UMA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS EDUCADORES E EDUCANDOS DO ENSINO MÉDIO ACERCA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DA ESCOLA



UMA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS EDUCADORES E EDUCANDOS DO ENSINO MÉDIO ACERCA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DA ESCOLA


Maria Silene de Souza e Silva
Pós-graduanda em Educação Ambiental e Geografia do Semiárido numa Abordagem Interdisciplinar ? UAB/IFRN
[email protected]

Carmem Cristina Fernandes do Amaral
Prof.ª Orientadora ? Tecnóloga em Meio Ambiente ? IFRN, Licenciada e Mestranda em Geografia ? UFRN
[email protected]


RESUMO
A Educação Ambiental com ênfase na humanização da sociedade tem suscitado, atualmente, muita preocupação em toda esfera social: governos, organismos nacionais e internacionais e ainda em comunidades locais. Desta forma, esta pesquisa teve como objetivo analisar a percepção de educadores e educandos do Ensino Médio, do período noturno, da Escola Estadual Profª Marluce Lucas, em João Câmara/RN, acerca da Educação Ambiental no contexto da escola, numa abordagem interdisciplinar, tomando-se como pressuposto o fato de que a Educação Ambiental tem relevante papel na mudança da realidade do indivíduo, contribuindo para a formação de cidadãos humanizados e conscientes ecologicamente em relação ao ambiente em que vivem. Esta pesquisa é um estudo de caso, fundamentada principalmente nos pressupostos e orientações pedagógica de autores como Paulo Freire, Vilmar Berna e Carvalho. Além de tomar como base também os princípios da Constituição Federal de 1988 e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN?s 2001).

PALAVRAS-CHAVES: Educação Ambiental, Escola, Sociedade, Consciência Ecológica.

AN ANALYSIS OF THE PERCEPTION OF EDUCATORS AND STUDENTS HIGH SCHOOL ABOUT ENVIRONMENTAL EDUCATION IN THE CONTEXT OF SCHOOL
SUMMARY
Environmental Education with emphasis on the humane society has raised, currently, a lot of concern across the social sphere, governments, national and international organizations and even local communities. Thus, this research aimed to examine the perceptions of teachers and students of high school, the night period, the State School Prof. Marluce Lucas in João Câmara/RN, about the Environmental Education in the school context, an interdisciplinary approach, taking as premise the fact that environmental education has important role in changing the reality of the individual, contributing to the formation of humane and environmentally conscious citizens in relation to their environment. This research is a case study, based mainly on assumptions and pedagogical guidance of authors such as Paulo Freire, Vilmar Bern and Carvalho. Besides also build on the principles of the Constitution of 1988 and the National Curricular Parameters (PCN's 2001).

WORDS-KEYS: Environmental education, School, Society, Ecological Conscience.
UMA ANÁLISE DA PECEPÇÃO DOS EDUCADORES E EDUCANDOS DO ENSINO MÉDIO ACERCA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DA ESCOLA


INTRODUÇÃO

No principio Deus criou o céu e a Terra. Deus disse: [?] Que a terra produza relva, ervas que produzam sementes e árvores que deem frutos sobre a terra [?]. [?] Que as águas fiquem cheias de seres vivos e os pássaros voem sobre a terra [?]. [?] Que a terra produza seres vivos conforme a espécie de cada um [?]. [?] "Façamos o Homem a nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os repteis que rastejam sobre a terra." (GENESIS 1,1.11.20.24.26-28)

Esta mensagem bíblica mostra que desde o princípio o homem tem o domínio sobre o seu meio. Isto é, só o homem modifica intencionalmente as condições da natureza para o seu benefício. Esta intencionalidade é o que difere o homem dos outros animais. O crescimento do capitalismo no mundo inteiro tem levado o homem a olhar a natureza como uma fonte inesgotável de riquezas, onde se retira o máximo de benefícios, sem a preocupação com a preservação para manutenção do equilíbrio natural, se excluindo totalmente do contexto ecológico, Com tudo, agindo desta maneira, o homem passa a ser apenas mais um predador do planeta Terra, que vem sofrendo a cada dia que passa, com as implicações da ação antrópica sobre o meio ambiente.

