Do Tejo ao Prata - 2 - Um Passeio Pela História



A PRÉ-HISTÓRIA EM PORTUGAL
Na Pré-História, onde hoje está Portugal, o Homem se instalava nas cavernas e reproduzia nas paredes o que via no dia-a-dia (arte rupestre). As tribos, de natureza nômade, começaram a fixar-se nos locais devido à descoberta da agricultura e a se preocupar com a religião. Surgiram as primeiras estruturas de culto, como dólmenes ou menires, as rivalidades entre povoações conduziram à criação de estruturas defensivas, as aldeias e vilas cresceram dentro das muralhas e surgiram construções públicas tais como assembléias, balneários, bancos e pavimento nas ruas. Os sítios arqueológicos estão concentrados na região de Lisboa e a arte das cavernas se destaca sobretudo com episódios do dia-a-dia, como uma caçada ou uma batalha.
Há quinhentos mil anos, a região foi povoada pelos Neandertais, e dez mil anos antes de Cristo, por povos autóctones, sem parentesco aparente com quaisquer outros conhecidos, denominados Iberos, que deram o nome à região de Portugal com Espanha de Península Ibérica. No século VII a.C., entrando pelo sul, na região de Algarves, passou a ser habitada por um povo indo-europeu, os Celtas, que, segundo alguns historiadores, originários de uma região da Áustria, perto do sul da Alemanha, de onde expandiram-se pela maior parte da Europa Continental e Britania, atual Inglaterra, abrangendo áreas que vão da Espanha à Turquia, dividindo-a em Europa Central, Europa Ocidental e Europa Oriental, por milhares de anos, mas só mais recentemente influenciaram no seu desenvolvimento a nível cultural, linguístico e artístico. Na sociedade Celta, homens e mulheres eram iguais nos cargos e desempenhos, em termos de sexos. As mulheres eram excelentes guerreiras, mercadoras, governantes e gozavam de liberdades e direitos, até de solicitarem divórcio. Nas batalhas, desprezavam as armaduras e iam para o combate de corpos nus. Entre eles, existiam os Druidas, palavra que está relacionada com o carvalho, por eles considerada uma árvore sagrada, homens e mulheres, grandes conhecedores da ciência dos cristais, bem instruídos em termos de religião, filosofia, geografia e astronomia, mas nunca escreveram a própria história, pois a transmitiam oralmente. Os Druidas foram membros de uma elevada estirpe de Celtas e ocupavam o lugar de juizes, doutores, sacerdotes, adivinhos, magos, médicos, astrônomos, etc., mas não constituíam um grupo étnico dentro do mundo Celta, enquanto que as mulheres tinham um papel preponderante, pois eram vistas como Deusas. Os personagens mais conhecidos dos Druidas que fazem parte da história são o mago Merlin da Côrte do Rei Artur, na Inglaterra, e Kardec, poeta esotérico celta, cujo nome inspirou o pseudônimo do professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, o Allan Kardec, codificador da Doutrina Espírita, na França. A junção das tribos dos Celtas com os Iberos deu origem aos Celtiberos.
Por volta do ano 800 a.C., o rei Pigmalion, de Tiro (em 1984, declarada patrimônio da humanidade, pela Unesco, por causa dos vestígios arqueológicos), no Líbano, tomou conhecimento de que o sacerdote Siqueo, tinha muitos tesouros escondidos no templo de Hércules e obrigou a sua irmã Elisa, conhecida por Dido, a casar-se com Siqueo para descobrir o segredo dos tesouros, mas ela disse ao irmão que estavam debaixo do altar, quando na verdade estavam no jardim. Em 814 antes de Cristo, o rei ordenou a morte do cunhado e a viúva conhecendo os planos do irmão, desenterrou-os e fugiu na liderança dos fenícios semitas, para a Líbia, depois de fazer escala em Chipre. A rainha comprou um pedaço de terra na Tunísia e fundou a cidade de Cartago, que um século depois se transformaria em uma grande potência agrícola, comercial e marítima.
Com a expansão comercial, Cartago implantou uma colônia na Sicília e a concorrência com a Grécia e Roma foi a causa da Primeira Guerra Púnica, que durou vinte e três anos, entre 264 e 241 a.C., cuja vitória foi alcançada pelos romanos, após copiar os barcos cartagineses. No tratado de paz, Roma tomou posse da Sicília e Cartago ficou com a Sardenha e a Córsega.
Roma seguiu com as conquistas em direção aos Alpes, mas os mercenários a serviço de Cartago que viviam na Sicília, deslocados para a África, insatisfeitos por não recebrem o soldo optaram pela libertação das terras conquistadas, além do interesse pela Península Ibérica devido às enormes reservas de metais e possibilidades de alistar os celtiberos no exército cartaginês, causa da Segunda Guera Púnica, que durou dezesseis anos, de 218 a 202 a.C. No período, Roma expandiu as conquistas, invadiu o Leste e o Sul da Península Ibérica, dominou o comércio do Mediterrâneo e grande parte da Europa, aumentou a quantidade de escravos e provocou o consequente desemprego das classes inferiores, mas por volta de 193 aC, encontrou resistência no Norte e Oeste (atualmente Portugal) sob o domínio dos Celtiberos. De 147 a 139 aC, liderados por Viriato, filho de Comínio, nascido em 179 aC, em Lorica, posteriormente homenageado por Camões:
