FUNCIONALISMO - FUNÇÕES DA LINGUAGEM



FUNCIONALISMO - FUNÇÕES DA LINGUAGEM

Manoel Huíres Alves

No início do século XX, a Linguística, foi marcada por uma inovação metodológica, pois antes do século XIX, ela não havia ainda adquirido caráter científico. Só a partir daí - do século XX - é que os fatos linguísticos passaram a ser relevantes no seu aspecto funcional, e a Linguística, enfim, passou a dar prioridade à língua falada, preocupando-se em analisá-la, em todos os seus aspectos, como ela se manifestara em determinada época.

Com o desenvolvimento das teorias e o progresso do método comparativista do século XIX, os estudos lingüísticos (do século XX) adotaram uma nova orientação e uma nova atitude com relação ao enfoque e ao objeto de estudo da lingüística, surgindo, nesse sentido, várias correntes lingüísticas. Sendo que, destas várias correntes lingüísticas surgidas durante a primeira metade do século XX, as mais importantes foram três, que são: Estruturalismo, Gerativismo e Funcionalismo.

Mas, o objetivo do presente artigo, é tratar, de forma sucinta, do Funcionalismo linguístico e, mais especificamente, acerca das funções da linguagem.

A corrente linguística funcionalista ou Funcionalismo Lingüístico nasceu dos trabalhos dos membros do Círculo Lingüístico de Praga que apresentaram, como idéia geral, a noção de que a estrutura das línguas é determinada por suas funções (Paveau; Sarfati, 2006). Sendo, portanto, os termos "função" e "funcionalismo" decorrentes da Escola Lingüística de Praga, onde a interpretação desses vocábulos tornaramse uma tarefa complexa, haja vista que, o conceito é aplicado a variados domínios e fenômenos
da linguagem, sofrendo modificações. O conceito de funcionalismo, em lingüística, está ligado à escola mencionada, contudo, após algum tempo, ele desenvolveu seus próprios pressupostos, tomando "vida própria e independente" (Neves, 1997, p. 112).

Más até que ponto o Funcionalismo difere do Estruturalismo e do Gerativismo? De acordo com Cunha, Costa e Cezario (2003), a corrente Funcionalista difere das demais correntes - Estruturalista e Gerativista - por conceber a linguagem como um instrumento de interação social, tendo como interesse de investigação lingüística tanto a estrutura gramatical quanto o contexto discursivo, que motiva a realização dos fatos da língua. E mais, nesse pensamento, enquanto o Funcionalismo busca privilegiar as transformações das formas da linguagem na sociedade (Paveau; Sarfati, 2006), não se restringindo apenas ao aspecto formal da língua, mas sim, ao seu uso nas práticas sociais, o modelo lingüístico Estruturalista privilegia o estudo da linguagem através dos fatores mecânicos da comunicação verbal e o modelo Gerativista procura mostrar a capacidade do falante-ouvinte de produzir e compreender um número infinito de frases que nunca tenha ouvido antes, mediante um número finito de regras e elementos que se combinam. Entendemos assim, que a estrutura gramatical depende do uso que se faz da língua e é motivada pela situação comunicativa.

Assim sendo - deste modo - na perspectiva funcionalista, a língua é vista como um instrumento de interação social, cuja principal função é promover a comunicação, dando prioridade ao estudo dos princípios e estratégias que governam o uso comunicativo natural, sendo as expressões lingüísticas estudadas a partir de suas ocorrências em situações contextuais bem definidas. Assim, o estudo da estrutura da língua deve ser feita dentro do quadro do uso comunicativo da língua. Para Neves (1997:16), uma "gramática funcional tem sempre em consideração o uso das expressões lingüísticas na interação verbal, o que pressupõe uma certa pragmatização do componente sintático-semântico do modelo lingüístico." Em resumo, o paradigma funcionalista enfatiza a interação verbal, a performance e o papel da experiência e do meio físico para a explicação dos fenômenos lingüísticos.

