Divórcio e novo casamento



Divórcio e novo casamento
Desatando o "nó cego" !

Muito se têm falado sobre esta questão. Irmãos sinceros têm perguntado-me a respeito desse assunto, que para muitos é um "nó cego" difícil de se desatar. Eu também estive, por muito tempo, confuso a respeito desse assunto; porém, um dia uma irmã pediu-me para lhe ensinar sobre ele, pois como seu pastor, tinha a responsabilidade de instruí-la concernente ao "Divórcio e novo casamento". Mas como instruir quando você mesmo não conhece o assunto? Então, fui obrigado a mastigar vários livros [ao todo 45] sobre essa questão dificílima; foram várias horas e dias estudando, para poder ensinar aquela ovelha sedenta de conhecimento da palavra. Quando foi no fim daquela "via dolorosa" (um mês, duas semanas, 22 horas e 45 minutos) de estudos e pesquisas, então, cheguei a seguinte conclusão:
A palavra "divórcio" na frase "termo de divórcio" relaciona-se com a palavra "derrubar árvore" e até mesmo "decapitar". Indica corte total que no princípio foi uma "união viva". O divórcio é a dissolução do vínculo matrimonial, dando o direito de novas núpcias a parte inocente (Dt.24:2). É esse divórcio que Jesus se refere em Mateus 5:31,32:19:9. Mas surge aqui duas perguntas básicas: 1)- Qual a posição da Igreja em relação ao casamento e divórcio? 2)- Em que circunstância o divórcio é permitido? Com a finalidade de desatar o "nó cego" desta questão que se encontrava na mente daquela irmã, analisei sete pontos culminantes, que foram:

O Divórcio no Período interbíblico

(1º Ponto)

Havia nos dias de Herodes, o grande, dois rabinos que fundaram escolas. Um deles chamava-se Shammai, extremamente radical, e o outro Hillel, foco, sem progresso algum.
Shammai insistia dizendo que o divórcio seria legítimo somente em caso de adultério. A Mishná diz que Shammai interpretava a expressão "coisa indecente" como pecado imoral (Gittin IX.10, um tratado da ordem " nashim"). O rabino Akiva (132 AD) interpretava Dt 24. 1-4 como tendo o homem direito de se divorciar de sua mulher, caso ele encontrasse outra mais bonita. A mulher não tinha o direito de pedir o divórcio, segundo a legislação judaica. Isso devia partir do homem. Numa sociedade que adotava o concubinato e a poligamia, geralmente o homem decidia quando queria o divórcio. Sabemos que interpretar "coisa indecente" em Dt 24.1 nunca foi tarefa muito fácil.
A passagem lança as bases para o divórcio, porém, quais são elas? Se a explicação do doutor Alfred Edersheim puder ser confirmada, aí teremos a resposta.
A passagem de Mc 10.11,12 diz respeito à legislação romana e também à grega, que permitiam que a mulher se divorciasse do seu marido, algo que, em principio não era permitido entre os judeus.
Hiller, por outro lado, insistia em que o divórcio podia ser aprovado por qualquer razão apresentada pelo marido. Considerava a expressão "coisa indecente" como qualquer coisa que o marido não gostasse na mulher. O doutor Alfred Edersheim, citando a Mishná, diz que "coisa indecente", para Hiller, era "no sentido mais amplo possível, e declarava que havia base para o divórcio, se a mulher perdia a janta do seu marido". Por exemplo: Se passasse a achar feia sua mulher, isso era considerado "coisa indecente". Se a comida preparada por ela já não o agradasse, era também tido como "coisa indecente". Assim, o homem se divorciava quando quisesse. Razões para isso havia de sobra, dentro dessa concepção de Hiller, com essa interpretação, o divórcio que foi permitido, como exceção, para proteger a mulher, era naquela época uma prática generalizada.
A mulher, apesar de não ter autoridade para exigir o divórcio, todavia, segundo, o doutor Alfred Edersheim, havia exceção no caso de ser o marido leproso ou trabalhar em serviço sujo, por exemplo, em curtume ou em caldeira, e também no caso de apostasia religiosa, se abraçasse uma religião herética.
A declaração do doutor Alfred Edersheim, se reveste de certo mérito por ser judeu com profundos conhecimentos da Mishná. Converteu-se ao cristianismo, isso na Segunda metade do século XIX. Foi Professor da Universidade de Edimburgo, Escócia.
O doutor Alfred Edersheim diz que o divórcio tinha força legal, e tinha que ser escrita em termos explícitos, e entregue pessoalmente à mulher em presença de duas testemunhas", pois era um documento público.


