O PRECONCEITO NA EDUCAÇÃO DOS SURDOS



UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAL EDUCAÇÃO CCSE




O PRECONCEITO NA EDUCAÇÃO DOS SURDOS

Sebastião pimenta Martins Filho
Suellen Alves Mota
Willy da Silva Tavares
Orientadora: Prof. Msc; Marilene Marques

RESUMO

A educação dos surdos vem ao longo do tempo sendo debatida, porém a história do povo surdo nos mostra que ele era identificado como um ser incompleto, incapaz, deficiente, e desse modo vem se discutindo inúmeras formas de se educar essas pessoas, para que os mesmos se enquadrem dentro da sociedade chamada "normal". Contudo a decisão do povo ouvinte se sobrepõe sobre as necessidades do surdo, pois se utiliza métodos pedagógicos que estão longe da realidade desses alunos que são "forçados" a aprender com as metodologias que ensinam outros alunos.

PALAVRA-CHAVE: Educação, Surdo, Metodologias, Preconceitos.


ABSTRACT

The education of the deaf have over time been debated, but the history of deaf people show us that it was identified as an incomplete being, incapable, weak, and thus has been discussed many ways to educate these people so that fall within the same society called "normal". However the decision of the people on listener outweighs the needs of the deaf, because it uses teaching methods that are far from reality that these students are "forced" to learn from the methodologies that teach other students.

INTRODUÇÃO

Segundo Goldfeld (1997) a história de educação dos surdos começou no século XVII fundada em paris pelo Abade L´Epée, e nesse período os surdos já começaram a se mobilizarem consistindo no primeiro grupo de surdos que inventou e usou a língua de sinais. Porém no Brasil o surdo francês Eduard Huet, iniciou a primeira escola de surdos com língua de sinais, no século XIX. Foi fundado o Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES, no Rio de Janeiro, e a saída rápida de Eduard Huet fizeram do instituto uma escola com docentes ouvintes e com várias metodologias que acompanhavam a moda da educação de surdos.
A educação das pessoas surdas, por muitos anos, fundou ? se de forma preconceituosa, houve um padrão consistente de evolução em que podemos dizer o que prevaleceu foi à desigualdade social. As pessoas deficientes eram destacadas por possuírem características divergentes daquelas instituídas pela sociedade. Por exemplo, utilizavam termos como, "excepcional" como se explicasse a diferença existente de um indivíduo para o outro. Na antiguidade acreditava-se que as pessoas deficientes não podiam ser educadas, pois eram consideradas como aberração da natureza, portanto foram vários os períodos em que estas pessoas foram rotuladas de incapazes, não podendo participar de qualquer tipo de vida "normal" a que regularmente passam as outras pessoas. Sabe-se que nesta mesma época, era comum o extermínio de crianças que nascessem deficientes. Existem relatos a respeito do tratamento que era dado a essas pessoas. Não havia nenhuma preocupação com a educação ou qualquer outra forma de socializar as pessoas deficientes. Por volta de 335 d.C. aparecem importantes filósofos, como Aristóteles, que acreditava que o pensamento era desenvolvido por meio da linguagem e da mesma com a fala, e por isso afirmava que o "surdo não pensa, não pode ser considerado humano". (GOLDFELD, 1997, p.24).
Contudo as discussões a respeito do da educação do surdo vem sendo debatida, como no congresso de Milão em 06 a 11 de novembro 1980, onde o propósito foi discutir as vantagens e os inconvenientes do internato, o período necessário para educação formal, o numero de alunos por salas e, principalmente como os surdos deveriam ser ensinados, por meio da linguagem oral ou gestual. Porém em votação o que prevaleceu foi que a educação usasse o método oral em detrimento ao método gestual na educação dos surdos, pois, foi declarado que o método oral, ou seja, as palavras eram para os ouvintes, superiores aos gestos. E com isso mostrando todos os preconceitos com os surdos, pois eles não puderam decidir o que seria, mas adequado para a sua educação. Pode-se definir, (segundo GOLDFELD, 1997) historicamente, que a educação de surdos foi quase sempre dominada pelos ouvintes, e os surdos tiveram pouco espaço para pensar e fazer uma escola pensada e construída pelos surdos.
Na década de 90 apartir da Declaração de Salamanca, as políticas de diretrizes da Educação Especial começaram a mudar e passaram a ter subsídios na proposta da inclusão. Podemos encontrar nessa declaração a seguinte afirmação; o surdo deve ser inserido de fato, para que possa ter sua cidadania respeitada (Declaração de Salamanca, 1990, p.2). Por isso, acredita-se que é necessária a existência de políticas efetivas. Assim sendo, a inclusão do surdo só será possível quando forem observadas suas necessidades especiais e que se estabeleça uma metodologia específica que garanta sua relação, comunicação e o desenvolvimento de seus valores sociais. No entanto, o nosso sistema educacional foi construído em cima da noção de doença (a surdez) que precisava ser tratada (com testes audiométricos para transplante coclear ou aparelhos auditivos, dependendo do caso) e curada (através do método oral), para que eles possam voltar a serem "ouvintes" novamente. Hoje, não se precisa ser tratados como doentes, mas a educação dos surdos ainda é definida pelos ouvintes. Os ouvintes agora colocam intérpretes e classificam os surdos como sujeitos que falam outra língua; no entanto, a língua dos surdos não é respeitada a partir do instante em que eles não têm professores de outras disciplinas que dominem bem a Libras, nem escolas de surdos que vivenciem a comunidade, cultura e identidade dos surdos.

