SUSTENTABILIDADE: PASSIVO AMBIENTAL E RECICLAGEM DE PNEUS



SUSTENTABILIDADE: PASSIVO AMBIENTAL E RECICLAGEM DE PNEUS

Marinice Moras


RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apresentar dados sobre o problema gerado com o descarte de pneus no meio ambiente, responsável pela geração de um grande passivo ambiental, bem como apresentar medidas de mitigação e controle desse passivo. São apresentados dados sobre a produção de pneus no Brasil, sua destinação final e alternativas para reaproveitamento. Os resultados encontrados indicam que a produção de pneus produzidos pelas nove empresas associadas à Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) no Brasil é da ordem de 238 074 milhões de unidades no período de 2007 a 2010. No período de 1999 a 2010, cerca de 310 milhões de pneus de passeio foi coletada e destinada adequadamente ou reaproveitada, conforme dados da Reciclanip que possui 620 pontos de coleta em todo o Brasil. Uma evidência dessa situação é ao caso do Município de Bento Gonçalves que destina adequadamente uma pequena parte dos pneus descartados. A solução para esse problema, está em divulgar nos meios de comunicação locais, palestras e folders, os perigos que os pneus descartados inadequadamente causam e ao mesmo tempo informar que a cidade possui um ponto de coleta da Reciclanip, empresa que faz a coleta e destina adequadamente e de forma gratuita os pneus inservíveis.


Palavras-chave: Passivo ambiental; Reciclagem; Pneus; Sustentabilidade.

ABSTRACT

This paper aims to present data on the problem created with the disposal of tires in the environment, the generation of a large environmental liabilities and provide mitigation measures and control of that liability. Data on the production of tires in Brazil, its final destination and alternatives for reuse. The results indicate that the production of tires produced by nine companies associated with the National Association of Industrial Tyres (ANIP) in Brazil is about 238,074 million units during the period 2007 to 2010. In the period 1999 to 2010, about 310 million tires ride was collected and reused or properly designed, according to data from Reciclanip which has 620 collection points throughout Brazil. One evidence of this situation is the case in the city of Bento Gonçalves that properly designed a small proportion of discarded tires. The solution to this problem is to disseminate in local media, lectures is folders dangers that cause improperly discarded tires, while informing that the city has a collection point of Reciclanip, company that aims to collect and properly and the scrap tires free of charge.

Key-words: Passive environment, recycling, tire, sustainability




INTRODUÇÃO

Sessenta e três anos separam o início de produção de pneus no Brasil da primeira resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (a Resolução 258/99 de CONAMA) sobre o destino dos pneus descartados (ou inservíveis). Nesse longo período sem legislação a respeito, segundo estimativas conservadoras da Associação Nacional da Indústria Pneumática (ANIP 2006), o País acumulou mais de 100 milhões de pneus descartados espalhados por aterros, terrenos baldios, rios, lagos e quintais de residências.
O descarte de forma inadequada dos pneus inservíveis pelos usuários, acontece na maioria das vezes, por desconhecimento das legislações ou por falta de orientação dos mesmos, o que acabam tornando-se criadores de insetos, vetores de transmissão de doenças, entre ele o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, doença que assola boa parte da população brasileira. Além disso, oferece grande risco de incêndio, por queimarem com muita facilidade, produzindo fumaça negra altamente poluidora do ar, pela diversidade de compostos que são liberados na combustão, causando também, contaminação da água, por liberar um material oleoso derivado do petróleo, que carreado para os corpos d?água superficiais ou para aqüíferos, torna a água imprópria para o consumo.
O objetivo deste trabalho é apontar os benefícios ambientais e econômicos para a população, donos de cimenteiras e para os Governos decorrentes de medidas concretas para uma minimização substancial, ou mesmo para a eliminação desse grave problema ambiental e, ao mesmo tempo mostrar que é possível acabar com um passivo ambiental de pneus.

1 A SITUAÇÃO DOS PNEUS: UMA REVISÃO DO TEMA
1.1 A Produção de Pneus no Mundo

Segundo organizações internacionais, a produção de pneus novos está estimada em cerca de 2 milhões por dia em todo o mundo. Já o descarte de pneus velhos chega a atingir, anualmente, a marca de quase 800 milhões de unidades. Só no Brasil são produzidos cerca de 40 milhões de pneus por ano e quase metade dessa produção é descartada nesse período.

1.2 Produção de Pneus no Brasil


O Brasil produz cerca de 35 milhões de pneus por ano, destinando quase um terço para a exportação, apesar do alto índice de recauchutagem, que prolonga a vida dos pneus em até 40%, a maior parte deles, já desgastada pelo uso, acaba parando nos lixões, na beira de rios, estradas e até no quintal de casas, onde acumulam água que atrai insetos transmissores de doenças, como a dengue.
Em 2010, as nove empresas associadas à Associação de Indústria de Pneumáticos (ANIP) produziram 67,3 milhões de unidades, com um crescimento de 15% em relação a produção de 2009 (Tabela 01).

Tabela 1

Produção anual de pneumáticos em unidades por grupo no Brasil.