O divórcio nos evangelhos

(2º ponto)

Jesus falou sobre o assunto no seu célebre "Sermão do Monte" (Mt 5.31,32). O divórcio torna a aparecer quando os fariseus trazem o assunto para Jesus (Mt 19.3: Mc 10.2). Eles queriam saber se Cristo tomaria o partido de Shammai ou de Hiller, mas Jesus foi mais Profundo: desconsiderou totalmente essas escolas rabínicas e reivindicou a palavra de Deus.

"Também foi dito aquele que repudiar a sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém , vos digo: Qualquer que repudiar a sua mulher,exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que se casar com a repudiada, comete adultério" (Mt 5.31.32).

O divórcio de Moisés


(3º ponto)

O v.31 diz respeito à passagem de Dt 24.1-4. Que regulamenta a lei do divórcio. O doutor Alfred Edersheim afirma que a legislação judaica permitia o divórcio por quase todos os motivos. O divórcio era muito comum naqueles dias, entre os judeus. Jesus, nesta declaração, estava limitando as razões que levavam ao divórcio. Já vimos que os seguidores da escola de Hiller achavam que podiam se divorciar indiscriminadamente de suas mulheres: bastava não preparar uma boa comida, pôr muito sal na sopa, ou simplesmente não achar tão bonita quanto no dia que a conheceu. Em hipótese alguma Jesus discutiu a validade do preceito mosaico. Ele disse: "Também foi dito", referindo-se à lei de Moisés (Dt 24.1-4). "Eu, porém, vos digo..." nessa expressão ele estava fazendo restrições, como fez muitas vezes nesse mesmo discurso, no tocante à lei.
A lei não deixou claro o motivo para o divórcio. A expressão "coisa indecente" é muita vaga. Os homens, pois, inventaram muitos arranjos, usando Dt 24.1 para consubstanciar suas interpretações peculiares. A lei deixou claro que o divórcio é a dissolução do vínculo matrimonial. As bases para o divórcio foram assuntos de intermináveis debates entre rabinos durante todo o período do segundo Templo. Se o divórcio tivesse sido totalmente revogado, estaria registrado, nesta passagem ou em qualquer outra parte do Novo Testamento, porém isso não ficou registrado. Diz a Enciclopédia Histórica- Teológica da Igreja Cristã: "Se Jesus estivesse introduzindo alguma coisa radicalmente nova, esperaríamos que isto fosse deixado claro".

A restrição de Jesus

(4º ponto)

"Repudiar sua mulher" (v.31). O verbo grego é apolyo, que significa "Libertar, deixar ir, dar carta livre", usado com sentido de divórcio em Mt 19.9; Mc 10.2; Lc 16.18. A lei prescrevia que, ao deixar o homem a sua mulher, desse-lhe a carta de divórcio, um documento público, reconhecido pelas autoridades judaicas, para que ela assim fosse liberada e ficasse livre para se casar novamente com outro homem (Dt 24.1,2).

"Exceto em caso de relações sexuais ilícitas" (v.32).

O ensino de Jesus restringia agora o divórcio. Ele não deve ser uma regra geral, nem ser praticado indiscriminadamente. O fato de a mulher samaritana haver se divorciado cinco vezes mostra que o divórcio era muito comum naquela época (Jo 4.18). Os homens têm inventado muitas desculpas e subterfúgio para "Legitimar" o divórcio, mas na Bíblia não é assim. O divórcio é prática comum, hoje, nas principais cidades do mundo e devidamente amparado pela legislação de cada país. Nos dias de Jesus essa situação era idêntica, mas ele bradou contra esses abusos.
A palavra grega para "relações sexuais ilícitas" é pornéia, que aparece 26 vezes no Novo Testamento grego, significando "prostituição, incastidade, fornicação, adultério, imoralidade, qualquer tipo de relação sexual ilícita". Por essa razão, alguns, querendo negar a realidade do divórcio, afirmam que o referido vocábulo só se aplica a pessoas solteiras, e nunca a casadas. Com base nesse raciocínio, alegam que o divórcio a que Jesus se refere nessa passagem e em Mt 19.9 se aplica quando alguém se casar com a mulher que já foi de outro homem, o qual, ao descobrir isso na lua-de-mel, pode anular o casamento e nunca depois. Em outras palavras, refere-se ao pecado sexual cometido antes do casamento e nunca depois.
Essa interpretação não resiste a uma exegese séria. Os argumentos dos que advogam essa linha de pensamento são totalmente inconscientes. Com essa interpretação, fica claro que o divórcio não existe no Cristianismo, e que o "o divórcio" do v.31 não pode ser o de Moisés, prescrito em Dt 21.1-4, e mais uma série de complicações. Vamos, todavia, analisar esses fatos por partes. Cremos que, apresentando-se fatos, elimina-se automaticamente o dogmatismo. Alguns chegam até a duvidar da autenticidade da expressão "Exceto em caso de relações sexuais ilícitas", considerando-a espúria. Afirmam que essa cláusula não aparece nas passagens paralelas de Mc.10 e Lc.16.18. Na verdade, o que eles querem é só "separação de corpos", mas o que está em pauta nesta passagem é Dt.24.1-4. Que elimina totalmente tal interpretação, ao dizer: "e se, saindo da sua casa, for, e se casar com outro homem" (v.2). A passagem firma que esse divórcio é a dissolução do vínculo matrimonial. Jamais, na história de Israel, alguém ousou considerar adúltera uma mulher divorciada.