DESENVOLVIMENTO
A inclusão dos indivíduos com de necessidades educacionais especiais atualmente no Brasil é um desafio. Neste grupo enquadram-se os sujeitos surdos, muitas inquietações surgem dentro deste campo de pesquisa. Várias são as dificuldades ou problemas que entravam o processo que tenta facilitar a inclusão dos deficientes auditivos do ponto de vista social. Neste ponto, destaca-se como variáveis a falta de comunicação oral, que prejudica sensivelmente o aprendizado, como também a aplicação de metodologias não contextualizadas com a realidade sócio-cultural do aluno. Não se pode desprezar a falta de preparo da maioria dos educadores que atuam nessa área.
A educação de surdos é, na atualidade, uma das áreas com maiores dificuldades no âmbito educacional. Existem diferentes enfoques e perspectivas acerca das razões que, historicamente, originaram tal situação, entre os quais se pode citar a concepção de surdo como "deficiente" subjacente tanto à educação especial, acostumada a ignorar o ponto de vista dos próprios alunos, como também a escola regular, que há muito tem sido um lugar em que os surdos não possuem espaço, pois, baniu a língua de sinais e jamais permitiu a consolidação grupos surdos e de suas produções culturais. (QUADROS, 2003; SKLIAR, 1997).

Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sistemas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-las, a educação inclusiva assume espaço central no debate acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da lógica da exclusão. A partir dos referenciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos, a organização de escolas e classes especiais passa a ser repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alunos tenham suas especificidades atendidas, pois, segundo a constituição federal de 1988 "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação" (art.3º, inciso IV). Define, no artigo 205, a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a "igualdade de condições de acesso e permanência na escola" como um dos princípios para o ensino e garante como dever do Estado, a oferta do atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino (art. 208)
Esses pressupostos remetem a idéia de que os surdos sofrem com essa discriminação onde as decisões de uma escola igualitárias são escolhidas por ouvinte, não dando chance para que os mesmo discutam qual a melhor possibilidade de inclusão.
A potencialidade de reconstrução histórica dos surdos sobre a sua educação e sua escolarização é, sem margem para dúvidas, um ponto de partida para uma reconstrução política significativa e para que participem com consciência, das lutas dos movimentos sociais surdos pelo direito à língua de sinais, pelo direito a uma educação que abandonem os seus mecanismos perversos de exclusão, e por um exercício pleno da cidadania. Reconstruir essa história é uma nova experiência de liberdade, a partir da qual se torna possível aos surdos imaginarem outras representações para narrarem a própria histórica do que significa o ser surdo. (SKLIAR, 2005, p. 29)