Pneumáticos Total 2007 Total 2008 Total 2009 Total 2010 Participação 2010
Carga 7.319 7.367 6.034 7.735 11,50%
Caminhonetes 6.058 5.842 5.601 7.941 11,80%
Automóveis 28.791 29.586 27.492 33.813 50,20%
Motocicletas e Motonetas 13.725 15.250 13.000 15.205 22,60%
Outros 1.354 1.666 1.684 2.611 3,90%
Total de Pneumáticos 57,247 59.711 53.811 67.305 100%
Fonte : ANIP(2010).

Os pneus e câmaras de ar consomem cerca de 60% da produção nacional de borracha.
A boa notícia é que, além de poderem ter sua vida útil aumentada através da recauchutagem, a reciclagem de pneus a partir da trituração para uso na regeneração da borracha é um dos mercados mais promissores no Brasil.

1.3 Pneus: Classificação, Composição e Estrutura

De acordo com a Resolução do CONAMA 258/1999, os pneus são classificados em:

I - pneu ou pneumático: todo artefato inflável, constituído basicamente por borracha e materiais de reforço utilizados para rodagem em veículos;
II - pneu ou pneumático novo: aquele que nunca foi utilizado para rodagem sob
qualquer forma, enquadrando-se, para efeito de importação;
III - pneu ou pneumático reformado: todo pneumático que foi submetido a algum tipo de processo industrial com o fim específico de aumentar sua vida útil de rodagem em meios de transporte, tais como recapagem, recauchutagem ou remoldagem;
IV - pneu ou pneumático inservível: aquele que não mais se presta a processo de reforma que permita condição de rodagem adicional.

Um pneu não é composto apenas por borracha, mas sim de partes metálicas. Abaixo podemos observar a estrutura de um pneu (Figura 4 e Tabela 2).










Figura 1: Nomenclatura dos Flancos (Fonte: www.michelin.com.br)

Tabela 2

A Tabela abaixo Apresenta Informações sobre a Composição de Pneus Novos.

Composição Automóvel (%) Caminhão (%)
Elastômero 48 45
Carbon black 22 22
Aço 15 25
Fibras têxteis 5 -
Óxido de zinco 1.2 2.2
Enxofre 1 1
Outros óleos 8 6
Fonte: (Sharma, 2000)

De acordo com a figura, todo pneu é formado de 4 partes principais segundo Pirelli, (2000):
- Carcaça: é a parte resistente do pneu, constituída de lona(s) de poliamida, poliéster ou aço. Retém o ar sob pressão que suporta o peso total do veículo. Nos pneus radiais, as cintas complementam sua resistência.
- Talões: são constituídos internamente de arames de aço de grande resistência e têm por finalidade manter o pneu acoplado ao aro.
- Banda de Rodagem: é a parte do pneu que entra diretamente em contato com o solo. Formada por um composto especial de borracha que oferece grande resistência ao desgaste. Seus desenhos constituídos por partes cheias (biscoitos) e vazias (sulcos), oferecem desempenho e segurança ao veículo.
- Flancos: protegem a carcaça de lonas. São dotados de uma mistura especial de borracha com alto grau de flexibilidade.
Quanto à borracha empregada na sua fabricação, ela é geralmente constituída por:
- Elastômeros (borracha natural ou sintética);
- Agentes reforçantes (carbon black ? negro de fumo);
- Plastificantes;
- Agentes vulcanizantes (enxofre e compostos de enxofre);
- Agentes acelerantes;
- Agentes protetores (ex.: anti-oxidantes, anti-ozonizantes, estabilizadores).
As partes metálicas do pneu são recicladas, sendo que o maior problema neste produto é a parte externa, de borracha.
No processo de recuperação e regeneração dos pneus ocorre a separação da borracha vulcanizada de outros componentes (como metais e tecidos, por exemplo). Os pneus são cortados em lascas e purificados por um sistema de peneiras. As lascas são moídas e depois submetidas à digestão em vapor d'água e produtos químicos, como álcalis e óleos minerais, para desvulcanizá-las. O produto obtido pode ser então refinado em moinhos até a obtenção de uma manta uniforme ou extrudado para a obtenção de grânulos de borracha.

1.4 Recauchutagem de Pneus

A alternativa de reaproveitamento de pneus é a recauchutagem. De acordo com Araújo (2005):

É o processo pelo qual um pneu é reformado pela substituição de sua banda de rodagem e dos seus ombros. Este processo assegura que todas as propriedades essenciais são restauradas, bem como sua vida útil, que é bem próxima de um pneu novo.

O Brasil ocupa o 2o lugar no ranking mundial de recauchutagem de pneus, o que lhe confere uma posição vantajosa junto a vários países na luta pela conservação ambiental. Esta técnica permite que o recauchutador, seguindo as recomendações das normas para atividade, adicione novas camadas de borracha nos pneus velhos, aumentando, desta forma, a vida útil do pneu em 100% e proporcionando uma economia de cerca de 80% de energia e matéria-prima em relação à produção de pneus novos.


