MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da Percepção. Tradução de Reginaldo Di Piero. São Paulo: Lvraria Freitas Bastos S.A, 1971.



A SENSAÇÃO


Ao começarmos o estudo da percepção, encontramos na linguagem a noção de sensação que parece imediata e clara: sinto o vermelho, o azul, o frio, o quente. Vai-se ver entretanto que ela é a mais confusa possível, e que, por tê-la admitido as análises clássicas faltaram quanto ao fenomenológico de percepção.
A definição de sensação pela impressão pura é de ver e ter cores ou luzes, ouvir e ter sons, sentir e ter qualidade e para saber o que é sentir não bastaria ter visto o vermelho ou ouvir um la? O vermelho e o verde não são sensações, são sensibilidades e a qualidade não é um elemento da consciência é uma propriedade do objeto. Queremos saber muito bem o que é "ver", ouvir, sentir, porque depois de muito tempo a percepção nos deu objetos coloridos ou sonoros.

O MUNDO PERCEBIDO

O corpo próprio está no mundo como o coração no organismo, ele mantém continuamente em vida o espetáculo visível, ele o anima e o nutre inteiramente, forma com ele um sistema. Quando passeio em meu apartamento os diferentes aspectos sob os quais ele se oferece a mim não poderiam aparecer para mim como os perfis de uma mesma coisa de não soubesse que cada um deles representa o apartamento visto daqui ou visto de lá, se não tivesse consciência de meu próprio movimento e de meu corpo como idêntico através das fases deste movimento.
Posso evidentemente sobrevoar o apartamento, imagina-lo ou desenhar seu plano num papel, mas mesmo então não saberia apreender a unidade do objeto sem a medição da experiência corporal, porque o que chamo um plano só é uma perspectiva mais ampla: é o apartamento "visto de cima", e se posso resumir nele todas as perspectivas costumeira, é com a condição de saber que um mesmo sujeito encarnado pode ver alternadamente diferentes posições. Responder-se-á talvez que recolocando o objeto na experiência corporal como um dos pólos desta experiência, retiramo-lhe o que forma justamente sua objetividade. Do ponto de vista de meu corpo não vejo nunca igualmente as seis faces do cubo, mesmo se ele for de vidro, e entretanto a palavra cubo, mesmo se ele for de vidro, e entretanto a "cubo" tem um sentido, o próprio cubo verdadeiro, além de suas aparências sensíveis, tem suas seis faces iguais. Na medida que rodo em torno dele, vejo a face frontal, que era um quadrado, se deformar, depois desaparecer, enquanto os outros lados aparecem e tornam-se cada um por sua vez quadrados. Mas o desenvolvimento destaexperiencia só é para mim a ocasião de pensar no cubo total com suas seis faces iguais e simultâneas, a estrutura intangível que lhe da razão. E o mesmo, para que meu passeio em torno do cubo motive o julgamento "eis um cubo", é necessário que meus deslocamentos estejam eles mesmos localizados no espaço objetivo e, longe da experiência do movimento próprio condicionar a posição de um objeto, é pelo contrario pensando em meu próprio corpo como um objeto móvel que posso decifrar a aparência perceptiva e construir o cubo verdadeiro. A experiência do movimento próprio só seria pois uma circunstancia psicológica e não contribuiria para determinar o sentido do objeto. O objeto e meu corpo formariam um sistema, mas tratar-se-ai de um feixe de correlações objetivas e não, como dizíamos há pouco, de um conjunto de correspondências vividas. A unidade do objeto seria pensamento, e não sentida como o correlativo daquele de nosso corpo. Mas objeto pode ser assim destacado das condições efetivas sob as quais nos é dado? Pode-se reunir discursivamente a noção do numero seis, a noção de "lado", e a de igualdade, e uni-las numa formula que é a definição do cubo. Mas esta definição coloca-nos uma questão mais do que nos oferece algo a ser pensado. Só se sai do pensamento cego e simbólico