O Ensino De História Nas Redes Públicas E Particulares: Ações Simples, Práticas E Eficazes



1 - INTRODUÇÃO

Por muitos anos fomos levados a acreditar em uma falsa verdade: em que se baseava e para que, realmente, servia o Ensino de História no Brasil, que nos servia apenas para termos a concepção de datas importantes e a “louvar” vultos nacionais, “personagens importantes” para a construção errônea de nossa história, realizando assim um “fantasiado” conhecimento Histórico.

Quando se expressa inadequadamente estes princípios, como podemos perceber em alguns Estabelecimentos de Ensino, em séries iniciantes da disciplina, como a 5ª série, ocorre o caso da mentira começar a se tornar verdade, pelo simples fato de que, infundindo na cabeça do aluno que é necessário para sua formação educacional conceber o Ensino de História como Ensino de estória, ou seja, saber o que foi “contado” pelo Professor ou pelo livro didático, este, que por si só, faz-se um contribuinte exemplar para o Ensino continuar neste processo tão falho, sob o olhar Positivista2 , de quando foi certo acontecimento, que ocorreu em tal data, por isso se tornou feriado nacional... . Desse modo caímos em um erro, que talvez um dia, só poderá ser corrigido, se ingressarmos no Ensino Superior no Curso de História.

Como disse antes um dos principais participes dessa construção “mal acabada” é o livro didático, que não dá a devida importância aos novos métodos que pedem uma revolução do Ensino de História, principalmente nas estruturas do pensamento cientifico, ou seja, nos Ensino Fundamental e Médio, para que, chegando ao Ensino Superior, se tenha uma “boa base” para a construção desse conhecimento histórico; não só para o Curso de História, mas sim, para formar o cidadão, participante das questões nacionais e conhecedor de sua descendência, sem cortes ou máscaras.

O Ensino de História transformou-se em um processo Tecnicista, formadores de acumuladores de respostas, para perguntas com respostas já

2 “O Positivismo pregava a cientifização do pensamento e do estudo humano, visando a obtenção de resultados claros, objetivos e completamente corretos. Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de neutralidade, isto é, na separação entre o pesquisador/autor e sua obra: esta, em vez de mostrar as opiniões e julgamentos de seu criador, retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus fatos, mas sem os analisar” Disponível em: http://www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html. Acesso em: 20/05/2007. concebidas; tomo para mim esse exemplo. Sempre que estudei no Ensino Fundamental ou Médio, concebi a História como uma verdadeira “decorreba”, que me levaria, principalmente para conquistar os Vestibulares ou Provas para diversos Concursos Públicos, pois não conhecia outro por que de me aprofundar nesta disciplina.

Após ter adquirido o verdadeiro sentido da concepção do Ensino de História para a formação de um conhecimento social, partindo da formação de valores iniciados em minha Formação Acadêmica como Historiador, percebo como o nosso Aparelho Educacional é falho e, por vezes, aparenta não agir para mudar, pecando em alguns aspectos, principalmente por não estabelecer informações suficientes ou adquirir um conhecimento verdadeiro do sentido de “ser e estar” da Disciplina de História nos currículos educacionais, não procurando atualizar-se nas novas correntes Históricas e nos novos métodos.

Neste sentido procuro desenvolver uma temática relacionada em aspectos verificados na Prática Educacional do Ensino Fundamental e Médio, tanto nas redes públicas ou particulares, apontando erros e ações benéficas para a construção de uma concepção adequada da prática do Ensino de História e seus métodos para a aprendizagem, fazendo com que, os alunos iniciem um trabalho conjunto, em que o Professor possa construir o verdadeiro conhecimento Histórico, relacionando o seu cotidiano com o do aluno, para que este possa também, conceber-se como um “ser Histórico”, produtor de seu próprio conhecimento Histórico e agente participante de sua História.

Não se trata de criticar o Ensino duramente, como se não fosse também, culpa de toda a sociedade do processo estar assim, ou de escrever a solução, ou receita ideal, para a construção da perfeita participação do Ensino de História no Sistema Educacional Brasileiro, mas, relatar o que participei e participo hoje como Profissional da Área Educacional.

2 – PROBLEMAS “DO PASSADO” NO PRESENTE

A Prática de Ensino de História adaptada pelo Sistema Educacional Brasileiro em suas Redes de Ensino, Pública e Particulares respectivamente, tornou-se uma prática errônea, desde sua concepção e aprendizagem do conteúdo Histórico à metodologia de ensino da disciplina aplicada, deturpando o que a Lei Estabelece nas diretrizes e bases da educação nacional: Art. 26º. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. (CARDOSO, 1996) e mais precisamente quando nos diz que, § 4º. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia. (Id, ibdem)

A rede de Ensino Público além de não oferecer uma boa base para a prática do Ensino de História, como uma Biblioteca de condições mínimas de utilização, o que não caberia agora adotar critérios, e programas que incentivem as crianças a buscarem o conhecimento histórico, como Videotecas e Laboratórios de Informática, não produzem incentivos para que os Professores ajam de maneira moderna, buscando novos conceitos e novas metodologias, dando dinamicidade e eficiência ao seu trabalho, deixando de lado os avanços proporcionados com a era tecnológica, não construindo um “alicerce” para a aprendizagem de sua disciplina.