"Exceto"

(5o Ponto)

O divórcio é por natureza "exceção", e não regra geral. As Igrejas devem manter o divórcio como estado precário de exceção, como remédio para atender a uma necessidade social. Não deve ser cultivado pelos cristãos, mas admitido para resolver a situação das pessoas que vêm do mundo com a vida totalmente complicada. Jesus disse : "...E o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora" (Jo.6:37). É, principalmente, para situação como essa, que o divórcio existe.
Outros, ainda, supõem que a palavra grega "parektos" = "Exceto" significa que há outras exceções para o divórcio. Isto não está implícito no referido vocábulo, e é ir alem do que está escrito. Sabemos que isso existe em casos de apostasia, em casais mistos, mas à luz de I Cor. 7:15, e não em "parektos" em si. O divórcio só pode ser legitimado em caso de adultério, ou em casos de casamentos mistos, e, mesmo assim, se a parte incrédula exigir, conforme I Cor. 7:15, que veremos mais adiante. Essas são as exceções. Jesus disse que o divórcio existe por causa da pecaminosidade do gênero do homem, e não por causa do adultério, "por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde o princípio" (Mt.19:8).
Mateus 19:3-12: v.3 ? "Vieram a ele (a Jesus) alguns fariseus, e o experimentavam, perguntado: É licito ao marido repudiar a mulher por qualquer motivo? v. 4 ? Então respondeu ele:"Não tendes lido que o Criador desde o princípio os fez homem e mulher, (v.5) e disse: deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? v.6 ?De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus juntou não separe o homem. v.7 ?Replicaram-lhe: "Por que mandou Moisés dar carta de divórcio e repudiar? v.8 ?Respondeu-lhes Jesus:"Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde o princípio. V.9 ? Eu, porém vos digo: Quem repudiar a sua mulher, NÃO SENDO POR CAUSA DE RELAÇÕES SEXUAIS ILÍCITAS (INFIDELIDADE CONJUGAL, ADULTÉRIO), e casar com a repudiada comete adultério. v. 10 ?Disseram-lhe os discípulos (em particular): "Se essa é a condição do homem relativa a sua mulher (só se divorciar de sua mulher em caso de adultério), não convém casar. v.11 ? Jesus, porém, lhes respondeu: "Nem todos são aptos para receber este conceito, mas, apenas aqueles a quem é dado."

Analisando o texto em foco

Mateus 19:3-11

Vamos, neste momento, analisar alguns aspectos deste texto aplicando alguns princípios da hermenêutica e da exegese bíblica.

1) ? A pergunta maliciosa dos fariseus (Mt.19:3):

