CRISES PÓS-PARTO



Ao nascimento como ritual de entrada na vida, segue-se uma série de crises para todos os envolvidos. Enquanto a vida da mãe muda totalmente e o filho ocupa o ponto central, o pai, acostumado a ocupar esse lugar, muitas vezes viverá uma crise.

Mas, sobretudo para a mãe, a mudança e os medos associados a ela no que diz respeito ao seu novo papel e à responsabilidade desacostumada podem apresentar traços de crise, até a depressão puerperal.


DEPRESSÃO PUERPERAL
Como em toda depressão, essa também chega a um abandono da vida que parece exigir demais e muito difícil. A mulher foge da tensão acumulada que o filho traz à sua vida, para pseudodescontração da depressão.

Ela deixa a si mesma e os outros na mão, e atribui a responsabilidade da nova situação ao ambiente. Conforme a gravidade da depressão, os pensamentos relativos às ameaçadores limitações inescapáveis, à exigência e ao rigor exagerados até a lida com a morte podem penetrar na consciência. No caso dos desejos de morte ou intenções suicidas, a tendência para a fuga torna-se totalmente visível. Nesse caso temos a impressão de que a mãe não estava preparada para a gravidez e menos ainda para o filho.


A PSICOSE DA AMAMENTAÇÃO
A psicose do puerpério ou psicose da amamentação pode ser enquadrada de modo semelhante à depressão. Como em toda psicose, trata-se de uma fuga do próprio mundo considerado insuportável para uma pseudo-realidade psiquicamente suportável. O surgimento de novos desafios é vivido tão intensamente e as reservas espirituais da mãe são tão pequenas, que ela vê na fuga a sua única saída.

Terapeuticamente, é preciso cuidar para que a mãe possa gozar de uma boa hora de sono. Não raro são as fases perturbadas ou ausentes de sonho que levam à proximidade da psicose. Estudos demonstram que os sonhos noturnos são decisivos e de grande importância para a saúde psíquica.


PERDA DO DESEJO
A perda do desejo pode perecer inofensiva, mas nela pode haver algo de muito explosivo. O pai percebe que ficou relegado ao segundo plano, é expulso do seio e da cama da mulher. Se existirem problemas não confessados com o papel de pai, isso pode causar grandes dificuldades que, por certo, não têm base no âmbito racional, mas em problemas inconscientes de auto-estima. Quem considera sua mulher sobre tudo como uma posse, sente-se roubado. Quem percebeu nela a protetora e a mãe, agora acredita que foi expulso ou ao menos preterido. Quem a classificou como objeto de prazer, agora tem de admitir com pesar que obviamente existem coisas mais importantes na vida, entre as quais estão nutrir e cuidar do bebê.

Com freqüência, as dificuldades não aparecem de modo tão direto, mas só se mostram mais tarde, do ponto de vista sexual, o que pode dever-se tanto ao homem quanto à mulher, como naturalmente a ambos. Não são poucos os casais que caem num abismo sexual com o nascimento de um filho.

Com o início da amamentação, é comum surgir ciúme adicional, que também pode impedir ou perturbar muitas coisas. O homem é expulso do seu papel infantil, ou seja, não está mais em primeiro lugar para a mulher.

Para dificultar as coisas, pode acontecer de a esposa sentir-se rebaixada, porque não é mais aceita pelo marido como uma mulher (inteira), mas apenas como amante ou como substituta da mãe.

Se o desejo da parte da mulher arrefecer, isso pode dever-se ao fato dela ter agora tudo o que sempre desejou e de ter usado inconscientemente o modelo de Afrodite para servir ao objetivo da maternidade.

Deve-se entender que com o parto, a mulher entra visivelmente numa nova qualidade de tempo da sua vida, que estabelece novas prioridades.



PROBLEMAS DE ADAPTAÇÃO INFANTIL
A mudança para o recém-nascido é enorme. Ele tem que elaborar a passagem do ser aquático para o terrestre, o que faz parte decisiva da evolução. Com isso, repetimos os passos da história do desenvolvimento das espécies.

Como toda vida, começamos como uma célula e nos transformamos num ser aquático com muitas células. Depois de milhões de anos da saída da água, somos compostos de 2/3 de água. A água celular manteve composição semelhante à água do mar primordial. A despedida do reino aquático, com a mudança para terra e a entrada no reino do ar é um enorme passo na evolução, mesmo que ela nos tenha feito aterrar de barriga, como um réptil. Finalmente, erguemo-nos sobre os quatro membros e engatinhamos, conquistando o reino dos mamíferos. Ficamos de pé sobre as patas traseiras, o passo decisivo para a humanização, e essa conquista temos de repetir, cada um para si.

Em muitas culturas arcaicas as mães suavizavam a mudança pós-parto amarrando o recém-nascido na barriga, para sentirem a proximidade e proteção.

