CARCINOMA DE BEXIGA EM CANINO ? RELATO DE CASO



SISTEMA URINÁRIO

É o sistema que elabora e remove o principal fluido excretório do organismo, a urina. O aparelho urinário desenvolve-se a partir de uma crista mesodérmica ao longo da parede caudal da cavidade abdominal. Os órgãos do sistema urinário são os rins, os ureteres, a bexiga urinária e a uretra (ELLENPORT, 1995).
FISIOLOGIA

O sistema urinário é o responsável pela formação, armazenamento e excreção da urina. A urina é produzida nos rins, mais precisamente nos nefros, em muitas etapas que, entre outras funções, permitem a eliminação de uma parte dos resíduos do organismo. As outras funções renais dependem de diferentes regulações, principalmente iônicas e ácido-básicas (HARARI, 1999).

NEOPLASIAS DE BEXIGA

Câncer na Bexiga é mais provável acontecer em cães mais velhos. Dois estudos realizados nos Estados Unidos acharam risco mais alto de ocorrência em fêmeas. Outro estudo posterior, também realizado nos Estados Unidos, achou que esterilização em cães de ambos os sexos parece apontar risco mais alto. Tumores de Bexiga tem sido experimentalmente mostrado ser induzido por hidrocarbonetos aromáticos incluindo paraaminobiphenyl, paranitroliphenyl, betanapthylamine, e outros. Esta é mais que uma associação, estas substâncias químicas e outras como elas são conhecidas por causar câncer de bexiga em cães.
O desenvolvimento de câncer de bexiga também está associado à pulga e carrapatos; xampus contra pulga e carrapato; obesidade um ano antes de diagnose, e proximidade da casa do cão a pântanos.
Cães contaminados por pulgas e carrapatos foram 27 vezes mais expostos à doença que cães com controle. Interessantemente, os autores sugerem que não são os ingredientes ativo na pulga e produtos de carrapato que causem o câncer de bexiga, mas sim o "inerte" ou "portador" ingredientes. Estes portadores atuam como solventes aos ingredientes ativos e geralmente respondem por 95% do produto total. Eles incluem como carcinogens tais como benzeno, tolueno, xileno, e petróleo distillates.
Uma explicação das diferenças de gênero em desenvolver câncer de bexiga em cães é que machos urinam mais freqüentemente que fêmeas, tendo o carcinogens mais contato com a bexiga de cadelas. Outra explicação é que fêmeas têm relativamente mais gordura de corpo e as substâncias químicas conhecidas por causar câncer de bexiga estão armazenadas e se concentraram relativamente em gordura. Isto explica também porque cães obesos são mais propensos a desenvolver o câncer (HERMANEK, 1999).
CARCINOMA DE BEXIGA

Os tumores de bexiga compreendem cerca de 2% das neoplasias malignas em cães (NISHIYA, 2009). Carcinoma de bexiga pode ser: Carcinomas das células de transição, Carcinomas epidermoides, ou Adenocarcinomas. Os tumores das células de transição são mais freqüentes, e a analise histológica demonstra que podem ser sólidos ou papilares. Esses tumores podem ser suficientemente bem diferenciados a ponto de parecer-se com o epitélio de transição, ou podem ser intensamente anaplásicos, com pouca semelhança com as células de origem (JONES, 2000).
Carcinomas são nódulos focais salientes ou espessamentos difusos na parede da bexiga. Os de células de transição são observados mais comumente no trígono da bexiga. As células neoplásicas de transição cobrem a superfície mucosa em camadas irregulares e invadem facilmente a lâmina própria em forma de ninhos sólidos e ácinos (CONFER, 1998).
Carcinomas epidermoides e adenocarcinomas, que podem secretar mucina, têm origem no epitélio metaplásico. A causa da metaplasia é frequentemente desconhecida, mas via de regra ela é imputada a uma cistite ou toxicidade crônica (JONES, 2000).

