INFLUÊNCIA DA CRISTA E BARBELA NA TERMORREGULAÇÃO CORPORAL DE AVES



INFLUÊNCIA DA CRISTA E BARBELA NA TERMORREGULAÇÃO CORPORAL DE AVES

Vitor D. Melotti; Gester B. Aguiar; Jairo A. Brumatti; Stelio S. Morais

Revisão de literatura

Segundo Moura (2001), os fatores do ambiente térmico que mais influenciam as aves são a temperatura do ar, a umidade, a radiação solar ou térmica e o vento, os quais podem alterar o bem estar e a produtividade animal. Por isso, a melhor maneira de expressar o ambiente térmico é pela temperatura ambiente efetiva a qual considera vários elementos climáticos e realmente expressa a temperatura que está incidindo sobre os animais. A temperatura efetiva não se refere unicamente à temperatura ambiental, mas à combinação dos efeitos da temperatura, umidade, radiação solar e velocidade do vento.

Quando o ambiente térmico se altera, até o ponto em que os processos metabólicos tenham que mudar para manter a homeostase, esta alteração é chamada de estresse (HARRISON,1995). Para Silva (2000), o estresse térmico é a força exercida pelos componentes do ambiente térmico sobre um organismo, causando nele uma reação fisiológica proporcional à intensidade da força aplicada e à capacidade do organismo em compensar os desvios causados pela força.

Os ambientes estressantes podem ser causados por uma única variável ambiental, por exemplo, temperatura ambiente elevada ou combinações de variáveis tais como temperatura e umidade do ar elevadas. Por isso, alteração de somente um fator, por exemplo velocidade do vento, não seria considerada estressante. No entanto, se ocorrer em conjunto com outros fatores ambientais, o impacto poderá ser estressante (HARRISON, 1995).

A avicultura industrial é uma atividade que depende muito do conforto térmico, especialmente porque as aves passaram por avançado melhoramento genético e apresentam elevado potencial produtivo. Assim, deve-se buscar o conforto térmico para as aves com o mínimo custo em materiais, equipamentos e energia (SARTOR et al., 2001).

De acordo com Welker et al (2008), o conforto térmico no interior de instalações avícolas é importante, pois condições climáticas inadequadas afetam negativamente o desempenho do animal. Assim, nos climas tropical e subtropical, é indispensável o estudo das características ambientais de cada região.

Os países tropicais tem como desafios os fatores ambientais de alta temperatura e alta umidade dentro do galpão, os quais são limitantes para ótima produtividade (MACARI; FURLAN, 2001). Coelho; Savino (2001), relataram que as condições climáticas de regiões tropicais com prolongadas e elevadas temperatura umidade do ar, interferem negativamente na produtividade de aves. Nääs et al. (2001) citaram que a elevada intensidade de radiação incidente nas regiões tropicais em conjunto com altas temperaturas e umidade do ar, são algumas das condições que geram o desconforto térmico das aves e levam consequentemente ao estresse calórico em lotes alojados em escala industrial de produção.

Sob estresse calórico as aves apresentam respiração ofegante visível, temperatura superficial aumentada, termorregulação comportamental e queda na ingestão alimentar (SILVA, 2001).

As respostas fisiológicas compensatórias das aves, quando expostas ao calor, inclui-se a vasodilatação periférica, resultando em aumento na perda de calor não evaporativo. Assim, na tentativa de aumentar a dissipação do calor, a ave consegue aumentar a área superficial, mantendo as asas afastadas do corpo, eriçando as penas e intensificando a circulação periférica. A perda de calor não evaporativo pode também ocorrer com o aumento da produção de urina, se esta perda de água for compensada pelo maior consumo de água fria (BORGES; MAIORKA; SILVA, 2003).

Aves geralmente são desprovidas de glândulas sudoríparas, logo, não têm a capacidade de transpirar; liberam o excesso de calor pela respiração e pelas superfícies desprovidas de penas como cristas, barbelas e área sobre as asas, facilitando a termólise por radiação, convecção e condução (CARR; CARTER, 1985).

