Levantamento Analítico Sobre A Malária Em Itaituba E Sua Relação Com O Meio Ambiente



INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa trazer informações acerca de um problema sanitário que há muito tempo está presente no cenário endêmico mundial, principalmente na região amazônica; trata-se da Malária.

A malária é uma doença infecto-parasitária que pode se apresentar de forma grave, sobretudo quando causada pelo Plasmodium falciparum, cursando com diversas disfunções sistêmicas. A Região Amazônica no Brasil é uma área de risco para se contrair a doença.

A Região da Amazônia Legal é uma área de grande risco para se contrair a doença, visto que, é uma Região contém uma vasta vegetação que proporciona sombra, e normalmente a água é limpa e parada.

O objetivo deste estudo é relatar o levantamento epidemiológico da Malária na cidade de Itaituba, Estado do Pará com base nos anos de 2005, 2006 e 2007.

No entanto, serão coletadas informações sobre a epidemiologia da malária neste município, junto a Fundação Nacional de Saúde no Setor de Endemias, para que seja possível a analise e correlacionar esta doença com o meio ambiente.

I CAPÍTULO

EMBASAMENTO TEÓRICO: MALÁRIA[1]

Malária ou paludismo, entre outras designações, é uma doença infecciosa aguda ou crônica causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito Anopheles.

1.1 HISTÓRIA

Conhecida desde a Antiguidade, é uma das mais importantes doenças tropicais por sua ampla distribuição e alta morbidade. É causada por parasitas da família plasmodiidae, gênero plasmodium.

As espécies parasitas do homem são: Plasmodium vivax, que causa a forma terçã benigna (acessos febris em cada três dias); Plasmodium falciparum, causador da forma terçã maligna (acessos febris irregulares a cada 36 ou 48 horas); Plasmodium malarie, causador da forma quartã (acessos febris em cada quatro dias) e o Plasmodium ovale, com um ciclo de 48 horas.

Apesar de o conhecimento ser anterior à era cristã, o parasita causador da malária, o Plasmodium, foi descoberto pelo médico do Exército Francês, Charles Louis Alphonse Laveran, trabalhando na Argélia, que recebeu o Prêmio Nobel da Fisiologia e Medicina pelo seu trabalho, em 1907.

Só com o início da agricultura, há 10 000 anos (em algumas regiões, mas noutras só há 5000 anos) e com o crescimento populacional e destruição dos ambientes naturais desses outros animais e seus mosquitos, é que as populações de Anopheles explodiram em número, iniciando-se a verdadeira epidemia de malária que existe hoje. A malária foi uma das doenças que mais atingiram o Império romano e a sua base populacional e econômica, levando à sua queda.

Em Portugal houve até ao início do século XX alguma malária transmitida por Anopheles que se multiplicava em pântanos. No entanto, nunca houve uma situação catastrófica como a atual em África, porque o clima frio nunca permitiu a multiplicação de suficiente número de mosquitos. A drenagem dos pântanos, como as ordenadas pelo Rei Dom Dinis, reduziram certamente a incidência da doença. Hoje não há malária transmitida em Portugal. O último caso autóctone foi em 1962, tendo no fim do século XIX afetado principalmente o Ribatejo, Alentejo e Trás-os-Montes, com algumas dezenas de casos anuais causados por P. falciparum ou P. vivax, transmitidos pelo Anopheles maculipenis, que prefere o gado ao homem.

A malária foi uma das principais razões da lenta penetração dos portugueses e outros europeus no interior da África quando da época colonial. Mesmo no caso dos portugueses, que devido à sua maior propensão para casar com nativas, rapidamente desenvolveram descendência parcialmente resistente, as colônias de Angola e Moçambique continuaram por muitos anos a situar-se na costa, mais fresca e salubre.

Na América do Sul, os nativos (índios) dos Andes e outros tinham desde tempos imemoriais usando a casca da árvore da Cinchona para tratar a malária, assim como os Chineses já usavam a planta Artemísia (uma "nova" droga antimalárica revolucionária "descoberta" só recentemente). Em 1640 o espanhol Huan del Vego usou a tintura da casca da cinchona para tratar com sucesso a malária. No entanto, só em 1820 os franceses Pierre Pelletier e Joseph Caventou extraíram com sucesso a quinina, o princípio ativo antimalárico, da tintura.

