Variedades Lingüísticas: Uma Questão de Preconceito ou Intolerância?



VARIEDADES LINGUÍSTICAS: UMA QUESTÃO DE PRECONCEITO OU INTOLERÂNCIA?
CLAUDIANE SANTANA DA SILVA
PAMELLA CAMILA PICANÇO
RESUMO
A língua é algo fantástico, é através dela que o homem pode se comunicar e se expressar, ela que acompanha o homem desde seu nascimento, pode parecer algo simples de ser explicado, mas, pelo contrário, por trás da língua há uma série de fatores que a faz serem algo muito complexo. Neste artigo, expõem-se duas das facetas desta complexidade, o preconceito e a intolerância lingüística. Em decorrência de uma série de fatores, a língua é moldada por cada indivíduo, formando assim maneiras peculiares de se falar. Mas o grande ponto em questão é que muitos não aceitam esta variação e acaba disseminando o preconceito e a intolerância lingüística, o que é muito preocupante, pois, muitos nem percebem a sua existência.
Palavras-chave: Lingüística. Origem. Preconceito. Intolerância.
RÉSUMÉ
La langue est une chose fantastique, c?est travers de la langue qui l?homme peux on communiquer et s?exprimer, elle qui accompagne l?homme dès son naissance, peux ressembler une chose facile de s?expliquer, mais non, derriére la langue existe une série de facteurs qui la font être complexe. C?est article, fait une exposition du deux faces, le préjugé et la intolérance de la langage. En decorrence de plusieurs facteurs, la langue est compose par chaque individu, donc existe plusieurs manières de parler. Mais, le grand point en question c?est qui beaucoup ne acceptent pas cette variation et ils éparpillent le préjugé et la intolérance de la langage, c?est une souci trés important parce que beaucoups des personnes ne savent pas sa existence.
Mots- cles: La langage. Origine. Le préjugé, La intolérance.
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Acadêmicas do Curso de Licenciatura Plena em Língua Portuguesa, pela Universidade Vale do Acaraú, sob orientação da Profa. Dra. Rosângela Lemos da Silva.
1 INTRODUÇÃO
Este artigo tem como função desenvolver um estudo detalhado sobre o preconceito e a intolerância lingüística. Faremos um apanhado geral no estudo da lingüística, abordando seu contexto histórico e o seu conceito. A problemática que discutiremos neste presente artigo é norteada pela questão de ser preconceito ou intolerância lingüística o que nos deparamos constantemente em nossa sociedade, que através de muitas pesquisas e leituras sobre o contexto do mesmo, construímos o presente artigo.
Optamos por escrever sobre esse tema, porque temos interesse em aprofundar nossos conhecimentos em relação a esse assunto, visto que hoje, temos constantemente contato com a questão do preconceito e da intolerância na linguagem. Embora muitas vezes não considerada pela sociedade, a intolerância lingüística também é um fator de preconceito e exclusão social, isso foi o que nos impulsionou a construir esse trabalho, já que pouco é visto se falar sobre esse tema, e através disto tentar detalhar e conhecer o que é e como é visto este processo. Este estudo contribui para sabermos identificar, e não realizar nenhum tipo de preconceito e muito menos sermos intolerantes com a linguagem de um povo, sabendo disseminar as culturas, e as origens do mesmo. Assim nos tornamos mais conhecedores de um assunto de suma importância para nós, por sermos acadêmicos de Letras, a lingüística, sendo que é um assunto de abrangência extensa, sabemos que muito ainda há de ser investigado.
Sendo visível que o preconceito e a falta de intolerância com a diversidade racial, religiosa e lingüística é uma matriz que causa constantes guerras e conflitos entre povos, aos quais temos assistido com freqüência. Acredita-se que o preconceito com as diversas culturas, a intolerância com o diferente e a idéia de que algumas civilizações são mais desenvolvidas e evoluídas que outras juntamente com a necessidade de algumas nações de defender seus interesses financeiros e de mostrar ao mundo seu poderio econômico e político é basicamente a grande causa dos conflitos modernos. A idéia de superioridade cultural de um povo em relação a outro é antiga, quando um povo entra em contato com outro, ou se identifica com a cultura do outro, assimilando parte dela para si ou não aceita, menosprezando-a e se colocando como superior ao outro, ao diferente.