Nos últimos anos, nosso planeta vem passando por inúmeras transformações que tem preocupado a todos, principalmente cientistas no mundo inteiro. Podemos falar que a "mãe natureza", não está feliz com as atitudes do homem, que deveria amá-la e conservá-la. Ela clama, pede ajuda, manifesta-se através de reações catastróficas, tais como: enchentes, secas, degelo da calota polar, buraco na camada de ozônio etc. Resultado da ignorância e/ou ganância humana que há décadas degradam de maneira violenta os inúmeros ecossistemas da terra. Percebendo a importância que tem o meio ambiente para nossas vidas e que a ecologia nos permite conhecer as ligações entre os seres vivos (animais e vegetais) e o ambiente em que vive, sentimos a necessidade de nos aprofundarmos no estudo desta temática, por entender que preservar o meio ambiente é preservar a própria vida. Esta preservação se constitui em mudanças de conceitos, atitudes e procedimentos no contexto social, político, econômico e cultural. Acreditamos que ninguém pode salvar o planeta sozinho, porém, se o nível de conscientização ecológica crescer em cada um de nós, aos poucos teremos um exército lutando contra a degradação da natureza e da vida.

Nesta perspectiva a educação ambiental surge como uma postura de respeito e responsabilidade com a conservação ambiental dentro de uma nova ótica que nos permite uma visão geral de tudo que nos rodeia. Através da Educação Ambiental podemos ver o mundo com mais clareza, respeito, amor, beleza e solidariedade e sentir-se parte integrante deste todo.

Analisando a frase: "O planeta pede socorro!", percebemos a Educação Ambiental como uma luz que permite caminhar e atuar melhor neste mundo, buscando assegurar uma maneira mais coerente de viver, com propósito de construir uma sociedade mais justa e equilibrada ecologicamente.

A proposta de difusão de Educação Ambiental como ferramenta de mudança nas relações do homem com o ambiente surge na década de 60, a partir dos movimentos centro-culturais e ecológicos. Sua principal preocupação era o futuro da vida no planeta e superar a dicotomia entre natureza e sociedade.

As finalidades da Educação para o Ambiente foram determinadas pela UNESCO, logo após a Conferência de Belgrado (1975):

Formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas com ele relacionados, uma população que tenha conhecimento, competência, estado de espírito, motivações e sentido de empenhamento que lhes permitam trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais, e para impedir que eles se repitam.

Diante disto, esta pesquisa teve o propósito de analisar a percepção de educadores e educandos do Ensino Médio, do período noturno, da Escola Estadual Prof.ª Marluce Lucas, em João Câmara/RN, acerca da educação ambiental no contexto da escola, numa abordagem interdisciplinar, como o tema exige. Esperando possibilitar, assim, um trabalho mais integrado na construção de uma visão global das questões ambientais, visualizando não só os aspectos físicos, mas também os aspectos históricos e sociais. Isto é, superar a fragmentação do saber. Este trabalho foi de grande relevância para a escola e para a comunidade, uma vez que não existe uma disciplina de Educação Ambiental no currículo escolar.

Acreditamos que a Educação Ambiental se constitui num elo entre toda as áreas do conhecimento e deverá preencher um espaço na educação escolar, que é a preservação de todas as espécies de vidas existentes e, portanto, do meio ambiente. Neste sentido, o convívio escolar é decisivo na aprendizagem de valores sociais e o ambiente escolar é o espaço de atuação mais imediato para os educandos. Assim, é preciso enfatizar a sua relevância neste trabalho.

Este artigo está organizado em três partes, onde na primeira parte enfatizaremos sobre os aspectos teóricos com ênfase na importância da Educação Ambiental. A segunda parte culmina-se na relação entre as informações coletadas, leitura e análise dos resultados e por último, as considerações finais.


A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Educação Ambiental é um processo indispensável para a transformação e conscientização das pessoas de forma direta em relação ao meio ambiente, para que elas compreendam a razão de preservá-lo, isto é, entendam que a boa qualidade de vida humana depende de um ambiente sadio e que devem conservar este patrimônio.

Nas últimas décadas, a ação humana vem causando ao planeta Terra um grande impacto ambiental. De acordo com o PCN (2001, p19), "À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos". Portanto, defender o planeta preservando a flora, os ecossistemas e os habitantes, combater a poluição e degradação de recursos naturais e o próprio ambiente tornou-se uma prioridade, ou seja, uma questão de sobrevivência.