Foi o italiano Giovanni Maria Lancisi que, em 1717, notando que eram os habitantes dos pântanos os que mais sofriam da doença, renomeou o paludismo de malária, significando maus ares.

Os parasitas da malária têm um ciclo assexuado de desenvolvimento que ocorre nos vertebrados (ciclo endógeno ou esquizagônico), e um ciclo sexuado (ciclo exógeno ou esporogônico) que se passa no mosquito.

O ciclo endógeno inicia-se com a inoculação dos parasitos através da saliva do mosquito, quando das picadas. O ciclo exógeno inicia-se quando o inseto suga o vertebrado doente.

Nos vertebrados o ciclo se processa nas células do sistema retículo-endotelial (ciclo exoeritrocitário) e nos glóbulos vermelhos (ciclo eritrocitário).

Só com o desenvolvimento da quinina (hoje a resistência do parasita é quase universal devido ao mau uso), o primeiro fármaco antimalárico, puderam os europeus sobreviver em grande número no interior africano, dando finalmente origem, no fim do século XIX, à corrida pelas colônias africanas e partição do continente entre Portugal, Reino Unido, França, Alemanha, Bélgica, Itália e Espanha.

A sintomatologia da malária surge somente com o aparecimento dos primeiros parasitos no sangue periférico. Antes do acesso febril característico, podem surgir manifestações como dores inexpressivas, irritabilidade, inapetência e lassidão. O acesso malárico típico caracteriza-se por calafrios, febre elevada (durando de alguns minutos até uma hora), seguindo-se profusa sudorese, caindo a temperatura bruscamente até abaixo do normal. Nos casos de malária observa-se ainda anemia (por destruição das hemácias), esplenomegalia e hepatómegalia. A localização dos parasitos se faz em qualquer órgão, e conforme o órgão afetado, a sintomatologia variará.

A existência de malária e outras doenças debilitantes como a Doença do sono é, segundo muitos especialistas, a razão do não desenvolvimento de muitas civilizações (houve ainda assim algumas) proeminentes na África a sul do Saara. A África, como berço da humanidade, é também o berço de quase todos os parasitas e doenças infecciosas humanas, muitas das quais não existem em mais nenhum lado. O custo econômico e social da malária e outras doenças africanas são inimagináveis para um ocidental ou mesmo um americano ou asiático da região tropical. Com o desenvolvimento futuro (hoje ainda é um flagelo) de medicamentos e terapias eficazes contra a Malária bem como outras doenças, incluindo a SIDA/AIDS (AIDS do inglês Acquired Immunodeficiency Syndrome), (ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida - SIDA), espera-se que o progresso econômico e social dos africanos seja grandemente acelerado.

Até recentemente não havia muitos motivos para esperanças. Segundo a DNDi - Drugs for Neglected Diseases Initiative (em português "Iniciativa de Medicamentos para Doenças Negligenciadas"), a malária é uma das doenças negligenciadas - seja por insuficiências das políticas públicas de saúde, seja por desinteresse da indústria farmacêutica em pesquisar novos medicamentos para doenças que atingem as populações mais pobres, em áreas igualmente pobres - portanto, fora do mercado.

Todavia, em 1º de março de 2007, a DNDi, em parceria com a Sanofi-Aventis, (uma das maiores empresas farmacêuticas do mundo) anunciou o lançamento de uma nova fórmula medicamentosa - o ASAQ - para tratamento da malária.

1.2 TRANSMISSÃO

Foto 01: Fêmea de Anopheles alimentando-se de sangue humano

Fonte: http:/pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:AnophelesGambiaemosquito.jpg

A malária é transmitida pela picada das fêmeas de mosquitos do gênero Anopheles. A transmissão geralmente ocorre em regiões rurais e semi-rurais, mas pode ocorrer em áreas urbanas, principalmente em periferias. Em cidades situadas em locais cuja altitude seja superior a 1500 metros, no entanto, o risco de aquisição de malária é pequeno. Os mosquitos têm maior atividade durante o período da noite, do crepúsculo ao amanhecer. Contaminam-se ao picar os portadores da doença, tornando-se o principal vetor de transmissão desta para outras pessoas. O risco maior de aquisição de malária é no interior das habitações, embora a transmissão também possa ocorrer ao ar livre.