Com o advento da antropologia (aceitação e estudo de diferentes culturas), e do desenvolvimento de leis de preservação dos direitos humanos, o preconceito e a intolerância lingüística a diferentes civilizações passaram a ser repudiados, no entanto, não deixaram de ser praticados nas mais diferentes formas em nosso dia-a-dia. Sabe-se, no entanto, que a única forma de se combater o preconceito e sua conseqüência, a intolerância, é o estudo desses temas. Traremos também o conceito de preconceito e intolerância, até chegarmos na problemática do nosso tema que é falar se é preconceito ou intolerância o que temos na linguagem, que através de pesquisas embasadas em teorias de vários autores, concretizamos este artigo.
2 A ORIGEM DA LINGUÍSTICA
Os seres humanos se comunicam provavelmente desde que nós existimos, mas apenas há 3.000 anos atrás que alguém ficou curioso sobre a língua e começou a examiná-la. A vida humana em sociedade não teria sido possível sem sistemas de signos que permitissem a comunicação, a ciência lingüística começou a se desenvolver quando os homens começaram a fazer perguntas sobre a linguagem que embasava sua civilização. Antes do século XIX, quando a lingüística ainda não havia adquirido caráter científico, os estudos nessa área eram dominados por considerações empíricas sobre a própria condição da linguagem, que proliferaram em vários glossários e gramáticos com o objetivo de explicar e conservar as formas lingüísticas conhecidas. No século V a.c surgiu na Índia a primeira gramática, cujo objetivo era a preservação das antigas escrituras sagradas, na Grécia Antiga, as questões propostas em torno da naturalidade e arbitrariedade da linguagem, ou seja, o que existe nela "por natureza" ou "por convenção", deram origem a duas escolas opostas, os Analogistas e os Anomalistas.
(...) Os Analogistas sustentavam a regularidade básica da linguagem, devido à convenção, e os Anomalistas consideravam que a linguagem era irregular, por refletir a própria regularidade da natureza. (LEITE, 2003, p.43).
As pesquisas a respeito dessas questões que os gramáticos romanos se encarregariam, mais tarde, de continuar e transmitir impulsionou o pregresso da gramática no Ocidente. O conceito da linguagem como espelho em que se refletia a verdadeira imagem da realidade, levou as gramáticas especulativas medievais a destacarem o aspecto semântico, relativo ao significado da língua. De acordo com Marli Quadro (LEITE, 2003, p.47):
A partir do século XV, a tradição gramatical greco-romano, que até então imperava, perdeu importância à medida que avançava o estudo das línguas vernáculas e exóticas, e a gramática geral redigida por estudiosos franceses no século XVII, preparou a abordagem histórica da língua que caracterizou os estudos lingüísticos do século XVIII e abriu caminho ao comparativismo do século seguinte (...).
Costuma-se dividir a ciência que hoje chamamos de lingüística em duas grandes fases ou períodos, a lingüística até o século XIX, chamada de pré-saussuriana, onde podemos destacar três fases marcantes: a Filosófica, esta fase pertenceu aos gregos, que foram os percussores dos estudos em torno da origem da linguagem, adentrando na área da Etimologia, da Semântica, da Retórica, da Morfologia, da Fonologia, da Filologia e da Sintaxe. A Filológica, segunda fase, surgiu na Alexandria, em torno do século II a.c, levantando a bandeira da autonomia, defendendo uma descrição mais filológica e menos filosófica da língua. A terceira fase é a Histórico - comparativista, final do século XVIII e início do século XIX, período predominantemente marcado pela preocupação dos teóricos em saberem como as línguas evoluem, e não tão somente como funcionam, conforme tinha sido o enfoque até então. E o segundo momento, a partir do século XIX, chamada Saussuriana, onde se estabeleceu uma espécie de ordem lingüística, que se consubstanciou na realidade de um ser pensante, o usuário da língua, através da estruturação, da chamada semiótica, Saussure, no final do século XIX, etapa a etapa, desdobrou finalmente os passos da lucidez lingüística, fazendo ver à relação entre significado e significante e a noção de um sistema que está longe de ficar limitado a linguagem verbal, atingindo também outros e infinitos sistemas sígnicos.