Não promovem um “requalificação” de seus Profissionais, tornando obsoletos e simples repassadores de conteúdo, fazendo uma linha mecânica e sem inovações metodológicas: livro-didático---------------aluno-----------------livrodidático.

Por falar em Livro-didático, os conteúdos apresentados por este, nas redes públicas, não são condizentes com a realidade de várias localidades onde são utilizados; demonstram uma aplicação não preocupada com a regionalização e traços culturais pertinentes ao local em que estão os estabelecimentos de ensino; sem falar na inadequação aos novos tempos, não construindo uma ligação lógica entre os conteúdos apresentados e a realidade atual como incita os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, tomando de exemplo, quando diz que antes de tudo, nós profissionais da área de História, devemos:

[...] Relacionar os acontecimentos, em suas singularidades, a outros acontecimentos de seu tempo ou a acontecimentos que extrapolam o período presente, identificando mudanças e permanências, continuidades e descontinuidades, dimensionando os acontecimentos sociais nos diferentes ritmos das duração – longa, média e curta... [...]Questionar a realidade social em que está inserido, estabelecendo relações de diferença e semelhança, mudança e permanência entre as problemáticas identificadas e as questões vivenciadas por outros sujeitos, nas múltiplas dimensões da vida coletiva, em outros tempos e/ou espaços. (PANISSET, 2000) Já a rede de Ensino Privada, por vezes não apresentam os mesmo sinais de “desleixo” para com a Prática da disciplina de História, em questão de estrutura, mas, por conta de seu método Tecnicista de formarem “máquinas” para o mercado de trabalho ou para serem “campeões” de Concursos e Olimpíadas, desvirtuam o aluno para uma prática de concepção falsa do ensino de História, tornando-o incompleto para a vida, não formando a consciência de ser preciso, além de conhecedor da disciplina, importante para sua formação como cidadão em uma sociedade que não se preocupa muito com isso, tem que aprender para a vida, para colocar em prática, pois lhe será cobrado futuramente.

Outro problema discutido em seminários como em outros encontros sobre o Ensino de História é a dificuldade do jovem de hoje em querer aprender História. Não por sua culpa, mas, por conta da sua má formação, contribuindo para que esse prospecto venha a aumentar. Precisamos fazer com que o jovem de hoje tenha a preocupação em saber o que aconteceu com seus antecedentes e se eles contribuíram ou não para que a sociedade chegasse ao ponto em que se encontra. Não podemos cair no erro de continuarmos a ensinar uma História Positivista e sem dinamismo; devemos realizar uma reflexão sobre os rumos que a História toma em nossas mãos, como nos diz o famoso Historiador Eric Robsbawn:

A destruição do passado, ou melhor, dos mecanismos sociais que articulam nossa experiência pessoal à das gerações passadas, é um dos fenômenos mais característicos e lúgrubes do final do século XX.

Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo oficio é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. Por esse mesmo motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores. Em 1989 todos os governos do mundo, e particularmente todos os ministérios do Exterior do mundo, ter-se-iam beneficiado de um seminário sobre os acordos de paz firmados após duas guerras mundiais, que a maioria deles aparentemente havia esquecido. (ROBSBAWN, In BITTENCOURT, 2003, p. 42).

O que foi apresentado nas palavras de Robsbawn torna-se um importante instrumento a refletirmos sobre nossa condição passiva adotada na maioria dos Estabelecimentos de Ensino.

Os problemas não param só por ai; temos também a apontar a enorme presença de aulas expositivas e trabalhos iguais, sem chamar a atenção do aluno a construir idéias para a concepção do conteúdo e relacioná-lo a sua vida cotidiana.

“Normalmente o que acontece na maioria das Escolas, tanto da Rede Pública ou Particular, é uma aula “mórbida”, onde o Professor de História é aquela “sapiência” em pessoa onde os alunos constatam e comentam:” aquele cara sabe muito!”Ou “caramba”! Pôxa vida! Como é que o Professor decorou todas aquelas datas?”.

Observando estas práticas realizadas pelos Professores de História, os alunos começam a formalizar uma idéia falsa da Disciplina.

