Cabelo anelado
As meninas de hoje querem ter cabelo escorrido.
E sonham ser como a artista loira que requebra na TV.
Essas meninas não se reconhecem na batida dos tambores que ecoam dos terreiros.
Nem sabem a alegria de juntar o afoxé, o caxixi e o agogô.
E enquanto o secador avança sobre os fios que vai moldando ao gosto da moda das meninas azuis chora o Congo renegado e as mães de leite na solidão das senzalas.
Em tenra idade não se reconhece no grito altivo de Zumbi.
Pobre menina de cabelo anelado, até quando te negarão a graça que a mãe África te deu no sangue que corre quente em tuas veias?
Que mal há em dizer ao mundo que és negra como teu avô e tua avó, e todos os teus ancestrais na casa distante?
Que mal há em gritar aos quatro ventos a tua africanidade necessária e garbosa!
Até quando, pequena, esconderás a tua história no vapor quente que maltrata teus cachinhos e faz de ti cópia imperfeita do teu opressor?
- Se essa rua, se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava enfeitar com todas as cores da África pra menina Mariana passear.
Autor: Nara Junqueira
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