CASO CLÍNICO

O caso em questão refere-se a um canino da raça Border Collie, de seis anos, fêmea. O proprietário dirigiu-se no dia 18 de Junho de 2005, a Clínica com queixa de dificuldade de alimentação dos dois animais e da fêmea que possuía corrimento vaginal sanguinolento.
Foi realizado a anamnese e requisitou-se hemograma para verificação e comprovação da possível suspeita que era de Babésia e/ou Erlichia. Foi iniciado o tratamento para ambas as doenças com complexo polivitaminico a base de ferro, 1mL, duas vezes ao dia, e doxiciclina de 100mg, um comprimido ao dia, por 21 dias.
Após os 21 dias, no dia posterior, foi requisitado novo hemograma e novamente constatou-se a presença de Babesia, sendo repetido o tratamento por mais 21 dias e no dia subseqüente, realizou-se um terceiro hemograma, para controle, e o resultado revelou que não haviam alterações. Porém o proprietário retornou 7 dias depois, a clínica com queixa de sangramento vulvar da canina.
Foi coletado sangue para novo hemograma e realizado uma radiografia do abdômen. Ao exame radiológico, a bexiga urinária apresentava-se sem formação de imagens que sugeriram alguma alteração, e o hemograma apresentava algumas alterações, mas não eram significativas.
Foi iniciado o tratamento do quadro clínico, enquanto pesquisavam-se as possíveis causas do sangramento, entre eles, Babésia e Erlichia novamente. Passando-se 7 dias, foi requisitado novo hemograma, onde se observavam pequenas alterações, mas não significativas. Dezesseis dias depois, foi requisitado um terceiro hemograma, e marcado um exame ultrassonográfico do abdômen, realizado seis dias após, que revelou a presença de uma massa irregular com dimensões aproximadas de 6,58 x 4,54cm.
Decidiu-se marcar a cirurgia para a remoção do possível corpo estranho, que se suspeitava tratar de um calculo ou tumoração neoplásica no dia posterior. A cirurgia iniciou-se às dezesseis horas e trinta minutos, onde foram realizados os procedimentos normais pré-cirúrgicos da clínica, com a administração da medicação pré-anestésica, realizada com 0,1ml de atropina e 0,1ml de acepromazina 0,2%, via intramuscular; canulação de via venosa para suporte hídrico e veiculação de medicação, com soro ringer-lactato; realizou-se a tricotomia da região ventro-abdominal e assepsia do campo cirúrgico, com álcool iodado e solução de clorexide.
O anestésico utilizado na cirurgia foi o cloridrato de zolazepam. A cirurgia foi iniciada com uma incisão na região abdominal caudal a cicatriz umbilical, foi necessária a remoção de parte do tecido adiposo subcutâneo, incisou-se a linha Alba, por onde se teve acesso a cavidade abdominal e pode-se localizar a bexiga, que se apresentava aumentada, com aproximadamente 10,00 x 8,00 x 9,00 cm3.
Foi verificada secreção sanguinolenta escorrendo pela vulva do animal ao se manusear a bexiga. Foi realizada uma limpeza externa da bexiga com soro fisiológico e gaze, para deixá-la menos escorregadia, para se realizar a incisão, e após a retirada de parte do liquido de coloração vermelho-tijolo não coagulável, que provavelmente sangue, através de sucção, foi observado parte da tumoração se exteriorizando.