3 O QUE VEM A SER LINGUÍSTICA?
Se pararmos e olharmos a nossa volta, poderemos verificar como a linguagem, em todas as suas manifestações, faz parte do nosso cotidiano. Temos em nossa volta os processos de comunicação que utilizam diferentes sistemas de sinais (códigos) todos combinados de maneira a tentar nos dizer alguma coisa. Chamamos de linguagem cada um desses sistemas de sinais devidamente organizados e convencionados que permitem a composição dos textos, ao quais, por sua vez, possibilitam uma leitura, constituindo um processo de comunicação.
Dessa maneira dizemos que Lingüística é a ciência que estuda a linguagem verbal humana, ela dedica-se a contar minuciosamente e a dar explicações sobre os fenômenos da língua, e não a criar instruções sobre como se deve falar. Ela ganhou um estímulo cada vez crescente nos últimos anos, estimulando o interesse não só dos cientistas, mas do público em geral, isso por sua ligação com outras ciências que tentam explicar o comportamento e a evolução do ser humano. A lingüística é de suma importância, visto que é estudada desde a invenção da escrita, de grande necessidade e importância, pois sem ela, não somos capazes de pensar, pois todo o nosso trabalho estrutura-se na forma de algum tipo de linguagem, sendo ela verbal, visual, gestual, essenciais para a compreensão da comunicação na sociedade. De acordo com Luiz Carlos (CAGLIARI, 2001, p.42):
Lingüística é o estudo científico da linguagem, está voltada para a explicação de como a linguagem humana funciona e de como são as línguas em particular, quer fazendo o trabalho descritivo previsto pelas teorias quer usando os conhecimentos adquiridos para beneficiar outras ciências e artes que usam de algum modo, a linguagem falada ou escrita (...).
Como podemos perceber nesta citação, o lingüista também pode se preocupar com o ensino do Português, sendo que vá, paralelamente ao interesse que ele tenha em descrever a língua portuguesa para fins lingüísticos.
Tecendo um comentário sobre os estudos lingüísticos, percebemos que o mesmo abrange diferentes áreas de interesse, a depender da observação da linguagem. A lingüística não se limita ao estudo de uma língua específica, nem ao estudo de uma família de línguas, a lingüística é o estudo científico da língua como fenômeno natural. É claro que quanto mais avançamos nossos conhecimentos sobre as mais variadas línguas naturais, mais bem formamos um entendimento do que é a língua como um todo. Como tudo o que se refere ao homem, a língua envolve vários aspectos, em razão disso, a lingüística faz relação com várias ciências.
A lingüística é de fato, uma ciência, pois a mesma traz um objeto de estudo de forma bem definida, a linguagem verbal humana, e joga sobre este objeto o modo de proceder, próprios de análise definidos bem claramente, buscando não só descrever, mas explicar de maneira científica os fenômenos recorrentes da linguagem.
(...) A linguagem é uma ciência recente, inaugurou-se no começo do século XX. A lingüística definiu-se, com bastante sucesso entre Ciências Humanas, como o estudo científico que visa descrever ou explicar a linguagem verbal humana. (ORLANDI, 1995, P.09).
Mesmo a lingüística dos tempos de hoje, tendo acumulado um respeitável saber sobre o prodígio lingüístico, mais do que em tempos passados, é trivial as pessoas não saberem distinguir gramática normativa, da lingüística. Como ciência, é dever da lingüística explicar de que maneira funciona a linguagem humana e expor como cada língua do mundo se compõe.
4 O QUE É PRECONCEITO LINGUÍSTICO?
Parece haver cada vez mais nos dias de hoje, uma forte tendência a lutar contra as mais variadas formas de preconceito, a mostrar que eles não têm nenhum fundamental racional, nenhuma justificativa, e que é apenas o resultado da ignorância, da intolerância ou da manipulação ideológica. Porém, infelizmente, essa tendência não tem atingido um tipo de preconceito bastante comum na sociedade brasileira, o preconceito lingüístico, muito pelo contrário, o que vemos é esse preconceito ser alimentado diariamente em programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em livros e manuais que pretendem ensinar o que é "certo" e o que é "errado", sem falar é claro, nos instrumentos tradicionais de ensino da língua: a gramática normativa e os livros didáticos.