Além de cada pneu recauchutado significar uma carcaça reusada, a recauchutagem de pneus representa um menor consumo de energia - são necessários 26 litros de petróleo para fazer um pneu de passeio novo, mas apenas 9 litros para recauchutá-lo; recauchutar um único pneu pesado pode significar a economia de pelo menos 40 litros de petróleo. (FERRER, 1997)

O maior incentivo para a grande porcentagem de pneus recauchutados no Brasil ainda é o valor baixo para o consumidor, e o lucro das empresas renovadoras de pneus, que compram o material a um custo baixo e vende com grande margem de lucro. Mas nota-se também que as empresas do país, dos mais variados setores, estão se preocupando cada vez mais com a diminuição do passivo ambiental que possam causar.
Além do custo mais baixo de um pneu recauchutado, este processo possibilita economia de energia e matéria-prima, no caso do petróleo. O pneu reformado tem rendimento quilométrico semelhante ao novo, com custo 75% menor, ao consumidor, proporcionando uma redução de 57% no custo por km. A economia no setor de transportes é de 5,6 bilhões de reais por ano.
O custo de um pneu novo de caminhão chega a R$ 1500,00, e o recauchutado R$ 340,00. Já de um carro, um pneu novo que chega a custar R$ 300,00, recauchutado sai por R$ 120,00.

2 PASSIVO AMBIENTAL

Enquanto a legislação contempla de maneira ampla as atividades atuais ? processos e produtos ? que possam agredir o meio ambiente e a conservação da qualidade de vida presente e futura, há certa discrepância em relação ao passivo ambiental já acumulado. Normas legais, recomendações e propostas, ainda sem regulamentação, estão, paulatinamente, sendo implementadas no sentido da efetiva responsabilidade e das obrigações quanto à restauração de danos ao ambiente. Nessa diretriz, o passivo ambiental vem se incorporando como um instrumento de gestão.
Mas o que é passivo ambiental? De acordo com o IBRACON (1995):

"O Passivo Ambiental pode ser conceituado como toda a agressão que se praticou/pratica contra o meio ambiente e consiste no valor de investimento necessário para reabilitá-lo, bem como multas e indenizações em potencial".

Para Moreira M. S., Instrutora do Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), o Passivo a ambiental pode ser definido como: "conjunto de obrigações, contraídas de forma voluntária ou involuntária, que exigem a adoção de ações de controle, preservação e recuperação ambiental".



De acordo com Ribeiro (1995), o Passivo Ambiental resulta em sacrifício de benefícios econômicos que devem ser assumidos para a recuperação e a proteção do meio ambiente, decorrente de uma conduta inadequada em relação às questões ambientais.

De forma simplificada, são danos causados ao ambiente por empresas no decorrer da sua atividade de produção e de comercialização que, de acordo com a legislação atual, devem ser parte integrante da responsabilidade social das empresas que as originaram e originam.

2.1 Passivo Ambiental de Pneus

Os pneus, pela sua quantidade e pelos danos potenciais ao ambiente e ao bem-estar social, são mencionados nominalmente entre os vinte e um itens que compõem o passivo ambiental. Obviamente, esse fato, tomado por si só, indica a relevância da questão a ser abordada.
Os pneus descartados constituem resíduos ambientais. Resíduo é o resultado de processos de diversas atividades da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e, ainda, da varrição pública. Os resíduos apresentam-se nos estados: sólido, gasoso e líquido. A norma NBR 9.896 de 1993 define resíduo como material cujo proprietário ou produtor não mais considera com valor suficiente para conservá-lo. Os pneus são considerados resíduos sólidos industriais.

Segundo as normas da ABNT, resíduos sólidos industriais são todos os resíduos no estado sólido ou semi-sólido resultante das atividades industriais, incluindo lodos e determinados líquidos, cujas características tornem inviável seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d?água ou que exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviáveis. (ABNT NBR 10.004-97)


2.1.1 Classificação dos Resíduos Sólidos Industriais

Segundo a ABNT NBR 10.004/97, os resíduos sólidos industriais são classificados da seguinte forma:
Classe 1 - Resíduos Perigosos: são aqueles que apresentam riscos à saúde pública e ao meio ambiente, exigindo tratamento e disposição especiais em função de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade.
Classe 2 - Resíduos Não-inertes: são os resíduos que não apresentam periculosidade, porém não são inertes; podem ter propriedades tais como: combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água. São, basicamente, os resíduos com as características do lixo doméstico.
Classe 3 - Resíduos Inertes: são aqueles que, ao serem submetidos aos testes de solubilização (NBR-10.007 da ABNT), não têm nenhum de seus constituintes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água. Isso significa que a água permanecerá potável quando em contato com o resíduo.
Muitos desses resíduos são recicláveis. Tais resíduos não se degradam ou não se decompõem quando dispostos no solo ou se degradam muito lentamente. Além dos pneus, essa classificação abarca os entulhos de demolição, pedras e areias retirados de escavações etc.

2.2 Pneus Inservíveis e a sua Destinação Final Adequada

Mesmo classificados no grupo de resíduos inertes ? os que, em tese, representariam menor grau de periculosidade ambiental ? os pneus começam a ocupar papel de destaque na discussão dos seus impactos reais sobre o meio ambiente e sobre a saúde pública. Os pneus contam com uma estrutura complexa que, ao envolver, basicamente, borracha, aço, tecido de náilon ou poliéster, dá-lhes características necessárias à segurança e desempenho. Contudo, os materiais de difícil decomposição não são biodegradáveis e a decomposição total dos pneus leva, aproximadamente, 600 anos. São, certamente, resíduos de difícil eliminação. Seu volume e peso tornam o transporte e o armazenamento caros e difíceis.

