Associativismo, Cooperativismo e Economia Solidária



Associativismo, Cooperativismo e Economia Solidária
(no município de Vera Cruz, Estado da Bahia)

Resumo
Neste trabalho, conhecer-se-á o município de Vera Cruz-Ba, sua paisagem pela escrita, economia, breve história e vias de acesso.
Durante a abordagem do tema principal, vê-se a transposição de obstáculos e quebra de paradigma que evolui para as subdivisões classistas em agrupamentos específicos através da idéia cooperativista; a participação social e política do autor frente ao tema em desenvolvimento. Em seguida, são expostos casos de sucesso em localidades onde a solidariedade iniciou-se na prática e legalizou-se.
O penúltimo subtítulo imprime ao conteúdo textual um chamamento à escrita e leitura como propulsoras do conhecimento e como afirmadoras ou excludentes.
Por fim, os motivos da pontuação na auto-avaliação.

Palavras-Chave: política ? história ? ideia ? poder ? trabalho ? crítica.

Sumário: Considerações Iniciais: Cenário ? Economia ? História ? Como Chegar... ? Do Tema: Transposição de Obstáculos ? Associativismo e Cooperativismo ? Case ? Economia Solidária ? Escrita e Leitura ? Auto-avaliação ? Conclusão ? Referências.

1. Considerações iniciais
1.1. Cenário
Vera Cruz é um município essencialmente urbano, frequentado nos finais de semana mormente pela classe média da capital baiana, das cidades do Recôncavo e do Distrito Federal. Sol e praia (turismo de lazer) são o principal atrativo natural de Vera Cruz, que ainda tem rios que banham falésias; espelhos d?água que retratam o verde do manguezal; fontes de água potável à beira-mar; restinga de mata atlântica com trilha para o ecoturismo e o mais belo cenário do planeta para a prática dos esportes náutico (regatas) e aéreo (pára-quedismo).
Ruínas de igrejas, de fornos e de moinhos representam os atrativos históricos. A cultura é retratada fortemente pelas festas religiosas com procissões marítimas e terrestres. A Folia de Reis, o Bumba-Meu-Boi, a Puxada de rede, o Maculelê, a Capoeira, as festas de largo e o carnaval compõem o folclore de Vera Cruz.

1.2. Economia
Na culinária os veracruzenses fisgam os visitantes com o tempero que o Brasil herdou da África, mas com matéria prima nativa. Vivendo tipicamente da pesca, a maior parte da população sempre se alimentou de frutos do mar: ostra, chumbinho, aratu, siri, caranguejo, sarnambi, polvo, lula, camarão, lagosta e os mais diversos tipos de peixe. Mas esse costume vem se modificando desde o ano de 1980, quando comerciantes do Recôncavo (Nazaré, Muniz Ferreira e Santo Antônio de Jesus) começaram a abrir filiais do comércio varejista de gêneros alimentícios (mercadinhos) na Ilha, alternando o cardápio do nativo com as carnes de boi, porco, frango e os legumes, cereais, tubérculos e hortaliças, alimentos não produzidos na Ilha de Itaparica.
Quanto à concentração de mão de obra, a prefeitura é o maior empregador desde a emancipação e a construção civil passou a liderar o mercado de trabalho informal no município, chegando até a exportar profissionais para a capital e municípios da Região Metropolitana.
A grande diversidade biológica, a fauna e a flora terrestres e marinhas, despertam em biólogos, agrônomos, oceanógrafos e demais especialistas o desejo de explorar cientificamente Vera Cruz; um nítido exemplo é a parceria da UFBA / Prefeitura Municipal, que culminou com as criações do Parque Ecológico do Baiacu e da APA das Pinaúnas.