O mosquito da malária só sobrevive em áreas que apresentem médias das temperaturas mínimas superiores a 15°C, e só atinge número suficiente de indivíduos para a transmissão da doença em regiões onde as temperaturas médias sejam cerca de 20-30°C, e umidade alta. Só os mosquitos fêmeas picam o homem e alimentam-se de sangue. Os machos vivem de seivas de plantas. As larvas se desenvolvem em águas paradas, e a prevalência máxima ocorre durante as estações com chuva abundante.

 

1.3 PROGRESSÃO E SINTOMAS

A malária causada pelo protozoário Plasmodium falciparum caracteriza-se inicialmente por sintomas inespecíficos, como dores de cabeça, fadiga, febre e náuseas. Estes sintomas podem durar vários dias (seis para Plasmodium falciparum, e várias semanas para as outras espécies).

Mais tarde, caracterizam-se por acessos periódicos de calafrios e febre intensos que coincidem com a destruição maciça de hemácias e com a descarga de substâncias imunogênicas tóxicas na corrente sangüínea ao fim de cada ciclo reprodutivo do parasita. Estas crises paroxísticas, mais freqüentes ao cair da tarde, iniciam-se com subida da temperatura até 39-40°C. São seguidas de palidez da pele e tremores violentos durante cerca de 15 minutos a uma hora. Depois cessam os tremores e seguem-se duas a seis horas de febre a 41°C, terminando em vermelhidão da pele e suores abundantes. O doente sente-se perfeitamente bem depois e até à crise seguinte, dois a três dias depois. Se a infecção for de Plasmodium falciparum, denominada malária maligna, pode haver sintomas adicionais mais graves como: choque circulatório, síncopes (desmaios), convulsões, delírios e crises vaso-oclusivas. A morte pode ocorrer a cada crise de malária maligna. Pode também ocorrer a chamada malária cerebral: a oclusão de vasos sanguíneos no cérebro pelos eritrócitos infectados causa défices mentais e coma seguidos de morte (ou défice mental irreversível). Danos renais e hepáticos graves ocorrem pelas mesmas razões. As formas causadas pelas outras espécies ("benignas") são geralmente apenas debilitantes, ocorrendo raramente a morte.

Os intervalos entre as crises paroxísticas são diferentes consoantes a espécie. Para as espécies de Plasmodium falciparum, Plasmodium ovale e Plasmodium vivax, o ciclo da invasão de hemácias por uma geração, multiplicação interna na célula, lise (rebentamento da hemácia) e invasão pela nova geração de mais hemácias dura 48 horas. Normalmente há acessos de febre violenta e tremores no 1°dia, e passados 48 horas já no 3°dia, etc, sendo classificada de malária ternária. A infecção pelo Plasmodium malariae tem ciclos de 72 horas, dando-se no 1°dia, depois no 4°dia, etc, constituindo a malária quaternária. A detecção precoce de malária quaternária é importante porque este tipo não pode ser devido a Plasmodium falciparum, sendo, portanto, menos perigoso.

Sintomas crônicos incluem a anemia, cansaço, debilitação com redução da capacidade de trabalho e da inteligência funcional, hemorragias e infartos de incidência muito aumentada, como infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (especialmente com Plasmodium falciparum).

Se não diagnosticada e tratada, a malária maligna causada pelo P. falciparum pode evoluir rapidamente, resultando em morte. A malária "benigna" das outras espécies resulta em debilitação crônica, mas mais raramente em morte.

