A VISÃO DE MUNDO EM ALBERTO CAEIRO, O POETA DA NATUREZA
INTRODUÇÃO
Neste artigo busquei evidenciar a visão de mundo em Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, em diversos aspectos e possibilidades. A fim de ampliar a dimensão analítica da criticidade a partir dos estudos literários de seus poemas, composições poéticas de linguagem simples, verso livre, estão ligadas a natureza e sente-se como um simples "guardador de rebanho" que só se importa em vê o mundo sem explicação, pois, para ele, só interessa o que se pode capta por meio das sensações.
É necessário ressaltar que Caeiro procura substituir o pensamento pelas percepções, a reflexão pela visão direitas das coisas. A essência de sua poesia é o mundo que o rodeiam: arvores flores, ovelhas, dentre outros. A sua obra poética é formada por três conjuntos de poemas: "O Guardador de Rebanho; O Pastor Amoroso e Poemas Inconjunto"
Fernando António Nogueira Pessoa nasceu no ano de 1888, em Lisboa, morreu em 1935, na mesma cidade, foi um dos mais importantes escritores e poetas do modernismo em Portugal. As suas primeiras publicações ocorrem durante o movimento nacionalista de 1910 a 1915, neste período, participou como ensaísta e critico literário, na revista A Águia, dirigida por Teixeira de Pascoaes. Em 1935, a saúde do poeta português começou a apresentar complicações. Neste ano foi hospitalizado com cólica hepática, provavelmente ocasionada pelo consumo excessivo de bebida alcoólica e teve sua morte prematura, aos 47 anos.
Fernando Pessoa apresenta uma multiplicidade de visões de mundo, no momento, em que constrói seus heterônimos, dotados de biografias, personalidades poéticas e com características próprias.
O heterônimo Alberto Caeiro é considerado por Fernando Pessoa como o "mestre" dos outro heterônimo e de si próprio, poeta bucólico, vive em contato direto com a natureza nasceu em Lisboa em 1889, um jovem loiro, de olhos azuis, estrutura média, mas viveu quase toda a sua vida no campo, pois, ele não teve profissão, nem educação, os pais morreram cedo e ele passou a viver com sua tia velha e morreu tuberculoso em 1915. O poeta que foge para o campo, para viver a depuração, como as flores, o campinas, dentre outros, os quais de modo óbvio são incapacidade de refletir e protestar o mundo. Conseqüentemente, são felizes em sua própria inconsciência.
Por essa razão, há uma relação entre a vida e a obra de Caeiro, desde a sua maneira de agir diante do concreto, palpável e fala de essência das coisas, comporta-se como criança, usa vocabulário limitado por possuir pouca formação escolar. Como resultado deste paradigma, utilizei fragmento do autor Gil:
A obra de Caeiro encontra-se com o olhar do primeiro homem, mas após a construção e a destruição das civilizações que se sucederam na Europa. Não houve que aprender e desaprender: ela é o resultado espontâneo de todo esse processo, reencontrando a visão da infância e da aurora da humanidade como se todos os olhares adultos da história se tivessem nela naturalmente metabolizado- ou seja, aprendidos e desaprendidos. Daí o peso crítico dessa poesia, o seu efeito revolucionário sobre os espíritos que dela se aproximam e por ela se deixarem impregnar; daí o facto de Caeiro ser capaz de escutar e compreender as mais finas sutilezas do pensamento especulativo (embora seja radicalmente distante dele. Como se houvesse um pensamento infantil a ser usado- também- pelos adultos).
(GIL, 1999, p. 1)
Contudo, o poeta não seguiu características dos outros literários de seu tempo, pois, revela como um grande poeta e um exímio pensador. Crê nas coisas, porque as vê,descreve numa linguagem clara os seres e objetos apreendidos pelo sentido.
Dessa forma, o heterônimo pessoano pode ser considerado, o bucolismo, presença de elementos da natureza nas quais indicam a necessidade do homem encontrar um ambiente pacífico, ou seja, campestre.
Convém ressaltar que Alberto Caeiro faz parte dos heterônimos inventados por Fernando pessoa e é parte de um engenho multifacetado, na diferença de característica entre a produção da criatura e do criador é que reside a distinção entre Caeiro e Pessoa.
Criado por Fernando Pessoa, Alberto Caeiro tem vida própria, um passado, uma biografia, um aspecto físico, uma letra, um estilo, um ponto de vista, uma ideologia. Logo, Fernando Pessoa foi um dos mais extraordinários poetas do século XX sua obsessão pelo fazer poético não encontrou limites ao despojar o eu pessoal, vestiu personas (personalidade) poéticas e viveu dialeticamente quase todas as possibilidades de ser em poesia.
