Violência contra o idoso na família



VIOLÊNCIA CONTRA O IDOSO NA FAMÍLIA



Alunos:
Clísia Pereira de Souza
Larissa Lima Mendes
Windson da Cruz Morais

Orientadora:
Kátia Jane Chaves Bernardo

RESUMO

O tema da pesquisa é "Violência contra o idoso na família". Tem como objetivos analisar e identificar as principais conseqüências que a violência provoca na vida de um idoso, também compreendendo em sua vivência, como este enfrenta a violência sofrida pela família; analisando as causas que levam os idosos a serem agredidos por pessoas tão "próximas". Nossa metodologia qualitativa, não só nos levou a revisão literária como, nos levou a usar entrevistas semi-estruturadas aos sujeitos da terceira idade do sexo masculino e feminino que sofreu ou vem sofrendo maus tratos no âmbito familiar, dando queixa na delegacia do idoso em Salvador, a DEATI (Delegacia Especial de atendimento ao idoso). Com a pesquisa feita, conclui-se que a violência contra o idoso atinge qualquer classe social, independente dos níveis socioeconômicos. A violência tanto pode ser emocional ou física, também o que faz essas violências continuarem é o medo, e o constrangimento que estes idosos têm na hora de denunciar, pois, a maioria dos agressores são seus próprios parentes.



Palavras-chaves: Violência, idosos, DEATI (Delegacia Especial de atendimento ao idoso).





INTRODUÇÃO

A importância da presente pesquisa justifica-se pela curiosidade em saber o que leva parentes, vizinhos há tratar seus idosos com descaso. Com considerável freqüência se põem em discussão na sociedade as várias formas de violências e o porque essas violências contra o idoso. Através da revisão literária e também da visita à

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delegacia do idoso, confirmamos os diversos fatores que levam as pessoas a cometerem esses atos de violência contra seus idosos.

Nossa pesquisa abordara a violência contra o idoso na família, enfatizando os tipos de violência que os idosos sofrem durante a sua vida na terceira idade. Tendo como objetivos identificar e analisar as conseqüências que a violência provoca na vida de um idoso, também compreender como o idoso enfrenta a violência na família e por fim analisar as causas que levam a agressão contra o este.

A violência contra o idoso é considerada qualquer ato único ou repetitivo, ou omissão que ocorra em qualquer relação supostamente de confiança, que causa dano ou incômodo a pessoa idosa.

O termo idoso é definido como sendo mais respeitoso, que significa pleno de idade, de vigor, forma de referir-se a alguém que não está mais na juventude, mas que é digno e que tem muito para viver e ensinar a sociedade. Já o termo velho refere-se a coisas gastas, sem nenhuma utilidade, algo que não serve mais e deve ser posto de lado. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, é considerado um "idoso" o sujeito com 60 anos ou mais, que reside em países subdesenvolvidos, e com 65 anos ou mais quem reside em países desenvolvidos.

Segundo a Constituição Federal de 1988, a família é vista como base da sociedade. A família, assim como a sociedade e principalmente o Estado, tem como dever "amparar as pessoas idosas, permitido a atuação, participação na comunidade, respeitando e garantindo-lhes o direito á vida" com saúde e prazer. Também, a família é muitas vezes definidos como grupo de obrigações na sociedade, especialmente no que se referem ao idoso.

Um fenômeno muito comum hoje é a coabitação, na qual um dos filhos volta a morar na casa dos pais, levando consigo sua esposa e filhos. É uma maneira de baratear as despesas, fazer companhia a mãe e pai idoso, sendo que neste processo as avós acabam ajudando na criação dos netos. A coabitação, embora contribua para a firmação dos laços familiares, também é a causa de grades conflitos familiares. As denuncias de
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violência contra os velhos, prova que o fato de morarem com os filhos não lhes traz garantia de segurança. É na família que os dramas individuais ocorrem fundamentalmente. (PEIXOTO, 2004 apud CHAVES BERNARDO)

Baroni (2007) presidente da ABCMI Nacional declarou que a população idosa hoje no Brasil é de 30 milhões de brasileiros. Ela acredita que o país não está preparado para o envelhecimento da população e que os problemas hoje envolvendo os idosos são de origem cultural.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos no Brasil tem crescido muito. Estima-se que até 2020 o país seja o sexto em número de velhos no mundo com aproximadamente 40 milhões.

O envelhecimento está ligado a um declínio das capacidades físicas, relacionando-se também com uma fragilidade psicológica e comportamental. O idoso deixou de ser visto como fonte de sabedoria e de experiência para a família e a comunidade.