1.3. História
Localizado na Ilha de Itaparica ? a maior ilha marítima do Brasil ? o município de Vera Cruz ocupa 299,73Km², representando 71% da área da Ilha.
Em 1553, ainda habitada por índios Tupinambás, a Ilha é doada pelo 1º Governador do Brasil, Tomé de Souza, à sua tia Dona Violante.
O primeiro povoado surge no ano de 1560, quando os portugueses erguem, na localidade denominada Baiacu, a primeira igreja da Ilha (2ª Matriz do Brasil), sob as bênçãos do Nosso Senhor da Vera Cruz; daí a origem do nome do Município.
Durante mais de um século a Ilha é local de plantação de cana-de-açúcar e de criação de gado bovino; em seguida, a pesca da baleia passa a ser a principal atividade econômica até o final do século XVIII.
Vera Cruz emancipa-se politicamente, desmembra-se do município de Itaparica por força da Lei Estadual nº.1.773/62, de 31 de julho de 1962.
Com o passar dos anos, rapidamente Vera Cruz assume a sua verdadeira vocação, tornando-se um dos pontos turísticos mais visitados do país e o primeiro destino turístico da Bahia.
Sua população total ? fixa e flutuante ? atinge a casa dos 200 mil na estação verão. Segundo o IBGE, a contagem atual é igual a 37.567 habitantes (2010).
Geografia, Clima e divisão política
O Alto do Urubu com 128m, em Matarandiba, o Outeiro da Faustina com 104m, em Mar Grande, e o Mirante do Maragojipinho com 94m, em Ilhota, são acidentes geográficos que constituem as raras exceções na topografia predominantemente plana de todo o município. As coordenadas da Sede Municipal são: Lat. 12º 572 45.39" S e Long. 38º 362 24.54" W.
O Clima é Tropical (quente e úmido), com temperaturas que variam entre 25 e 31°C.
Os Distritos são: Mar Grande (Sede: Duro, Riachinho, Jaburu, Fonte da Prata); Barra do Gil; Jiribatuba; e Cacha Pregos. A Vilas são: Ilhota; Gamboa; Gameleira; Penha; Taipoca; Coroa; Baiacu; Berlinque; Conceição; Barra Grande; Matarandiba; Jiribatuba; Tairu; Aratuba. São seis os povoados: Juerana; Porrãozinho; Ponta Grossa; Campinas; Catu; Porto Sobrado.
Os municípios limítrofes são: ao Norte, Itaparica; ao Sul, Jaguaripe; a Leste, Salvador; a Oeste, Jaguaripe e Salinas da Margarida.

1.4. Como Chegar a Vera Cruz-Ba?
Pelo Mar, através do Sistema Ferry Boat, a partir do terminal de São Joaquim, ou de Lanchas, a partir do terminal do Mercado Modelo, no Bairro do Comércio em Salvador. Por terra, através da Rodovia BA-001. E pelo ar através do Aeródromo de Vera Cruz ? Aeroclube. O CEP é 44.470-000; DDD 071; Voltagem 110v; Temperatura Média 28ºC; a Prefeitura Municipal fica na Rua São Bento, 123 ? Mar Grande; e o Prefeito Atual (2009-2012) é o administrador de empresas Antonio Magno de Souza Filho (PT).

2. Do Tema
2.1. Transposição de obstáculos
Apesar da xenofobia claramente demonstrada pela população nativa, comerciantes conseguiram materializar idéias associativistas em Vera Cruz, na Bahia, onde vive o autor.
Um município potencialmente turístico pode até atingir o pico da sua vocação natural, mas somente a sustentará em termos de desenvolvimento se o processo de aculturação do seu povo estiver focado nos frutos advindos dos atrativos regionais naturais; ao contrário do que se vê, ainda, em Vera Cruz-Ba, onde a aversão ao estrangeiro, hoje em menor escala, é uma realidade.
Para contrariar o que se vende mundo a fora: que a Bahia é a terra da alegria e da hospitalidade, Vera Cruz, em sua essência, por longo período, no passado, enxotou estrangeiros e visitantes, denominados pelos nativos de forasteiros; até os filhos da terra que saíam quando crianças para estudar e/ou trabalhar em outras cidades eram assim considerados ao retornarem.
Com as exceções que cada tema resguarda, as figuras estranhas à comunidade chegaram a ser expulsas a pancadas . Mas essa cultura vem sofrendo alterações desde a década de 80, quando a exploração imobiliária tomou corpo no município por causa da implantação do sistema de transporte público marítimo através de ferry- boat e da construção da Ponte do Funil, ligando a Ilha de Itaparica ao continente; por causa, também, da consolidação da democracia com o fim da ditadura e do advento da nova Constituição da República Federativa do Brasil; bem como da implantação de postos policiais militares nas localidades .
Driblando a cultura, os veranistas e estrangeiros mais frequentes acabaram descobrindo que a aproximação ao nativo era conditio sine qua non para a preservação da sua integridade física e permanência no local. A aproximação continua dando-se por meio do pagamento de bebidas alcoólicas, oportunidade em que sentam-se à mesa de bar e conversam; por meio da contratação informal de serviços domésticos e de serviços de construção civil, manutenção ou reforma; ou por meio de aquisição de frutos do mar, produtos do seu ofício; presentes também são válidos, como em qualquer parte do mundo.