Não são abordados assuntos referentes, por exemplo, a condição social vivida no bairro onde a Escola funciona ou a importância do lugar aonde se encontra a Escola para a Cidade ou para o Estado e assim por diante. Não há uma correlação do saber histórico e a prática vivida fora sala de aula como é novamente apresentado pelos PCNs para o Ensino Médio: “Construir o conhecimento sobre si mesmo e sobre o outro por meio do reconhecimento de diferenças e semelhanças, e mudanças e permanências nas variadas formas de relações entre as pessoas e os grupos sociais, nos círculos próximos de sua convivência e em épocas e lugares distantes. O aluno começa a situar suas próprias experiências, seus valores e suas práticas cotidianas em relação às problemáticas mais amplas e abrangentes vivenciadas pelos grupos contemporâneos e pelos grupos que viveram em épocas passadas, reconhecendo-se, simultaneamente como sujeito de sua história pessoal e participante da história do seu tempo.” (PANISSET, 2000)

Realizando uma análise de todo o processo de estágio começando pelas observações até findar na prática de estágio, posso falar que a educação é e sempre será um fator participante da construção de um povo e primordial para a concepção do papel social de cada um, seja aluno, professor ou até mesmo um simples funcionário da escola; direta ou indiretamente todos são responsáveis, afim de que a educação funcione na prática assim como está na teoria.

Muito dos problemas observados por mim e expostos neste artigo, relaciono a má formação na Academia ou no Ensino Superior; muitos colegas em debates apontam as falhas que são constatadas nas observações nos Estabelecimentos de Ensino, mas não demonstram força para demonstrar as soluções. Muitos deles nem querem saber do problema, achando que é só ir ao Núcleo de Educação, deixar o Currículo lá pegar umas 40 horas aulas e começar a Trabalhar, pois, “Professor de História ta difícil no mercado!”, por que será? Será por que ninguém está mais preocupado com a formação do cidadão por achar que o mundo chegou a tal ponto que não tem mais esperança? Ou por que ninguém quer mais se tornar responsável e tomar as “rédias” do Ensino de História e levar a diante este importante formador da Cidadania e da Ética?

Seria bom que todos refletissem estes aspectos antes de saírem por ai atrás de um “cabide de emprego”! 3 – CONCLUSÃO: Soluções; Existem ou não?

Quando estamos na teoria da sala de aula e estamos na figura de alunos, às vezes não percebemos como é complicado ter que lidar com situações inesperadas e agora, como Professor da disciplina, sinto as dificuldades em lidar com situações ao qual não estava anteriormente preparado.

Tomando por base o que presenciei na condição de aluno da Rede de Ensino Público, tenho a concepção que a Escola Ideal para se aplicar a Disciplina de História, seria aquela ao qual teria a participação ativa da comunidade e uma observância total do aparelho Governamental, isto faria com que não houvesse o descaso que ocorre em algumas escolas de hoje, sendo que se o aluno fosse mais consciente do seu papel e o Professor também, estaríamos contribuindo para que o Ensino de História fosse uma prioridade e não um segundo plano, como novamente, nos incita PANISSET (2000) a procurar:

Ultrapassar a posição de espectador passivo diante da vida coletiva e da visão fragmentada da realidade social, substituindo as explicações simplificadoras, que reduzem os acontecimentos a sua dimensão imediata, ou aquelas que atribuem os acontecimentos à ação das forças do acaso ou das vontades transcendentes, bem como a excessiva valorização das mudanças tecnológicas desvinculadas dos contextos de sua constituição por uma visão mais integrada, articulada e totalizante. O aluno passa a compreender a vida coletiva e a realidade social como resultantes de um conjunto de relações e elementos integrados e articulados no tempo, passíveis de serem transformados pela ação humana e de serem compreendidos, organizados e estruturados racionalmente.

Espero que nós profissionais da educação do ensino de História, possamos continuar o trabalho que começou em 1929, com a 1ª geração dos Annales3, que não fizeram nada de mais, nada alem do que abrir nossos olhos para uma realidade a qual não podemos fugir ou esconder, uma realidade participativa, onde, possamos compreender nosso papel na nossa sociedade e no mundo em que transformamos constantemente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo-SP: Contexto, 2003, 8ª Edição.

O Positivismo, Os Annales e a Nova História. Disponível em: http://www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html. acesso em 20/05/2007.

3 A revista dos Annales foi fundada em 1929 tendo como principais mentores Marc Bloch e Lucian Febvre. Sua nova abordagem para o estudo da História trouxe conseqüências e influências até os dias de hoje. Encontramos neste movimento, uma certa unidade em sua composição, mas não uma homogeneidade. Jacques Revel o define como um conjunto de estratégias, uma nova sensibilidade, uma atividade que de fato mostra-se pouco preocupada com definições teóricas. Disponível em: http://www.klepsidra.net/klepsidra16/annales.htm Acesso em: 23/05/2007.

CARDOSO, Fernando Henrique. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: http: // www.portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf. acesso em 20/05/2007.

PANISSET, Ulysses de Oliveira.PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (ENSINO MÉDIO): Parte IV - Ciências Humanas e suas Tecnologias Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais: Brasília, 2000. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf. acesso em 20/05/2007.


Autor: RAUL CLAUDIO LIMA FALCÃO


Artigos Relacionados


Da Poética Libertadora

A Meméria Brasileira Na Ação Da Cidadania

Artigos Da Constituição

A Implementação Da Lei 10.639/03

EducaÇÃo Ambiental: Refletindo Sobre As Ações Da Lei Nº 9.795/99

PolÍtica ComunitÁria

Três Nomes Que Carecem De Oficialização