Para entendermos melhor esse conceito da violência contra o idoso fomos até a delegacia de prestação ao idoso, a DEATI (Delegacia Especial de atendimento ao idoso), que foi fundada pena há dois anos, sendo que recebe de dez a vinte casos, queixas por dia. Na delegacia observamos que, várias pessoas que aparecem por lá são de classe média ou baixa.

A DEATI é uma delegacia que foi fundada com o objetivo de prevenir e apurar as infrações penais praticadas contra pessoas maiores de sessenta anos. Um fato importante é que a delegacia foi uma reivindicação dos próprios idosos, ou melhor, das associações de idosos.

A partir da revisão literária, confirmamos através da delegada, e também dos demais que trabalham lá na delegacia, que, o índice maior de agressores desses idosos são as pessoas mais próximas deles, familiares, vizinhos netos e até mesmo os filhos. Muitos dos idosos não denunciam por questões de vergonha e afetiva, por se sentirem constrangidos. É nesse ponto que se torna essencial as denúncias anônimas, pois
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denunciando qualquer forma de violência contra os idosos, mesmo que o agredido se recuse, o denunciante estará contribuindo para a maioria dos casos que conseqüentemente será resolvida.


MÉTODO

Nossa estratégia de coleta de dados foi qualitativa já que visamos compreender e analisar as causas e conseqüências que leva uma pessoa agredir uma pessoa idosa. A pesquisa teve como sujeitos, as pessoas da terceira idade dos sexos masculinos e femininos que sofreram ou sofrem violência no âmbito familiar e deu queixas na delegacia do idoso em Salvador, a DEATI (Delegacia Especial de atendimento ao idoso).

A equipe utilizou-se de entrevistas semi-estruturadas com roteiro de entrevista previamente elaborado. Por estes instrumentos de coleta de dados tivemos acesso às crenças, atitudes e significados construídos por esses sujeitos no que se referem à violência contra o idoso.

Para coletas de dados combinamos uma visita na DEATI (Delegacia Especial de atendimento ao idoso), que se encontra na Rua Salete n° 19, no bairro dos Barris em Salvador- Ba. A nossa visita foi realizada no dia 03 de junho do presente ano. O objetivo dessa visita foi conhecer a instituição, saber como funciona e quais é a faixa etária de idade do público que lá vão para dar sua queixa. Também saber os tipos de queixas mais comuns na delegacia.

Logo quando chegamos na delegacia fomos conversamos com o investigador que nos forneceu explicações como a polícia age diante de uma ocorrência ou denúncia anônima. Logo depois fizemos entrevistas com dois idosos um senhor de 73 e uma senhora de 79 anos, que foram prestar queixas na delegacia. Além dos idosos entrevistados, conversamos com a assistente social e entrevistamos a delegada, que nos forneceu informações sobre os casos mais freqüentes de violência contra o idoso na família.

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A DEATI (Delegacia Especial de atendimento ao idoso) foi fundada no dia 31 de julho de 2006 por associações, sendo ela a primeira do Norte/Nordeste tendo ela um trabalho muito difícil, pois a maioria dos casos de denuncia é por conta das agressões, e o que é pior, vindo dos próprios familiares.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Para Sanches (2006) a violência contra o idoso na maioria dos casos, parece ocorrer mais por situações de negligência e violência psicológica: como a falta de uma moradia, um ambiente adequado para a residência do idoso e o despreparo, falta de cuidados, para atender suas necessidades e desejos. Os velhos são vítimas de vários tipos de violência, dentre elas a física e a emocional, outro fator de grande relevância é a violência de gêneros, um tipo de violência que está tendo uma grande incidência atualmente.

