A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO ESCOLAR E SUAS INTERFERÊNCIAS NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA



A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO FÍSICO ESCOLAR E SUAS INTERFERÊNCIAS NA APRENDIZAGEM DA CRIANÇA


Idália dos Santos Ramos


"O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram."
Jean Piaget




Este ensaio acadêmico que recebe como tema "A organização do espaço físico escolar e suas interferências na aprendizagem da criança", tem como objetivos possibilitar um momento reflexivo a respeito da organização dos espaços escolar e analisar quais as possíveis interferências que serão advindas da organização deste espaço sobre a aprendizagem da criança. Este tema foi escolhido, com base nas observações realizadas durante o Estágio Supervisionado I, realizado no período de 07 de outubro a 28 do mesmo mês e por entender que é no espaço físico escolar que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo, as pessoas, sobre o que está sendo trabalhado em sala de aula e passa a compreender os significados de tudo o que lhe é proposto neste espaço.
Todo este trabalho foi desenvolvido através de todas as teorias estudadas em sala de aula, na disciplina Psicologia da Aprendizagem, tendo como teorias fundamentais para tal pesquisa, as teorias Construtivista de Jean Piaget e Sociointeracionista de Vygotsky. Para a realização deste ensaio acadêmico foi utilizado o método de pesquisa de revisão bibliográfica e técnica de análise qualitativa.
Desde a barriga da mãe a criança necessita de espaço para se desenvolver plenamente e com todas as características que lhe são inerentes neste período fetal. Após seu nascimento, isso também não é diferente. Ao nascer, a criança precisa de espaços que ofereçam liberdade de movimentos, segurança, construção de sua autonomia e socialização com o mundo que o rodeia. Segundo Piaget (apud KRAMER, 2000, p. 29), o desenvolvimento resulta de combinações entre aquilo que o organismo traz e as circunstâncias oferecidas pelo meio [...] e que os esquemas de assimilação vão se modificando progressivamente, considerando os estágios do desenvolvimento. Para Piaget, o espaço físico deve proporcionar desafios cognitivos; desafios estes que possam eliciar novos esquemas, novas estruturas cognitivas e por fim, novos conhecimentos.
Piaget constatou em seus estudos que a criança constrói o seu conhecimento durante as interações com o meio. O meio, neste sentido, diz respeito a tudo o que através dele, a criança possa retirar informações que contribuam para seu desenvolvimento cognitivo. Assim, a organização do espaço escolar, deve possibilitar a cada criança nova descoberta, novos desafios, ou seja, possibilitar novas assimilações, seguidas por acomodações e adaptações. É de extrema importância que a organização do espaço escolar esteja ligada diretamente com o que se propõe trabalhar com a criança. Ou seja, é necessário que haja o diálogo entre espaço, sujeito e conteúdos propostos, levando em conta que para a criança construir novos esquemas, ela parte dos esquemas construídos anteriormente.
A teoria piagetiana diz que a maturação é o que determina o ritmo do aprendizado, é o amadurecimento que busca aprendizado. Este aprendizado se da por interações entre estruturas internas, para Piaget, o conhecimento é uma construção individual, conquistado a partir da ação do sujeito sobre a realidade, os principais fatores da aprendizagem é a maturação, experiência e interação, ele não prioriza a mediação na construção do conhecimento, o pensamento aparece antes da linguagem. O principal interesse de Piaget era estudar o desenvolvimento das estruturas lógicas, provando que o conhecimento se dá a partir da ação do sujeito sobre a realidade, a aprendizagem depende do estágio de desenvolvimento atingido pelo sujeito.
A visão de Vygotsky sobre a importância do espaço físico na aprendizagem da criança torna-se diferente da visão de Piaget, no sentido de que Vygotsky enfatiza a troca de conhecimentos que ocorre por meio da interação do indivíduo, meio e indivíduo. Essa interação é constante e de extrema importância no processo de ensino/aprendizagem. Para Piaget, essa interação não é essencial. Piaget prioriza os mecanismos interiores que impulsionam o homem a conhecer o meio.