Na natureza, tudo está interligado, nada vive isolado. Um ser depende do outro para poder sobreviver. A coisa, mais importante para a vida planetária é o entrelaçamento de relações que os seres vivos mantém entre si e com o ambiente em que vivem. Desta forma, o meio ambiente não é só constituído pelo mundo natural, mas também, pelo mundo construído pela ação humana. Neste caso, existe uma divisão de responsabilidades de cada um pela degradação do planeta e pela conservação de um mundo ecologicamente equilibrado.

Concordamos com BERNA (2001, p.21) quando ele diz:

É fato que, por mais carente que seja, a população possui consciência ecológica só que essa percepção é bastante romântica, associando-se mais a proteção das plantas e dos animais e menos a qualidade de vida da espécie humana, como se não fizéssemos parte da natureza. Para a maioria, lutar pelo fim das valas de esgotos a céu aberto, más condições de trabalhos nas fábricas não tem nada haver com o meio ambiente.

O poder público, os políticos e os empresários têm maiores responsabilidades em relação às agressões à natureza, devido aos interesses socioeconômicos de nossa espécie, pois, além de terem o poder de tomar decisões, também fazem uso inadequado dos recursos naturais, como se estes fossem fontes inesgotáveis. Porém, nós, cidadãos comuns, não estamos impedidos do exercício de cidadania, devemos e podemos sim, fazer a nossa parte.

A gravidade dos problemas relacionados ao meio ambiente é preocupante. Seja um país pobre ou rico, o fato é que a degradação ambiental prejudica a vida de todos os seres vivos. No que se refere ao ser humano, este fica prejudicado principalmente na sua qualidade de vida, no sentido mais completo da palavra. Portanto, o papel da Educação Ambiental é de fundamental importância, principalmente na escola, que deve ter como objetivo maior a formação de cidadãos críticos e comprometidos, de forma responsável, com o futuro. Com tudo, é fundamental uma ação coletiva por parte de todos os envolvidos dentro do ambiente escolar, no sentido de conhecer bem a realidade em que se está inserido e quanto isso os PCNs são enfáticos:

para que se possa compreender a gravidade desse problema e vir a desenvolver valores e atitudes de respeito ao meio ambiente, é necessário que antes de tudo, se saibam quais as qualidades desse ambiente, dessa natureza que se quer defender, porque as pessoas protegem aquilo que amam e valorizam. (Os PCN, (2001, p.73)

Como se vê, é preciso conhecer o ambiente em que vivemos para que possamos atuar na realidade socioambiental de um mundo comprometido com a vida de cada ser vivo, da comunidade local e global. O crescimento econômico, científico e tecnológico propiciou um grande progresso material. Entretanto, a sociedade se encontra numa crise planetária em todos os aspectos: econômico, político, moral etc. O ambiente está sendo ferozmente degradado.

A Constituição Federal (1988, p.127), no artigo 225. Afirma o seguinte:

Todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

De acordo com esta afirmação, é dever de cada cidadão contribuir para preservação e restauração do sistema ecológico exigindo das organizações e do poder público, o cumprimento da lei. Fiscalizando e atuando de acordo com o que lhe compete para que todos possam adquirir uma consciência de educação ambiental.

A abordagem do tema meio ambiente na escola e a Política Nacional de Educação Ambiental foram instituídas pela Lei Federal nº. 9795, de 27 abril de 1999. Diante deste amparo legal, entendemos que é nosso papel educar e sensibilizar a sociedade humana, a fim de formar uma nova postura em suas relações com o ambiente.

Segundo CARVALHO, (1992,

A formação do cidadão e conscientização da comunidade escolar são os elementos essenciais para a execução e êxito dos programas de Educação Ambiental. Essa comunidade além de colaborar na preservação e participação da vigilância ambiental, deve também tomar decisões sobre os problemas relativos à sua interação para se manter em condições adequadas de vida.

Nestes termos, o espaço social da escola dará um encaminhamento ao crescimento sócio ambiental do alunado, que deve ser aprendido na prática e no cotidiano da vida escolar.

No campo educacional, o interesse pela a Educação Ambiental tem crescido expressivamente nos últimos anos, devido à necessidade de uma ação que seja discutida e analisada entre as várias disciplinas que restringe as quatro paredes de uma sala de aula, mas ultrapassa os limites do saber escolar e se fortalece na medida em que ganha a amplitude da vida social, interligando as diversas formas de conhecimento e de conteúdos ( GRUN, (2004).

Enfim, a Educação Ambiental, não é só uma questão educacional e sim uma questão de sobrevivência. E a escola é o ambiente primordial para a formação de cidadãos preocupados com o meio ambiente mais equilibrado e, consequentemente, com uma sadia qualidade de vida.