(...) Do ponto de vista filosófico, o preconceito é um fenômeno que se verifica quando um sujeito discrimina ou exclui outro, a partir de concepções equivocadas, oriundas de hábitos, costumes, sentimentos ou impressões. (AZEREDO, 2004, p.23).
Preconceito é, em grande parte, pré-conceito. Ou seja, formamos uma noção que não poderia ser chamada de conceito porque é o nosso entendimento apressado e falho de uma pessoa, situação, entidade etc. Devemos entender que as variações lingüísticas existem, para aprendermos a respeitar as diversas formas de linguagens, e que o problema social, econômico e cultural influencia muito nessa questão. Moramos no Brasil, somos brasileiros, e a língua portuguesa tem uma regra gramatical, mas isso não significa que falamos todos da mesma forma e que todos usamos a norma culta. Um exemplo simples disso, é o fato de aprendermos na escola ainda, que existe linguagem culta e coloquial, e quando estamos em ambiente descontraído, à vontade, usamos a linguagem coloquial muitas vezes, e quando se faz necessário, como por exemplo, em uma redação, uma entrevista de emprego, e em outras situações, a linguagem culta se faz necessária, portanto, o mesmo acontece com o problema das variações lingüísticas, devemos tomar conhecimento que elas existem, e que não existe certo ou errado, mas não é por esse motivo que devemos deixar de aprender a norma culta da língua portuguesa, é necessário aprendermos sim, e cabe a nós aprendermos a respeitar o modo de falar das pessoas, e antes de sorrimos ou criticarmos alguém, é bom que façamos uma análise e tenhamos em mente que nem todas as pessoas têm a mesma formação social, econômica e cultural, apenas isso basta para compreendermos o motivo pelo qual, faz com que as pessoas falem de tal forma. Alguns estudiosos parecem ignorar essa realidade e continuam a propagar suas concepções de unidade da língua portuguesa, não percebendo todo um conjunto de fatores que interferem na forma de falar de cada indivíduo desde o nascimento. Se a ciência comprova que cada ser humano tem seu timbre de voz único, por que o mesmo não pode acontecer com a fala? Ninguém fala da mesma forma que o outro, cada um tem uma particularidade, e é isso que torna a língua algo tão complexo e belo.
(...) Assim, a linguagem nativa da criança de um nível sócio-cultural-econômico mais baixo é aquela tida como (errada) pelos tradicionais defensores da (língua pátria) ou do vernáculo escorreito, castiço, que desejariam que falássemos o português lusitano, de preferência o antigo. (CAGLIARI, 2001, P.55).
Não há esse apego somente com o português falado em Portugal, os falantes da língua-padrão não se contentam somente com este arcaísmo, eles também se prendem ao latim. Não há como negar a importância dessa língua para a história, foi a partir dela que se originou o latim vulgar, aquele mais popularizado, e deste as línguas românicas ou neolatinas foram aparecendo, dentre elas a língua portuguesa. O latim deixou uma importante herança, deixando marcas na história, mas na atualidade ele está ultrapassado. Um grande exemplo de apego ao latim é a famosa conjugação dos verbos, visto que são utilizadas seis formas diferentes, uma para cada pessoa. De certo possui uma boa estética, mas do ponto de vista prático está fora da realidade. Onde se escuta: vós comprais o livro? . Muito provavelmente tal expressão não deve ser mais falada nem mesmo nas camadas mais abastadas da sociedade. O português não-padrão é mais funcional, não se preocupa com essas formas arcaicas e dificultosas, seu objetivo é conseguir transmitir uma informação. Cada um é livre para escolher a forma com a qual quer se comunicar, o problema está no fato de que as variedades lingüísticas não são respeitadas e ainda são estigmatizadas como erradas, criando, assim, o preconceito lingüístico. Nesse sentido Luíz Carlos (CAGLIARI, 2001, p.75).
O intuito é sempre querer se destacar dos demais; desde a época dos gregos havia essa separação. Os povos que não falavam o grego eram chamados de bárbaros, quer dizer: sem civilização, rude. Essa assertiva se aplica na nossa realidade: as pessoas que não falam o português padrão são chamadas de caipiras, sem escolaridade, inferiores, como uma forma de ridicularizar aqueles que não seguem a norma culta.