Quando compactados e enterrados inteiros tendem a voltar à sua forma original e retornam à superfície, causando uma movimentação no solo do aterro e adicionais problemas com eventual combustão. Uma vez na superfície, tornam-se vetores de proliferação de insetos transmissores de doença tropicais ? com destaque ao Aedes aegypti, transmissor da dengue, doença endêmica no Brasil - e ambiente propício para proliferação de roedores que, entre inúmeras doenças, transmitem a leptospirose. (GOMES et al., 1993)

A Resolução 258 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA), desde a sua publicação, proibiu a destinação final inadequada de pneus inservíveis, tais como a disposição em aterros sanitários, mar, rios, lagos ou riachos, terrenos baldios ou alagadiços, e queima a céu aberto.
Resolução CONAMA Nº 258/1999 - "Determina que as empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos ficam obrigadas a coletar e dar destinação final ambientalmente adequada aos pneus inservíveis" - Data da legislação: 30/06/1999 - Publicação DOU nº 230, de 02/12/1999, pág. 039.
Contudo, devido aos surtos endêmicos de dengue no País, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente autorizou a disposição de pneus descartados em aterros sanitário, desde que devidamente retalhados ou triturados e previamente misturados com resíduos domiciliares, de forma a garantir a estabilidade dos aterros.

A decisão foi adotada em conjunto com a Secretaria Estadual da Saúde, por meio da Resolução SMA/SS 1 e apresenta, entre as justificativas, a necessidade de se adotar medidas urgentes para "a salvaguarda da vida e da saúde da população e de se estabelecer normas para a destinação final ambientalmente adequada de pneus em aterros sanitários" (PT, 2004).

A retaliação e a trituração de pneus é um processo dispendioso que, embora minimize o volume ocupado, não resolve a questão da ocupação do espaço, pois a quantidade de pneus inservíveis gerados, nos centros urbanos, na atualidade, é muito grande. Além disso, muitas empresas preferem descartar os pneus inteiros em terrenos baldios, rios, e de maneira clandestina nos aterros.
Se descartados em pilhas a céu aberto, além dos problemas citados anteriormente, os pneus apresentam alto risco de incêndio e de contaminação da água.

"... Nos EUA, em 23 de setembro de 1999, um depósito de pneus, com 7 milhões de carcaças estocadas, localizado na Cidade de Stanislaus, no Estado da Califórnia, pegou fogo. Esse incêndio, que ficou descontrolado, lançou uma quantidade enorme de enxofre na atmosfera, causando um prejuízo irrecuperável para a qualidade do ar na região". (PT 2004).

Embora os graves impactos ambientais decorrentes da existência de pneus descartados sejam amplamente conhecidos, não há dados confiáveis sobre a sua quantidade no País. A quantificação, tendo em vista o território continental do Brasil, a quantidade de pneus produzidos, a sua presença em residências, rios, açudes e em praticamente todos os locais imagináveis, seria um trabalho hercúleo.
Em 2007, os fabricantes de pneus novos ( Bridgestone, Goodyear, Levorin, Maggion, Michelin, Pirelli, Rinaldi, Tortuga e Continental) ? em parceria com a ANIP (Agência Nacional da Indústria de Pneus) ? criaram a Reciclanip, com o objetivo de desenvolver um trabalho de coleta e destinação de pneus inservíveis. A idéia é simples e consiste em deixar o pneu em pontos de coleta quando ele chega ao fim de sua vida útil, para que seja recolhido por empresas destinadoras licenciadas pelos órgãos ambientais homologados pelo IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente).
Segundo a Reciclanip, entidade voltada para a coleta e a destinação de pneus inservíveis, desde 1999, quando começou a coleta pelos fabricantes, mais de 1,54 milhões de toneladas de pneus inservíveis foram coletados e destinados adequadamente, o equivalente a 210 milhões de pneus de passeio. Desde então, os fabricantes de pneus já investiram mais de US$ 124 milhoes no programa até o final de 2010.
Resolução CONAMA Nº 416/2009 - "Dispõe sobre a prevenção à degradação ambiental causada por pneus inservíveis e sua destinação ambientalmente adequada, e dá outras providências." - Data da legislação: 30/09/2009 - Publicação DOU Nº 188, de 01/10/2009

2.3 Alternativas de Reaproveitamento de Pneus Inservíveis

A recauchutagem e a geração de energia pela queima foram às primeiras formas de reutilização de pneus. Com o avanço tecnológico, surgiram novas aplicações como à mistura com asfalto, considerada no exterior como uma das principais soluções para a disposição dos milhões de pneus descartados anualmente.