Infelizmente, o Surdo continua sofrendo com o preconceito e exclusão da sociedade ouvintista, pois, esta não respeita sua língua, sua forma de aprendizagem, sua identidade, enfim, toda a sua cultura. Essa cultura vem sendo construída com muita luta pelas próprias comunidades Surdas e por seus por militantes que apóiam a resistência Surda, através de protestos e de posturas diferenciadas acerca da ideologia política dominante.
Ao nosso ver, é quase impossível, no momento, que uma escola, seja qual for, dê conta de todo e qualquer tipo de aluno, como é o caso do surdo, do deficiente mental da criança de rua ou do trabalhador. Para atender com dignidade aos que nela já
estão, novas iniciativas pedagógicas se fazem necessárias. Iniciativas que demandariam a construção de um novo entendimento político e ideológico do que seja escola, uma abordagem que pudesse enfrentar o fracasso de forma efetiva.
(SOUZA; GOES, 1999, p. 168).

Diante da crise social e política que o surdo vem enfrentando ao longo desse período, surge a educação bilíngüe. Esta passou a ser enunciada quando surdos e ouvintes militantes da mesma causa começaram a estruturar o movimento, no meio acadêmico, questionando as representações colonialistas e adotando como estratégia política o reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais como a língua acadêmica.
Silva (2008, p. 88) explica que o agenciamento lingüístico foi uma das brechas encontradas por esse movimento, para deslocar a Língua Brasileira de Sinais do campo da clandestinidade para o político. Esse agenciamento unificou a organização política dos movimentos de resistência surda, captando, registrando e refletindo os interesses das comunidades surdas brasileiras.
Ao trazerem a LIBRAS para o debate acadêmico, os surdos, ao mesmo tempo em que evidenciam a fragilidade de se pensar o ensino centrado apenas no ouvir e no falar, também procuram libertar-se das amarras da língua portuguesa em seu desenvolvimento intelectual. Para eles, a língua de sinais não é um instrumento de comunicação para facilitar a aprendizagem da língua portuguesa, mas de transformação das relações sociais, culturais e institucionais que geraram e geram as representações hegemônicas sobre o ser surdo no sistema de ensino.



No caso dos surdos, o governo brasileiro, mesmo reconhecendo o Estatuto da Língua de Sinais Brasileira ? Lei 10.436/2002, impõe a Língua Portuguesa na modalidade escrita como língua acadêmica. Ao definir esta política, cuja premissa é
de que o uso da língua de sinais leva ao não uso da Língua Portuguesa, o governo gera uma política de exclusão dos surdos no meio acadêmico. (SILVA, 2008, p. 89)

Mais uma vez, pode-se perceber as imposições dos ouvintes no que tangem à diferença de uma comunidade minoritária surda. Estes buscam a liberdade de percepção do mundo através de sua língua visual-espacial que é a LIBRAS. Silva traduz bem esses ideais:
O fato dos surdos poderem vir a ter uma língua acadêmica diferente da maioria do povo brasileiro não implica nenhuma ameaça para a nação muito pelo contrário, amplia os espaços de interação entre surdos e ouvintes. Os surdos parecem "estrangeiros em seu próprio pais" embora estejam em contato permanente com a Língua Portuguesa e, dependendo do contexto, a utilizam de diferentes formas. (SILVA, 2008, p.90)

No entanto todos esses desvios que causam na educação dos surdos, levando a imposição de paradigma sobre como ensinar e qual metodologia a empregar sem perguntar quem aqueles que são o publico alvo desse processo.