O preconceito lingüístico é muito preocupante, pois é sutil; a maioria das pessoas nem percebem que estão cometendo um ato discriminatório; desta forma, fica mais difícil combatê-lo. Para deixar de ser praticante dessa modalidade de preconceito, deve-se conhecer o processo como um todo, analisando ambas as opiniões e assim produzir uma revolução de consciência, ou seja, uma mudança de percepção.
5 A INTOLERÂNCIA LINGUÍSTA
Pensamos muitas vezes que intolerância e preconceito são a mesma coisa, ou seja, sinônimos, mas neste capítulo descobriremos que não, que na verdade o preconceito leva à intolerância.
A Língua Portuguesa durante toda a sua trajetória passou e continua passando por várias fases, sofrendo mudanças e conseqüentemente torna-se mais freqüente o uso de variedades lingüística, sendo considerada pela gramática tradicional uma forma errada de falar o português, com isso surge à intolerância de muitos em relação aos demais. Contudo não se pode não se pode julgar como uma maneira incorreta, mas sim como uma forma diferenciada de transmitir uma mesma linguagem, onde a utilização desse tipo de comunicação não causará ao entendimento sobre a fala.
Por a intolerância se caracterizar como um sistema daqueles que não admitem opiniões divergentes das suas, em questões sociais, políticas ou religiosas, ela tende a gerar um julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste, uma idéia preconcebida, conformando o fenômeno como preconceito. (RODRIGUES, 2002, p.58).
Diante desta citação percebemos que a intolerância se manifesta porque alguns indivíduos acreditam num único ponto de vista e antipatizam-se com o ponto de vista do outro. Os intolerantes por odiarem de forma organizada e convicta aqueles que têm convicções contrárias ás deles, passam a criticar autoritariamente os outros. Aquele que pratica a intolerância lingüística acredita que a verdadeira língua, a língua "politicamente correta", é a que segue as regras constantes da gramática tradicional.
O intolerante cria formas de intolerância porque baseia seu julgamento apenas em uma das possibilidades de realização da língua, a culta, se esquecendo que ao lado dessa existem outras realizações, isso o leva a julgar que os falantes, por não seguirem os preceitos da norma prescrita, não sabem usar bem a língua, ou porque não são escolarizados, ou porque são pobres. Juntamente com a intolerância lingüística vem a discriminação social, pois só por achar que saber falar melhor que o outro em questão, está mais favorecido, em termos de linguagem e da gramática, por este lado está mesmo, no entanto não é correto se favorecer disto para causar o preconceito e ser intolerante com a pessoa em questão. Num sentido lingüístico, a intolerância lingüística é a ausência de disposição para aceitar a diversidade lingüística da nossa sociedade.
A intolerância lingüística revela o comportamento de um falante diante da linguagem do outro e, é um fato de atitude lingüística. De acordo com Paulo Sérgio (ROUANET, 2003, P.15):
A intolerância pode ser definida como uma atitude de ódio sistemático e de agressividade irracional com relação a indivíduos e grupos específicos, à sua maneira de ser, ao seu estilo de vida e as suas crenças e convicções (...).
Diante desta citação podemos dizer que a intolerância é ruidosa, explícita, porque necessariamente, se manifesta por um discurso metalingüístico. A pessoa intolerante manifesta a sua recusa de determinadas situações causando o constrangimento no outro. É de suma importância o estuda da intolerância lingüística, na medida em que, como as outras formas de intolerância existentes, ela também ferir o indivíduo, diante disto, a intolerância revela-se, sem dúvida, um tema importantíssimo que suscita inclusive novas pesquisas.
A creditamos que a intolerância lingüística está fortemente relacionada ao preconceito lingüístico, visto que o preconceito leva a intolerância, já que como conceito do mesmo dizemos que é uma idéia preconcebida que poderá confirma-se ou não, é um descontentamento em relação à linguagem do outro que poderá ser superado, já a intolerância lingüística ao contrário é uma manifestação mais dura, realizada por meio de discurso normalmente direcionado às variantes lingüísticas de menor prestígio, ou a uma outra língua.