Para Vygotsky, é o aprendizado que traz o amadurecimento, e o aprendizado depende fundamentalmente das influencias ativas do meio social. Ele defende que o conhecimento é interativo, o individual é impregnado do coletivo, o sujeito não só age sobre a realidade, mas interage com ela construindo seus conhecimentos a partir das relações interpessoais, a aprendizagem tem como ponto de partida o nível de desenvolvimento real do sujeito. Vygotsky prioriza a mediação em todas as relações de aprendizagem, interpessoal e intrapessoal, é a linguagem que entra na mente e organiza o pensamento. Para este teórico, o ambiente deve é um espaço rico em significados, símbolos/signos que possibilitam o desenvolvimento da aprendizagem. O espaço escolar deverá favorecer a realidade sócio-cultural e levar em conta o desenvolvimento real da criança. É a partir daí que a escola começa a trabalhar por meio da Zona de Desenvolvimento Proximal/Potencial. Se não há aproximação entre espaço e realidade do sujeito, torna-se inviável o desenvolvimento da aprendizagem. Pra Vygotsky, o único bom ensino é aquele que antecipa o desenvolvimento e neste sentido, o espaço físico também deve antecipar este desenvolvimento a partir de sua organização e da percepção.
A percepção age, num sistema que envolve outras funções. Ao percebermos elementos do mundo real, fazemos interferências baseados em conhecimentos adquiridos previamente e em informações sobre a situação presente, interpretando os dados perceptuais à luz de outros conteúdos psicológicos (OLIVEIRA, p. 74).
O espaço escolar surge como signo que interfere diretamente nas atividades psicológicas da criança. Pra Vygotsky (apud OLIVEIRA, p. 30), os signos são marcas externas que auxiliam o homem em tarefas que exigem memória e atenção. [...]. A memória mediada por signos é, pois, mais poderosa que a memória não mediada. Dai a importância de um espaço que também sirva como instrumento mediador. Tudo o que compõe este espaço deve possibilitar o desenvolvimento cognitivo e sociocultural da criança. São as marcas externas do ambiente que possibilitarão o processo de internalização, também estudado por Vygotsky. Será a partir da internalização que o indivíduo passará a operar mentalmente.
Tendo por base as argumentações teóricas realizadas por Vygotsky e Piaget, conclui-se que é de extrema importância a reflexão a respeito da organização do espaço físico escolar para a aprendizagem da criança, por compreender que o ambiente no qual a criança está inserida, tem grande tem grande importância neste processo educacional. Pensar nesta organização, implica, pensar em que tipo de sujeito gostaríamos de formar e também, possibilitará aos educadores e instituições um novo olhar, escuta e conceito a sobre o indivíduo que está sendo formado.
Torna-se importante também que a construção desse espaço possa ter a contribuição direta dos indivíduos que dele usufruirão. A criança que vive em um ambiente construído por ela e para ela, terá facilidade de expressar sua forma de pensar, desenvolverá a linguagem como um todo de forma significativa e prazerosa e ampliará sua relação com o outro e com o mundo. O conhecimento se constrói a cada momento em que a criança tem a possibilidade de poder explorar os espaços disponíveis a ela. Na concepção construtivista, o educador tem um olhar específico para o educando, percebendo-o como sujeito de sua própria aprendizagem, o que equivale a dizer que ele atua de modo inteligente em busca da compreensão do mundo que o rodeia (ROSA, 2002, P. 48).
O papel do educador neste espaço é de um mediador e de um parceiro mais experiente que promove a interação, que planeja e que organiza atividades com o objetivo de através das relações dentro do espaço escolar, buscar o desenvolvimento integral da criança. Nesta organização espacial escolar, conhecer consiste em operar sobre o real e transformá-lo a fim de compreendê-lo, é algo que se dá a partir da ação do sujeito sobre o objeto de conhecimento. As formas de conhecer são construídas nas trocas com os objetos, tendo uma melhor organização em momentos sucessivos de adaptação ao objeto. Este ambiente leva em conta o indivíduo e toda a sua bagagem sociocultural, tendo em vista as abordagens vygotskyana e piagetiana.
Pensar na organização do espaço escolar é pensar no sujeito que age sobre o meio, que sofre ações sobre este meio e que interage o tempo todo com o mesmo. Cabe aos educadores, não se apegar puramente as teorias de Piaget ou de Vygotsky, ou seja; não eleger unicamente uma delas. O professor que compreende o sujeito como um todo e não como partes isoladas, deve, refletir sobre essas duas teorias e sobre tantas outras que possam trazer contribuições significativas a respeito do tema tratado neste ensaio acadêmico, visando o desenvolvimento do ser pensante, autônomo, sociocultural, construtor do seu conhecimento, reflexivo, crítico, histórico e sobre tudo, um ser que traz em sua essência a necessidade de ocupar um espaço e de interagir com este.




REFERÊNCIAS

KRAME, Sônia. Com a pré-escola nas mãos. São Paulo: Ática, 2000.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: Aprendizado e desenvolvimento. Um processo sócio-histórico. São Paulo: Ed. Scipione, 2008.

ROSA, Sanny S. da. Construtivismo e mudnças. 8ª ed. São Paul, Cortez, 2002. (Coleção Questões da Nossa Época; v. 29)




Autor: Idália Ramos


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