Quadratuda com o Sol



Fui ontem à Fraternidade e de repente descobri que essa tal de Wal estava com o demônio no corpo. Como pôde uma pessoa mudar tanto assim da noite para o dia? Acredito que ela estava querendo descontar em mim seus problemas familiares, ou sua incapacidade de alguma coisa frente à sua própria família. Ela me deu uma vela amarela para eu rezar para Mitzrael, meu anjo cabalístico, no domingo. Não sei se vou fazer essa magia...tem que ler um salmo também. A mais nova amiga de Wal agora é uma sulina estranha. Naturalmente que ela está ajudando a sulina, apresentando?lhe as mais diversas magias para que esta dê certo em SP. Fui falar algo da sulina, ontem, e Wal disse o seguinte:
? Você quer atenção só pra você, não é?
? Imagine, eu quero que você se exploda, quase disse.
Agora que ela conseguiu tirar tudo de mim, pelo menos por enquanto, mas só em nível do que estou fazendo ou planejando, deve ter ido correndo contar o que eu lhe disse pro mundo. Ela conseguiu que eu não pensasse noutra coisa a não ser nela. Forçou?me a enterrar as velas verdes da amiga no quintal da Fraternidade. Ela é uma pessoa inatingível, e eu não lhe perdoo.
? Não perdoa o quê?, estou certíssima, nunca lhe fiz nada de mal!, diria ela.
? Não perdoo a senhora ter me feito sentir tão mal, tanta raiva!
? Você é idoso, sim, e como idoso deve aceitar o tal emprego sobre o qual estava me falando.
Não me acho idoso como ela diz, pois tenho 45 anos. Já não basta ser obrigado a viver em um país subdesenvolvido.
Agora ela sabe quase tudo o que se passa em minha vida. Ontem, após o ritual, chegou um dos rapazes que ela protege com veemência, um que vive internado, pessoa com o qual ela naturalmente ($$$$?Dante?Não fuma, não bebe, não come carne) não entra em atrito. Ademais, o rapaz tem a sensibilidade dela, e é trabalhador, uma pessoa sem defeitos.
? Trabalho! Trabalho!, bradou ela ao ir embora.
Fico meio sem norte diante desse demônio repentino dentro dessa mulher, desse inferno que está a Fraternidade. Devo ser um ignorante, provavelmente me julgarão disso. Essa Det e a amiga devem estar rindo sem parar até agora. Ali não posso fazer mais nada, a não ser o ritual, e olhe lá. Não tenho espiritualidade, segundo dizem, e muito menos capacidade para alguma coisa. Coitados! Eu peço a Deus que jamais se decepcionem em quem eles botam tanta fé. Fico só com receio da magia dessas mulheres. Na certa vou me arrepender, me sentir doente, monstro, e fico a imaginar o conteúdo dessa magia. Assim também peço a Deus que essa mulher viva cem anos, e a nova amiga dela também. Ah, Deus, por favor, faça?me esquecê?las. Não quero a atenção delas. Se Wal lesse isso, jogaria estas palavras contra mim, seria ardil a esse ponto. Sabe o que ela disse também?:
? Tenho a lua em Escorpião. O que não descubro na minha vida! E agora tem essa advogadazinha metida a fresca! Tem duas caras. Diz que escreveu livro. Agora todo mundo está escrevendo livro.
? Essa mulher nunca me enganou, só você que é boba!, respondi-lhe.
? Ascendente em Escorpião.
? Ih, criançona, brinquei.
Det falou uma outra coisa que me deixou irritadíssimo.
? Ia trazer?lhe o livro de magia, mas lá tem magia para obter dinheiro, e essa eu sei que você ia fazer!
Como detesto gente presunçosa, e a maioria dos empregadores brasileiros são assim. Essa idiota foi pra frente à custa de quê, de trabalho? Ela acha que sou ambicioso. Imagine, nessa altura do campeonato estou interessado que não me falte comida, mas essa gente não entende. Não posso depender dessas pessoas mesmo que da forma sub-reptícia atual, pois não quero dever favores.
Lembro?me que disse a Dona Wal (sim, chamo de dona porque a nova amiga é nova de idade, e deve imaginar que tenho no mínimo 60 anos):
? Acho que na Parada Gay vou alugar onde moro por dois dias.
? Você está com o demônio. A Fraternidade condena esse tipo de coisa. Eles vão fazer sexo no lugar, sujar todo o lugar... Sem comentários, estou escandalizada!
Acho que ela imaginou que eu ia querer ficar morando com o bofes os dois dias (sábado e domingo). Não sei como pude comentar isso; ademais, sou considerado porquinho pelas pessoas que entraram ali e também pelas que não entraram. Acho que nem os bofes iam pernoitar ali.
? Vai participar de antologia, vai?, perguntou-me Det quando lhe falei sobre uma antologia o qual vou participar.
? É.
? Pois fala isso pra Ângela. Ela não quer deixar você corrigir lição porque acha que você não tem capacidade.
? Mas nem pra escrever? Ah, eu pensei que ela achava que eu tinha pouco conhecimento! Mas por que esse presidente deixa ela no poder já que ela é essa peste, humilha as pessoas?
? Porque o Carlos não quer que ela saia do poder. E o Osvaldo acha que humilhar é a melhor forma de tornar as pessoas humildes. Como todo mundo segue este Mestre... O Carlos gosta muito dela, inclusive ela é madrinha do casamento dele. Ela praticamente vive na casa dele. E, naturalmente, acredito que ele dê as ordens através dela. Meu amigo, ela é burra! Tome cuidado, eu sei como é virgem! Ardilosa ao extremo, não tem escrúpulos.
? Mas ele não é casado?
? E os baianos se casam só com uma? Eu conheço a minha raça, faça-me o favor!
? Mas por que o presidente não tira ela do poder?
? Porque não tem quem possa substituir. E além do mais ela é a única conivente com as falcatruas dele.
Silêncio. Sempre estou disponível, pensei, sempre, e não me deixam fazer nada porque me acham incapaz, um retardado, uma pessoa que não se esforça e que erra muito, uma pessoa sem ESPIRITUALIDADE.
Depois ela foi embora, como eu já disse, e antes de ir, falou:
? Trabalho!Trabalho!
Estava aborrecida. E sei como é chegar em uma certa idade e perder prestígio como interlocutor, tendo que alegar que o ouvinte tem problemas cognitivos ou de audição. Não a entendi até agora. Uma mulher de oitenta anos tem TPM? Não sei, só sei que Deus deu a essa mulher o dom de me irritar. Ela tem a polícia, a Fraternidade, todo mundo do lado dela, além do dinheiro (ela acha que não devo pensar em dinheiro, que penso muito em dinheiro). As mulheres têm planos para mim, interessante, e eu nem sequer as conheço. Elas me censuram, e eu nem as conheço. Será que dou tanta liberdade às pessoas assim? Minha nossa, como sou vulgar!
Autor: Edu Prearo


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