Deste modo percebemos que a intolerância lingüística é um problema de proporção maior e que mesmo assim não se trabalha em cima desta problemática, pouco se é visto falar, talvez, as pessoas que cometem este ato, nem saibam que estão praticando a intolerância, em razão disto que é importantíssimo cada um obter o respectivo conhecimento sobre este assunto.
6 A DISTINÇÃO ENTRE PRECONCEITO E INTOLERÂNCIA LINGUÍSTICA
Em um primeiro momento, pode-se pensar simplesmente que as palavras preconceito e intolerância têm o mesmo significado, mas em um exame um pouco mais detalhado, percebe-se que o preconceito é a idéia, a opinião ou sentimento que pode conduzir o indivíduo à intolerância, à atitude de não aceitar opinião contrária e, por isso a atitude de reagir com violência ou agressividade a certas situações.
Podemos perceber aí a primeira diferença, o traço semântico mais forte registrado no sentido da intolerância, é o de ser um comportamento, uma reação clara a uma idéia ou opinião contrária, um preconceito ao contrário, pode existir sem jamais se revelar, portanto existe antes da crítica. Voltaire no Dicionário Filosófico delineia certa diferencia entre os termos, pois ao definir preconceito, diz: "o preconceito é uma opinião sem julgamento" e, ainda, até afirma a existência de "preconceitos universais, necessários, que representam a própria virtude", dentre os quais cita a crença em um "Deus remunerador e vingador". Com isso pode-se concluir, que o filósofo admitia o bom ou o mau preconceito, no Dicionário Filosófico não há a palavra intolerância, mas se pode chegar a esse conceito pelo de tolerância, definida como "apanágio da humanidade", isto é, um privilégio, uma vantagem, uma regalia, fato este, que sabemos não ser próprios de todos os seres humanos, em todas as circunstâncias de suas vidas.
(...) A ausência da tolerância, é a dificuldade de o ser humano aceitar bipolaridades, especificamente as religiosas, o que pode levar o homem a um comportamento agressivo, à perseguição do adversário. (CHOMSKY, 2003, p.94).
Ultrapassando séculos, do XVIII ao XX, verifiquemos as idéias de Norberto Bobbio, filósofo italiano, falecido recentemente em 2004, ao tratar as "razões da tolerância", Bobbio examinou dois dos principais significados que a palavra tolerância tem, para, a partir disso, formular os conceitos de preconceito e intolerância. Como referenda Norberto (BOBBIO, 1992, p.203):
O termo intolerância em seu sentido mais comum pode ser empregado em referência à aceitação da diversidade das crenças e opiniões, principalmente religiosas e políticas. A intolerância, pois, refere-se à incapacidade de o indivíduo conviver com a diversidade de conceitos, crenças e opiniões.
A princípio o termo intolerância era usado ao se tratar apenas de aceitação ou não da religião ou postura política de minorias, hoje o termo foi generalizado e também utilizado ao se referir à intolerância direcionada a qualquer tipo de minoria (étnica, lingüística, etc.). Conforme ROUANET (2003, p.12) afirma:
(...) Muito sumariamente, a intolerância pode ser definida como uma atitude de ódio sistemático e de agressividade irracional com relação a indivíduos e grupos específicos, à sua maneira de ser, a seu estilo de vida e suas crenças e convicções, essa atitude genérica se atualiza em manifestações múltiplas, de caráter religioso, nacional, racial, étnico e outros.
Dentro desses "outros" situamos a intolerância lingüística, o que é essencial disso é que a intolerância gera discursos sobre a verdade e, também, sobre a compatibilidade ou incompatibilidade teórica ou prática de duas verdades que se contrapõem.
Enquanto o preconceito, embora tenha em comum o significado de tolerância a não aceitação da deferência do outro, o que também se manifesta comportamentalmente, não leva o sujeito a construção de um discurso acusatório sobre a diferencia, porque o preconceito pode construir-se sobre o que nem foi pensado, mas apenas assimilado culturalmente ou plasmado em irracionalidades, emoções e sentimentos, o preconceito, portanto, não tem origem na crítica, mas na tradição, no costume ou na autoridade. Segundo (BOBBIO, 1992, p.207): (...) Pode o preconceito redundar em uma discriminação, mas se manifesta discursivamente sobre argumentos que visam a sustentar "verdades".