"É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?" Na passagem paralela de Mc.10:2 não aparece a expressão "qualquer motivo". Se a passagem for analisada simplesmente no texto de Marcos, dá a impressão de que os judeus queriam saber se Jesus questionava a legitimidade da lei de Moisés. Não é o que ocorre aqui. Isso fica claro porque todos sabiam que Moisés prescrevera o divórcio. Fazendo-se uma analise da passagem completa, e à luz de Mt.19:3, descobrimos que não era essa a questão, mas tratava-se "DAS BASES PARA O DIVÓRCIO".
A pergunta dos fariseus, observe o texto com a tenção, girava em torno das razões de se legitimar o divórcio. Não perguntaram se o divórcio era lícito, mas se seria lícito, "se fosse feito por qualquer motivo".
O que muitas pessoas estão dizendo por aí é que os fariseus queriam saber de Jesus se ele era ou não a favor do divórcio. Esses "mestres" desinformados e desprovidos de qualquer conhecimento da hermenêutica bíblica, cometem um sério erro contra o texto sagrado ao afirmarem tal absurdo; pois na verdade, o que os fariseus queriam saber do Senhor era se podia dar carta de divórcio por qualquer motivo. Então Jesus mostra em que caso é que deveria dar carta de divórcio (Leia Mt..19:9).
Alguém pode indagar o seguinte: Por que Marcos omitiu a expressão "por qualquer motivo?" A resposta é muito simples: "Porque a sua narrativa, como é do conhecimento da maioria, é condensada, bem ao estilo romano. Sabemos que Marcos é a narrativa mais condensada dos Evangelhos Sinóticos. Em muitas ocasiões, as narrativas de Lucas e Mateus são mais minuciosas que as de Marcos, e sobre o divórcio, sem dúvida, a narrativa de Mateus é mais detalhada, embora Marcos apresente detalhes omissos nos demais Evangelhos Sinóticos, como a possibilidade de uma mulher divorciar-se do marido" (Mc.10:11,12).



2)- A sábia resposta de Jesus (Mt.19:4-6):

"Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem". Observemos, na clássica resposta de Jesus, que Ele foi além do preceito que regulamentava o divórcio na lei de Moisés. Ele recorreu aos propósitos originais de Deus com relação ao casamento estabelecido no princípio. A citação de Gn 2.24: "Por isso deixará o homem pai e mãe, e se unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne", que diz respeito à indissolubilidade do casamento, pois Jesus acrescentou: "Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem".
Tenho visto que muitas pessoas interpretem de forma errada o v.6: "Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem". Isso não significa que os cônjuges devam conviver para sempre, de maneira incondicional. A passagem não obriga o cônjuge traído a viver com o cônjuge adúltero, pois o adultério, por si só, já separou o que Deus juntou. A expressão de Jesus, em foco, diz respeito ao propósito original de Deus para o casamento. Isso ensinamos na Igreja. Repito essa declaração em todos os casamentos que oficializo, tal união é para ser indissolúvel. O compromisso de fidelidade, que os nubentes estão assumindo, é para toda a vida, até que a morte os venha separar.

3. "Por causa da dureza do vosso coração" (v.8):

Diante da resposta de Jesus, que provou, nas próprias Escrituras dos judeus que originalmente Deus instituiu para ser indissolúvel, então lhe perguntaram os fariseus: "Por que mandou então Moisés dar carta de divórcio e repudiar?" (Mt. 19.7; Mc 10.4).
Jesus já havia dito que o divórcio nunca esteve no propósito divino. Eles queriam saber por que isso estava na lei de Moisés. "Ele revelou que por causa da dureza do vosso coração que Moisés permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde o princípio" (Mt 19.8).
A palavra grega usada para "dureza de coração" é "sklerokardia" de duas palavras gregas "sklerós", que significa "seco, duro, áspero, dificultoso, exigente", que diz respeito ao homem que é extremamente obstinado; e "Kardia", que significa "coração". A combinação dessas palavras, segundo o doutor Russell Norman champlin, só aparece no grego bíblico, tanto no Novo Testamento grego como na LXX. (Dt 10.16; Jr4.4) Então o divórcio não veio por causa do adultério, mas foi permitido por causa da degeneração da raça humana. O adultério é um dos efeitos da queda do Éden. Todo o adultério é pecado, mas nem todo o pecado é adultério.
Moisés permitiu o divórcio para livrar a mulher das garras de um homem de coração duro, para evitar que a mulher sofresse durante toda vida nas mãos de um homem cruel, sem piedade. Uma vez que a mulher era considerada um objeto, que podia até ser comprada, o divórcio veio como válvula de escape, como proteção para as mulheres. Outrossim, com isso Jesus restaurou a posição da mulher, reconhecendo o seu direito de se divorciar do marido, conforme previam as legislações romanas grega (Mc 10.11,12). Assim, Jesus conferiu à mulher os mesmos direitos que ao homem, conforme o plano de Deus no princípio, "tornando-se os dois uma só carne" (Gn 2.24).
O divórcio da escola de Hillel, como diz o doutor R. N. Champlim, "se fundamentava em uma ética inferior, acrescida á natureza pervertida do homem. O que tornava tal ética inaceitável aos olhos de Deus". Isso porque considerava o divórcio como dever, ao passo que as Escrituras Sagradas ensinam como permissão. Diz o doutor Alfred Edersheim: " Estes princípios diferem de modo incomparável com o ensino de Cristo. Podemos repetir que não há comparação real possível entre Cristo e o mais correto dos rabinos, posto que nenhum deles, como Jesus, proibia realmente o divórcio (exceto em caso de adultério), tão pouco havia estabelecido os princípios elevados e eternos que Jesus havia enunciado".
O divórcio é uma exceção à regra. Jesus deixou uma válvula de escape, caso contrário, seríamos obrigados a admitir que Jesus não pôde prever os problemas sociais do futuro, ou então, que ele era legalista e até mais radical do que Shammai.
Os seus discípulos, em face de nova situação apresentada por Jesus viram uma diferença abissal entre Moisés e Jesus. Eles achavam que era impossível a vida de casado dentro do padrão que Jesus estabelecia. (Mt.19:10,11).