"(...) Na Europa, 40% desses pneus inservíveis são utilizados pelas fábricas de cimento como combustível alternativo no lugar do carvão, uma aplicação ambientalmente correta e que garante economia aos donos das chamadas "cimenteiras". Os pneus são picados e queimados em fornos fechados, onde a borracha sofre combustão total ? ao contrário do que acontece na queima a céu aberto ? e a fumaça tóxica emitida, preta e de forte calor, é filtrada para não poluir o meio ambiente. Mas, no Brasil, essa prática ainda é novidade."( REVISTA MINAS FAZ CIÊNCIA, - 2002 nº 02, Pesquisador Rochel Monteiro autor,).

Principais maneiras de reaproveitar os pneus usados são:
- Pavimento para estradas - pó gerado pela recauchutagem e os restos de pneus moídos podem ser misturados ao asfalto, aumentando sua elasticidade e durabilidade.
- Contenção de erosão do solo - Pneus inteiros associados a plantas de raízes grandes podem ser utilizados para ajudar na contenção da erosão do solo.
- Combustível de forno para produção de cimento, cal, papel e celulose - Os pneus descartados são grandes geradores de energia, seu poder calorífico é de 12 mil a 16 mil BTUs por quilo, superior ao do carvão.
- Pisos industriais, solas de sapato, tapetes de automóveis, tapetes para banheiros e borracha de vedação - depois do processo de desvulcanização e adição de óleos aromáticos resulta uma pasta, que pode ser usada para produzir tais produtos, entre outros.
- Equipamentos para playground - obstáculos ou balança, em baixo dos brinquedos ou nas madeiras para amenizar as quedas e evitar acidentes.
- Esportes - Usados em corridas de cavalos, ou eventos que necessitem de uma limitação do território a percorrer, ou como amortecedores de acidentes, são bem visíveis nas corridas de automóveis.
- Sinalização rodoviária e pára-choques de carros - a postes para sinalização rodoviária e pára-choques, diminuem os gastos com manutenção.
- Compostagem - o pneu não pode ser transformado em adubo, mas sua borracha cortada em pedaços de 5 cm pode servir para aeração de compostos orgânicos.
- Reprodução de animais marinhos - os utilizados como estruturas de recifes artificiais no mar para criar ambiente adequado para reprodução de animais marinhos, na construção de quebra-mares.
- Sistemas de Drenagem - Com o intuito de baratear a construção de tubos de drenagem, desenvolveu-se a presente invenção que é caracterizada por tubos de drenagem com a utilização de pneus inservíveis. Para se formar o tubo de drenagem, é realizado um corte especial no pneu, com o objetivo de fixar os pneus entre si, formando o tubo de drenagem.
São propostas de baixo custo que utilizam um número razoável de pneus e envolvem ações relativamente simples de corte e amarração. Entretanto, a maioria dessas alternativas resulta em soluções finitas e saturáveis em curto prazo, mas que podem contribuir de maneira significativa na diminuição do passivo ambiental.
A reciclagem de pneus envolve um ciclo que compreende a coleta, transporte, trituração e separação de seus componentes (borracha, aço e nylon), transformando sucatas em matérias-primas que serão direcionadas ao mercado. Obtém-se borracha pulverizada ou granulada para diversas aplicações: utilização em misturas asfálticas, em revestimentos de quadras e em pistas de esportes, fabricação de tapetes automotivos, de adesivos etc.
A reciclagem pode ser mecânica, química ou energética, conforme descrito abaixo, com seus respectivos exemplos:
- Mecânica (adição como carga e no asfalto);
- Química (recauchutagem, regeneração e pirólise);
- Energética (obtenção de energia, co-processamento).
Anterior a trituração propriamente dita, o pneu é cortado em pedaços menores e, então, é moído. A sua moagem requer um equipamento de porte, conseqüentemente implica um grande gasto de energia. Todos os processos de reciclagem envolvem moagem prévia dos pneus, cujo gasto de energia é um impacto negativo nesse processo.

2.4 Incentivos para a Reciclagem

Apesar de existirem resoluções, várias citadas anteriormente, ainda não se têm efetivamente incentivos fiscais à reciclagem, o que empurra as empresas recuperadoras à informalidade. Para as indústrias da reciclagem, as autoridades fiscais impõem sérias restrições, pois a carga de impostos inibe os movimentos de materiais através das fronteiras estaduais, o que impede o aumento da escala operacional das indústrias.

Os materiais recicláveis têm baixo valor agregado e, por esta razão, a concentração da escala industrial é um fator fundamental para a viabilidade das indústrias da reciclagem, que só através dela, podem fazer frente aos custos fixos e às necessidades de capital para investimentos em processos. Como resultado tem-se uma rede industrial de reciclagem obsoleta, enfraquecida e pulverizada (RECICLÁVEIS 2001).

A situação do governo na reciclagem deverá ser integrada através de uma Política Nacional de Reciclagem e articulada às Políticas Estaduais e Municipais convergentes.
A população deve caminhar para uma política de não geração de resíduos. Havendo a geração, esta deve ser a mais responsável possível, aplicando-se, para a resolução do problema, princípios fundamentais de responsabilidade em conformidade com regras de proteção do próprio consumidor que, por ignorância, faz um descarte equivocado do produto e, depois, vem sofrer os danos decorrentes de sua própria conduta.

