizue Bomura & NETO, Alexandre Shigunov (Orgs). Formação de Professores: passado, presente e futuro.São Paulo: Cortez, 2004
ROMANOWSKI, Joana Paulin. Formação e profissionalização docente. 3ª. ed. rev. atual. Curitiba: Ibpex, 2007.





Autor: Rodolfo Rodrigues Pereira Dos Santos


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