A Produção De Textos Nos Parâmetros Curriculares Nacionais Para O Ensino Fundamental



Os Parâmetros Curriculares Nacionais previstos para o Ensino Fundamental colocam como eixo básico da sua justificativa a questão da leitura e da escrita pela dificuldade que a escola tem de ensinar a ler e a escrever. Dois pólos de preocupação são enfocados: a primeira série e a quinta, ou seja, os períodos iniciais do primeiro e terceiro ciclos; um por problemas de alfabetização e o outro pelo uso não eficaz da linguagem.

Também, a dificuldade que universitários demonstram para compreender textos e organizar idéias é usada como argumento para propor mudanças. E o objetivo reforçado é encontrar formas de garantir, de fato, a aprendizagem da leitura e da escrita.

A base teórica dos PCNs do Ensino Fundamental parte das reflexões acerca da linguagem e participação social, passa pela preocupação com a linguagem como atividade discursiva e textualidade, numa perspectiva de interação verbal dos interlocutores considerada em situação concreta de produção.

Aprender/ensinar é visto como o modo em que se articulam as três variáveis. o aluno, a língua e o ensino. O aluno é o sujeito da ação de aprender. E o objeto do conhecimento, nesse caso, é a Língua Portuguesa. E o ensino é a prática educacional que organiza a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. Nos PCNs são priorizados como encaminhamento teórico: a diversidade do textos, a questão da oralidade, a produção escrita, o texto como unidade de ensino, a especificidade do texto literário e a prática de reflexão sobre a língua.

Os objetivos gerais da Língua Portuguesa previstos para serem alcançados em oito anos (da 1ª à 8ª série ou do 1o ao 4o ciclo) esperam que os alunos adquiram uma competência em relação à linguagem que lhes possibilite resolver problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a capacidade plena no mundo letrado (PCNs, 1997:41). Para concretizar essa expectativa, os alunos devem ser capazes de: expandir o uso da linguagem; utilizar diferentes registros; conhecer e respeitar as diferentes variedades lingüísticas; compreender os textos orais e escritos; valorizar a leitura como fonte de informação; utilizar a linguagem como instrumento de aprendizagem; valer-se da linguagem para melhorar a qualidade de suas relações pessoais; usar os conhecimentos adquiridos por meio da prática de reflexão sobre a língua; e conhecer e analisar criticamente os usos da língua.

Assim, os conteúdos de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental estão organizados em torno do uso da linguagem oral, da linguagem escrita e da análise e reflexão sobre a língua, compreendendo blocos, tais como: Língua Escrita – Usos e Formas, subdivididos em Prática de Leitura e Prática de Produção de Textos, desdobrados em aspectos discursivos e aspectos notacionais. Além dos conteúdos, os PCNs da L.P. de 1o e 2o ciclos do Ensino Fundamental acrescentam os temas transversais (Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde e Orientação Sexual) por tratarem de questões sociais que pertencem à dimensão do espaço público e, por isso necessitam de participação social. Desse modo, os alunos são considerados cidadãos que desenvolvem sua capacidade de compreender textos orais e escritos, de assumir a palavra e produzir textos, em situação de participação social. (PCNs, 1997:46)

Os princípios e orientações para o tratamento didático com os conteúdos de Produção Oral incluem atividades em grupo (de planejamento e realização de pesquisas com os alunos); atividades de resolução de problemas; atividades de elaboração e análise de textos; exposição oral de temas estudados.

A produção escrita, nesses dois níveis, está prevista em dois sub-blocos: prática da leitura e prática da produção de textos, propostos para um trabalho inicial de reconhecimento de textos, traços da oralidade, preparo para a escrita e contato com a pluralidade textual. O aprendizado inicial da leitura vem determinado por estratégias de leitura diária, leitura colaborativa, projetos de leitura, atividades seqüenciadas de leitura, atividades permanentes de leitura e leituras feitas pelo professor.