Para deter o avanço desse lixo [pneus velhos], é preciso reciclar. No entanto, a reciclagem dos pneus chamados inservíveis ? sem condições de rodagem ou de reforma ? ainda é um desafio. ?A composição da borracha vulcanizada confere a este material alta resistência química e física, fazendo da reciclagem um processo complexo e não ainda economicamente atraente para a indústria, explica o Prof.Rochel Montero Lago, pesquisador e professor do Departamento de Química da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). (REVISTA MINAS FAZ CIÊNCIAS ?2002, Pesquisador Rochel Monteiro).

As próprias empresas fabricantes de pneus conscientizam e educam seus funcionários e clientes quanto ao uso adequado do pneu, e a sua reposição final. Alertam para verificar a pressão com freqüência do pneu, isso o torna mais durável.

A Bridgestone, uma empresa comprometida com o meio ambiente atua com vários projetos relacionados à segurança e ao meio ambiente. Pesquisa recente realizada pela empresa indica que a baixa pressão de pneus gera poluição extra. A campanha "Torne Seu Carro Ecológico", realizada pela Bridgestone em parceria com a FIA(Federação Internacional de Automobilismo) a redução do impacto gerado pelos veículos. (BIIDGESTONE, 2010, Texto de Danilo Giopato).


Questões relacionadas à preservação ambiental não estão apenas do lado de fora das empresas fabricantes de pneus, estão inseridas no dia a dia e se faz presente durante todo o processo produtivo, através de programas sustentáveis que visam minimizar a emissão de poluentes, otimizar recursos naturais e proporcionar qualidade de vida tanto para os funcionários quanto para a sociedade em geral.
Goodyear, com programa de gerenciamento de resíduos, a empresa instituiu a coleta seletiva através da mobilização e da educação ambiental continua, buscando mudar os conceitos e hábitos tradicionais das pessoas em relação aos resíduos e sucatas gerados pelo processo de fabricação de pneus são reaproveitados para composição de outros produtos. (O CARRETEIRO, 2010, texto de Danilo Giopato).

Vipal, a empresa recicla 85% do resíduo gerado na empresa. Também recolhe os pneus inservíveis, tritura-os e destina para atividades produtivas. (O CARRETEIRO, 2010).

2.5 Reciclagem de Pneus no Brasil

A primeira lei de destinação de pneus usados no Brasil foi a Resolução 258/1999 do CONAMA, que determina que as empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos ficam obrigadas a coletar e dar destinação final ambientalmente adequada aos pneus inservíveis. Isto demonstra a separação em 60 anos da produção de pneus e a criação da lei. Então, são 60 anos de pneus sendo ?jogados? em locais inapropriados no Brasil, como lixões, mares, rios, e terrenos a céu aberto.

Sessenta e três anos separam o início de produção de pneus no Brasil da primeira resolução do CONAMA (a Resolução 258/99) sobre o destino dos pneus inservíveis. Nesse longo período sem legislação a respeito, segundo estimativas conservadoras da Associação Nacional da Indústria Pneumática (ANIP), o País acumulou mais de 100 milhões de pneus descartados espalhados por aterros, terrenos baldios, rios e lagos e quintais de residências. (NOHARA et. al. 2006)

Mesmo que a ANIP declare como número de pneus descartados durante 60 anos, 100 milhões existem indícios de que mais de 400 milhões de unidades tenham sido descartadas de forma inadequada.
Levemos em conta que a partir da segunda metade do século XX, o "Brasil arquipélago" buscou sua integração principalmente por meio da criação de rodovias, incentivando a produção de pneus.

Na primeira metade do século XX, a percepção de que o Brasil ainda constituía um imenso arquipélago de ilhas econômicas traduziu-se na ideologia nacionalista da marcha para o Oeste e, nesta linha, os governos de Vargas e de Kubitschek consagraram a integração nacional como objetivo prioritário da política pública, por meio de grandes obras rodoviárias e da construção de Brasília. (GALVÃO, 1996)

A rede ferroviária foi praticamente abandonada no Brasil a partir de 1920, e a hidroviária ainda é muito restrita a algumas regiões. Se fossem mais incentivadas, além do passivo ambiental resultante dos pneus descartados, haveria diminuição de gastos públicos com manutenção de rodovias, o que já é baixo, redução de acidentes, economia de recursos naturais como o petróleo.
Segundo a tabela abaixo (Tabela 03), Brasil aumentou sua produção de pneus de 53,4 milhões em 2005 para 54,5 milhões de pneus em 2006, sendo que um terço disso foi exportado para mais de 85 países e a restante roda nos veículos nacionais.
Apesar do aumento na produção, o volume destinado para a reciclagem diminuiu, embora os recursos investidos, e os pontos de coleta tenham aumenta

Tabela 3

Dados sobre a reciclagem de pneus.

Dados sobre Reciclagem de Pneus Inservíveis 2005 2006
Volume de pneus produzidos (milhões) 53,4 54,5
Volume destinado para reciclagem (mil ton) 127 123
Número de pneus de carros de passeio reciclados (milhões) 25,4 24
Recursos investidos para reciclagem de pneus inservíveis (R$ milhões) 22 30
Ecopontos (centrais de recepção de pneus inservíveis) 134 220
Fonte: www.abrelpe.org.br. ANIP, 2006

Segundo a tabela 1, o Brasil aumento consideravelmente nos últimos anos a produção de pneus novos, apesar do aumento na produção, o volume destinado adequadamente, também aumentou conforme dados da Reciclanip (tabela 04).