ESCOLA: ESPAÇO PRIVILEGIADO PARA IMPLANTAÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A evolução do pensamento ambiental está ligada ao desenvolvimento da ciência ao longo da história da humanidade, assim como as degradações e as alterações ambientais processadas no planeta Terra. O pensamento ambientalista surgiu com objetivo de proteção à natureza. Em seguida, com o passar do tempo, as prioridades e necessidades ambientais tornaram-se fator preponderante na determinação das políticas internacionais e na criação do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA).

Na década de 70, o cenário foi bastante favorável para essa evolução, inclusive, para a introdução da participação popular, para a participação comunitária na discussão dos problemas relacionados ao Meio Ambiente e a busca de soluções para estes. neste período surgem as conferências com objetivo de preparar o ser humano para viver em harmonia com o meio, a partir da Educação Ambiental com caráter interdisciplinar.
A Constituição Federal (1988), em seu art.225, inciso VI, parágrafo 1º. diz que o poder público em todas as esferas governamentais, tem a incumbência de Promover a Educação Ambiental em todos os níveis de Ensino. E a Política Nacional de Educação Ambiental, a Lei 9795/99 em seu art. 4º, estabelece quais são os princípios básicos da Educação Ambiental, que devem ser seguidos no Brasil:

Art. 4. São princípios básicos da Educação Ambiental:
I - O enfoque humanística, holístico, democrático e participação;
II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade;
III - o pluralismo de ideia e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade;
IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais;
V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo;
VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo;
VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;
VIII - o reconhecimento e o respeito a pluralidade e à diversidade individual e cultural (BRASIL,1999).

Diante destes princípios, fica evidente que a Educação Ambiental tem como objetivo fazer com que o ser humano se veja como parte do meio ambiente e supere a sua visão antropocêntrica, que o fez sentir-se o centro de tudo e esquecer a importância da natureza, da qual ele é parte integrante. Cada cidadão tem que entender que através da defesa do meio ambiente está sendo preservada também a qualidade de vida e consequentemente o futuro da humanidade. Neste termo, a Educação Ambiental se dá pelo fortalecimento da ética e cidadania em defesa da qualidade ambiental com caráter participativo humanístico e interdisciplinar. Portanto, a escola tem papel fundamental não só de cumprimento do currículo programático, mas também, de colaborar na formação de cidadãos críticos, conscientes e responsáveis com a sociedade.

Os problemas enfrentados pela sociedade no momento atual são reflexos de um modelo deficiente de educação que pouco tem contribuído para formação de cidadãos conscientes e solidários. Partindo do pressuposto que a educação é a forma mais eficaz de sensibilizar à população dos problemas ambientais e que este processo de intervenção deve ser praticada pela ação da escola, torna-se urgente de um educador ambiental presente não só em sala de aula, mas, proporcionando atividades extra-sala de aula para os educandos.

A escola, nessa perspectiva tem função relevante de despertar uma consciência ecológica no alunado contribuindo para a transformação da sociedade, pois, acredita-se que este é o melhor caminho para mudar as relações do homem com o meio. Neste contexto, a ação da Escola deve ser no sentido de que o aluno torne-se consciente de seu papel como cidadão e passe a agir como tal.

FREIRE (2005, p.65), nos ensina que:

Quanto mais analisamos as relações educador-educandos, na escola, em qualquer de seus níveis (ou fora dela), parece que mais nos podemos convencer de que estas relações apresentam um caráter especial e marcante - o de ser relações fundamentalmente narradoras, dissertadora.

Assim, a escola em parceria com a comunidade e o poder público, deve propiciar aos educandos projetos de Educação. Ambiental, afim de que se torne uma instituição educacional sustentável.

Para Vasconcellos (1997),

a presença em todas as práticas educativas, da reflexão sobre as relações dos seres entre si, do ser humano com ele mesmo e do ser humano com seu semelhante é condição imprescindível para que a Educação Ambiental ocorra.

Sendo assim, a escola surge como um espaço privilegiado para implantação de atividades que proporcione esta reflexão e o processo de conscientização da comunidade escolar deve fomentar iniciativas que transcendam o espaço da escola, atingindo não só o bairro que ela está inserida como também comunidades onde os professores, funcionários e alunos residem.