Na prática de produção de textos, o trabalho tem a finalidade de formar escritores competentes capazes de produzir textos coerentes, coesos e eficazes. Embora um tanto pretensiosa, a intenção parece ser a de considerar o aluno do Ensino Fundamental capaz de escrever e ler criticamente. Para isso são sugeridas algumas situações fundamentais para a prática de produção de textos, como; projetos de textos incluídos nos planos pedagógicos das escolas, montagem de textos provisórios para reestrutura, produção com apoio e outras situações de criação. São propostas atividades de análise e reflexão sobre a língua, a saber: revisão de textos, análise lingüística e domínio das noções gramaticais (ortografia, pontuação, classes de palavras, concordâncias e regências). Entre os recursos didáticos propostos, são recomendados para o trabalho o uso de audiovisuais (slides, cartazes, retroprojetor, transparências, gravador, vídeo e computadores) como acréscimo aos recursos já existentes na escola, tais como: biblioteca, material escolar e didático.

A avaliação está baseada em indicadores ou objetivos (ver anexo I) que identificam as aprendizagens através de instrumentos de registros coletivos e individuais. Os critérios são parciais (de final de período) e globais (referências de todo o processo).

Para o 1o ciclo (1ª e 2ª séries do 1o grau) a avaliação se restringe aos objetivos da alfabetização: falar, compreender, ler e escrever. No 2o ciclo (3ª e 4ª séries do 1o grau) são acrescentadas a revisão de textos e a análise lingüística. Para o 3o ciclo (5ª e 6ª séries do 1o grau) e 4o ciclo (7ª e 8ª séries do 1o grau) são aprofundados os temas, as normas gramaticais e acrescentados os diversos gêneros textuais.

No 3o e 4o ciclos, com a mesma perspectiva dos ciclos anteriores, a língua é concebida como um sistema de signos específico, histórico e cultural e, aprendê-la é aprender pragmaticamente os seus significados culturais. O discurso e suas condições de produção e textualidade são as referências principais das quais enfocam-se os gêneros, a tipologia e a intertextualidade e se caracteriza por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional.

Também, nesses ciclos, aprender e ensinar a L.P. pelas determinações dos PCNs, depende da articulação entre o aluno (sujeito), o objeto do conhecimento (elementos discursivos-textuais e lingüísticos) e o ensino (a prática educacional).E ao professor cabe a responsabilidade de planejar, implementar e dirigir as atividades didáticas como informante e interlocutor.

A organização das situações de ensino privilegia o texto como unidade básica de ensino e a diversidade de gêneros, com o compromisso educacional de preparar para o exercício da cidadania, criando condições para que o aluno desenvolva sua competência lingüística e proficiência discursiva. Sendo assim, não é possível considerar, nessa abordagem, letras /fonemas, sílabas, palavras, sintagmas e frases sem contextualização como unidades básicas dessa prática, e sim o texto.

Para a diversidade de textos, o trabalho com a oralidade tem vez e voz. O texto literário como uma outra fonte de produção e apreensão de conhecimentos, do ponto de vista lingüístico, apresenta também características diferenciadas.

Outros aspectos da competência discursiva, como o conhecimento de recursos expressivos da língua, do mesmo modo, são enfatizados nos PCNs assim como a questão da variedade lingüística e a análise e reflexão sobre a língua. Desse modo, não se desconsidera a necessidade de explorar as noções gramaticais; porém, isso dentro do contexto dos textos, envolvendo a descrição do conhecimento gramatical por meio da categorização dos elementos lingüísticos e do tratamento sistemático da estrutura das expressões. O ensino gramatical deixa de ser tratado como conteúdo e passa a ser considerado como um meio para melhorar a qualidade da produção lingüística.

Quanto à relação da L.P. com outras áreas, os argumentos mais fortes presentes nos PCNs são: não restringir o ensino da língua somente aos profissionais dessa disciplina, pois todos os professores de qualquer área se utilizam dela em qualquer situação; divulgar todo trabalho acadêmico exige conhecimento da L.P., obedecendo às normas científicas da mesma maneira; e ainda, atuar na sociedade tanto leitores quanto usuários competentes precisam conhecer L.P. para a necessária compreensão, produção e análise de textos.