2.2. Associativismo e Cooperativismo
A década de 90, segunda metade, foi recheada de encontros populares, palestras, seminários, nos quais surgiram nomes para liderar grupos específicos: de jovens, de religiosos, de pescadores e marisqueiras , de barraqueiros de praia e até de comerciantes e donos de pousadas. O intuito era defender interesses classistas junto às autoridades políticas constituídas ou seus cabos eleitorais. A cultura local estava se modificando: o espírito de cooperação começava a imbuir a comunidade e movê-la ao associativismo, mas os sinais do coronelismo e do corporativismo ainda estavam evidentes.
Associações de moradores, cooperativas, colônias de pescadores, conselhos comunitários, grêmios esportivos e estudantis, congregações religiosas e associações comerciais e de serviços passaram a ser uma realidade municipal; algumas de fato, em tempos de campanha política; a maioria de direito, devidamente registrada, mas só no papel. No cômputo geral, sobrevivem reconhecidamente pela sociedade alguns grupos esportivos, raríssimas associações de moradores, quatro colônias de pescadores, um conselho comunitário, um clube de dirigentes, uma associação empresarial, três sindicatos e muitas congregações religiosas. Quanto às ONGs, apenas duas estão legitimadas pela população, atuando na educação ambiental, centradas em crianças e jovens. Por fim, há também em Vera Cruz, para atuação em nível regional, a Federação das ONGs, porém não acreditada pela sociedade, uma vez que a maioria das suas afiliadas não atua de fato.

2.2.1. Case
No ano de 1995, na Localidade de Cacha Pregos ? onde nasceram e se criaram seus tetravôs, trisavós, bisavós, avós e seus pais ? José Augusto de Pinho Barbosa (o Autor), então empresário do ramo de alimentação (restaurante e panificadora), em três reuniões comunitárias consecutivas foi escolhido para presidir a primeira associação de moradores, legalmente constituída, mas interesses alheios à sua vontade e à de seus pares acabam suplantando a finalidade precípua do grupo, que seria uma associação comercial. Indivíduos são demovidos da idéia principal e persuadidos a votarem na modalidade associação comunitária, que chega a realizar eventos folclóricos, palestras com a presença de técnicos de órgãos e empresas importantes no Estado, porém não consegue abastecer a comunidade com hortifrutigranjeiros a preços de custos: seu objetivo. "O associativismo expressa a relação entre indivíduos com interesses comuns no sentido de uma melhor qualidade de vida...". (FRANZ-Cooperação..., p.6).
Mas José Barbosa, conhecido em toda a Ilha como Zéu Barbosa, não desiste; pois, para contribuir mais ainda com a sua comunidade, aceita convite e ocupa o cargo de Assessor da Secretaria Municipal de Turismo, época em que as relações institucionais com o terceiro setor se estreitam e ele é eleito por unanimidade Secretário Geral do Conselho Comunitário e de Segurança Pública. Convidado para registrar candidatura a vereador, haja vista a sua filiação a partido político e revelação do seu nome em pesquisa de intenção de voto, recua, por não encontrar ressonância na grande maioria dos seus familiares, principalmente seus pais e esposa (sócia em seus empreendimentos). Todavia, presta concurso público e é aprovado para o cargo de Fiscal de Tributos, que exerce até a presente data; e vem sendo prestigiado, desde o ano de 1997 ? pelo seu comprometimento com o serviço público ? com cargos de confiança de primeiro e segundo escalões e de grande importância socioeconômica para o município.
Nesta perspectiva, Zéu Barbosa é designado a participar efetivamente das oficinas nacionais de municipalização do turismo, que ocorrem anualmente no Distrito Federal até o ano de 2000, período em que o município é agraciado com honrarias, haja vista o seu empenho na difusão de uma nova cultura para o turismo: o engajamento da população nessa indústria denominada "sem chaminé". E o faz, tentando sensibilizar profissionais do terceiro setor e população em geral, buscando convencê-los acerca da mobilidade social possibilitada pela qualidade do atendimento ao turista, visitante ou veranista, os quais são atraídos pelas belezas naturais e deixam no município tanto mais dinheiro quanto melhor atendidos são.

2.3. Economia Solidária
Experiência exitosa é a da comunidade do Maragojipinho, na Localidade de Ilhota, próximo à sede do município. Famílias se revezam na transformação da mandioca . Antes, sem possuírem terra para plantar, compravam a raiz e transformavam-na em farinha; com o passar do tempo, conquistaram aliados, como instituição bancária oficial que fomentou a capacitação e a aquisição de terras no sentido da comercialização de diversos produtos alimentícios, cuja matéria-prima é a mandioca. "A economia cooperativa e solidária, talvez, possa vir a ser um novo espaço social, político, cultural, por onde nasça uma nova proposta de sociedade que consiga abrigar os 80% da população que têm acesso a 20% da riqueza produzida." (FRANTZ-Desenvolvimento..., p.17).
Outra economia de subsistência significante é a do povoado de Juerana, onde é desenvolvido o Projeto Nova Terra de hortas domiciliares, que conta também com recursos estrangeiros para a construção e manutenção de unidades de ensino e aperfeiçoamento para famílias locais.
Já na Vila de Matarandiba, extremo Oeste da Ilha, a título de plano piloto numa parceria entre a Universidade Federal da Bahia e uma mineradora, circula uma moeda própria, único dinheiro utilizado no comércio local, cambiado na sede da associação de moradores.