Alguns sinais indicam que essa mudança é difícil para os recém-nascidos. Os berradores saúdam a nova situação com barulho. Aqui são liberadas as agressões e os desesperos, que muitas vezes encontram eco em outros membros da família, em geral os extremamente nervosos.

A cólica dos 3 meses ataca com agressividade os pais sobrecarregados por meio de padrões semelhantes, ficando visível que os pequenos não conseguem digerir bem a nova vida.

As crianças demonstram com sua gritaria como o mundo é doloroso para elas. Os meninos são mais atingidos do que meninas, isso pode indicar que o sexo masculino possui maiores dificuldades de adaptação, com mais dificuldade para se livrar das agressões e que os meninos estão mais distantes do reino da matéria.

O psicanalista René Spitz propõe outra explicação para a cólica dos 3 meses, ela se baseia na observação de que as crianças de orfanato praticamente não a conhecem. Quando a mãe do bebê cuida muito dele, especialmente quando o amamenta, segundo o sistema da necessidade, isto é, dá o seio assim que o bebê chora, ela aumenta a probabilidade de que haja cólicas. Adicionalmente os pesquisadores encontraram tensão muscular entre os bebês chorões. Spitz parte do fato de que essas crianças não estão com fome quando berram, mas apenas buscam uma possibilidade de se livrarem de sua tensão. Se a cada vez recebem o seio ou a mamadeira, eles de fato podem eliminar algumas tensões mamando e logo depois ficarem tranqüilos, mas, a longo prazo, o problema só se agrava, porque a cada vez recebem uma alimentação de que o sistema digestivo não precisa. Por melhor que amamentar sob pedido seja para muitos bebês, a alimentação só deveria ser dada depois da fome. No caso do choro para eliminar a tensão, o alimento é a resposta incorreta e desencadeia um círculo vicioso. A experiência defende essa interpretação, visto que a cólica dos 3 meses é desconhecida nos filhos que são carregados sobre a barriga das mães indígenas. Esses bebês têm suficiente alívio da tensão pelo duradouro contato da pele e o balanço contínuo.

Talvez a cólica dos 3 meses seja uma tentativa sintomática de receber contato de pele, tão necessário ao desenvolvimento. Nesse caso, a experiência diz que o uso da chupeta pode ser útil e também o sono num berço de balanço. Para as crianças de abrigo, os gritos trazem pouco resultado, visto que nenhuma mãe preocupada reage a eles e, dessa maneira, não recebem nenhuma dedicação. Por isso também não são alimentados em horário impróprio e são poupados da cólica. A melhora após 3 meses segundo Spitz, isso ocorre porque as crianças desenvolvem outra possibilidade de se livrarem de suas tensões.


PROBLEMAS DA AMAMENTAÇÃO
Os problemas da amamentação podem ter suas raízes tanto na mãe como no filho e também conter traços de crise.

Se a mãe não tem leite, isso muitas vezes é sentido como uma carência, o que realmente não deixa de ser verdade. Por trás disso está naturalmente uma tentativa inconsciente, mas clara, de não dar nada de si ao filho, deixando de alimentá-lo.

Se a criança não toma a iniciativa de mamar, a responsabilidade é visivelmente dela, e aí é preciso decidir se ela não pode ou se ela não quer. Possivelmente ela é tão fraca ou imatura que o reflexo da sucção ainda não funciona. Nesses casos, seria natural interpretar literalmente a situação responsável por isso. Se ao contrário, um bebê maduro rejeita o seio materno, a crise muitas vezes foi programada. Enquanto a mãe, que recusa seu leite, sempre pode fugir para as racionalizações médicas neste caso a nitidez da mensagem fica dolorosamente clara: o filho não aceita nada que venha dela e não quer nada dela. Muitas mães sentem isso claramente e se sentem rejeitadas. Os motivos podem estar na gravidez, mas igualmente em experiências precoces.


A PRÓPRIA CAMA
Existem diversos caminhos para a cama dos pais: durante ou depois de uma doença, o que irá ensinar a criança o quanto poderá lucrar com elas; férias; quando não há quarto próprio ou quando está com avó.

O que de início pode parecer tão doce e na amamentação noturna revela-se prático, com o tempo pode dar nos nervos dos pais e, no sentido duplo da palavra, ser irritante. Direitos uma vez adquiridos são teimosamente defendidos pelos filhos.

Quem achar que os filhos ainda não têm um ego ou consciência de seu poder mudará de opinião rapidamente. Os direitos adquiridos são defendidos aos berros. Enquanto nenhum dos lados ceder, a luta persistirá, e muitos pais poderão se espantar com a energia que os filhos possuem. Então o mais esperto cede, naturalmente são os pais, que a fim de evitar uma crise, perdem a primeira luta pelo poder. Mas, assim, a próxima crise é programada e traz um estopim ao relacionamento, a começar pelo sacrifício do próprio sono, isso sem falar do desejo sexual.