Todos os temas do domínio das situações comunicativas estão sintetizados nos objetivos gerais da L.P. para o ensino fundamental no 3o e 4o ciclos (ver anexo III) e enumerados sob a forma de indicadores como são utilizados na avaliação . Os conteúdos de ensino apresentam-se com dois eixos articuladores: Uso da Língua Oral e da Língua escrita e Reflexão sobre a língua e a linguagem. As práticas do Uso referem-se a:

1. historicidade da linguagem e da língua;

2. constituição do contexto de produção(representações do mundo, e interações sociais, sujeito enunciador, interlocutores, finalidade de interação, lugar e momento de produção;

3. implicações do contexto de produção no processo de organização dos discursos (restrições de conteúdo e forma decorrentes da escolha dos gêneros e suportes;

4. implicações do contexto no processo de significação(representação dos interlocutores no processo de construção dos sentidos; articulação entre texto e contexto no processo de compreensão e relações intertextuais.

Os conteúdos que envolvem a Reflexão referem-se aos recursos lingüísticos necessários à compreensão e produção de discursos, tais como:

1. Variação lingüística: modalidades, variedades, registros;

2. organização estrutural dos enunciados;

3. léxico e significado;

4. modos de organização dos discursos: gêneros e seqüências textuais.



Esses dois eixos nos seus conteúdos passam por dois desdobramentos: a explicitação necessária de sua dimensão de procedimentos e o envolvimento dos múltiplos aspectos específicos e conceituais.

A seqüência dos conteúdos desses ciclos (3o e 4o) está prevista para atender as necessidades dos alunos e suas possibilidades de aprendizagem, correspondendo aos objetivos e graus de complexidade das atividades e grau de autonomia do sujeito. Também, numa continuidade, aparecem os temas transversais que se relacionam com os conteúdos da Língua Portuguesa organizados, do mesmo modo, em torno do eixo: Uso/Reflexão/Uso interligados às práticas de compreensão, produção de textos e análise lingüística. Como ocorre nos primeiros ciclos, os temas transversais: Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde e Orientação Sexual continuam, sendo acrescidos mais dois: Trabalho e Consumo por se tratar de questões sociais.

Quanto ao ensino/aprendizagem no 3o e 4o ciclos a ênfase está na ampliação das discussões sobre a psicologia do adolescente com relação à prática da linguagem no espaço escolar; a mediação do professor pela interação em sala de aula e implicações da dimensão cognitiva do desenvolvimento. Aos conteúdos gramaticais são acrescidos detalhes da norma culta e mais aprofundamento nas organizações didáticas. Essas, de que tratam os PCNs, articuladas para a prática em blocos de conteúdos, prevêem elaboração de projetos e aplicação de módulos didáticos com indicadores para diagnosticar as aprendizagens dos alunos.

Considerando a presença dos meios de comunicação na vida cotidiana, o novo currículo propõe a preparação das crianças para a recepção desses meios, conforme a capacidade de cada um, concebendo relações entre receptores, processo, significado, práticas sociais, linguagens videotecnológicas, meios, mensagens. São incluídas as práticas em computadores para reescrituras de textos e através do uso de processadores de textos e de corretores ortográficos para a revisão e a apreciação de textos; o emprego de CD-ROM, Multimídia e Hipertexto, por combinarem linguagens e atividades multidisciplinares que favorecem a construção de uma representação não-linear do conhecimento, buscando representações em outras linguagens (imagem, som, animação) interagindo com a construção mais realista dessas representações: o estudo das diversas possibilidades do rádio incluindo o funcionamento das programações em AM/FM, as falas dos DJs e as diversas linguagens em uso no radio-jornalismo; o estudo das possibilidades da televisão, programações, gravações em vídeos, transformações e relações que ocorrem na linguagem pela influência desses veículos.

Os critérios de avaliação são montados com base no que o aluno aprendeu e não no que o professor ensinou. A avaliação é compreendida como instrumento constitutivo da prática educativa, responsiva, reflexiva e automatizadora. Atua como um processo de levantamento de informações sobre o que os alunos aprenderam, por que e como aprenderam ou deixaram de aprender. Para avaliar, são considerados indicadores precisos que servem para identificar as aprendizagens realizadas, indispensáveis ao final do período e como referências e análise dos avanços dos alunos durante o processo, sem comparação de sujeitos.


Autor: Djalmira Sá Almeida


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