Foi necessária a ampliação da incisão para a exteriorização completa da possível massa tumoral. Iniciou-se então a extração da possível massa tumoral e curetagem. Após total curetagem da bexiga passou-se uma sonda uretral, e iniciou-se a sutura da bexiga com catgut cromado 3-0, e depois de suturado, injetou-se solução fisiológica pela sonda para verificar se havia algum ponto devazamento, não sendo constatado nenhum, suturou-se a musculatura abdominal com nylon, com pontos simples descontinuo, e suturou-se a pele com nylon, com pontos simples descontinuo.
Realizou-se a medicação pós-cirúrgica com aplicação de 1,0ml de enrofloxacina 10%, e 1,0ml de dexametazona injetável. Após a limpeza externa com água oxigenada, álcool iodado, iodopolvidine e aplicação da pomada cicatrizante. Fez-se transfusão sanguínea devido a grande perda de sangue. Terminou-se a cirurgia aproximadamente às vinte e uma horas.
Realizou-se uma limpeza nos fragmentos da possível massa neoplásica com soro fisiológico e foram organizadas para observação e registro fotográfico. Parte da possível massa neoplasica foi enviada ao Instituto H. Pardini, que comprovou se tratar de um Carcinoma pouco diferenciado e infiltrativo como JONES (2000) e CONFER (1998) relataram sua apresentação. Foi realizado exame radiológico do tórax (figura 8), para observação de metástase, como WITHROW e O?BRIEN (1997) revelaram ocorrer, o que não foi evidenciado.
Segundo SANTOS (1988), CONFER (1998), ETTINGER (1997) e JONES (2000), o achado clínico-patológico não é comum, poucos casos foram relatados por eles.
Foi realizada nova ultrassonografia abdominal, 30 dias após a cirurgia, que não apresentou nenhuma alteração, a bexiga estava repleta, em topografia habitual, aspecto piriforme preservado, parede regular delgada e conteúdo anecogênico com algumas imagens puntiformes ecogênicas flutuantes, compatível com aumento de celularidade; E uma bioquímica serica, que apresentou alterações significativas, mas dentro do esperado.
Foi iniciado o tratamento para melhorar a qualidade de vida do animal, mesmo sabendo-se que se trata de uma tumoração epitelial maligna, e que poderá haver recidiva. Por opção do proprietário e por se tratar de um animal com 6 anos, preferiu-se não realizar a quimioterapia, como fora indicado em WITHROW e O?BRIEN (1997).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A oncologia cirúrgica e a quimioterapia, associadas desempenham um papel fundamental no diagnostico e tratamento do câncer. Quando diagnosticado precocemente, e com o tratamento adequado, pode-se, com um esforço cooperativo, ser obtida melhor compreensão do comportamento cancerígeno e de seu tratamento.
Com isso asseguramos uma sobrevida melhor ao animal, com o conforto do proprietário, em saber que está se fazendo tudo ao alcance para proporcionar uma melhor qualidade de vida dentro da ética medica e profissional.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
?CONFER, A. W.; PANCIERA, R. J. In: CARLTON, W. W.; MCGAVIN, M. D.: Patologia Veterinária Especial de Thomson; 2ªed. ARTMED; cap. 5; p. 264; 1998.
?DHAWAN, Deepika; RAMOS, José A.; STEWART, Jane C.; ZHENG, Rong; KNAPP, Deborah W. In: Canine invasive transitional cell carcinoma cell lines: In vitro tools to complement a relevant animal model of invasive urinary bladder cancer. Urologic Oncology: Seminars and Original Investigations 27 (2009) 284?292