 

1.4 EPIDEMIOLOGIA

A malária é uma das doenças mais importantes para a humanidade, devido ao seu impacto e custos, e constitui um fardo extremamente pesado para as populações dos países atingidos, principalmente em África, incomparável aos custos sociais de qualquer doença ocidental. Ela existe potencialmente em todas as regiões onde existem humanos e mosquitos Anopheles em quantidade suficiente, o que inclui todas as regiões tropicais de todos os continentes e muitas regiões subtropicais. Hoje em dia, a África é particularmente atingida, estando poupadas apenas o norte e a África do Sul. Na América existe em toda a região central (México e países do istmo) e norte da América do Sul, incluindo mais de metade do território do Brasil (todo o Nordeste e Amazônia) e ainda nas Caraíbas (não existe no Sul incluindo Sul do Brasil). Na Ásia está presente em todo o subcontinente indiano, Médio Oriente, Irão, Ásia central, Sudeste asiático, Indonésia, Filipinas e sul da China. A doença já existiu, mas foi erradicada no século XX da região mediterrânea, incluindo Sul da Europa: Portugal, Espanha, Itália, sul da França e Grécia; e no Sul e Oeste dos EUA. Ao todo, vivem quase 3 bilhões de pessoas em regiões endêmicas (ou seja, metade da humanidade) em mais de 100 países.

Há todos os anos, 300 a 500 milhões de casos da malária, dos quais mais de 90% em África, a maioria com resolução satisfatória, mas resultando em enfraquecimento e perda de dias de trabalho significativos. Ela mata, contudo, cerca de 2 milhões de pessoas em cada ano, cerca de um milhão das quais são crianças com menos de 5 anos.

Na Europa e, mais especificamente, em Portugal, os casos são muito menos graves, havendo apenas alguns milhares. A grande maioria dos casos, e provavelmente a sua totalidade, são importados de pessoas que visitaram países tropicais.

1.5 PREVENÇÃO

Foto 02: Dormitório coberto por rede anti-mosquito protege significativamente contra a Malária

Fonte: http:/pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Mosquito_net.jpg

Ainda não há uma vacina eficaz contra a malária, havendo apenas estudos de alcance reduzido sobre testes de uma vacina sintética desenvolvida por Manuel Elkin Patarroyo em 1987. Acredita-se que uma vacina possa estar disponível comercialmente nos próximos anos, ou seja, até 2010. A melhor medida, até o momento, é a erradicação do mosquito Anopheles. Ultimamente, o uso de inseticidas potentes mais tóxicos, proibidos no ocidente, tem aumentado porque os riscos da malária são muito superiores aos do inseticida. O uso de redes contra mosquitos é eficaz na proteção durante o sono, quando ocorre a grande maioria das infecções. Os cremes repelentes de insetos também são eficazes, mas mais caros que as redes. A roupa deve cobrir a pele nua o mais completamente possível de dia. O mosquito não tem tanta tendência para picar o rosto ou as mãos, onde os vasos sanguíneos são menos acessíveis, quanto às pernas, os braços ou o pescoço os vasos sanguíneos são mais acessíveis.

A drenagem de pântanos e outras águas paradas é uma medida de saúde pública eficaz.

1.6 DIAGNÓSTICO

1.6.1 Diagnóstico Clínico

O elemento fundamental no diagnóstico clínico da malária, tanto nas áeras endêmicas como não-endêmicas, é sempre pensar na possibilidade da doença. Como a distribuição geográfica da malária não é homogênea, nem mesmo nos países onde a transmissão é elevada, torna-se importante, durante o exame clínico, resgatar informações sobre a área de residência ou relato de viagens de exposição ao parasita como nas áreas endêmicas (tropicais). Além disso, informações sobre transfusão de sangue, compartilhamento de agulhas em usuários de drogas injetáveis, transplante de órgãos podem sugerir a possibilidade de malária induzida.

 

1.6.2 Diagnóstico Laboratorial

O diagnóstico de certeza da infecção malárica só é possível pela demonstração do parasito, ou de antígenos relacionados, no sangue periférico do paciente, através dos métodos diagnósticos especificados a seguir:

  • Gota espessa - É o método adotado oficialmente no Brasil para o diagnóstico da malária. Mesmo após o avanço de técnicas diagnósticas, este exame continua sendo um método simples, eficaz, de baixo custo e fácil realização. Sua técnica baseia-se na visualização do parasito através de microscopia ótica, após coloração com corante vital (azul de metileno e Giemsa), permitindo a diferenciação específica dos parasitos a partir da análise da sua morfologia, e pelos estágios de desenvolvimento do parasito encontrados no sangue periférico.
  • Esfregaço delgado - Possui baixa sensibilidade (estima-se que, a gota espessa é cerca de 30 vezes mais eficiente que o esfregaço delgado na detecção da infecção malárica). Porém, o esfregaço delgado é o único método que permite, com facilidade e segurança, a diferenciação específica dos parasitos, a partir da análise da sua morfologia e das alterações provocadas no eritrócito infectado.
  • Testes rápidos para detecção de componentes antigênicos de plasmódio - Testes imunocromatográficos representam novos métodos de diagnóstico rápido de malária. Realizados em fitas de nitrocelulose contendo anticorpo monoclonal contra antígenos específicos do parasito. Apresentam sensibilidade superior a 95% quando comparado à gota espessa, e com parasitemia superior a 100 parasitos/µL.

 

1.7 TRATAMENTO

Foto 03: Cinchona contendo Quinina, o primeiro antimalárico.

Fonte: http:/pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:cinchona.calisaya02.jpg

A malária maligna, causada pelo Plasmodium falciparum é uma emergência médica. As outras malárias são doenças crônicas.

O tratamento farmacológico da malária baseia-se na suscetibilidade do parasita aos radicais livres e substâncias oxidantes, morrendo em concentrações destes agentes inferiores às mortais para as células humanas. Os fármacos usados aumentam essas concentrações.

A quinina (ou o seu isômero quinidina), um medicamento antigamente extraído da casca da Cinchona, é ainda usada no seu tratamento. No entanto, a maioria dos parasitas já é resistente às suas ações. Foi suplantada por drogas sintéticas mais eficientes, como quinacrina, cloroquina, e primaquina. É freqüente serem usados cocktails (misturas) de vários destes fármacos, pois há parasitas resistentes a qualquer um deles por si só. A resistência torna a cura difícil e cara.

Ultimamente a artemisinina, extraída de uma planta chinesa, tem dado resultados encorajadores. Ela produz radicais livres em contato com ferro, que existe especialmente na hemoglobina no interior das hemácias, onde se localiza o parasita. É extremamente eficaz em destruí-lo, causando efeitos adversos mínimos. No entanto, as quantidades produzidas hoje são insuficientes. No futuro, a cultura da planta artemisina na África poderá reduzir substancialmente os custos. É o único fármaco antimalárico para o qual ainda não existem casos descritos de resistência. Algumas vacinas estão em desenvolvimento.

 

1.8 EFEITOS GENÉTICOS NAS POPULAÇÕES AFECTADAS

A anemia falciforme é uma doença genética recessiva (os dois alelos do gene em causa têm de estar mutados) que ocorre nas mesmas regiões de alta incidência de malária. No entanto os portadores da deficiência (com apenas um alelo mutado e o outro normal) têm altas taxas de sobrevivência à malária, sendo parcialmente resistentes a ela. Isso tudo devido ao fato do plasmódio não reconhecer a hemácia devido sua anormalidade na conformação.

Outros portadores de doenças genéticas, como algumas talassémias, ou deficiências no gene da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase, existentes no Mediterrâneo também poderão ser o produto de seleção natural positiva dos portadores devido a maior resistência ao parasita. Algumas dessas mutações aumentam os radicais livres nas hemácias, aos quais os parasitas são suscetíveis.

II CAPÍTULO

ESTUDO DE CASO: ITAITUBA

Ilustração 01: Mapa do Estado do Pará – Município de Itaituba

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Para_Municip_Itaituba.svg

 

O município de Itaituba fica localizado a oeste do Estado do Pará as margens direita do Rio Tapajós. Sua área territorial segundo o Censo 2007 é de 62.040,94 Km², com uma população de 118.194 habitantes. O clima da região se traduz como um clima de temperatura mínina superior a 18ºC, apresenta uma umidade relativa com valores acima dos 80% em quase todos os meses do ano. As estações chuvosas coincidem com os meses de dezembro a junho e as menos chuvosas nos meses de julho a novembro.