Quando o ambiente térmico encontra-se acima da zona termoneutra, a atividade física é reduzida, diminuindo a produção interna de calor das aves. O sangue migra para a superfície corporal principalmente nas cristas e barbelas. A vasodilatação que ocorre, faz com que as cristas e barbelas aumentam de tamanho. Desta forma, o calor metabólico migra à superfície do corpo podendo ser liberado ao ambiente pelos processos de condução, convecção e radiação. As aves procuram por locais mais frescos no aviário, no intuito de aumentar as perdas de calor por condução, já que suas pernas e pés, possuem um sistema vascular bem desenvolvido responsáveis pela perda de calor sensível para o ambiente, o que é facilitado pela ausência de penas (MOURA, 2001).

Segundo Silva et al (2003), A temperatura da crista e da barbela, é um ótimo parâmetro para ser observado como conforto térmico, uma vez que a ave utiliza estes, para dissipar calor, pelo fato que essas regiões apresentam uma grande vascularização, o que facilita a troca de calor por convecção.

De acordo com Van Kampen (1971), que calculou que a área total de superfície da crista e barbela de algumas raças de aves corresponde a 10% da superfície total do corpo, o que reflete a importância dessas regiões corporais na dissipação de calor pelas aves.

Segundo Silva (2000), a troca de calor pela vasodilatação periférica é ineficiente, uma vez comparado com a forma latente de transferência de calor, que está relacionada com a umidade relativa do ar, pelo fato, que este tipo de mecanismo de termorregulador corresponde a cerca de 40 % do calor dissipado da ave.

Conclusão

O estresse calórico é um dos entraves da avicultura nacional, pela elevada temperatura e pelos grande prejuízos ao produtor. Culminado em grandes custos de implantação, devido a necessidade de equipamentos e tipos de instalações de tornar o ambiente dentro da granja ideal para os animais. Tendo em vista que a barbela e crista representam uma área de superfície considerável para a perda de calor, sendo uma das características importantes que influenciam na termorregulação das aves.


Referências

BORGES, S. A.; MAIORKA, A.; SILVA, A. V. F. Fisiologia do estresse calórico e a utilização de eletrólitos em frangos de corte. Ciência Rural, Santa Maria, v.33, n.5, pag. 975 - 981, set/out, 2003.

CARR, L.; CARTER, T. Housing and management of poultry in hot and cold climates. In: YOUSEF, M.K. (Ed.) Stress physiology in livestock. Boca Raton: CRC Press, pag.74-108, 1985.

COELHO, A. A. D.; SAVINO, V. J. M. Genes maiores e adaptação a clima tropical. In: SILVA, I. J. O. Ambiência na produção de aves em clima tropical. Piracicaba: FUNEP, v.1, pag.165-200, 2001.

HARRISON, P. C. O meio ambiente: conceito e influência sobre as aves. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE AMBIÊNCIA E INSTALAÇÃO NA AVICULTURA INDUSTRIAL, 1., 1995, Campinas. Anais... Campinas: Facta, pag. 13-18. 1995.

MACARI, M.; FURLAN, R. L. Ambiência na produção de aves em clima tropical. In: SILVA, I. J. O. Ambiência na produção de aves em clima tropical. Piracicaba: FUNEP, v. 1, pag. 31-87, 2001.

MOURA, D. J. Ambiência na avicultura de corte. In: SILVA, I. J. O. Ambiência na produção de aves em clima tropical. Piracicaba: FUNEP, v. 2, pag. 75-149, 2001.

NÄÄS, I. A.; MIRAGLIOTA, M. Y.; ARADAS, M. E. C.; SILVA, I. J. O.; BARACHO, M. S. Controle e sistematização em ambientes de produção. In: SILVA, I. J. O. Ambiência na produção de aves em clima tropical. Piracicaba: FUNEP, v. 1, pag. 165-200, 2001.


SARTOR, V. et al. Sistema de resfriamento evaporativo e o desempenho de frangos de corte. Scientia Agrícola, Piracicaba, v.58, n.1, pag.17-20, jan/mar. 2001.


SILVA, M. A. N. et al. Influencia do sistema de criação sobre o desenvolvimento, a condição fisiológica e o comportamento de linhagens de frango de corte. Revista Brasileira de Zootecnia, Belo Horizonte, v. 32, n. 1, pag. 208-213, 2003.

SILVA, R. G. Termorregulação. In: ______. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo, Nobel, pag. 119-158, 2000.

SILVA, R. G. Termorregulação. In: ______. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo, Nobel , pág. 286, 2000.


VAN KAMPEN, M. Some aspects of thermoregulation in the White Legorn fowl. International Journal of Biometeoroly, v.15, pag.244, 1971.

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Autor: Gester Breda Aguiar


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