?ELLENPORT, C. R. In: SISSON, S.; GROSSAMAN, J.D.: Anatomia dos Animais Domésticos; 4ª ed. GUANABARA KOOGAN; vol. I; cap. 9; p.136; 1995.
?FOSSUM, Theresa Welch: Cirurgia de Pequenos Animais; 1ª ed. ROCA; 1.335p.; 2001.
?FREI, Walter: Patologia Geral Para Veterinários e Estudantes de Medicina Veterinária; 1ª ed. FUNDAÇÃO CALOUSE GULBENKIAN; p. 214-222; 1971.
?GRANDJEAN, Dominique: Enciclopédia do Cão Royal Canin; 1ª ed.; ANIWA PUBLISHING; p.513-515; 2001
?HERMANEK, P; HUTTER, R. V. P.; SOBIN, L. H.; WAGNER, G; WITTEKIND, C.: TNM Atlas; 4ª ed. SPRINGER-VERLAG; p. 309-314; 1999.
?HARARI, Joseph: Cirurgia de Pequenos Animais; 1ª ed.; ARTMED; 199 p.; 1999.
?JONES, T. C.; HUNT, R. D.; KING, N. W.: Patologia Veterinária; 6ª ed. MANOLE; cap. 4; p. 95-97; 2000.
?JONES, T. C.; HUNT, R. D.; KING, N. W.: Patologia Veterinária; 6ª ed. MANOLE; cap. 24; p. 1166; 2000.
?MICHAUD, D. S. et al: Meat intake and bladder cancer risk in 2 prospective cohort studies. The American Journal of Clinical Nutrition. , p. 1177-1183. 200-.
?NISHIYA, A. T.: Rabdomiossarcoma Botríoide Em Vesicula Urinária ? Relato De Caso. Informativo da Associação Brasileira de Oncologia Veterinária . Ano I, n.: 5 ? mar./abr., 2009.
?O?BRIEN, M. G. e WITHROW, S. J. In: ETTINGER, S. J.; FELDMA, E. C.: Tratado de Medicina Interna Veterinária; 4ª ed. MANOLE; vol. I; seção V; cap. 76; p. 723-732; 1997.
?PATRICK, D. J.; FITZGERALD, S. D.; SESTERHENN, I. A.; DAVIS, C. J.; KIUPEL, M. In: Classification of Canine Urinary Bladder Urothelial Tumours Based on the World Health Organization/ International Society of Urological Pathology Consensus Classification. J. Comp. Path. 2006,Vol.135,190-199
?RICHARDSON, R. C.; HAHN, K. A.; KNAPP, D. W. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C.: Tratado de Medicina Interna Veterinária; 4ª ed. MANOLE; vol. I; seção V; cap. 72; p. 665-675; 1997.
?ROSENTHAL, R. C. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C.: Tratado de Medicina Interna Veterinária; 4ª ed. MANOLE; vol. I; seção V; cap. 73; p. 676-691; 1997.
?ROSSETTO, V. J. V. et al: Exerése Radical de Carcinoma de Células Transicionais de Bexiga em Cão: Tempo de Sobrevida Superior a Dois Anos. Veterinária e Zootecnia, p. 321-324, v. 16, n. 2, jun., 2009
?SANTOS, J. A. dos: Patologia Geral dos Animais Domésticos; 3ª ed. GUANABARA; p. 221-233; 1988.
?SAULNIER-TROFF, François-guillaume; BUSONI, Valeria; HAMAIDE, Annick. In: A Technique for Resection of Invasive Tumors Involving the Trigone Area of the Bladder in Dogs: Preliminary Results in Two Dogs. Veterinary Surgery. 37:427?437, 2008
?THOMSON, R. G.: Patologia Geral Veterinária; 1ª ed. GUANABARA KOOGAN; cap. 5; p. 287-361; 1983.
?VASCONCELOS, Anilton César: Tópicos de Patologia Geral; Instituto de Ciências Biológicas da UFMG; 1997.
?http://www.peterwhite.com.br/cancercaes.htm; 16 de Outubro de 2005.
?http://www.ibc.ufmg.br/pat/intro.htm; 6 de Novembro de 2005.

Autor: Filipe De Albuquqerque E Silva


Artigos Relacionados


Fibrossarcoma Com Metástase Em Linfonodo Regional Em Cão

Dinâmica: Objetivos Da Escola X Problemas Educacionais

AplicaÇÃo Da Braquiterapia No Tratamento De Tumores Da Vulva

Linfadenectomia No Câncer Gástrico

Reflexão Sobre Assuntos Polêmicos - Cancer

Tratamento E Prevenção No Câncer Da Próstata

Embolização De Mioma Uterino