Tabela 4

Pneus inservíveis destinados adequadamente.

Anos 2008 2009 2010
Toneladas 160.000 230.000 311.554
Fonte: Reciclanip 2011(www.reciclanip.com.br).

2.6 Recapagem e Recauchutagem de Pneus em Bento Gonçalves.

Há 45 anos, situada na cidade de Bento Gonçalves, a Rede Pneus ? Renovadora de Pneus Ltda, presta serviços de recapagem de pneus. Com pontos de coleta distribuídos em todo o Rio Grande do Sul, conforme (Figura 05). Atualmente a empresa conta com 90 colaboradores altamente qualificados e especializados, com treinamentos e cursos ministrados pelos próprios fabricantes de pneus. Com frota própria de 20 veículos a organização em comento atende todo o estado.
Com área construída de 6000m², a Rede Pneus tem capacidade de produção de 7 mil reformas por mês, usando borrachas dos fabricantes Moreflex, Pirelli/Novateck, Bridgestone/Firestone e Goodyear, todas com credenciamento de garantia de carcaça.
Hoje, além dos serviços de recapagens a quente e a frio, de passeio, camionete, caminhões, de terraplenagem e agrícolas, empregando maquinários da mais alta tecnologia, também revende pneus novos, câmaras de ar e protetores da marca Pirelli.


Figura 2: Área de atuação da Rede Pneu (www.redepneu.com.br).

Com seus colaboradores ambientalmente conscientizados, a empresa promove mensalmente palestras internas voltadas à preservação ambiental. A empresa tem licenciamento ambiental para exercer suas atividades. Ela adquire os pneus usados em condições de reaproveitamento, os pedaços de borracha que sobram nos recortes da recapagens são triturados e vendidos para empresas como cimenteiras que usam como matéria-prima na fabricação de asfalto, tijolos, etc. A Rede Pneus hoje, recebe fiscalizações com frequência, possui assessoria de engenheiros químicos, a CIPA tem preocupação ambiental, onde promove com certa freqüência palestras de conscientização aos seus colaboradores. Anualmente vários relatórios são enviados a FEPAM e ao IBAMA.
Em contato com um de seus diretores, o mesmo falou que, anos passados quando não existiam resoluções e exigências ambientais, os restos de pneus e os que não serviam para recapagem eram aterrados ou deixados a céu aberto.
O setor do transporte utiliza pneus reformados, pois o pneu situa-se entre o 2º e 3º custo do transporte rodoviário. O pneu reformado tem rendimento quilométrico semelhante ao novo, com custo 75% menor, ao consumidor, proporcionando uma redução de 57% no custo por km (Tabela 04).

Tabela 5

Custo da recapagem e de pneus novos

Pneus de Caminhão Pneus de veículo de Passeio Pneus de Ônibus
Valor da Recapagem na Rede Pneus 380,00 120,00 380,00
Valor do Pneu Recapado na Rede Pneu. 680,00 150,00 380,00
Pneus Novos (Preço médio de vários fabricantes) 1500,00 240,00 1500,00

1.7 Reciclagem de Pneus em Bento Gonçalves.

Conhecida pela capital brasileira da uva e do vinho, situada na região da serra do Rio Grande do Sul, a cidade de Bento Gonçalves conta com um ponto de coleta da Reciclanip. Administrado e controlado pela Secretaria do meio Ambiente do Município, mensalmente são coletadas 15 toneladas de pneus inservíveis, aproximadamente 500 pneus conforme figura 3.

Figura 3: Posto da Reciclanip em Bento Gonçalves.
Fonte: Depósito de Pneus inservíveis na Secretária do Meio Ambiente de Bento Gonçalves.

A Reciclanip, coleta e destina adequadamente os pneus sem custo algum para o município. Esses pneus são coletados por transportadoras voluntárias e entregues em empresas recicladoras no estado.
A Secretaria do Meio Ambiente do Município gerencia com recursos próprios este resíduo, mantendo-o em deposito fechado, seco, limpo e livre de insetos, conforme exigências da Reciclanip. Outra exigência da Reciclanip é que na hora da coleta os pneus estejam em pilhas e separados por tamanho (Figura 02).


Figura 4: Os pneus devem estar dispostos conforme foto, exigências da Reciclanip.
Fonte: Pneus inservíveis Secretaria do Meio ambiente de Bento Gonçalves.

Uma das preocupações da Secretaria do Meio Ambiente do Município é a pouca quantidade de pneus coletada mensalmente, sabendo que Bento figura entre as 10 maiores economias do Rio Grande do Sul ,uma grande quantidade de veículos de passeio e de carga circulam diariariamente pela cidade. Toda a economia é escoada do município por vias rodoviárias, isso requer uma grande quantidade de caminhões.
Está no planejamento da secretária nos próximos meses, visitar às transportadoras locais, revendedoras de pneus e borracharias, levando ao conhecimento o trabalho do gerenciamento do resíduo realizado por este órgão. Garante o secretário que a fiscalização é atuante, viaturas circulam nos distritos industriais e interiores semanalmente, autuando fazendo usos das Resoluções vigentes aos que destinam inadequadamente o resíduo. Mutirões de limpeza em beiras de estradas são realizados com freqüência.


