Análise do Testamento de Getúlio Vargas



1)Análise de Fontes Históricas 1.1)Contexto histórico do Testamento de Getúlio Vargas João Goulart foi para o Ministério do Trabalho, meado de 1953, fez parte de uma estratégia de Getúlio Vargas que visava reformular o ministério para uma maior sustentação de seu governo. No entanto Goulart não foi capaz de conter o ímpeto da oposição que denunciava o favoritismo do governo nos jornais o único periódico da grande imprensa a apoiar Vargas foi o Ultima Hora. Em fevereiro de 1954, vem a público o Manifesto dos coronéis. Em seguida, o ex-ministro João Neves Fontoura traz a pública correspondência secreta entre Vargas e o presidente da Argentina, Juan Domingo Perón a formação de uma república sindicalista no Brasil e também a de um pacto dos dois países, em conjunto com o Chile, o pacto do ABC, que teria como objetivo formar um bloco continental de oposição aos Estados Unidos. Em maio, com Jango já fora do Ministério do Trabalho, Getúlio concede um aumento de 100% no salário mínimo, iniciativa entendida como um gesto extremado para procurar apoio entre os trabalhadores em função da oposição sistemática que recebia do Parlamento, da imprensa e dos militares. No plano militar, o debate se radicalizava ideologicamente dentro do Clube Militar, instituição também recortada pela clivagem getulismo e antigetulismo. No Congresso, em junho de 1954, é votado o impeachment de Vargas, que, embora rejeitado por ampla margem, dá o termômetro do clima político da época. A escalada contra o governo tem novo patamar em agosto de 1954 quando Carlos Lacerda é vítima de um atentado na rua Tonelero, em que morre um dos seus guarda-costas. A Aeronáutica toma a dianteira nas investigações policiais e rapidamente descobre que as ordens do atentado tinham partido do chefe da guarda pessoal de Vargas, Gregório Fortunato. A partir de então, um bombardeio de críticas toma conta da imprensa que denuncia o "mar de lama" em que se convertera o governo. Os quartéis entram em prontidão e, em sucessivos manifestos, brigadeiros, almirantes e generais pedem a renúncia ou a deposição de Vargas. Frente a essa pressão, Getulio convoca uma reunião ministerial na noite do dia 23 de agosto, assistida por sua filha Alzira, João Goulart, e vários assessores e amigos do presidente. Ao final, Vargas decide licenciar-se do governo por 90 dias. Na madrugada do dia 24, quando a reunião terminara, Getulio foi informado que seu irmão, Benjamim Vargas estava sendo convocado a depor na "República do Galeão", nome dado à operação da Aeronáutica que se investira de funções policiais para apurar o atentado da Rua Tonelero contra Lacerda. Mais tarde, foi-lhe comunicado que os militares consideraram definitivo o seu afastamento do poder. A licença fora convertida em veto militar. O Palácio do Catete já estava protegido com trincheiras de sacos de areia. A possibilidade de uma guerra civil era considerada uma ameaça real. Por volta das 08h30min Getulio Vargas se suicida. 1.2)Apreciação no governo de Getúlio Vargas O fato de Getulio ter entregado pessoalmente a Jango um documento deste teor era uma maneira de expressar publicamente a descendência de sua linhagem política. Jango era o fiel depositário da carta-síntese de sua vida e obra. Simbolicamente fica como o responsável pela continuidade da obra iniciada por Vargas. É o sucessor ungido pelo carisma, é o herdeiro de uma idéia, de um estilo de política, a continuação de Vargas no poder, o ponto de referência para o PTB e para os trabalhistas. 1.3)O impacto do suicídio de Vargas O impacto do suicídio de Vargas foi surpreendente. Primeiro pela ousadia do gesto, segundo, pela emoção e pelo ambiente de tragédia que tomou conta do país, terceiro, pelo desnorteamento que produziu em seus adversários. Foi um ato político, talvez o maior concebido por Getúlio, que sabia poder contar com a simpatia do povo. Como testemunho de seu gesto Getúlio deixou uma carta testamento com três cópias. Uma, na mesa de cabeceira da cama onde morreu, outra dentro do seu cofre e uma terceira entregue a Goulart, ainda durante a reunião ministerial. Getúlio pedira a Jango que guardasse o documento sem lê-lo e se retirasse para o Rio Grande do Sul, pois no Rio, ele, Getúlio e o próprio governo eram muito vulneráveis. 