Para Debert (1999), grande parte da violência contra o idoso ocorre em casos que diferentes gerações convivem, dividem o mesmo espaço onde moram. A prova desse convívio não pode ser visto como garantia de velhice bem sucedida, e nem mesmo sinal de relações mais amigáveis entre essas gerações. Genilda Cordeiro (2007), ressalta que envelhecer bem é uma questão de auto-estima para quem realmente se gosta, partindo de um fator natural da vida.
"Não... não, moro com minha filha e duas netas e... por que também ajudo elas com meu dinheirinho da aposentadoria, né? " Risos... (Ana)
"Hoje em dia as residências moram várias gerações, são filhos, neto é bisneto..." (delegada).
Para Fernandes e Assis (1999) outros fatores que ampliam a ocorrência da violência e a coabitação, por conta das perdas materiais, o isolamento social, a doença do idoso e a diminuição da sua capacidade funcional e cognitiva. Estudos realizados sobre a violência presente na população idosa, principalmente no âmbito familiar devem-se principalmente a coabitação de gerações que pode ser explicado pelo empobrecimento da população e outros fatores que estão associados á ausência de políticas públicas.
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Para Fonseca e Gonçalves (2003) as formas de violência requerem uma identificação, uma intervenção interdisciplinar e uma atenção para os sinais de sua ocorrência. Lesões e ferimentos, freqüentes nos idosos são sinais que merecem investigações, assim como sua aparência descuidada, desnutrição, comportamento muito agressivo ou indiferente, afastamento, isolamento, tristeza ou abstinência profunda.
"Quando o idoso é mulher e a violência é com a mulher... a gente também trabalha com a Lei Maria da Penha. E... o artigo mais usado é a ameaça, confusão, abandono e maus tratos, também perturbações do sossego. Eles vêem muito reclamar disso, infelizmente. Também a gente tem um fator que 70% da violência contra o idoso ocorre dentro da própria residência do idoso, ou seja a violência é doméstica, é familiar mesmo... 70% são parentes."( delegada)

"Eu sofri um atropelo (...), sem poder andar, escutei uma zoada... era a filha da vizinha....ai vi aquela zoada ai assustei, e eu com falta de ar da pancada que foi muito grande (...) fui pro lado de fora, devagarzinho e sai... mas a filha gritava com a mãe pro lado de fora, e eu sai pra olhar o movimento(...), sair pra tomar um ar por que tava em tempo de morrer sufocado(...), Ela olha pra mim e diz que é pra eu ir dormir, ai eu disso minha filha eu tava dormindo, quase nem pude falar, tava dormindo você que me acordou(...). Ai botou tudo pra cima de mim (...), eu quase morri de vergonha... ai fui chamar ela de Maria trovoada, ela partiu pra dá na minha cara, você acredita?"( Francisco)

Para Fonseca e Gonçalves (2003) foi com a criação das delegacias de proteção ao idoso, que o fenômeno da violência contra o idoso obteve maior abrangência social. Neste contexto de violência, o lar deixa de ser visto como um local de proteção e cuidados, para ocupar o lugar onde os direitos individuais são violados, na qual os velhos sofrem abusos físicos e emocionais.

"O idoso rejeita muito a idéia de vim aqui por questões afetivas... é complicado o idoso vir... É... pra ele vir aqui é por que a situação já está no
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estremo, é bastante grave... Então, quando ele vem, ele vai ser agredido mesmo, então a gente toma uma providência mais severa... Quando vem é por que já tá bastante grave (...). Por isso que a gente precisa contar muito com as denuncias, a
denúncia é importante por que o idoso às vezes não vem... Porque uma coisa é você denunciar uma pessoa que você não conhece, outra coisa é você vir falar do seu filho, do seu neto, de seu irmão... Então quando vem, ele já vem no estado crítico... Certo? E... As denuncias que os vizinhos denunciam, pessoas que vêem e denunciou, então, a gente conta muito com a denúncia."(delegada)

Segundo o investigador da delegacia (DEATI) a maioria das vítimas são mulheres e que a maior parte dos agressores são pessoas próximas, familiares ou vizinhos. Sendo essas agressões, cárcere privado, abandono, agressões físicas, onde o número maior de vítimas é de classe baixa e que quando alguém presta queixa ou faz uma denúncia anônima, a polícia vai até o local investigar, perguntar aos vizinhos sobre o comportamento e o relacionamento dos envolvidos.

Segundo Fernandes e Assis (1999), a violência familiar contra o idoso tem como formas mais comuns os abusos físicos, que são agressões, causando fratura, hematomas, queimaduras ou outros danos físicos. Também abusos psicológicos, social ou verbal a negação de direitos, as humanizações ou o uso de palavras e expressões que insultam ou ofendem os com os preconceitos e a exclusão do convívio social. O abuso financeiro ou exploração econômica, de propriedades e outros pertences do idoso faz parte da violência contra o idoso.