3. Escrita e Leitura
"Na leitura estão implicados o sujeito que escreve deixando no escrito suas marcas e os sujeitos que ao ler atualizam, dão vida outra ao que foi escrito" (Marques in Frantz-Relfexões..., 2008, p. 14).
Ao ler o presente trabalho, percebe-se o quanto é necessária a escrita para o registro e transmissão de fatos e para a apresentação de teorias; bem como observa-se quão é estruturante ter sido realizada pesquisa bibliográfica acerca do tema. No meu entender, leitura e escrita ocupam 90% do fator importância para a compreensão do mundo; 10% representam as habilidades transitórias individuais como a comunicação verbal.
A velocidade com que as mudanças tem ocorrido na sociedade informacional, devido aos avanços tecnológicos, exige que as decisões sejam tomadas, praticamente, a toque de caixa, o quê requer competência. Ser competente é possuir um conjunto de habilidades e aptidões construído ao longo da vida. Neste contexto, sobressai-se a pessoa mais viajada, que conhece o mundo e suas facetas, não necessariamente por ter ocupado seus espaços físicos, geográficos, presencialmente, mas principalmente por ter viajado através dos romances, das crônicas, contos, narrativas, enfim, através das letras; tendo concentrado, via letramento, conhecimentos suficientes para levantar, planejar, convencer e executar de forma eficaz projetos propostos, delegados ou por si elaborados, com vistas a uma sociedade geral mais justa e humana. Escrever "é aproximar-se dos outros, comunicar-lhes verdades, sentimentos, inquietações, permanecer nos outros através da palavra, perpetuar-se nos outros"(Perissé in Frantz-Relfexãoes..., 2008. p.17).
A capacidade qualitativa do indivíduo para a leitura e escrita, apesar da banalização da comunicação virtual ? dialetos somente compreendidos por usuários do virtualismo expresso-passageiro ? ainda define cargo e consolida funções, mas continua gerando a auto-exclusão, a diminuição do indivíduo por si mesmo, a auto-desvalorização, por conta da limitação do vocabulário e da curta visão de mundo, consequências da falta de prática do ler e escrever. No entanto, aquele que reconhece as suas dificuldades, automaticamente clama por ajuda e é ouvido, recuperando parte do tempo perdido com a ausência do hábito de ler e escrever, modificando para melhor a sua própria realidade.

4. Auto-avaliação
Para uma auto-avaliação, levo em consideração a minha pouca disponibilidade de tempo para enriquecimento da fundamentação argumentativa teórica através da leitura complementar de obras outras, importantes para a reflexão dialética ou corroborativa, acreditando melhorar na etapa seguinte.

Conclusão
Vera Cruz é um município turístico que ocupa 71% da área da Ilha de Itaparica, na Baía de Todos os Santos, Região Metropolitana de Salvador, no estado da Bahia; emancipou-se a 31 de julho de 1962; experimentou diversas modalidades associativistas, logrando êxito em algumas, porém de forma ainda acanhada.
A participação efetiva do autor como protagonista do processo de cooperação e liderança comunitária teve sua importância para a defesa dos interesses comuns coletivos em Vera Cruz, principalmente porque o espaço da leitura e da escrita, atualizando-se sempre, é um espaço de seleção, destaque, disputa e poder, que se materializou nas políticas pública e partidária.
O momento da auto-avaliação é ocasião para o autor sair de si e olhar-se de fora, considerando-se um estranho que precisa ser criticado construtivamente.


Referências Bibliográficas

FORUM ? Comunidade Conecta Unijuí ? Convite ao debate ? 26 a 28.09.2009
FORUM ? Comunidade Conecta Unijuí ? Desafio a todos ? 10.08 a 30.09.2009
FRANTZ, Walter - Desenvolvimento: um fenômeno social complexo, Um lugar para a cooperação e a solidariedade? 2008
_____________ - Reflexões sobre escrita e leitura no processo da aprendizagem, 2008
_____________ - Entender nosso mundo: transformações sociais em curso, apontamentos de aula1. DCS/UNIJUI, 2008


Autor: Zeu Barbosa


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