TUDO É POESIA - PARTE 3



Se o poeta ver a morte
Diante de suas vistas
Ele se enche de nostalgia.
Ele viu o fim do corpo,
Sentiu em sua pessoa
Coisa semelhante.
Acabou com sua alegria.
Ah! Poeta sem sorte
Tornou-se pessimista,
Mergulhou na melancolia.
No seu caso não houve saída,
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Na camisa o suor transborda,
E por sua capacidade de esteta
Tornou a morte, poética.
O poeta passa na estrada
Que está sendo construída.
Os homens, com dinamite
Enchem todos os buracos,
Depois acendem os estopins
De um a um até o fim.
O perigo é total,
Disso não resta dúvida.
Mal os homens correm
Os primeiros já explodem
Quase no rosto deles.
O poeta esfria de medo
E, sabendo que ninguém morreu,
E vendo as pedras voarem,
Ele sorri de alegria.
Ao longe o engenheiro observa,
Longe da estrada explodida,
Nas pedras, montes de grafite.
O engenheiro enche um saco,
Proíbe aos homens e aos alecrins,
Uma amostra a seus súditos.
Tem uma discussão infernal
Por um pedaço de grafite.
Em seguida, homens morrem
O engenheiro dá as suas ordens
Cara a cara com eles.
Pergunta se querem morrer cedo.
Numa careira de medo, se escondeu
Até os operários se conformarem.
E o poeta a tudo registrou com poesia.
O poeta vai andando
Por um bairro tranqüilo,
Vê um homem a amolar a faca,
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Nos seus olhos, um lampejo homicida.
O poeta lhe pergunta
Se vai matar alguém.
O homem olha o poeta.
O poeta torna a perguntar,
Ao que ele responde
Para que está amolando a faca:
É para matar uma vaca.
Então o homem é bovinicida.
E diz que ama Leila,
Ama como ninguém.
Leila era dançarina,
Deixou de ser para ele amar.
Se tem um auto-falante
Que só fala bobagens,
Atrapalhando a vida do povo,
Tocando uma musica horrível e comercial,
O cantor é insuportável,
O barulho é total.
Ninguém pode ler ou escrever.
O locutor é analfabeto,
Também é estafante
Que na sua horrível miragem
Não arranja nada de novo.
O que fala é intragável.
Dali nada sai que seja potável.
É a anti-cultura.
Nada que se possa absorver.
O dono, absentista
Por não estar presente
No fruto de seu trabalho.
Quem fala é ele
Mas, nada sai de sua pessoa.
Tudo é copia de alguém,
Que já copia de outra estação.
Ele só é o capitalista.
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O dinheiro é só o que ele sente.
A cultura ele pisa,
Todos falam dele
E ele não liga pra ninguém.
Um homem avista uma moça
Ela é loira, pouco bonita
Mas, mesmo assim a acompanha.
Era uma noite chuvosa,
Ele resolveu acompanhá-la
Porque fazia frio.
Como se a conhecesse há muito tempo,
Ele a abraçou e caminharam
Juntos em um só guarda-chuva.
Apenas se via um guarda-chuva.
Apenas um coração acompanhado
Que era o coração da moça.
Ele fingia que a amava,
A moça se traía,
A moça se iludia.
Sem esperar ou prever
Os dois se beijavam.
Ele supostamente terno,
Ela querendo que fosse eterno.
Ele, a isso percebeu
E, aproveitou o momento
E começou a explorá-la,
Com as mãos e os lábios
Sem ouvir os apelos
Da moça já entregue.
Já se achava mastigada,
Agora, era só engolir.
Ele a deitou na relva molhada
E, em plena rua, em plena grama,
Entrou no corpo da moça.
Às vezes se ouvia um protesto.
Fracos protestos.
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Ele não ouvia
Nem mais ela protestava.
Ela agora queria,
Ele a seduzia.
Agora, só o que se ouvia
Eram os gritinhos de prazer.
Depois de satisfeitos
O homem levantou-se.
Ela continuava no chão,
Continuava tombada,
Os ais misturados com o sangue.
O sangue da virgindade
Misturados com a chuva,
Que misturou-se com a relva.
E ela levantou-se.
Suas pernas tremiam, perguntou
Confusa e preocupada:
E agora?
Ao que ele respondeu,
Cínico e satisfeito:
Agora? Eu vou embora.
E ela decepcionada, chorou
E ele a abandonou.
Foi-se embora
Sem lhe dizer adeus.
Sem ao menos lhe olhar.
E sumiu, misturando-se com a chuva.
Neste momento o poeta passava
Envolto em sua melancolia,
Viu a moça e perguntou seu nome.
Era Maria dos cabelos loiros.
Maria, motivo de poesia.
O poeta avista
Uma jovem formiga
A trabalhar incessantemente,
Num movimento de ida e vinda
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Com um pedaço de folha
Cortada por ela mesma.
Se os homens fossem assim
No trabalho pela liberdade,
Que não existe onde não se luta.
Nem ao menos a expressão.
E por mais que se insista
Nesta palavra tão amiga,
Que aqui não chegou ainda.
Taparam com uma rolha
Deixando a palavra a esmo.
No lugar, põe uma ruim
Que representa a maldade,
Não convencendo a ninguém.
E ninguém abre o coração,
Exceto o capitalismo.
Se os homens do mundo,
Fossem trabalhadores
Como as formigas,
E se não existisse
A criminosa ditadura militar,
O poeta iria bem no fundo
Dos seus grandes amores,
E lá destruiria seus inimigos.
E para que não se repetisse
Ele faria uma poesia.

Autor: Gilberto Nogueira De Oliveira


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