A Fundação Nacional de Saúde da cidade de Itaituba informa através do Resumo Epidemiológico da Malária dos anos de 2005, 2006 e 2007 na região o seguinte:

Tabela 01: Resumo epidemiológico: Malária, Itaituba. Ano: 2005

Fonte: Setor de Endemias – Fundação Nacional de Saúde em Itaituba

Em 2005, segundo dados, o Município de Itaituba somava uma população de 95.719 hab. O percentual de 22% procurou o posto de saúde para fazer o exame de malária, e 2% fizeram o exame de malária através de coletas in loco pelos agentes, que totalizaram durante o ano 24% da população que fizeram o exame. Deste total, 37% o resultado foi positivo, sendo que 89% pertenciam ao município de Itaituba e 11% foi solicitado de outro município ou país.

Tabela 02: Resumo epidemiológico: Malária, Itaituba. Ano: 2006

Fonte: Setor de Endemias – Fundação Nacional de Saúde em Itaituba

 

Observa-se que no ano de 2006, a população de Itaituba totalizava 96.248 hab. Houve um percentual de 19% que procurou o posto de saúde para fazer o exame de malária, e 3% fizeram o exame de malária através de coletas in loco pelos agentes, que totalizaram durante o ano 22% da população que fizeram o exame, visualizando então uma queda em relação ao ano anterior de 2%, sendo aproximadamente um total de 1.925 hab. Do total que fizeram o exame 35% o resultado foi positivo, sendo que: 88% pertenciam ao município de Itaituba e 12% foi solicitado de outro município ou país.

Tabela 03: Resumo epidemiológico: Malária, Itaituba. Ano: 2007

Fonte: Setor de Endemias – Fundação Nacional de Saúde em Itaituba

Já em 2007, a população de Itaituba totalizava 96.784 hab. E o percentual que procurou o posto de saúde para fazer o exame de malária foi de 18%, e 1% fizeram o exame de malária através de coletas in loco pelos agentes, que totalizaram durante o ano 19% da população que fizeram o exame, visualizando então uma queda em relação ao ano anterior de 3%, sendo aproximadamente um total de 2904 hab. Do total que fizeram o exame 38% o resultado foi positivo, sendo que: 87% pertenciam ao município de Itaituba e 13% foi solicitado de outro município ou país.

No entanto, podemos concluir que os casos de malária na região de Itaituba vem diminuindo a cada ano, houve uma variação média de 2,5% com relação a baixa do índice de exames efetuados na região de Itaituba, levando em consideração o aumento na população a cada ano.

Analisando ainda os dados fornecidos pela Fundação Nacional de Saúde de Itaituba, observa-se a variação dos casos de malária em Itaituba, dos anos de 2005, 2006 e 2007, conforme gráfico abaixo:

Gráfico 01: Variação Mensal de Casos de Malária, Itaituba, 2005, 2006, 2007.

Fonte: Setor de Endemias – Fundação Nacional de Saúde em Itaituba

Elaboração: J.S.A

 

Percebe-se que os resultados positivos se agravam entre os períodos de agosto a outubro, e um dos fatores que contribuem é devido ao clima quente, água parada e locais com grandes quantidades de áreas sombreadas, e também é período em que grande parte dos trabalhadores nas regiões de garimpo aproveitam o verão para exercerem suas atividades. Observa-se também, que no início do ano há também um índice um pouco elevado, período também que os mesmos, voltam para a região de Itaituba para se tratarem da doença.

Observa-se também o IPA (Incidência Parasitária Anual) da malária nos últimos 3 anos. Vejamos a seguir:

Gráfico 02: IPA (Incidência Parasitaria Anual), Itaituba, 2005, 2006, 2007.

Fonte: Setor de Endemias – Fundação Nacional de Saúde em Itaituba

Elaboração: J.S.A

No entanto, observa-se que o índice, apesar de ter diminuído nos últimos 03 anos em 16,2%, ainda continua alto, com 73,6% de possibilidade de se contrair a malária na região a cada 1.000 habitantes.