1.4)Os contextos históricos econômico, social, cultural, político, literário A Carta Testamento é um documento nacionalista emocionado. Nela Getúlio denuncia os interesses econômicos que o teriam impedido de fazer um governo mais eficaz em prol dos pobres e denuncia as conspirações e humilhações de que vinha sendo vítima. O suicídio era uma maneira de continuar presente, especialmente na oposição: "Deixo à sanha de meus inimigos o legado de minha própria morte." Na carta há uma imagem conspiratória da história, a noção de que interesses subalternos, escusos, conspiravam contra seu projeto de redenção dos brasileiros. Este tom passional e dramático transforma a carta em ícone, em símbolo do que seus seguidores poderiam conceber como o melhor projeto para o Brasil: o nacionalismo e o trabalhismo getulista. 1.5)Objetivo da construção do Testamento de Getúlio Vargas A Carta Testamento de Getúlio foi um dos documentos mais importantes produzidos na história contemporânea. Em sua construção, é possível observar que se mesclam alguns traços da retórica clássica com outros da modernidade. No texto de Vargas, pode-se perceber que a arrumação do texto segue a estrutura aristotélica, com exceção do exórdio, que foi excluído por motivos que serão explicitados adiante. A ? Vargas foge da estrutura Aristotélica ao iniciar seu discurso por ser dispensável, neste caso, o uso do exórdio, uma vez que poderia ser considerado redundante, já que, em uma carta testamento, já são óbvios os motivos da carta (a morte do autor) e o público a quem o texto se destina. B?Deste trecho em diante, o presidente Getúlio Vargas começa o período da narração. Encontram-se, nestetrecho, característicasdodiscursooral: uso mais freqüente de orações coordenadas que subordinadas; predominância de frases curtas e pouco usam de voz passiva. Isto se verifica, principalmente, porque o público-alvo da carta testamento é pessoas de baixa renda e, conseqüentemente, baixa escolaridade. Assim, aproximando o texto impresso da oralidade, o discurso passa a ser mais bem compreendido pelo receptor. C?Ouso da forma verbal fiz, acompanhada do pronome reflexivo ("fiz-me chefe de uma revolução"), é justificada pelo fato de haver, na época, outros personagens no cenário político que poderiam ter liderado tal revolução. Conforme ressalta Darcy Ribeiro: "Getúlio foi o líder incontestada Revolução de 1930, que bem poderia ter sido comandada por Prestes, se ele não recusasse, ou por Siqueira Campos, se não morresse na véspera". D?Eufemismo utilizado para se referir à ditadura do Estado Novo. Este recurso também era usado na ditadura de 1964, em que o Golpe Militar era chamado, pelos próprios militares, de Revolução Democrática. E ? Neste parágrafo o presidente inicia o período de Provas, em que os elementos sustentadores do discurso são apresentados e se inserem determinados elementos capazes de gerar persuasão. F?Segundo Othon Moacyr Garcia, a argumentação sustenta-se também na evidência dos fatos. Assim, justifica-se a utilização de valores numéricos no discurso de Vargas uma vez que "dados estatísticos são também fatos, mas fatos específicos. Têm grande valor de convicção, constituindo quase sempre prova ou evidência incontestável" "G ? Vargas utiliza-se novamente de uma figura de linguagem, desta vez a gradação, que consiste em dispor as idéias em ordem crescente ou decrescente de importância" No caso, a ordenação gradativa é decrescente. O uso de figuras de linguagem é um traço característico da retórica moderna. H ? A interpelação direta do leitor é também um recurso persuasivo bastante comum e usado com freqüência por Getúlio Vargas. I ? Neste trecho, o presidente começa o período da Peroração, que, "pelo caráter finalístico e em se tratando de um texto persuasivo, está aqui à última oportunidade para se assegurar a fidelidade do receptor, portanto, mais um importante momento no interior do texto". 2)Referências Bibliográficas: HTTP://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/Jango/artigos/NoGovernoGV/A_heranca_de_Vargas Acessado: http://www.anpoll.org.br/revista/index.php/rev/article/view/130/138 Acessado: Ferreira, Marieta de Morais; Franco, Renato. Apresentando História: reflexão e ensino. 1°ed. Editora do Brasil, 2010
Autor: Lais Dias De Carvalho


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