UMA BREVE ANÁLISE SOBRE O LIVRO "POR UMA VIDA MELHOR" DE HELOISA RAMOS



Este texto tem o objetivo de analisar o capítulo I do livro "Por uma vida melhor de Heloisa Ramos" no qual traz o título "Escrever é diferente de falar". O livro em questão foi distribuído pelo ministério da educação para os alunos de educação de jovens e adultos do EJA.
O livro didático distribuído pelo governo federal causou uma discussão entre os lingüistas, a mídia, estudantes e demais profissionais da educação, essa discussão foi provocada pelo que eu acredito serem interpretações equivocadas, quando a mídia diz que o livro defende os erros de português. Para quem teve acesso ao material, observou que o capítulo em questão trata dos diferentes modos que a língua é usada, não defendia os erros de português, mas mostrava que falar é diferente de escrever. Quando a autora aborda o tema "Escrever é diferente de falar" ressalta as variedades da língua e como usuários de língua portuguesa entendemos que as variações lingüísticas são fatos presentes na língua.
Por tanto não entender essas variantes é não entender o que as línguas são, é acreditar no mito da unidade lingüística. No momento em que se estabelece uma norma-padrão, ela ganha tanta importância e tanto prestígio social que todas as demais variedades são consideradas "impróprias", "inadequadas", "feias", "erradas"... E esta norma-padrão passa a ser designada com o nome da língua, como se ela fosse a única representante legítima e legal dos falantes desta língua. As variedades de uma língua têm recursos lingüísticos suficientes para desempenhar sua função de veículo de comunicação, de expressão e de interação entre seres humanos.
O livro de Heloisa Ramos mostra de forma simples que o ensino da língua portuguesa deve passar pelo ensino da norma-padrão, para que assim os sujeitos tenham uma oportunidade de conceber gêneros que obedecem a essas normas e assim cria uma possibilidade de democratização, a autora não designa um ensino pautado unicamente na norma não-padrão, mas entende que essa não pode ser desrespeitada, até por que se desvalorizássemos essa modalidade da língua estaríamos desrespeitando a identidade dos usuários dessa modalidade e a escola é o lugar em que a diversidade deve ser vista como um fato. Como diz Sírio Possenti as chamadas normas padrão e não-padrão da língua não é algo que devemos indicar como certo ou errado, mas como um fato que temos que explicar. Mas em meio a essa discussão tem algo que me chama a atenção no capítulo do livro quando a autora diz que a língua é um instrumento de poder. Então me questiono: se a língua é realmente um instrumento de poder ou é a apropriação da língua que é um instrumento de poder?
Desse modo o livro ressalta a importância da relação entre a norma padrão e a não - padrão da língua, observação que deve ser analisada pelos profissionais da educação e por aqueles que tentam se inteirar sobre o assunto, para que assim casos de leituras equivocadas não tragam a tona uma discussão grosseira sobre determinados assuntos. Logo, o livro não agride a idéia de como deve ser realizado o ensino de língua portuguesa e sim traz questões cabíveis ao ensino da língua. Por tanto compreendemos que a autora defende a linguística como uma ciência que não estuda idioma nem gramática nenhuma, a linguística estuda a fala, explica fatos naturais de articulação, de formas de expressão oral do ser humano.


REFERÊNCIA

Ramos, Heloisa. Por uma vida melhor. Coleção viver e aprender. Ed Global. 2011.
Marcos, Bagno A norma oculta: língua & poder na sociedade brasileira, São Paulo: Parábola Editorial, 2003.
Bagno, Marcos. Preconceito lingüístico. Ed. Loyola. 49ª edição. 2007.
Bagno, Marcos. A língua de Eulália. Ed. Contexto. 15 edição. São Paulo 2006.
Possenti, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas Mercado de letras. Associação de leituras do Brasil. 1996


Autor: Jacqueline Silva Reis


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