A EDUCAÇÃO QUE NÃO QUEREMOS PARA OS NOSSOS FILHOS
Quando era criança, meus pais e irmãos mais velhos sempre diziam que a educação deste país não era a mesma, contando histórias do tipo "no meu tampo...". Eu reconhecia as diferenças e admirava as histórias que eles contavam. Grande parte da população era analfabeta, entretanto aqueles alfabetizados eram respeitados pelos demais e os procurávamos para retirar dúvidas, buscar conhecimentos e ouvir com muito prazer as suas intermináveis histórias, mesmo que tenham estudado apenas até o ensino fundamental. Meu pai estudou apenas até a 4ª série e todos os meus irmãos o admiravam pela forma como ele escrevia quase sem erros e português e pela habilidade na escrita. Tenho hoje 40 anos de idade e meus pais 75, ou seja, algumas gerações já se passaram e eu continuo contando para meus filhos histórias do tipo "no meu tampo...". Dá pra perceber, então, que essa situação caótica vem numa crescente desde muito tempo, sem pespectivas de melhoras.
Fui matriculado em uma escola apenas aos nove anos de idade. Antes disso, minha mãe e irmãs mais velhas foram minhas primeiras professoras. Todos os dias, religiosamente, colocavam eu e meus irmãos mais novos sentados em à mesa e passavam tarefas escolares como, construção silábica, tabuada, leitura, caligrafia, trabalhos manuais etc. Graças à minha família fui matriculado em uma escola pública regular já na 2ª série, pois já era alfabetizado. Naquela época os pais se preocupavam com a educação dos filhos, também se sentiam responsáveis diretos por isso; hoje, os pais, preocupados apenas em exigir seus direitos, se limitam apenas a matricular seus filhos em uma escola, e a grande maioria não se preocupa sequer em acompanhar o desenvolvimento do seus filhos, bem como a qualidade da escola na qual ele está estudando.
Gostaria de ouvir e ver se discutir amplamente sobre educação nesse país, como tem se falado ultimamente em Olimpíadas e em Copa do Mundo. Mas parece que a solução da educação no país está apenas nos exames de avaliação e no estabelecimento de cotas raciais. Será que as pessoas que estão pleiteando uma vaga por cotas, realmente estão correndo atrás de conquistas compensadoras?
Sinto-me muito decepcionado com o meu país, cada vez que é veiculada uma matéria na imprensa, seja falada ou escrita, sobre educação. Confesso que fico decepcionado, até quando a notícia é boa, como a de estudantes da cidade de Cocal dos Alves, no Piauí, cidade de apenas 5.600 habitantes, que foi a grande vencedora da 6ª Olimpíada Brasileira de Matemática dos Alunos das Escolas Públicas. Pois, ao ver a reportagem, vi que não era nem o ensino da cidade que estava evoluindo, mas uma pequena ilha de educação, formada por apenas duas escolas, graças a dois Super-heróis apelidados de professores que conseguem tirar leite de pedra em lugares onde até a "pedra" é rara. Esses merecem um Nobel de educação. Mas em um país onde a educação não é levada a sério, até o reconhecimento oficial de heróis como esses parece difícil de acontecer.
Parabéns aos anônimos Professores, verdadeiros "heróis da resistência", de uma resistência a tudo e a todos, aos baixos salários, às péssimas condições de trabalho, à falta de motivação, à falta de comprometimento e até ao fornecimento de livros didáticos equivocados que "analfabetizam", ao invés de alfabetizar. Parabéns também ao Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), com apoio dos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela iniciativa. Já é um começo, mas ainda é muito pouco para um país que tanto tem almejado e tão ambicioso tem se mostrado nos últimos anos.
Reginaldo Vitório de Sousa
Autor: Reginaldo Sousa
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