Contudo, implantar a Educação Ambiental nas escolas tem se mostrado uma tarefa difícil, pois, ainda a muita dificuldade nas atividades de sensibilização e formação de implantação de projetos ou atividades. Além disso, quando se consegue implantar algum projeto a também a dificuldade em mantê-lo. Mesmo assim, com todas as dificuldades que se apresentam, hoje, a Educação Ambiental tornou-se uma ferramenta indispensável no combate a destruição do Meio Ambiente e são os professores e alunos os principais agentes de transformação e conservação ambiental.


A PESQUISA: DA COLETA AOS RESULTADOS


CAMINHOS PERCORRIDOS

Este trabalho de pesquisa é um estudo de caso, realizado numa escola pública da rede estadual de ensino, na cidade de João Câmara/RN, no período de agosto a setembro de 2010. A investigação teve como sujeitos 12 professores e 30 alunos do Ensino Médio (noturno) e utilizamos como instrumento de coleta de dados, a aplicação de dois tipos de questionários, onde o primeiro, com sete questões, foi aplicado junto aos docentes e o segundo, com seis perguntas, foi aplicado junto aos discentes.

A escolha do instrumento investigativo (questionário) se deu pela objetividade das questões, onde obtivemos os dados estatísticos com precisão e ainda, preservamos os sujeitos envolvidos no processo. Vale salientar que antes da aplicação dos questionários enfatizamos a importância da participação de todos para a realização do trabalho, havendo assim uma participação bastante satisfatória.



Figura 1 - Aplicação do questionário junto aos alunos
Fonte: Ivanilson Pascoal, ago/2010


CARACTERIZANDO A ESCOLA ? CAMPO DE PESQUISA

A nossa investigação, teve como palco da pesquisa a Escola Estadual Professora Marluce Lucas, situada na rua Lopes Trovão, nº 51, no bairro Vila Nova , em João Câmara, cidade do Estado do Rio Grande do Norte. Sua estrutura física encontra-se assim dividida: diretoria, secretaria, sala do professor, telessala, cozinha, oito banheiros (sendo dois para funcionários e seis para os alunos), e oito salas de aula para atender ao Ensino Fundamental nos turnos matutino e vespertino e, no noturno, Ensino Médio e EJA. Cabe ressaltar que o público alvo da pesquisa foram os alunos e professores do Ensino Médio.

O público discente, participante da pesquisa, é formado por jovens e adultos moradores da zona rural e bairros periféricos de nosso município. Na sua maioria, são pessoas de baixa-renda como trabalhadores com carga horária bastante elevada, mães solteiras, empregadas domésticas, desempregados e pais de família.

Quanto aos professores, todos possuem formação superior. Porém, com jornada dupla de trabalho, impedidos assim, de realizar um trabalho voltado para o processo de aprendizagem que possibilite ao educando um aprender significativo para que contribua na formação da cidadania. Sem tempo destinado à pesquisa e estudos para desenvolver projetos e atividades voltados a melhorar a qualidade do seu fazer pedagógico.























LEITURA E ANÁLISES DOS RESULTADOS

Os resultados obtidos durante a pesquisa foram agrupados de acordo com cada questionamento, possibilitando uma melhor compreensão dos dados adquiridos organizados em gráficos. Iniciamos com as respostas dos docentes:


Gráfico 1 ? Presença da Educação Ambiental na formação acadêmica dos professores

O Gráfico 1 demonstra a carência do tema Educação Ambiental na formação acadêmica dos professores pesquisados. Ela mostra claramente a necessidade de se intensificar os estudos sobre a temática em questão, nas universidades e nos cursos de aperfeiçoamento de professores.

Gráfico 2 ? Finalidades da Educação Ambiental para os professores.

O gráfico 2 deixa claro que, de certa forma, todos os professores questionados tem algum conhecimento das finalidades da Educação Ambiental. No entanto, fica evidente que se trata de um conhecimento empírico, uma vez que seus conceitos são limitados.


Gráfico 3 ? Percepção acerca da Educação Ambiental como disciplina.













Ao analisarmos as respostas representadas no gráfico 3, percebemos que aqueles que responderam sim, justificaram dizendo que Educação Ambiental tinha bastante conteúdo, assim ela deveria ser disciplina obrigatória em todos os níveis de ensino. No entanto, os que responderam não, justificaram da seguinte forma: um disse que deveria ser trabalhado apenas no componente curricular de geografia; um segundo, nas áreas afins como: geografia, biologia e ciências e outro, deve ser trabalhado de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais.


