Pais atarefados, filhos solitários



Pais atarefados, filhos solitários.

Aquele pai era incansável, trabalhava dia e noite, noite e dia, de Domingo a Domingo. Ocupado até para a família, vê-lo no lar nos horários chamados convencionais era quase impossível. Tinha ele um nobre intuito: oferecer à esposa e filho o que em sua opinião era o melhor. Para o filho, a melhor escola, para a esposa, as melhores jóias.
O filho com freqüência reclamava sua presença: "Papai, venha brincar comigo?
- Agora não posso, filho, tenho que trabalhar para pagar seus estudos, seu curso de inglês, sua aula de natação, seu brinquedo novo, seu computador, suas lições de espanhol. E olha, tem também as jóias de sua mãe, o carro, o apartamento, enfim, papai é muito ocupado para brincar.
E foi assim, durante muitos anos. Na infância o filho chamava o pai para brincar, na adolescência para conversar, na vida adulta para passear e brincar com os netos, e a resposta daquele pai era sempre a mesma: "Papai não pode ainda, filho, quem sabe um dia, quem sabe...
Essa é a realidade de muitos pais atarefados em demasia para dedicar um espaço de sua concorrida agenda aos filhos. Não há um carinho, um abraço amigo, um olho no olho; a família, tristemente é relegada a segundo plano. O pai, com uma visão distorcida da realidade exagera na dose das atividades, e conseqüentemente sobrecarrega seus entes queridos, que acabam privados de sua companhia. Essas crianças são as chamadas órfãs de pais vivos, em que o encontro com o progenitor é um verdadeiro acontecimento, digno de registro. Para esses pais, equivocadamente amor é sinônimo de presente, que distribuem, julgando que assim compensarão os filhos. Acabam, não raro, deixando a educação, tarefa esta de sua responsabilidade, a cargo da escola, dos avós ou de alguma outra pessoa.
Os filhos precisam dos pais, de seu carinho, de seu amor, de sua palavra que admoesta e também incentiva. Uma sociedade onde os pais não têm tempo para acompanhar os filhos, fatalmente é uma sociedade pobre de valores morais. Filhos são presentes, jamais problemas, filhos devem ser amados, jamais suportados, filhos são professores que nos ensinam valores de incomensurável profundidade na escola chamada vida.
Muitos pais perdem largo tempo na atividade profissional, ou nos bares da vida. Abraçam os amigos, mas não os filhos, chegam no lar, freqüentemente embriagados ou estafados, cansados, sem disposição para dedicar alguns minutos ao pequeno ou pequena que com olhos brilhando vem contar novidades.
- Agora não, papai está cansado! Que pena...
A missão primordial dos pais é esclarecer, instruir, acompanhar o desenvolvimento, repreender quando necessário, afagar sempre que possível e propiciar caminhos para que seus filhos tornem-se pessoas saudáveis, moral e psiquicamente. Os presentes? Ah sim, os presentes, são apenas um agrado a mais, nada além disso. O mais importante é participar e aprender com a criança ou adolescente.
Outro ponto relevante a considerar: não basta estar presente fisicamente, porém, ausente espiritualmente, o fundamental é dedicar um tempo com qualidade, brincando, conversando, interagindo com o filho e a família.
A intenção dessa análise não é desmerecer o esforço de quem labuta com afinco para progredir materialmente, e ofertar conforto nesse sentido à família, nada disso. É justo que se queira progredir materialmente, todavia, que esse progresso não venha em detrimento ao relacionamento familiar, pois este deve vir sempre em primeiro plano.
Se tiver que haver escolha, preferível uma mesa simples com todos reunidos, do que farto banquete com prejudiciais divisões.
É com estreitar dos laços de família que vamos construir a sociedade dos sonhos, em que a fraternidade e o respeito serão sempre os valores mais transmitidos pelos pais aos seus filhos.

Autor: Wellington Wellington Balbo


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