Este que vês, pastor já foi de gado
Viriato sabemos que se chama
Destro na lança mais que no cajado
Injuriada tem de Roma a fama,
Vencedor invencibil, afamado
Não tem co'ele, nem ter puderam
O primor que com Pirro já tiveram.
Os Lusíadas, VIII, 6
Perito em táticas de guerrilha e em iludir o adversário, Viriato derrotou sucessivamente os vários generais romanos enviados contra ele e conseguiu conter a expansão durante alguns anos, fazendo com que a região fosse dos últimos territórios a resistir à ocupação. Não obstante, seria morto à traição, 139 anos antes de Cristo, por três companheiros de armas, comprados pelos romanos. A sua morte enfraqueceu a resistência dos Celtiberos, porém a conquista definitiva da península só ocorreu no tempo do imperador Octávio Augusto, no final de 25 aC, com a fundação de Mérida, capital da Luzitânia.
Embora o Imperador Júlio César tenha reconhecido a coragem que os Celtas e Druidas tinham em enfrentar a morte em defesa de seus princípios, desde o domínio romano, mas instigadas pelo catolicismo, as suas culturas foram alvos de severa e injusta repressão, que fez serem apagados quaisquer tipos de informação a respeito delas. Por outro lado, Catagineses, Fenícios e Gregos deixaram pequenas feitorias comerciais costeiras na península.
Uma variante do Latim Vulgar passou a ser o idioma dominante da região, surgiram novas cidades e desenvolveram-se outras, segundo o modelo de colonização romana. Em 29 antes de Cristo, o imperador Augusto criou a província da Lusitânia, que correspondia a grande parte do atual território português. No final do século III dC., o imperador Diocleciano subdividiu a região denominada Tarraconense em outras províncias, que integrava o norte do atual Portugal e foi introduzido no território.
Em 409 dC, os chamados povos bárbaros, de origem germânica, fixaram-se na Hispânia. Em 411, estes povos dividiram entre si o território: os Vândalos Asdingos ocuparam a Galécia, os Suevos o norte do Douro, os Alanos a Lusitânia e a Cartaginense, e os Vândalos Silingos a Bética. Algum tempo depois, os Visigodos entraram na península a serviço do Império Romano com o objetivo de subjugar os anteriores invasores. De todos estes povos, os Suevos e os Visigodos seriam aqueles que teriam uma presença mais duradoura no território que é hoje Portugal.
Com a capital em Braga, os Suevos dominaram o território que inclui a Galiza e chegaram a dominar a parte oeste da Luzitânia.
A partir de 470, cresceram os problemas do reino suevo com o vizinho reino visigodo e em 585 o rei visigodo Leovigildo tomou Braga e anexou ao reino suevo. Toda a Península Ibérica ficou unificada sob o reino visigodo, com exceção de algumas zonas do litoral sul e leste, controladas pelo Império Bizantino, até a queda deste, em 711, quando a Península Ibérica foi invadida pelos muçulmanos Berberes e Árabes, os quais dominaram partes da península por mais de quinhentos anos, no início como uma província do império omíada, o Al-Andalus e mais tarde sob a forma de um emirado e califado. A estabilidade interna foi sempre difícil, pois os Visigodos eram arianos e a maioria da população era católica. Recaredo, filho caçula de Leovigildo, converteu-se ao catolicismo e facilitou a união das duas populações, mas questões dinásticas reacenderam os conflitos e vieram a estar na origem do colapso final.
Os povos bárbaros eram numericamente inferiores à população hispano-romana, e foram obrigados à miscigenação étnica e cultural com esta. Cidades foram destruídas e houve a ruralização da vida econômica.
Devido ao colapso dos Bizantinos, o reino foi subdividido em pequenas taifas. As Astúrias resistiram aos árabes e desenvolveu-se um movimento de reconquista da Península, culminando com a tomada de Granada pelos Reis Católicos, Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão, em 1492. Os muçulmanos que não foram expulsos ou mortos tiveram de aderir aos costumes, incluindo o Cristianismo.

Autor: Raul Santos


Artigos Relacionados


LÍnguas RomÂnicas E Sua InfluÊncia HistÓrica No PortuguÊs

Do Tejo Ao Prata - 5 - Um Passeio Pela História

Galiza, A Terra Dos Celtas

PerÍodo BizÂncio

Eles Eram 10

Os Maias

Das Origens Da LÍngua Portuguesa A Sua EvoluÇÃo