Gráfico 4 ? Como o tema "Meio Ambiente" deve ser trabalhado na escola

Pudemos constatar, de acordo com o gráfico 4, que os professores ainda não tem uma postura de educador ambiental, apesar de apresentar alguns encaminhamentos para tal atividade.

Gráfico 5 ? Inserção da dimensão ambiental na prática educacional

Apesar de 76% dos professores pesquisados responderem que consegue inserir a Educação Ambiental em sala de aula, percebemos através das respostas anteriores que trata de um trabalho extremamente superficial e que as dificuldades encontradas em trabalhar a temática decorre de algumas fragilidades na formação acadêmica em relação às questões ambientais.


Gráfico 6 ? Preparo do professor frente à Educação Ambiental

Como se observa no gráfico 6, 59% dos interrogados reconhecem que não estão preparados para inserir o tema ambiental no cotidiano da escola em sua totalidade. É relevante salientar que o governo através do sistema educacional tem pouco investido em qualificação profissional dos docentes para trabalhar com as questões no ensino formal, associando os conteúdos às diversas áreas do conhecimento de forma relevante. Relacionando a problemática com aspectos econômicos, políticos e sociais.


Gráfico 7 ? Conhecimento das leis sobre Educação Ambiental

Ao analisar os dados apresentados no gráfico 7, fica evidente que, apesar da existência de Leis Federais, Estaduais e Municipais que tutelam a temática em questão, 67% dos professores investigados diz desconhecer a Legislação Ambiental. A nossa prática como professora de apoio pedagógico, nos permite afirmar que este desconhecimento, não só ambiental, mas nas demais áreas que compõem o currículo escolar, é um dos grandes problemas existentes na educação, principalmente nas escolas públicas.

Apresentamos agora, os dados obtidos nos questionários aplicados aos discentes:


Gráfico 8 ? Entendimento dos discentes acerca do que Educação Ambiental

Analisando o gráfico 8, percebe-se que os discentes ainda não tem clareza na conceituação de Educação Ambiental. Este resultado evidencia o que se vem discorrendo ao longo deste artigo: a necessidade de se trabalhar uma formação adequada em relação à Educação Ambiental para que o profissional se torne também um educador ambiental.


Gráfico 9 ? A Educação Ambiental na escola objeto de estudo

Como está descrito no gráfico acima, 68% dos alunos demonstram que a escola não desenvolve Educação Ambiental no currículo escolar. Mediante as respostas dos professores pesquisados não se podia espera outro resultado dos alunos.


Gráfico 10 ? conhecimentos do alunado acerca das Leis da Educação Ambiental

Através do gráfico 10, podemos perceber que os alunos questionados desconhecem a legislação, apesar de 10% afirmarem que sim. Mesmo os que dizem conhecer a legislação, percebe-se que não construíram esse conhecimento na sala de aula e sim, em participação de eventos ou projetos ambientais fora do âmbito escolar.


Gráfico 11 ? Participação dos discentes em eventos relacionados ao meio ambiente.

Só 20% dos alunos envolvidos na pesquisa participaram de eventos de Educação Ambiental. Segundo eles, patrocinados por organismo do governo municipal.


Gráfico 12 ? Disciplinas que trabalham Educação Ambiental

As respostas a este questionamento (Gráfico 12) mostram como a escola, ainda trabalha conteúdos integrados a área das ciências, reduzindo a Educação Ambiental a um enfoque naturalista e não social.



Gráfico 13 ? O que você, como jovem pode fazer para melhorar nosso planeta?

De acordo o gráfico 13, podemos considerar que os alunos questionados têm de certa forma uma consciência ecológica, apesar de 3% dizer que não pode fazer nada para melhorar o planeta, por acreditar que o meio ambiente não tem mais conserto.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo realizado para elaboração deste trabalho foi de fundamental importância para o fortalecimento da discussão sobre Educação Ambiental dentro da Escola Estadual Professora Marluce Lucas. Foi possível perceber, através dos dados obtidos que os educadores, agentes participantes da pesquisa, reconhecem a relevância do trabalho com a Educação Ambiental na escola, de forma sistematizada com a prática para que os alunos compreendam a problemática ambiental e se posicionem de forma reflexiva e crítica diante de tal situação. No entanto, a temática ambiental ainda é tratada como conteúdo apenas da área das ciências naturais.