OS DENTES
A ruptura da agressão na vida ocorre em diversos âmbitos quase simultaneamente. Embora a construção do sistema imunológico da criança não seja vivenciada pelos pais com consciência, o rompimento dos dentes, coordenado pelo tempo, raramente passa despercebido.

De início a força ofensiva necessária para a defesa do corpo era recolhida pela mãe na forma de anticorpos, e no parto a criança ainda podia confiar adicionalmente nas próprias forças vitais na forma de contrações. Mas quando o mais duro rompe o mais suave, a criança depende exclusivamente de si. Ela é confrontada com a dor constante, da qual tenta se livrar chorando a plenos pulmões. No início a dor ainda poderá ser controlada pelos pais, mas depois de semanas, quer passar a noite sendo carregada no colo de um lado para o outro e apesar disso, gritam, os adultos podem testar até que ponto e com que consciência resolveram a própria problemática da agressão.

A inflamação crônica da gengiva trai um conflito básico relativo à agressão.



O DESMAME
Uma crise árdua pode ligar-se ao desmame. Quando este último resquício do país das maravilhas tem de ser tirado das crianças, elas podem resistir com bravura e até encenar um jogo de chantagem. Tão natural era a nutrição da criança pelo cordão umbilical, que lhe parece natural e obrigatório o acesso ao leite (bar) materno.

Em muitas crianças com 3 anos de idade temos a impressão de que passaram diretamente do seio da mãe para o bar. Ao pedirem sua bebida, isso mal tem relação com a fome. Apenas o tipo de ataque à fonte de leite pode indicar que está em jogo uma problemática de poder.
Especialmente quando o desmame se estende até a fase da birra, será necessário a ambas as partes aprenderem que a chantagem não leva ao objetivo e que se pode lidar com certas dificuldades, mesmo quando não recebemos tudo o que queremos; é exatamente nesse momento que começa de fato a etapa do desenvolvimento.

A problemática do desmame lida com o tema da renúncia. Se a necessidade de ser amamentada não se encerrar por si ou se esse presumido direito é defendido com teimosia, isso leva a conclusão de que a criança deseja cuidados duradouros.



O PRIMEIRO NÃO E A FASE DA BIRRA
Aprender a isolar-se e a dizer não é tão importante para criança que nas provas de poder da fase de birra ela também aprende a perder. Crianças que geralmente vencem nesse momento, no futuro são as que mais sofrem por isso e estarão sempre em busca de exigir limites confiáveis do seu ambiente. Quanto mais tarde começar o sofrimento causado pela própria teimosia, tanto pior para a criança. Tão importante quanto estabelecer limites para o desenvolvimento do ego é reconhecer que existem outros egos com limites e que esses limites têm de ser respeitados, porque, caso contrário leva-se soco no nariz.

Quando as primeiras frustrações graves acontecem na época de formação profissional, quando a proteção paterna já não está presente, em geral é tarde demais. Essas crianças grandes reagem ofendidas à desacostumada situação de fracasso e não raro fogem dela, em vez de enfrentá-la e continuar o caminho com sua força de ação e disposição de assumir compromissos. Não precisa tratar-se sempre de uma fuga por meio das drogas, mas, de todo modo, um número considerado de viciados provém do contingente daquelas crianças de família que foram vítimas da superproteção (preocupação em demasia) na infância e falta de confrontação com situações de fracasso.



LUTAS CLÁSSICAS DE PODER
O nascimento sempre exigirá coragem e força ofensiva de ambas as partes, exatamente como a primeira infância exige a vontade de realização e a força.

A ameaça vespertina de uma mãe cuja agressão é inibida ? "Espere só até o papai voltar para casa!" -, ao contrário, é uma espécie de tortura psíquica, porque a criança passa várias horas com medo. À noite, quando o pai mais agressivo fracassa na execução do castigo prometido, falta a relação do ato com o mal realizado. Agora o lado não solucionado do princípio da agressão festeja triunfos tardios, que podem causar danos realmente graves.

Conforme Dahlke, o grosso dos problemas com crianças pequenas se concentra em três complexos temáticos: os pequenos não comem todo o prato de comida, não enchem o penico e não querem ir para cama do modo como os pais imaginam. Nesse caso, trata-se das clássicas lutas de poder das quais se alimenta a formação de fronteiras de ambos os lados. Muitas vezes a temática oculta não é vista, porque os pais ainda não esperam motivações como essas em crianças de tão tenra idade. Isso, por sua vez, tem a ver com o fato de não aceitarem suas próprias lutas de poder e não desejarem olhar para o espelho que os pequenos dispõem-se a lhes mostrar.

O melhor seria reconhecer precocemente os mecanismos básicos de poder. Sobretudo deve-se saber que a cada luta pelo poder sempre pertencem no mínimo dois lados.

Autor: Carmen Regina Souza


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