Por que os dias são maus?



No tocante ao comportamento das instituições religiosas (igrejas hoje, anticristãs) há sem dúvidas uma fase de decadência no que diz respeito à sua postura social... Essa fase moribunda começa a partir da inserção do liberalismo econômico na pauta de intenções das denominações o que indubitavelmente, subverteu o principio da comuna cristã, particionando os grupos de pessoas entre fortes e fracos, entre vencedores e vencidos, exploradores e explorados e ainda, por incrível que pareça cristãos de status e cristãos sem status (posição econômica).

Esse modelo extirpou as pessoas das relações coletivas e, lançou-os no gladiamento selvático mediante a modificação da aproximação do conteúdo ideológico das escrituras (Bíblia) e, por conseguinte, a materialização deste revelada em uma práxis de paz possível, e fez nascer o modo de vida moldado em uma ideologia, ou um conjunto de ideologias abastecidas pela lógica concebível no mundo capitalista "onde a regra de fé e prática", é: ser o mais forte para não ser esmagado. Trata-se da competitividade entre as pessoas.

Uma forte divisão inter-denominacional, soma-se a uma enorme dificuldade de sanar o aprofundamento das discrepâncias que caracteriza o perfil (distinto) social e, sobretudo, econômico da/na Igreja brasileira contemporânea: nesses termos, vemos o duplo erigir: segregação/expropriação, essa díade revela a lógica dominante introjetada e cultivada no ceio de diversas instituições, o que aproxima estas conforme já é sabido, do perigo corrosivo emanante do sistema mundo.

O sedimento dos resíduos lógicos do sistema capitalista na estrutura política das Instituições Eclesiásticas pulveriza as possibilidades de cultivo e sustentação de princípios morais e éticos e ainda ideológicos que são primícias essenciais para que um grupo de pessoas possa habitar e conviver de maneira coletiva e serena mesmo com o surgimento dos conflitos interpessoais que inclusive, pode estender-se a grupos mais amplos. Enuncia-se aqui, a capacidade de diálogo enquanto uma questão primacial precedente na resolução de eventuais conflitos o que, por conseguinte, devolveria aos individuas e/ou ao grupo, a harmonia que por um momento veio a ser abalada. Todavia, está claro. Nossas lideranças não estão habituadas com o diálogo. A linguagem corrente, bem como a práxis estabelecida é, o mando, o senhorio, a rigidez hierárquica.

Os termos acima mencionados subsidiam a permanência de uma ordem que grossamente enunciamos: a ordem dos coronéis de púlpitos, Bíblia na mão esquerda e a vara de acoites na destra. A Bíblia, muitas vezes deturpada e utilizada enquanto meio de arregimentar fregueses pra engrossar as clientelas dominicais. A vara de açoites, para castigar a quem intencionar um questionamento ao mando estabelecido ( força e violência ), estes são então, enfileirados aos martírios da velha inquisição que insiste em se reerguer.

Para sustentação dessa afirmativa, enunciemos duas questões básicas: a primeira refere-se à um enuncio: a falta de esperança sustentada e cultivada a partir do ímpeto voraz de uma parcela significativa de líderes "espirituais". Essa postura no que tange ao processo de institucionalização, corrente, demonstra uma relação existencial demo - nizante, polida segundo os moldes das relações sociais vigentes que em sua maioria, são excludentes, pois oculta a esperança, chave de libertação das pessoas e, em substituição a isso, lega para estas, as grades de aço do sistema religioso que as aprisionam e as tornam intimamente moribundas e incapazes de lutarem por um sonho, de manifestar o desejo de liberdade e estabelecer mudanças na vida.

Esses apelos ideológicos são, via de regra, um instrumento extraordinário de controle utilizado para arrebanhar pessoas para os matadouros da (pseudo) fé cristã. O sucesso dos atores evangelicalistas tem sido inquestionável, na medida em que diminui a autonomia dos indivíduos no tocante ao entendimento do sentido existencial do cristianismo, diferente d?àquele cultivado por muitos desde a aurora dos tempos apostólicos, o que temos visto na contemporaneidade, é, uma constelação de indulgências, ranços herdados da Idade Média sendo que as mudanças consistem apenas no endereçamento do que vem a ser cambiável.

A segunda questão é, pois: o autoritarismo vigente no seio institucional. Não estamos em meio a uma guerra de "valores morais", ou de posicionamentos éticos, trata-se antes, de algo que exige maior preocupação.

O autoritarismo revela o esforço de conservação de uma ordem antiga (inquisitora) para a manutenção de um conjunto de práticas recentes (fundadas na lucratividade) que se introjetaram no âmago institucional. O que se constatou enquanto um negócio bastante lucrativo ? a venda de fé ? e que por isso mesmo, tem provocado o surgimento de um discurso envolvente, direcionado ao consumo, que tem ecoado distribuindo conceitos perniciosos que ao atingirem as pessoas as mantem engessadas diante das contradições ja vistas em relevo. Portanto, essa postura adotada enquanto modelo de vida (horda) por uma grande parcela de líderes das Instituições Eclesiásticas, tem contribuído para a perpetualização de um modelo de sociedade com tantas injustiças.

Essas instituições (Igrejas) teriam uma tarefa remidora, manifestar-se com uma postura contrária ao reducionismo econômico, a lógica expropriadora, a segregação social/política/econômica, enfim , se posicionar e agir de maneira contrária a esse modelo selvagem no qual tenta-se domesticar os cristãos aderentes a certas (muitas) instituições coagindo a permanecerem "fieis" ao modelo e, por isso mesmo, despotencializados das possibilidades de construir outras possibilidades de vida, ficando assim os meios de reprodução de vida direcionado à uma minoria, enquanto a maior parcela enfrenta o ardor da escassez , o que é dado a interpretar enquanto cisma do destino que não pode (ou não convém) ser mudado.

Uma perspectiva de uma mudança de vida é possível desde que, a autonomia esteja presente nas ações de cada indivíduo, assim, cada um poderá dar conta de seus atos e ver a partir de suas tomadas de posições uma possibilidade de promover a solidariedade que pode por sua vez, acender a esperança de um amanhã diferente, sim... Mesmo que os senhores dos púlpitos se ocupem em proclamar que ao amanhã não resta esperança, que a esperança é um privilégio negociável, ainda insistimos que vale a pena lutar, sonhar e viver...

[1] A objeção pretende suscitar o debate acerca do papel de cada indivíduo (no cristianismo) em relação a postura deste no contexto sociopolítico no qual está inserido a partir das organizações institucionais, ou seja, as Instituições Eclesiásticas enquanto ponto de encontro (sofrido) na esteira da história recente do/no cristianismo brasileiro.

[*] Herculano Candido de Sousa Neto é Professor licenciado em Geografia pela Universidade Estadual da Paraíba. Atua na associação dos geógrafos brasileiros seção Campina Grande / PB desde 2006 e, atualmente exerce o cargo de Presidente da mesma (gestão 2010 -2012).

Autor: Herculano Candido De Sousa Neto


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