Para elucidar essa importância segue um fragmento do livro de Fernando Pessoa na qual descreve os seus três principais heterônimos entre eles, Alberto Caeiro.
[...] Pessoa a construir o que chama de seu "drama em gente",isto é inventar personagens sem o drama que os sustentasse,dando origem aos seus heterônimos: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Três grandes poetas que definitivamente transformariam seu autor um dos mais intrigantes casos da historia literária ,impressionando a todos que se aproxima de sua obra pela raridade de ser ele distintos poetas num só:Caeiro,seu mestre e poeta da natureza,Reis das odes horaciana,clássico e pagão.o futurista e radical Álvaro de Campos e Fernando Pessoa ,ele mesmo,lírico,desencantado,nacionalista,místico e ocultista[...]
(CLARET, 2005, p.12)
Dessa forma, Alberto Caeiro possui características próprias e segui tendências distintas da sua época literária, ou seja, mesmo tendo sido um poeta fictício sua existência pode se comprovada através da sua obra literária. A poesia de Caeiro remete a natureza e compartilha com ela, pois, o mundo é aquilo que sentes,fala do cotidiano, em seus versos não se preocupa com regras métricas, estrofes e ritma.
Guardador de Rebanhos é um poema formado por 49 textos escritos. Foram publicados em 1925 nas 4ª e 5ª edições da revista Athena, com ressalva do 8º poema que foi publicado em 1931, na revista Presença. Alberto Caeiro é o poeta voltado pela ingenuidade que vive em contato com a natureza, extrair dele os valores bucólicos com os quais nutre a alma. Conquanto, adversa às filosofias clássicas, esse ponto de vista de Fernando Pessoa adote até mesmo, nos princípios acadêmicos em seus versos. É o poético que restaura o mundo em destroços, quando se relaciona com os seres sensitivos, e ingênuo que foge para o campo, onde descobre uma maneira inspiradora de sentir e de viver.
Com isso, o heterônimo de Fernando pessoa liga as palavras escritas com as suas idéias que representam na obra. Com intuito, de alcançar a estética espontânea através do sentido, cujo conteúdo poético projeta as sensações.
Porém, é salutar observar que a postura do autor em relação à essência da vida e da arte está nas sensações que tem no universo e a sensibilidade deve ser depurado de todo elemento subjetivo.
"O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...
(INFANTE, 1988, p.11)
O poema iniciar com uma metáfora constituída por uma comparação: o olhar do eu poético referindo-se a um girassol, por ser uma planta que muda de posição, seguindo o percurso do sol e nos mostram a forma simples e natural de sentir e expor, voltado para a natureza, extraindo dela os valores ingênuos com os quais nutre a alma.
Na segunda estrofe, o autor afirma sua crença nos objetos existente enquanto percebidos pelos sentidos, isto quer dizer que o poeta só acredita naquilo que vê, porque fora das sensações não há possibilidade de conhecimento. Para Caeiro a única verdade é aquela que pode ser percebida pela visão e a visão da realidade não profanada pelo pensamento, porque pensar nas coisas é afasta-se do contato direto e concreto com a natureza.
Percebe-se que nas palavras tem um misticismo materialista, na qual faz dele um sensacionalista, pois, tudo está relacionado às sensações e não ao significado das coisas.
O terceiro poema, o autor mostra que o pensamento sobre as coisas além de deturpar a visão e o conhecimento direto dos objetos, impede também de atribuir significados ou sentimento humanos, considerando que as coisas são como são. Na sua obra há um objetivismo absoluto, a exemplo: porque quem ama nunca sabe o que ama. Simplesmente ama. Recusando o pensamento, sobreveste o pensamento metafísico.
Os dois últimos versos, o autor concede uma tríplice equivalência: amar = inocência = não pensar. A inocência, entendida como ausência do conhecimento reflexivo, é "eterna", porque se renova em todo ato de amor e sem ela não há possibilidade de uma comunhão direta entre as criaturas.
Após ter analisado as características presentes na obra de Alberto Caeiro, depreende a valorização da objetividade que determina a sua própria realidade, marcada pela simplicidade e com vocabulário simples, limitado, e, por isso, marcada pela repetição, frases curtas, interrogativas, recurso a perguntas e respostas e o uso freqüente de reticência.
Alberto Caeiro expresso à faceta humana e poética de Fernando Pessoa, que quer viver ao contato com a natureza, ver e senti
Autor: Meire Viana Alves
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