Pois bem, nenhum acontecimento de linguagem tem uma função total e é exclusivista. Os usos da linguagem se distinguem - e mudam - por uma distribuição diferente das diversas funções de acordo com uma hierarquia na qual algumas funções ocupam uma posição mais proeminente. Assim, uma poesia ou um poema, que é marcada, pela função poética pode também apresentar as funções metalingüística, conativa ou referencial.

A teoria das funções da linguagem apresenta um olhar sobre o fenômeno lingüístico que transcende a descrição de seus elementos, integrando os fatores funcionais em suas pesquisas. Sendo que um dos objetivos principais da abordagem funcionalista é verificar o modo como determinada língua é usada por seus falantes para fins de comunicação, ou seja, as funções por ela exercidas a fim de atingir os seus próprios propósitos e intenções no momento da enunciação.

A princípio, foram atribuídos outros sentidos ao termo "função" empregado na teoria funcionalista. Nichols (1984. apud. Neves, 2004:6), distingue, então, cinco sentidos empregados a esse termo: a) função como sinônimo de interdependência; b) função como sinônimo de propósito; c) função como sinônimo de contexto; d) função como sinônimo de relação; e) função como sinônimo de significado. O autor nota ainda que "a maioria das obras funcionalistas usa função apenas nos sentidos de propósito e de contexto, e não distingue entre os dois" (p. 101. apud. Neves, 2004:7).

Roman Jakobson, lingüista russo, acrescenta às três funções de Karl Buhler mais três funções, do que resulta um total de seis funções. Cada uma dessas funções relaciona-se diretamente a fatores envolvidos no ato de comunicação verbal, como abaixo as listo:

- função referencial, que se relaciona ao contexto;

- função emotiva, que se relaciona ao falante (ou remetente);

- função conativa, que se relaciona ao ouvinte (ou destinatário);

- função fática, que se relaciona ao canal de comunicação;

- função metalingüística, que se relaciona ao próprio código lingüístico;

- função poética, que se relaciona à mensagem.

Para Jakobson (1969, apud. Neves, 2004: 11), há - em todo enunciado - um "feixe" hierarquizado de funções, cada uma envolvida no evento comunicativo, supramencionado destacado num ou noutro enunciado. Seguindo daí que, em cada mensagem, há uma função primária (que tem maior relevo na mensagem) e outras secundárias.

Michael Halliday, lingüista britânico, propondo uma teoria que tenta explicar fatos intrínsecos à língua, determina a existência de três diferentes funções na linguagem, que são elas:

1. Função Ideacional - A linguagem serve para expressar um conteúdo;

2. Função Interpessoal - A linguagem serve como um recurso para interagir em um evento de fala;

3. Função Textual - A linguagem contextualiza as unidades lingüísticas, fazendo as operar no co-texto e na situação.

Para a corrente Funcionalista, o que importa é o uso das expressões lingüísticas na interação verbal. Pois é através dela que se conhece a interação social entre os indivíduos, estabelecendo-se assim, relações comunicativas entre os usuários. A seguir, apresento algumas características da corrente funcionalista, classificada por Simon Dik (cf. Dik 1978):

1. A língua é um instrumento de interação social;

2. A principal função da linguagem é mediar a comunicação entre os usuários;

3. A capacidade linguística do falante compreende não só a habilidade de construir e interpretar expressões lingüísticas, mas também usar tais expressões de maneira apropriada e efetiva, seguindo os modelos da interação verbal que prevalecem na comunidade lingüística;

4. As expressões lingüísticas são compreendidas quando consideradas dentro do contexto, sendo as propriedades do contexto, determinadas pela informação contextual e situacional;

5. Os universais lingüísticos são explicados através dos fins de comunicação, dos contextos em que a língua é usada e das propriedades biológicas, psicológicas e cognitivas dos usuários.
Enfim, considerando tudo o que foi exposto acima e achando que o texto é a unidade real de comunicação, o que importa, então, é que o aluno ou o professor se interesse por descobrir como se deve construir o sentido do texto.





Autor: Manoel Huires Alves


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