"...eu trabaio minha aposentadoria é uma mixaria. Era pra eu ta ganhando dois mil reais, não to ganhando dois salários mínimos,... mas trabaio... afirma chama eu vou trabaiar." (Francisco)

" Colocaram um dinheiro na minha conta, 3.360 reais... vou pegar esse dinheiro e vou comer o que minha filha, pra pagar esse dinheiro de empréstimo, pra pagar como minha filha?... só se eu der minha casa pra eles, única coisa de valor que eu tenho é minha casa... já fui no PROCON, mandaram eu vir aqui, ai eu vim aqui, e o pior é que eu não tenho nem quem me ajuda que
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meus filhos não pode porque tem suas mulher, tem seus filhos,e ainda tenho uma filha que depende de mim com dois filhos... os dois filhos tudo depende de mim." (Ana)

A partir dos dados obtidos na pesquisa feita na delegacia (DEATI) e com a revisão literária, constata-se que na atualidade a violência contra o idoso é uma questão ainda a ser discutida, principalmente pelos governos, pois futuramente a população de idosos brasileiros será mais de 30 milhões, se tronando assim, um país dos idosos. É preciso educar a população, os velhos têm muito a nos ensinar, devem ser vistos como fontes de sabedoria.


CONSIDERAÇÔES FINAIS


A violência contra o idoso é um tipo de violência democrática, que atinge todos os níveis socioeconômicos. Os velhos são vítimas de vários tipos de violência, dentre elas a física e a emocional, o abandono, omissão de socorro, maus tratos, cárcere privado e seqüestro, extorsão ameaça, etc. Um dos motivos que ajuda na continuidade da violência contra o idoso é o constrangimento de mesmo em fazer a denuncia, o idoso sente-se culpado em denunciar quando o agressor é alguém próximo: seus familiares, vizinhos, amigos.

A sociedade contemporânea estimula o individuo a usar estratégias de combate a decadência, eliminar o que é velho, o decadente. Essa decadência é atribuída ao idoso devido a sua dificuldade cognitiva, e de controles físicos e emocionais. Isso implica cuidados especiais, pois os velhos já não têm mais autonomia de antes, mas nem sempre a família está disponível a dispor destes cuidados. É neste ambiente que a violência contra o idoso acontece.

Não só a família, mas a sociedade brasileira precisa se conscientizar quanto ao envelhecimento da população, aprendendo a respeitar os idosos. Pois como já citado na
pesquisa, os idoso tende a serem uma população grandiosa até os anos de 2020, sexta posição do ranking mundial.
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A população brasileira pelo que se percebe não está preparada para conviver com este grande número de idosos. Também apesar de termos um índice de longevidade maior, é notável que a qualidade de vida da terceira idade ainda se revela muito precária. O idoso sofre as conseqüências das suas dificuldades físicas e cognitivas, prova disso é a violência sofrida dentro de seus lares, segundo a delegacia titular da Delegacia Especial de Proteção ao Idoso, 70% da violência contra o idoso é doméstica.

Enfim, a tendência é que a população de idoso no Brasil seja cada vez maior, então é fundamental que a população e as políticas públicas se conscientizem para que haja uma melhora na vida desses idosos.


BIBLIOGRAFIA


DEBERT, G.G. A reinvenção da velhice: Socialização e processos de reprivatizarão do envelhecimento. São Paulo: EDUSP, 1999.


BERNADO, Kátia Jane Chaves. A conspiração do silêncio e a invisibilidade da violência contra o idoso. Palestra proferida na XIII CONGRESSO BRASILEIRO DE SOCIOLOGIA. Grupo de Trabalho "Gerações ? entre Solidariedades e Conflitos". 29 de maio de 2007, UFPE, Recife (PE).


BARONI, G. C. Violência contra o idoso: Associação nacional denuncia casos no Brasil, Diário da Borborema, Ministério Público Federal, Procuradoria federal dos direitos do cidadão, 22 setembro de 2007. Disponível em: http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/setembro/violencia-contra-idoso-assocoaçao-nacional-denuncia-casos-no-brasil/. Acessado em 24 maio de 2008, 15h49min: 48.


SANCHES, A.P. Violência acomete mais idosos com problemas de memórias ou dificuldades nas tarefas cotidianas, Jornal Saúde, Fonte: Agência, USP, 29 de dezembro de 2006. Disponível em: http://www.saudeemmovimento.com.br/reportagem/noticia_exibe.asp?cod_noticia=2267. Acesso em: 26 de maio de 2008, 13h53min: 15.


FERNANDES, M. G. M. & ASSIS, J. F. Maus-tratos contra o idoso: Definições e estratégias para identificar e cuidar, 1999. Gerontologia 7 (3), 144-149.



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FONSECA, M. M. & GONÇALVES, H. S. Violência contra o idoso: Suportes Legais para a intervenção, Universidade Federal do Rio de Janeiro, jul./dez. 2003, Interação em Psicologia, 2003, 7(2), p. 121-128.



Autor: Clísia Pereira De Souza


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