CONCLUSÃO

Apesar dos avanços conquistados pelos surdos, muito ainda se tem a fazer, visto que em muitas escolas, os professores ainda não estão totalmente preparados pra ter um aluno com deficiência auditiva em sua classe, não só pela falta do domínio com a língua libras, mas pela falta de materiais didáticos (mapas de lugares, vídeos explicando experiências de formulas cientificas, e outros) que possam ajudar os educadores quando forem explicar ao um aluno que precisa de manifestações visuais para que tenham um bom entendimento do que é repassado a ele.
A educação do surdo ainda é administrada por ouvintes, estes com apoio dos avanços tecnológicos, desenvolvendo o transplante coclear, onde o surdo é considerado um doente para a ciência, que precisa ser curado, para que venha a aprender a língua dos falantes. Como se o surdo não tivesse a sua própria língua, e sua cultura surda, deveria ser submetida à ouvinte, e compreendida como algo inferior, doente, que precisa ser adaptado para que ele seja inserido na sociedade dos falantes.
A história social da surdez mostra quanto os surdos, e mais recentemente a comunidade surda, vêm sendo alvo de controle e ordenamento médicos, exatamente por desafiarem os limites normativos do normal e do patológico. De acordo com a tradição nos estudos culturalistas sobre surdez, estabeleceu-se uma convenção lingüística que delimita as fronteiras políticas do movimento e que, para fins argumentativos, será seguida neste artigo. Entende-se por comunidade Surda as pessoas que possuem o sentimento de pertencimento à cultura Surda, definida basicamente pela linguagem dos sinais, ao passo que surdos são todos os que não se identificam com o movimento social, ou porque foram pessoas socializadas em ambiente ouvinte ou porque têm variados graus de deficiência auditiva.
Episódios de preconceitos como os referidos são usuais no cotidiano dos surdos. A surdez foi construída historicamente a partir da diferença enquanto desvio da normalidade, numa abordagem patológica. Apesar do novo discurso socioantropológico da surdez estar em voga, principalmente no meio acadêmico, esta é ainda uma escrita recente. Pode-se encontrar muitas contradições inclusive entre alguns dos que fazem uso de um discurso que impressiona positivamente, contradições essas que também os surdos apresentam.
Espera-se que no futuro, o valor das pessoas surdas, seja realmente reconhecido e aquilo que está sendo ofertado, a ele no presente, seja efetivado de forma global e irrestrita, ou melhor, que não seja só da "boca para fora", posto que os mesmos já perdessem muito do seu tempo, sendo segregados durante anos a fio em escolas especializadas que só serviram de pano de fundo para a grande discriminação que assola o país, além de não acrescentarem em nada o seu processo de desenvolvimento enquanto pessoa ou como cidadão. Então não é justo que a inclusão faça o mesmo.
Sabe-se que a educação ainda precisa ser ampliada e cada vez mais adequada a esta comunidade que, dia-a-dia, luta pelo direito de ter uma educação significativa, condizente com suas características sociais e culturais próprias.
























REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Imprensa Oficial, 1988.
BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: UNESCO, 1994.
HISTÓRICO da educação do surdo no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 27 de Nov 2010.
GOLDFELD, Márcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva
sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997.
SKLIAR, C. A surdez: um olhar sobre as diferenças. 3. ed. Porto Alegre: Mediação, 2005
SOUZA E SILVA, Jailson de. Por que uns e não outros? caminhada de jovens pobres para a universidade. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2003.
STROBEL, Karin. Surdos: vestígios culturais não registradosna história. Tese (Doutorado em Educação) ? Faculdade de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008 a.
INCLUSÃO SOCIAL DO SURDO: UM DESAFIO A SOCIEDADE, AOS PROFISSIONAIS E A EDUCAÇÃO, Disponível em: http:// www.nead.unama.br/site/bibdigital/monografias/inclusão_social_do_surdos.pdf



Autor: Willy Tavares


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