Percebeu-se também que este trabalho contribuiu para despertar nos professores a importância das Leis que tratam sobre a Educação Ambiental no ensino formal, bem como a necessidade da qualificação para a concretização da prática pedagógica, tendo como tema o meio ambiente. Portanto, para uma implantação de uma proposta voltada para a Educação Ambiental no sentido de proporcionar aos educandos a construção de uma consciência ecológica, é fundamental que os educadores tomem por base os princípios da transversalidade, de forma interdisciplinar. As atividades propostas devem se dá num processo contínuo, levando em consideração a realidade dos alunos e seus saberes sistematizados, ou seja, é preciso adotar uma dinâmica que privilegie a ação-reflexão-ação.

A educação Ambiental na escola deve buscar valores que conduzam a uma convivência harmônica com o meio e as demais espécies que habitam nele, auxiliando o educando para uma consciência ecológica ao analisar o princípio antropocêntrico que proporciona uma destruição inconsequente dos recursos naturais e de várias espécies da natureza.

Diante de tantas pistas para efetivar uma prática de Educação Ambiental na Escola, e de ter o conhecimento, previamente da percepção ambiental dos atores envolvidos nesta pesquisa, nos permitem fazer algumas recomendações:

? Formação continuada para os educadores poderem repensar, reelaborar ou até mesmo modificar suas concepções e práticas de Educação Ambiental na Escola;
? As ações desenvolvidas devem ser fundamentadas pela cooperação e pela a geração de autonomia de todos envolvidos no processo, que culminem em mudanças de mentalidades para que possam transcender além do espaço escolar;
? Os professores devem trazer para a sala de aula, textos que estimulem as leituras reflexivas de temas ambientais como: escassez de água, doenças decorrentes da falta de saneamento básico, catástrofes, lixo urbano, consumo, miséria, energias alternativas, inovações tecnológicas na área ambiental entre outros problemas oriundos da falta de preservação do meio ambiente etc.

Enfim, partindo do pensamento de Paulo Freire, para quem a educação deve ter como objetivo maior desvelar as relações opressivas vividas pelos homens, transformando-os para que eles transformem o mundo, e buscando fazer com que a Escola Estadual Prof.ª Marluce Lucas exerça seu papel na formação da consciência ambiental de seu alunado, propõem-se a implantação de Educação Ambiental no Projeto Político Pedagógico da Escola, de acordo com os PCN?s e a legislação vigente, com o objetivo de formar cidadãos críticos e conscientes, dispostos a tomar novas atitudes e adotar novos estilos de vida, visando a construção de futuros possíveis, através da ótica da sustentabilidade ecológica e da equidade social. Desse modo, consideram-se essenciais a adoção de medidas cujo objetivo seja consolidar novos paradigmas escolares, no sentido da elucidação e transformação da realidade. Os caminhos não são difíceis, os documentos e as ideias de como se de abordar a temática estão presentes no nosso cotidiano, cabe a cada um criar seu próprio percurso.


REFERÊNCIAS

1. AMBIENTAL, Educação. Caderno: Conceitos para se fazer Educação Ambienta-UNEP/UNESCO.
2. ANDRADE, Tânia. JERÔNIMO, Valdeth. Meio Ambiente: Lixo e Educação Ambiental. João Pessoa: Grafset, 2003.
3. BERNA, Vilmar. Como fazer educação ambiental. São Paulo: Paulus, 2001.
4. BRASIL, Lei nº 9795, 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental. Política Nacional de Educação Ambiental.
5. BRASIL. Constituição (1988). Constituição (da) República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
6. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases, 9.394/96. Brasília. DF.1996.
7. CARVALHO, Isabel C. de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico, São Paulo: Cortez, 1992.
8. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 2005.
9. GRUN, Mauro. Ética e Educação Ambiental: o Meio Ambiente. 24 ed. São Paulo: Papiros, 2004.
10. LUDKE, Marli. ANDR E. D. A.. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
11. PARAMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Meio Ambiente e Saúde/tema transversais. Brasília: MEC/SEF, 2001.
12. SAGRADA, Bíblia. (GENESIS 1,1.11.20.24.26-28)

13. UNESCO, Carta de Belgrado (Iugoslávia 1975)
14. VASCONCELLOS, H. S. R. A pesquisa-ação em projeto de Educação Ambiental. In: PEDRINI, A. G. (org). Educação Ambiental: reflexões e práticas contemporâneas. Petrópolis, Vozes, 1997.

Autor: Maria Souza E Silva


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