Apesar de as duas concepções examinadas serem diferentes, pode-se extrair de ambas a mesma lição, de que o preconceito não surge exclusivamente de uma dicotomia, pode ser uma rejeição, um "não gostar" sem razão e, pode até mesmo não se manifestar, a intolerância, por sua vez, nasce necessariamente de julgamentos, de contrários, e se manifesta discursivamente, é resultado da crítica e do julgamento de idéias, valores, opiniões e práticas. O preconceito tem origem na não aceitação de diferencias, os fatores externos são relacionados ao estado social dos indivíduos, às classes, que modernamente dividem o homem em grupos, e, "quase" como os austrapolitecos, uns não aceitam os outros, em razão de suas diferenças.
Entre estes, há fatores sociais, que incluem, do ponto de vista das classes baixas, a miséria, o desemprego, a ignorância, a perda da identidade resultante da migração das áreas rurais para a cidade, do ponto de vista das classes médias, a insegurança econômica, o medo de pauperização do "déclassement", e, do ponto de vista da sociedade como um todo, o bombardeio ideológico da indústria cultural e a erosão dos valores tradicionais em conseqüência do processo de globalização. Assim além das causas gerais de intolerância há causas diferenciadas por classes sociais. (ROUANET, 2003, p.11).
As diferenças lingüísticas relacionadas a esses fatores unem os homens de mesmo extrato social e separam os diferentes, a linguagem é importante fator de identidade e de segregação, porque denuncia diferenças desde que o homem começou a falar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo nos forneceu uma visão mais ampla sobre a lingüística, principalmente sobre o preconceito e a intolerância na linguagem. Antes de realizarmos este artigo tínhamos uma visão que a nossa forma de falar era correta, sendo que muitas vezes, corrigíamos as pessoas e de forma crítica, às vezes até pejorativamente sorríamos da forma de expressão de algumas pessoas.
Percebemos que somos privilegiados em termos uma língua que atende a todos em seu contexto, e que diferente ou não, o nosso português é único e é o português do Brasil, com suas diferentes etnias.
Este artigo nos proporcionou a perceber que existem muitas lacunas a serem preenchidas, quando se fala em preconceito e intolerância lingüística, e que é necessário que mais trabalhos sejam elaborados, e que mais exploradas sejam essas questões da linguagem. Acreditamos que quanto mais forem feitas discussões e exploradas forem estas questões, menos nos depararemos com essas situações, e respeitaremos a cultura e o contexto que cada um está inserido.
Com o desenvolvimento deste artigo, percebemos que não existe uma língua, mas sim a língua em constantes transformações, é notável também que nas escolas é onde mais acontece o preconceito e a intolerância lingüística, portanto é preciso que nas escolas se adotem novos usos lingüísticos utilizados pela literatura, para informar com exatidão seus alunos sobre esta forma clara e prática da realidade da linguagem, abordando também os temas como variantes lingüísticas e fenômenos da língua no ensino do português.
Assim além de orientar como o educando deve utilizar o português padrão, a escola estará também dando a oportunidade do reconhecimento social a ao mesmo tempo o estreitamento dessas duas formas especiais de falar o português, evitando de certa forma o preconceito lingüístico existente não só nas escolas, mas também em qualquer lugar onde exista um falante do português não padrão.
REFERÊNCIAS
LEITE, Marli Quadros. O mundo da linguagem. 2. Ed. São Paulo: Brasiliense, 2003.
AZEREDO, José Carlos. O desafio da linguagem. 1. Ed. Rio de Janeiro: Novas perspectivas, 2004.
CHOMSKY, Avram Noam. O mistério da comunicação. 1. Ed. São Paulo: Educar, 2003.
BOBBIO, Norberto. Razões da tolerância. 2. ed. São Paulo: Rompendo a cultura do Português, 2003.
ROUANET, Paulo Sérgio. Os erros da diferença. Caderno Mais. São Paulo: Jornal folha de São Paulo.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e lingüística. 10. ed. São Paulo: Sapione, 2001.,33

Autor: Claudiane Santana Da Silva


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