Programa Reconhecer... reconhecer o quê?



O Secretário da Educação de Goiás, Thiago Peixoto, lançou, no final do mês de junho/2011, o Programa Reconhecer. O projeto consiste em "reconhecer" o profissional da educação, incentivá-lo a permanecer na sala de aula e também bonificá-lo, no final do ano com R$ 1.500,00, caso não falte ao trabalho nos próximos cem dias letivos (nem mesmo atestados justificarão as faltas, conforme cartilha que explica o programa).
Vejo com bons olhos as iniciativas em prol da educação, mas não se pode mais admitir somente discursos demagógicos ou artimanhas a fim de ludibriar o profissional da educação, bem como a sociedade que espera educação pública de qualidade.
Só pelo programa, já se percebe que o governo "reconhece" que é preciso valorizar esse profissional, mas basta "re-conhecer"? Ora, muitos cidadãos comuns reconhecem (em muitos casos) que precisam controlar seus gastos a fim de não se endividarem, mas isso é tênue demais se comparado aos caminhos pelos quais terá que percorrer para que possa realmente equilibrar as próprias contas. O Secretário "reconhece" que muitos professores deixaram a sala de aula, mas por que isso ocorre? Esses motivos (sejam quais forem), devem ser analisados. Todos "reconhecem" que o discurso de incentivo ao magistério é inócuo, visto que esse profissional precisa, sim, ser remunerado adequadamente, e por falar nisso, equiparar o salário do professor goiano ao piso proposto pelo governo federal, já seria um bom começo, todavia não podemos nos enganar. Não é só isso!
O Secretário "reconhece" que o professor precisa estar na sala de aula com assiduidade, mas ainda é pouco. Precisamos "reconhecer" que o professor precisa ser bem preparado, necessário se faz incentivá-lo a continuar seus estudos, como especializações, mestrado. Da mesma forma que alguns projetos federais como "Bolsa Família" mantém o aluno na escola a fim de ser recompensado com a ajuda do final do mês, o Projeto Reconhecer fará com que os professores (alguns) permaneçam na sala de aula, mas isso garantirá uma educação eficiente? Aluno, só por estar presente em sala de aula, aprende a fim de modificar seu contexto educacional e o de sua família? Professor despreparado e desmotivado na sala de aula resolverá muito pouco!
Precisamos "reconhecer" que salas de aula com um número adequado de alunos, boa estrutura física (salas amplas, bibliotecas, laboratórios) das escolas, participação da família, inserção tecnológica, professor capacitado e valorizado deveriam ser prioridades do governo.
Sabe-se que, com as políticas educacionais atuais, o professor é visto por duas vertentes interessantes e paradoxais, isto é, ou é visto como um negligente que assalta o estado e a sociedade ou é visto (no caso daqueles que inspiram mais confiança) apenas como um sonhador, um ingênuo, um "coitado". Por que isso ocorre? É questão cultural?
Ora, precisamos reconhecer seu valor e sua função social! Não basta "bonificar" o professor para que ele faça aquilo que ele já se propôs quando fez o concurso do estado e tomou posse na Seduc (Secretaria da Educação do Estado de Goiás). Precisamos "reconhecer" e valorizar (não só em discursos) esses profissionais.
Li, outro dia, que a motivação para esse programa da Secretaria da Educação surgiu a partir constatações absurdas de que havia um número estupendo de professores fora de sua função(sala de aula), inclusive, tirando xerox. Este fato torna-se muito curioso: por que esse professor auxiliar de xerox não estava na sala de aula? Foi decisão só dele? O que mais contribuiu para tamanho despropósito? É questão de preparação do profissional? Enfim, os questionamentos são diversos, mas o fato que mais chama atenção é a desvalorização.
Por falar em respeito/valorização, o programa Reconhecer, em sua proposta, sugere que para controlar a presença do professor, nos próximos cem dias (a partir de agosto), será afixado um mural na escola e em lugar público com as faltas do professor ? exposição. Intrigante: onde expor as faltas/falhas/negligências do estado? Dos pais? Dos diretores? Da sociedade?
Assim como algumas Universidades particulares são responsabilizadas pelo insucesso de bacharel em Direito, visto que muitos não conseguem aprovação para a OAB, a Seduc (incluindo todas as instâncias e profissionais) também deve refletir sobre os resultados obtidos pelos alunos egressos do Ensino Médio. Por que o aluno da escola pública não chega à universidade pública? Desconexo é pensar que o caminho seja indicar um ponto de corte menor. Se o mesmo raciocínio é seguido, os indivíduos deverão se declarar desta ou daquela universidade a fim de que possa ser aprovado na prova da OAB.
"Reconhecer" significa remunerar adequadamente o profissional da educação ? pode-se iniciar com pagamento do piso ? (reconhecer que bônus não valoriza, apenas posterga ações concretas), dar condições de trabalho e de formação continuada. É preciso lembrar, ou melhor, reconhecer que tudo isso deve ser focado no aprendizado e no sucessodo aluno. Pensar no sucesso do aluno é pensar no professor!
Precisamos "reconhecer" que o aluno não está sob proteção do estado só no momento de sua formação escolar básica, isto é, o sucesso desses indivíduos será refletido, a longo prazo, em outras secretarias públicas, como Secretaria da Segurança, da Saúde, por exemplo, e que, portanto, focar na educação é investimento, os resultados virão.
O processo educacional é muito importante para a sociedade. Realmente precisamos "reconhecer"!

Autor: Rosimeire Soares Da Silva


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