Apaticismo
a palavra e o ser
No poema um
de paixões de borboleta
escrevi auto-indulgência
em dois mil e oito.
Hoje me convenço
que é autoindulgência
após a reforma.
Criança fala errado,
?e se eu não quer??.
?Quiser? é um atalho,
liga logo um neurônio
a outro e outro
no caminho do entendimento
da ideia de uma condição futura.
?Quer? mostra que alguém
deseja, precisa, ambiciona.
?Quiser? mostra já que
a vontade dependerá
de um evento previsível e indeterminado.
Mas a gente entende também
?e se eu não quer?,
um beiço de segundo depois.
Entende até olho de cachorro,
virada de tempo,
autoindulgência.
As palavras estão atalhos.
09.05.11
a pressa e o nada
A gente consome a cultura
que tem no cardápio.
Para o morador de comunidade,
há funk, tráfico, pressa,
corrupção política, gato, pagode,
mau policial, ong, carnaval,
futebol, tevê aberta, busão e trem.
Ninguém nesse ritmo para
para ler nada.
Para o do asfalto
a dieta é mais variada.
Há inclusive um prazer
em apontar a falta de cultura.
A gente faz apologia
do que a gente prefere,
o mundo é obrigado a gostar
e corroborar nossa preferência.
Para que a comunidade leia,
era importante (não seria, mas era)
que a literatura namorasse com o funk,
com o tráfico, com o tranco.
Lula poderia ter metido
Caetano, Gil e Chico nisso.
A gente escuta uma música,
gosta da letra,
descobre de quem é,
procura mais, conhece
e acaba gostando
de Ferreira Gullar,
de mais partes da gente. .
o infinito e o além
A fé do homem vem do medo,
mas devia vir da constatação
do Big Bang.
Uma vez iniciada,
a reação em cadeia desenrola
a evolução da explosão,
os choques, os resfriamentos,
as aglomerações.
Fica esse monte de gente aqui
fingindo sociabilidade,
comendo o figo do outro
em prol de cada verdade preferida,
se achando,
mas o que existe vai existindo adiante.
Vida é presente de explosão.
09.05.11
Autor: Roberto Jr Esteves Siqueira
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