A exceção paulina


(6º ponto)

"Ora, aos casados, ordeno, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido (se, porém, ela vier a separar-se, que se case, ou que se reconcilie com o marido); e que o marido não se aparte da mulher. Aos mais digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher incrédula, e esta consente em morar com ele, não deixe o marido. Porque o marido incrédulo é santificado no convívio do marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos. Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz" (I Cor 7.10-15).

Essa passagem mostra que o processo de divórcio deve se dar por iniciativa do incrédulo, e nunca do crente, regra tanto para a mulher como para o homem. O pedido de divórcio, segundo a legislação judaica, não podia ser feito pela mulher, exceto em alguns casos, conforme o doutor Alfred Edersheim. As legislações grega e romana davam direitos a mulher, e isso podemos ver em Mc 10:11,12. O apóstolo nega a qualquer uma das partes o direito de pedir o divórcio. Isso cabe à parte incrédula, e mesmo assim quando a convivência do casal for completamente impossível.
No v.15, o apóstolo diz: "Mas se o descrente quiser apartar-se, que se aparte". Em caso do casamento misto, se o incrédulo quiser se separar, esse verbo "apartar-se" diz respeito ao divórcio, e não meramente à separação de corpos. A situação aqui é diferente da do v. 10. Lá diz respeito aos casais crente, onde não é admitido o divórcio em nenhuma situação, exceto naquela apresentada por Jesus em Mt.5.32,19.9. A situação aqui é com relação aos casais mistos.
Se o cônjuge incrédulo quiser a separação, o casamento nesse caso não é obrigatório. Essa é à exceção do apóstolo Paulo, para o divórcio. Depois dessa separação, tanto o irmão como a irmã estará livre para contrair novas núpcias. O pedido de divórcio, nesse caso, não significa formalização do pedido perante as autoridades. Á expressão (se o descrente quiser apartar-se) diz respeito à conduta e ao comportamento dele com relação ao cônjuge crente, porque há casos de abandono do lar, de viciados em drogas, de alcoólatras em estágio irreversíveis, e caso em que o incrédulo se aproveita do crente, e obviamente, numa situação dessas, a parte incrédula não tem como formalizar o pedido do divórcio.
A parte final do v. 15 diz: "em tais casos não fica sujeito à servidão, nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamados á paz". Ora se é certo que essa separação não diz ao divórcio, mas trata-se da separação de corpos, estando o irmão e a irmã impedidos de se casar, vão continuar "sujeito à servidão", à lei do casamento. O texto Sagrado, portanto, afirma que "não fica sujeito à servidão".
É sabido que o divórcio era conhecido e praticado naquela época pelos judeus, romanos e gregos. Se esse "aparta-se", do v.15, fosse uma referência à separação de corpos, certamente o apóstolo teria dito para não se casar, como fez no v. 11, pois ele estava escrevendo para um povo familiarizado com o divórcio. Ele está falando do divórcio. A "servidão", Rm 7.1-6, diz respeito ao casamento. O apóstolo, entretanto, diz que numa situação dessa nem o irmão nem a irmã está sujeito à servidão. Houve a dissolução do vínculo matrimonial. Portanto o cônjuge crente estará livre para se casar com quem quiser, desde que "seja Senhor" (v.39).