Na publicação da "Situação Epidemiológica da Malária no Brasil 2005"  pelo Secretário de Vigilância em Saúde, Srº Jarbas Barbosa da Silva Junior, relata que é mais um instrumento para divulgar, sistematicamente, dados epidemiológicos da malária para todas as esferas do Sistema Único de Saúde, disponibilizando informações que possibilitem o planejamento de ações no nível local, com intervenções mais rápidas e eficazes, bem como o monitoramento e o controle social.

Segundo relatório o IPA no Pará vem sendo controlado, como cita através de dados comparativos dos anos de 1999 e 2004, o Estado teve uma queda em relação ao IPA de mais de 50%, conforme abaixo:

Gráfico 03: Comparação de IPA por unidade de federada, Amazônia Legal, 1999 e 2004..

Fonte: Boletim da malária nº 1, 2005 .

III CAPÍTULO

CORRELAÇÃO DA MALÁRIA E A QUESTÃO AMBIENTAL

Foto 04: São Luiz do Tapajós.

Fonte: Reportagem de Alailson Muniz, disponível no site http://orm.com.br/oliberal/interna/default.asp?codigo-265048modulo=247

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a malária é a doença infecto contagiosa tropical que mais causa problemas sociais e econômicos no mundo, somente superada em número de mortes pela AIDS.

            Também conhecida como paludismo, a malária é considerada problema de saúde pública em mais de 90 países, onde cerca de 2,4 bilhões de pessoas (40% da população mundial) convivem com o risco de contágio.

Por ano, sobretudo na África, entre 500 e 300 milhões pessoas são infectadas, das quais cerca de um milhão morrem em conseqüência da doença.

            No Brasil, principalmente na região amazônica, a malária registra por volta de 500 mil casos por ano. No entanto, na Amazônia a letalidade da moléstia é baixa e não chega a 0,1% do número total de enfermos.

Com base em dados até novembro de 2003, é a seguinte a situação relativa aos casos malária, em comparação ao mesmo período de 2002, nos estados que são focos da doença:

  • Aumento de casos – Amazonas (83%); Rondônia (15%) e Tocantins (10%)
  •  
  • Redução de casos – Acre (49%); Amapá (29%); Maranhão (44%); Mato Grosso (45%), Pará (30%) e Roraima (11%)

Depois do pico de 98/99 os casos de malária diminuem na região amazônica, no entanto, o enchimento de lagos de hidrelétricas eleva a população do mosquito transmissor e o risco de novos focos.

No Pará, mais precisamente na região da capital Belém, a incidência de malária tem características de epidemia, ignorada pelo governo federal.

A transmissão da malária tem como principais fatores condicionantes e determinantes questões relacionadas à população suscetível, ao agente etiológico, ao vetor, além das condições ecológicas, geográficas, econômicas, sociais e culturais.

A população suscetível – os projetos desenvolvimentistas, implantados na Região Amazônica a partir da década de 70, promoveram grandes investimentos, estimulando o deslocamento de grandes contingentes populacionais, sem contato prévio com malária, para as áreas endêmicas. Exemplos recentes da relevância do acelerado movimento de urbanização no contexto da malária são as grandes invasões nas áreas peri-urbanas das cidades de Manaus e Porto Velho, ocasionando ocupação espacial desordenada, que dificulta o planejamento e a execução das operações de controle da malária, causando assim epidemias da doença.

Os projetos de assentamentos, agropecuários, de construção de hidroelétricas e de extrativismos vegetal e mineral têm provocado desmatamento de áreas extensas, agressões ao ambiente, desorganização espacial e concentração de pessoal em condições sanitárias inadequadas, propícias para a transmissão de doenças, no que se inclui a malária. Os altos índices de pluviosidade, amplitude da malha hídrica e cobertura vegetal da Amazônia, aliados aos fatores sociais e ambientais citados, favorecem a proliferação do vetor e a exposição de grande quantidade de pessoas à doença.

O agente etiológico – o parasito da malária mantém-se na cadeia epidemiológica principalmente devido ao atraso e à inadequação do diagnóstico e do tratamento, pela sua resistência às drogas e pela fragilidade da vigilância epidemiológica.