1.6 Vantagens Ecológicas e Sociais

Podemos observar melhorias na modificação do asfalto tradicional com a adição da borracha moída de pneus e alguns benefícios gerados no processo: surgimento e fortalecimento de empresas especializadas na reciclagem de pneus para convertê-los em asfalto borracha; benefícios diretos ao setor público pela criação de novas fontes de tributos a ingressar no cerário público e adicionalmente, serão criados novos empregos diretos, nas empresas recicladoras, e indiretas, ligadas ao processo de angariação e movimentação de pneus inservíveis; maior inibição aos focos de criação de insetos prejudiciais à saúde e até letais ao ser humano; redução da poluição visual causada pelo descarte de pneus em locais impróprios; diminuição do assoreamento de rios, lagos e baías, causados, em parte, pelo indevido descarte de pneus; diminuição do número de pneus usados em depósitos, com a conseqüente redução do risco de incêndios incontroláveis e a não deposição de pneus, sob qualquer formato, em aterros sanitários; redução da demanda de petróleo, asfalto, por dois motivos: pela substituição de parte do asfalto por borracha moída de pneus e, também, pela maior durabilidade, alcançada na vida útil de nossas estradas.
Não se pode esquecer que o petróleo e, por conseqüência, o asfalto, é fonte não renovável de energia.

CONCLUSÃO

O passivo causado pela disposição incorreta de pneus usados é um dos maiores problemas ambientais do país. Embora o pneu seja um material inerte, não conter metais pesados em sua compo¬sição e não ser solúvel em água, e, portanto não sofrer lixiviação (carregamento pela água da chuva de materiais que são carregados ao lençol freático), sua deposição requer geren¬ciamento específico, pois o seu descarte não é fácil. Em aterros sanitários o problema surge, pois os pneus absorvem os gases que são liberados pela decomposição dos outros resíduos, inchando e podendo até estourar, o que prejudica a cobertura dos aterros. Além disso, o material tem baixa compressibilidade, o que contribui com a redução da vida útil dos aterros. Já quando este material é disposto em terrenos a céu aberto, dois problemas surgem: de saúde pública, já que o acúmulo de água da chuva pode servir de criadouros para micro e macro vetores, e ambiental, pois para cada pneu queimado são liberados 10 litros de óleo, que podem percolar e contaminar o solo e o lençol freático, além de gases como carbono, dioxinas, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e outras substâncias também tóxicas e cancerígenas.
Os resultados da reciclagem são notáveis tanto no campo ambiental, quanto nos campos econômico e social. No aspecto econômico, a reciclagem contribui para a utilização mais racional dos recursos naturais e a reposição de recursos, quando passíveis de reaproveitamento. No âmbito social, a reciclagem não só proporciona melhor qualidade de vida para as pessoas, através de melhorias ambientais, como também na geração de postos de trabalhos e renda para as pessoas que vivem nas camadas mais pobres da população. No meio ambiente, a reciclagem reduz substancialmente o acúmulo progressivo de resíduos sólidos, minimizando as agressões ao solo, ao ar e à água, entre outros tantos fatores positivos.
Os fabricantes investiram de 1999 a 2010 aproximadamente US$ 124 milhões nos programas de reciclagem de pneus e está previsto para 2011 um investimento de US$ 41 milhões, o que significa um aumento de 20% em relação à verba investida em 2010, que foi de US$ 33 milhões. A Reciclanip conta com 620 pontos de coletas distribuídos pelo Brasil e todas as destinações são reconhecidas pelo IBAMA. Neste período foram coletados e destinados adequadamente 310 milhões de pneus de passeio. Somente em 2010 foram coletados 62 milhões de unidades de pneus inservíveis.
As nove empresas associadas à ANIP, produziram no período de 2007 a 2010 cerca de 238 074 milhões de pneus. Esses dados nos mostram que com o passar dos anos a Reciclanip aumentado os postos de coleta eliminará parcialmente o passivo ambiental deste resíduo.
Os pneus estão sendo usados na indústria de asfalto, em forma de pó; na indústria cimenteira, como combustível e aditivo para cimento, no processo de pirólise, como é o caso da Petrobrás que obtém uma fonte de combustível dos pneus para mistura com xisto, na indústria do asfalto, entre outros usos.
A responsabilidade com o meio ambiente pode ser considerada uma vantagem competitiva para as empresas. A imagem de empresa que preza um ambiente saudável, além da melhor aceitação por acionistas, consumidores, fornecedores e autoridades públicas, hoje tem relevância significativa na avaliação financeira da empresa, devido às exigências da sociedade brasileira e a internacional.

REFERÊNCIAS

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REVISTA MINAS FAZ CIÊNCIA. Belo Horizonte, n.10, mar/maio 2002




Autor: Marinice Moras


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