O divórcio na Igreja Local


(7o ponto)

Sumarizando o que vimos até agora, existem duas linhas opostas sobre o divórcio: uma crê que Jesus revogou o divórcio previsto em Dt.24:1-4; outra, que admite que o Novo Testamento, em situações excepcionais, já discutidas, permite o divórcio. Analisando o divórcio à luz da Bíblia, vimos que ele estava previsto na lei mosaica e era permitido nos dias do ministério terreno de Jesus e está amparado pelo N.T nos seguintes casos:

a)- Infidelidade conjugal (Mt.9:9)

Vale ressaltar neste ponto que, uma aliança firmada perante o Senhor é de caráter indissolúvel, porém, ela pode ser desfeita em caso de adultério. O próprio Deus ao se sentir traído pela nação de Israel, quando eles adulteraram adorando outros deuses, falou em dar carta de divórcio (Leia atentamente: Jr.3:1-8).

b)- Impossibilidade de reconciliação entre os cônjuges em casais mistos (I Cor.7:15).

Fora esses dois casos, o divórcio será adultério, se o divorciado ou a divorciada contrair novas núpcias.

Agora eu pergunto: "O divórcio não é opção para o cristão?" Pode não ser a primeira opção, se caso o cônjuge traído quiser perdoar o traidor da aliança matrimonial, mas se porventura, o cristão vitimado de um ato de adultério por parte de sua companheira quiser escolher não perdoar e contrair uma nova família, certamente, terá o aval do próprio Senhor Jesus: "Quem repudiar a sua mulher, NÃO SENDO POR CAUSA DE RELAÇÕES SEXUAIS ILÍCITAS (INFIDELIDADE CONJUGAL, A DULTÉRIO), e casar com a repudiada comete adultério" (Mt.19:9).

Síntese do que John Stott fala sobre o divórcio


John Stott, em sua obra Divorce, declara de maneira resumida o propósito de Deus com o casamento e como o divórcio é visto biblicamente, nos seguintes termos:
Primeiro, a intenção de Deus ao criar o sexo masculino e feminino na humanidade e ordenar o casamento é clara. A sexualidade humana encontra satisfação no casamento e esta é uma união permanente e exclusiva. Este é o propósito e ideal divino.
Segundo, as Escrituras não ordenam nem sequer encorajam o divórcio.
Terceiro, não obstante, o divórcio (e novo casamento) é permitido em dois casos. Primeiro, a parte inocente pode divorciar-se de seu companheiro, caso este seja culpado de imoralidade. Segundo, o crente pode concordar com a deserção de seu cônjuge incrédulo, se este se recusar a continuar vivendo em sua companhia. Em ambos os casos, porém, a permissão é concedida em termos negativo (i.e., relutantes): Somente no caso de a pessoa divorciar-se de seu parceiro por infidelidade é que não estará cometendo adultério. Somente se o incrédulo insistir em separar-se é que o crente não permanece "ligado".
Essa linha resumida, traçada acima por John Stott, é o padrão que a maioria das igrejas evangélicas segue, e está amparada pela Palavra de Deus.

A irmã com o "nó cego" desatado

Lembra que no início deste artigo falei de uma irmã que veio até mim para que eu a explicasse sobre o divórcio e novo casamento? Expliquei para ela exatamente o que você acabou de estudar neste conciso estudo; depois de passar dias e semanas estudando sobre esta questão de divórcio e novo casamento, desatei o "nó cego" que se encontrava no coração daquela serva de Deus.
Após aquela irmã ouvir-me por um espaço de 2horas e meia, seus olhos encheram-se de lágrimas, e com voz trêmula, ela disse-me num tom de confissão: "Até hoje não havia sentido no meu coração o quanto essa questão de casamento era sério; farei de tudo para lutar pelo meu matrimônio, porque é algo profundamente sério e de grande responsabilidade. Pastor, peço orações para que eu seja semelhante aquela mulher de provérbios 14:1: "Toda MULHER SÁBIA edifica a sua casa...". Então eu lhe respondi: "Foi como uma mulher sábia que agiu aquela esposa do meu querido e irmão pastor!"

Espero que este artigo tenha lhe trazido algum esclarecimento!



Shalom Uvrachot!
Paz e benções!

Pr. Ronaldo Carvalho,
Bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia e
Ciência da Religião-Fatem ?Am, e Especializado no Hebraico Bíblico.
[email protected]
[email protected]



Autor: Ronaldo Carvalho


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