O vetor – o Anopheles darlingi é a espécie de maior importância epidemiológica pela sua abundância, pela sua ampla distribuição no território nacional, atingindo todo o interior do País, pelo seu alto grau de antropofilia e endofagia e pela sua capacidade de transmitir diferentes espécies de Plasmodium. Tem como criadouros preferenciais: água limpa, de baixo fluxo, quente e sombreada, situação muito freqüente na Região Amazônica.

Em São Paulo, a usina hidrelétrica Sérgio Motta, mais conhecida como Porto Primavera, no rio Paraná região oeste do estado, modificou recentemente a população de mosquitos transmissores. A construção do reservatório de 2.250 km² propiciou o aumento da presença de criadouros dos mosquitos da região, entre eles o Anopheles darlingi, transmissor da malária.

"O próprio lago da barragem não costuma ser um criadouro", explica Rosa Maria Tubaki, pesquisadora científica da SUCEN (Superintendência de Controle de Endemias), "a questão principal são os afluentes, onde a elevação do nível da água cria novos remansos, propícios para os mosquitos." Segundo ela, o Anopheles se reproduz em água não-poluída, parada e à sombra.

O pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) Wallice Paxiúba Duncan, doutorando em Ecologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), afirma que a construção de uma hidrelétrica na comunidade de São Luíz, em Itaituba, anunciada pelo governo federal, será um golpe fatal no rio Tapajós.

Duncan explica que os impactos da hidrelétrica de São Luís avançam além dos danos ambientais e podem provocar epidemias. Normalmente, as larvas de mosquitos vetores da malária e da febre amarela se proliferam em ambientes de água parada, portanto é de esperar surtos de malária e febre amarela.

Consideramos que a região de Itaituba, por ser formada de grande parte da zona rural e garimpeira, onde o índice de se contrair a doença é maior, no entanto, o Pará vem mostrando sucesso com a diminuição dos casos de malária no estado. E com olhar ecológico e analisando os relatos da pesquisadora científica da SUCEN e do ponto de vista do doutorando em Ecologia pela UFSCar, Itaituba pode ser vítima de um surto  não só de malária mais também de febre amarela com a construção de uma hidrelétrica na comunidade de São Luiz, que não fica tão longe do município de Itaituba; esta que, como descrito anteriormente, conceberá uma área propicia a criação e proliferação do mosquito e o agente causador da doença.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho sobre a malária na região de Itaituba oportunizou conhecimentos da situação da doença não apenas em nossa região como também no Brasil e no Mundo.

            É surpreendente saber que a malária é a doença infectocontagiosa tropical que mais causa problemas sociais e econômicos no mundo, somente superada em número de mortes pela AIDS.

            E gratificante perceber que a malária em nossa região vem diminuindo a cada ano, devido ao esforço e a conscientização da população ribeirinha, que a cada dia, aparenta estar preocupada com este mal tão insolente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ENCYCLOPÉDIA BRITANNICA DO BRASIL PUBLICAÇÕES LTDA. Malária (6:321). Melhoramentos. São Paulo, 1993.
  • FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE, Setor de Endemias, em Itaituba. Resumos Epidemiológicos – Malária, dos anos de 2004, 2005 e 2006 na região.
  • SILVA JUNIOR, Jarbas Barbosa da, Secretário de Vigilância em Saúde, Boletim da malária nº 1, 2005.
  • JORNAL O LIBERAL. Matéria Hidrelétrica vai pôr o Tapajós em risco, publicada em 18/06/2007 através do site http://orm.com.br/oliberal/interna/default.asp?codigo-265048modulo=247 acessado em 01/03/2008.
  • MALÁRIA. Disponível na Enciclopédia Wikipédia através do site www.wikipedia.org/wiki/malaria acessado em 01/03/2008.
  • SECRETARIA DE SAÚDE. Malária. Estado do Pará. Acessado através do site http://www.sespa.pa.gov.br/Educa%E7%E3o/malaria.htm em 01/03/2008.




[1] Todo o embasamento teórico sobre a malária foi pesquisado junto a Enciclopédia Wikipédia no endereço eletrônico www.wikipedia.org/wiki/malaria e a Encyclopédia Barsa, 2003. (6:321).


Autor: RAUL CLAUDIO LIMA FALCÃO


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