percebendo-se o ser especial singular que traz juntos seus predicados. Trata-se de desenhar em pensamento esta forma particular que enfeixa um fragmento de espaço entre seis faces iguais. Ora, se as palavras "enfeixar" e "entre" tem um sentido para nós, é porque eles emprestam à nossa experiência sujeitos encarnados. No próprio espaço e sem a presença de um sujeito psicofísico, não há nenhuma direção, nenhum exterior. Um espaço esta " encerrado" entre os lados de cubo como estamos encerrados entre paredes de nosso quarto. Para poder pensar no cubo, colocamo-nos no espaço, ora em sua superfície, ora nele, e desde então vemo-lo em perspectiva. O cubo de seis faces iguais é não somente invisível, mas ainda impensável; é cubo tal como seria para si mesmo; mas o cubo não existe para si mesmo, pois ele é um objeto. Há um primeiro dogmatismo, que a analise reflexiva nos desembaraça e que consiste em afirmar que o objeto existe em s ou absolutamente, sem se perguntar o que ele é. Mas há um outro, que consiste em afirmar sua significação presuntiva de objeto, sem se perguntar como ela entra em nossa experiência. A analise reflexiva substitui a existência absoluta do objeto pelo pensamento de um objeto absoluto, e, querendo ultrapassar o objeto, o pensar sem ponto de vista, ela destrói sua estrutura interna. Se há para mim um cubo com seis faces iguais e se posso reunir o objeto, não é que o constitua do interior: é porque penetro na densidade do mundo pela experiência perceptiva. O cubo com seis faces iguais é a idéia-limite pela qual exprimo a presença carnal do cubo que esta ai, sob meus olhos, sob minhas mãos, em sua evidencia persceptiva. Os lados do cubo não são suas projeções, mas justamente lados. Quando os percebo uns depois do outro e segundo a aparência persceptiva, não construo a idéia do geometral que da razão a essas perceptiva, mas o cubo já esta ai diante de mim e se desvenda através deles. Não tenho mais necessidade de apanhar em meu próprio movimento uma vista objetiva e de faze-la contar para reconstruir atrás da aparência a forma verdadeira do objetivo; a conta já esta prestada, já a nova aparência entrou em composição com o movimento vivido e se ofereceu como aparência de um cubo. A coisa e o mundo me são dados com as partes de meu corpo, não por uma "geometria natural", mas numa conexão viva comparável ou mais certamente idêntica aquela que existe entre as partes de meu próprio corpo.
A percepção exterior e a percepção do corpo próprio variam juntas porque são as duas faces de um mesmo ato. Tentou-se depois de muito tempo explicar a famosa ilusão de Aristóteles admitindo que a posição inabitual dos dedos torna impossível a síntese de suas percepções: o lado direito do dedo médio e o lado esquerdo do indicador não "trabalham" juntos ordinariamente, e se todos os dois são tocados ao mesmo tempo, é necessário pois que haja duas bolas. Na veradade, as percepções dos dedos não são somente separadas, elas são invertidas: o sujeito atribui ao indicador o que é tocado pelo dedo médio e reciprocamente, como se pode mostrar aplicando aos dedos dois estímulos distintos, um prego ou uma bola.na verdade, as percepções dos dedos não ao somente separadas, elas são invertidas: o sujeito atribui ao indicador o que é tocado pelo dedo médio e recìprocamete como se pode mostrar aplicando aos dedos dois estímulos distintos. Pg 210 a 212.
O mundo percebido pode apreender a conhecer assumindo uma estrutura que se comunica ao mundo sensível distante do corpo este outro saber que temos, pois estamos sempre com ele e que somos corpo, mas também assim o contato com outros corpos e com o mundo é tabem nós mesmos que iremos encontrar, pois, se percebermos com seu corpo, o corpo é um eu natural e como o sujeito da percepção. Pg. 213.


Autor: Michelli Santos Da Silva


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